Versão para impressão

11/03/2022
Dia Internacional da Mulher?

Oi, quero agradecer em nome das “nossas mulheres”,  as homenagens  afetuosas que circularam nas redes sociais, meios de comunicação, mensagens de texto etc durante a semana.

Não é  “corriqueiro” que o mundo dê uma paradinha para olhar por “alguensss”, principalmente   por uma causa badaladíssima nos últimos séculos, a da mulher.

Para alguns de nós pode ser fatigante demonstrar empolgação nestas datas festivas.

Mesmo assim, obrigadíssimo pelas dedicatórias, pela enxurradas de elogios, pétalas, e carinho nestas  24 horas em que tantas de nós saem das sombras dos lençóis pendurados nos varais, sejam os lençóis e varais, uma sutileza para representar o papel que a maioria esmagadora de nós tem na sociedade.

Quando escutamos sobre o espírito empreendedor que triunfa no reconhecimento de direitos ao longo dos saltos de cada punhado de anos, o politicamente esperado é que sigamos focados (as) nos esforços.

Com esta palavra - esforços - poderia encerrar o texto porque é visível a melancolia que se movimenta inquieta dentro de nós, ao imaginarmos a constância da necessidade de ESFORÇOS.

Há no âmago desta comemoração um desconforto pulsante, e entregar-se aos frufrus de UM dia dentre 365 no ano, pode ser uma protagonização esgotante e esgotada.

Sinto -me inclusive culpada pela lástima, que justo neste 8 de Março abalou meu coração, impedindo que me sinta tão especial como vocês dizem.

Mãe Natureza, Mãe Terra, Estrela Guia, Lua, sem menos importância as Evas da Terra., tanto poder ao feminino!

Desculpem o poder brochante deste balde de água fria que começo entornar aqui.

Há uma espiral de incertidumbres que poderia desfilar para justificar esta descomodidade.

Por que ainda somos tão divididos, segregados?

Que lástima estarmos vestidas de guerreiras 24 horas por dia, 7 dias na semana!

Sabe por que?

Porque significa que ainda somos mulheres que precisam reivindicar direitos, jornadas de trabalho, dispensas, entendimento e pasmem: Absorventes.

Não fosse a chuva de anúncios seria constrangedor acreditar num dia dedicado a nós .

Também não sei se sabem, que não temos dormido bem nos últimos 100, 200, 300, 500 anos (?) 

São tantas preocupações sobre o simples fato de ser mulher, que cansa ser mulher.

Cansa porque não há trégua, muito menos fim a batalha por um mundo de gentes iguais ( e por favor, sem discutir a semântica do “igual” blablabla).

Tanta desgraça, tantas de nós alienadas pela fome, doença, submissão, uma miséria completa.

A verdade é que nossos olhos estão exaustos destas lutas na escuridão, sem sentido algum.

Neste 8 de Março senti mesmo foi fracasso e pânico pelos rostos desesperados por acolhimento e salvação.

Para cada passo conquistado, histórias de sofrimento ganham holofotes e apontam uma estrada sinuosa a ser percorrida, ainda.

Não somos frágeis, nem impotentes, nem nada dessa baboseira que gritamos que não somos, enquanto cabos de guerra dividem o mundo em lado de lá e lado de cá.

As imagens de mulheres nas figuras de mães, avós, empresárias,  filhas, netas, estudantes, um quinquilhão de papéis, representados e por representar abarrotadas em trens, ônibus, carros, filas imensas nas fronteiras (ou a caminho) derrocaram o sentido das conquistas até aqui do que deve ser inerente a qualquer vida.

Mãos apertadas segurando crianças chorando, doentes, idosos, fazendo malabarismo com sacolas que não cabem nem uma refeição.

Mulheres olhando para frente e  só para frente, despedindo-se de seus parceiros, enquanto bombas explodem por suas costas destruindo o tudo e o nada que conquistaram.

Sempre penso nas mulheres que trouxeram à vida seres que representam a personificação do mal, da escória da humanidade. Imagino quem são (ou quem foram) as que participaram da vida destes indivíduos. Progenitoras, mães, serventes, amantes, companheiras. Como será ver a imundície de perto? Deve doer ? Um fardo pesado!

Um lembrete:  neste texto escrevo como homenageada da semana, a mulher e só! 

Não espero apoio ao aparente derrotismo destas palavras. 

Ao contrário, quero muito que você que lê isto, diga que há esperança. 

E, é ela: A esperança. 

Mesmo com este sabor amargo das lutas incessantes…

Tenho  orgulho de ser mulher, de entender a força, a valentia, a coragem,  de empatizar com tantas Marias, Penhas, Isauras, Budicas.

Tenho orgulho desta força avassaladora que eclode na hora de trazermos vida ao mundo.

Temos um exacerbado contentamento pela simplicidade com que nossas mãos acariciam pequenas gentes,  depois de um dia na labuta com enxadas pesadas.

Orgulho e gratidão por multiplicarmos e dividirmos o tempo!

Será que por tanta bravura nesta tarefa ímpar, a subjugação é um tipo de controle?

Por quanto tempo a força do músculo será devastadora, usada na contramão da vida, do respeito, da dignidade?

Esta força que os brutos não conseguem ter.

Uma certeza é que seguiremos lutando por uma vida sem humilhações!

Por um mundo onde não se lembre, nem se cogite a diferença de sexos e opções…

Por um mundo sem vestígios da brutalidade de tempos que demoram na sociedade, contando histórias de horror, selvageria e preconceito. 

Por um mundo sem sexo, um mundo tão pleno nas formas de sentir que não sera possivel imaginar tempos passados diferentes.

Por um mundo onde as mulheres são realmente respeitadas em suas integridade corporal, psicológica, emocional. 

E sejam bem vindas todas as mulheres, as que nasceram assim e as que se sentem assim.

Não me identifico como feminista, que briga e luta ferrenhamente.

Sou simplesmente uma mulher.

Mas no fim do dia, serve o  propósito para mais uma vez refletir e pensar sobre isto tudo.

Temos que acordar num 10 de abril e ter o mesmo sentimento que um 8 de Março.

 

Daniele de Cassia Rotundo