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27/09/2021
Disenteria provoca reflexões

Não é uma ameaça, mas, esta crônica será comprida, ou como gostam os intelectuais, ela será extensa. Fico triste só em pensar que tem gente que tem preguiça de ler, coisa rara neste país “tão intelectualizado”. Mas indo ao assunto em questão seguidos por outros que também estarão em questão, inicio agora um relato sobre como o viver nesta existência nos traz surpresas como as quais temos que reagir contra elas, aquelas que sem aviso atacam o nosso tesouro que é a nossa saúde.

Tudo começou no dia vinte e um deste mês de setembro de dois mil e vinte e um e quando pela pressa de sair por aqui onde moro para visitar pelas ruas a pandemia que está pelos ares, embora, sabendo que os vírus dela ainda não se simpatizam comigo. Então pela pressa de querer fazer algumas compras e com a preguiça de preparar o meu almoço habitual, só comi repolho refogado pela primeira vez depois de muitos anos, isso porque nunca gostei de repolho e com ele apenas quis diversificar meu cardápio diário para ele não ficar muito repetitivo.

Já a tarde deitado sobre a minha única companheira que agora tenho que muito me é fiel e me aceita como sou, ela que tem o nome de cama muito me atrai muitos pensamentos dignos de serem pensados. Mas numa interrupção chegou um aviso de algo que cheira mal e provoca ruídos e que queria sair do meu corpo pela portinha redondinha traseira por onde costumam sair o que se considera ser discreto para nós. Como deu para perceber que seria uma saída diferente das saídas diárias foi necessário colocar mais tensão sobre a portinha redondinha para evitar alguma surpresa desagradável.

Na corrida para o banheiro teve um obstáculo. Meu neto Jonathan de vinte anos de idade estava fazendo sua higiene bucal com a porta aberta. Assustou-se quando lhe empurrei lhe dizendo ``sai, sai, sai". Assim consegui chegar até o vaso sanitário. Mas, antes de me ajeitar direito nele e sem ainda baixar a calça totalmente, a portinha redondinha por já estar velha e já ter sido usada por muitos anos deve ter ficado frouxa, ela se abriu e deixou numa enxurrada passar por ela uns detritos que primeiro se espalhou por fora do vaso sanitário e pela minha calça.

Interessante que depois do ocorrido a gente ainda se preocupa em limpar a sujeira para não deixar para outros da casa a limpeza tão desagradável. Com a mangueira do chuveirinho com a água quente a limpeza foi feita dos detritos que foram parar no assento do vaso sanitário e até no piso ao lado dele, isso antes de tomar banho. Durante a noite, durante a madrugada e durante o dia seguinte dia vinte e dois precisei vigiar muito o que estava querendo me abandonar pela portinha redondinha e no mais da vezes eram mais detritos que queriam escapar.

Parece que tais detritos se sentiam desconfortáveis dentro de mim e quiseram mesmo se escapar e o último escapar deles ocorreu às três horas da madrugada já do dia vinte e três e no alívio ainda em jejum pensei que até tinha emagrecido mas, não percebi isso pela barriga aumentada que continuava a mesma. A barriga depois que ela cresce ela se torna uma causa pétrea na constituição do corpo humano e não deve ser modificada como tem sido modificada por juízes supremos e por interesse próprio a constituição ou carta magna brasileira.

Mas a novela dos meus despejos interiores não havia terminado como eu havia pensado depois das três horas da madrugada do dia vinte e três. Deve ter tido alguma comunicação entre órgãos do corpo e a portinha redondinha comunicou que por ter sido muito usada solicitou que fosse usada outra porta de saída daqueles resíduos e ela foi atendida. A regurgitação veio em seu socorro. Então, às seis horas da manhã, três horas depois da última atuação da portinha redondinha, precisei ir correndo para o banheiro e quem estava lá?

O Jonathan outra vez me impedindo de chegar até o vaso sanitário. Não podendo mais evitar a regurgitação ela foi depositada no lavatório que não sendo grande foi preenchido até pela metade. Saiu pelo ralo, mas logo veio outra que o entupiu. Corri para pegar uma chave de fenda e fiquei cutucando o ralo para desentupi-lo e foi o que aconteceu, mas, logo outra regurgitação surgiu e depois surgiu aquela que veio colorida de sangue. Mesmo um pouco ofegante perguntei ao neto: Será que foi mesmo possível que eu tivesse tanta coisa assim dentro do meu corpo?

O neto, sem eu saber, pelo celular ele enviou uma mensagem para a mãe que só trabalha à noite até às sete horas da manhã num hospital comunicando-lhe que eu estava vomitando repetidas vezes, estava fraco e seria preciso levar-me até um hospital para “tomar” soro, pois com ele isso também já lhe havia acontecido. O que ele informou à mãe sobre vómito antigamente se chamava “destripando o mico” (risos).

Minha filha e mãe do neto chegou por volta das oito horas com soro para hidratar e outro para aliviar dores estomacais e com os apetrechos para instalá-los no alto da parede do meu quarto. Mas, os gatos subiram na minha cama na curiosidade de querer saber o que estava acontecendo. E minha filha foi estúpida com eles: Saiam daqui, fora, fora, passa, passa, gatos chatos. Só não dei uma bronca nela por estar precisando dela naquele momento. Lembrando, peço para os leitores deste jornal “A Semana” não espalharem por aí que vomitei no lavatório do banheiro e que os gatos sobem na minha cama.

Quem se cansar de ler o que está exposto até aqui pode deixar o resto para ler noutro dia, entretanto, este relato sobre disenteria e vómito é mais importante do que o que está ocorrendo na CPI da Pandemia lá em Brasília. Mas, continuando, as dores estomacais me davam desespero, pois eram ininterruptas e nesses momentos de perturbação dolorida, o desespero até faz pensar que a morte não é tão indesejada como ela tanto é. Além da fraqueza provocada pelo jejum forçado, simultâneas com as dores já citadas, cãibras doloridas e demoradas também me surgiam nas pernas. Várias vezes me foi preciso levantar da cama e mancando dar umas caminhadas pela casa para tentar me livrar da dor provocada pela cãibra.

Li não me lembro onde que o homem só aprende pela dor. Verdade, eu na fraqueza e na dor me vi tendo reflexões. Será que na dor eu refleti mesmo ou tais reflexões já me estavam interiorizadas? Entretanto deduzi que o resultado de muitas reflexões provenientes dos meios filosóficos e dos meios religiosos que ditam regras para se viver e por terem muitas incoerências, ousadamente digo eu que não foram refletidas durante período de dor e sim em períodos de intelectualismo fanático. Tudo isso que foi deduzido o foi se lembrando do que foi escrito no início deste parágrafo “que o homem só aprende através da dor” fato este difícil de explicar. Só quem possui muito discernimento pode compreendê-lo e até estendê-lo mais acessando outros argumentos correlatos.

Voltando ao primeiro assunto em questão me vi rodeado por filhos genro e nora, todos solidários por mim devido ao meu problema de saúde. Muito me emocionei com um milagre que estava acontecendo e que eles, os milagres só aconteciam há dois mil anos atrás. Lágrimas quase se escorreram pelo meu rosto quando percebi o milagre. Todos eles que estavam comigo no quarto, incrivelmente eles estavam sem os seus telefones celulares (risos). Isso tudo me fez imaginar como seria a situação de quando eu me encontrar moribundo (sabe-se que nestes tempos atuais tem pessoas que não sabem o significado de tal palavra. Podem até pensar que moribundo seja algum tipo de marimbondo (risos).

Isso porque esculhambaram com o ensino ou a instrução escolar do Brasil e isso já vem acontecendo há muito tempo. Como me lembro, há muitos anos atrás uma secretaria do ensino de São Paulo proibiu que se corrigisse as lições dos alunos. Se não houve erro nisso que escrevi, isso foi um absurdo. Antigamente existia o curso primário com a duração de quatro anos.

As professoras eram excelentes ao ministrar os ensinos. Naqueles tempos se aprendia de tudo muito mais do que nesta época em que os quatro anos do curso primário foram modificados para nove séries, se é que não estou enganado nessa quantidade de séries. Existem muitas sacanagens políticas que propositalmente prejudicam o desenvolvimento racional e intelectual dos alunos. Comparando com outros países, o Brasil é um dos últimos colocados no ranking mundial de educação. Que vergonha!

Quanto aos velhos, às vezes me parece que vários deles já estão cansados de viver, ou, pra ser mais erudito, parece que eles estão com o “saco cheio” de viver. Mas eles têm uma vantagem sobre os mais jovens. Muitos deles perderam as ilusões e parece que quase tudo na vida perdeu a importância. Então eles deixam de sentir aqueles tormentos de quando as coisas não estão dando certo. Sabem que os seus últimos dias estão chegando, mas, bem antes disso eles cada vez mais se tornam esquecidos. Isso os torna imunes para as recordações desagradáveis.

Tudo o que lhes foram inculcados, graças aos seus esquecimentos não lhes existem mais e não mais os aborrecem no fim calmo que querem ter. Como exemplo, dia do juízo final, ressurreição, reencarnação, transcendência, morrer e ir para o céu e ficar ao lado de Deus e etc. mesmo que tudo isso sejam verdades indubitáveis, parece que nada disso os impressiona mais. Eles só ficam querendo paz e sossego em suas vidas. Entretanto, isso não é para generalizar, pois, ainda existem muitos velhos que querem ficar por dentro de tudo o que acontece em suas voltas e que ainda querem ser prestativos.

Contudo tudo o que foi escrito até aqui foi o resultado de reflexões tidas durante a minha disenteria. Eu não sabia que ela intercalada com a dor estomacal e as idas repetidas ao banheiro favorecem muito o ato mental de reflexão. Então, que me sejam bem vindas as disenterias (risos).

Altino Olímpio