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07/06/2022
Paranoias momentaneas

Estive pensando que tantas loucuras nossa mente pode acreditar?

A gente pensa nos “ses” dia e noite, com tanta convicção de que é apenas prevenção e não compreendemos de que vala escorre a poluição de incertezas que amargamente cultivamos.

A horta dos “ses”.  

E se o sol não nascer, a chuva não molhar, o vento não refrescar, o fogo não queimar? 

E se as estrelas não brilharem mais, a Lua não enfeitiçar e o mar ondear?

E se tudo ruir por  avalanches de terra ensopada, pelas encostas da mata afadigada por tantos avisos de sua carne cortada.

E se o homem não aprender a  amar, ou quica só a gostar? Das cores do arco íris, das névoas de algodão doce, das estátuas de rochas? 

E se o palhaço não chorar mais, o equilibrista não se embebedar, e as Marias não seguirem a rezar?

E se a terra ceder e o poste cair bem no meio de minha testa enquanto tento declamar tão estruturadas paranoias?

Se outro furacão se apressar o teto da casa não aguentara.

O que acontecerá se não bater 3 vezes na madeira quando uma maledicência atravessar a sala de estar, enquanto jogo papo para o ar?

Sera que passara?

Será que entre os três pulinhos e a figa, consigo a maldade parar?

E se tiver coragem para expressar o que me mantém refém de meus pensamentos desvairados?

Não está dando não senhor, ando cansada de despistar suspeitas, matar dragões e confabular com reis. 

Quero mesmo me esconder do medo do agora, do temor do amanhã e das armadilhas do passado. Algum lugar que não possa ser alcançado pelos mimimis da gente que anda atribulada de crochetar nas portas das casas, nos pontos de ônibus, nas reuniões das escolas, nas filas de banco, ao redor do coreto do jardim.

Quero pegar minha viola e tocar lá na casa do sapo. Porque dizem que por lá ninguém tem notícia ruim para dar.

E protesto pelo que não pode ser e por isso não será, ou de fato tudo pouco a pouco virará o que não era para ser, mas se tornou porque não foi?

Sendo assim, sentarei no quintal para confabular com outras senhoras com quem divido meu lar?

O que será do boêmio que perambula na areia do mar, pouco antes do sol raiar? 

E então, perderei pouco a pouco a lucidez insistente de meus sonhos e estarei condenada a música sem bar?

O que será, que será? O que será desta fina camada que recobre meu corpo, sem as águas para mergulhar?

Se eu não parar de me buscar, o que será?

Minha garganta doera na secura, e no mais distante do deserto sucumbira, gritando sem voz como nos pesadelos que me arremessam e não posso nem um dedinho movimentar.

O que será das carrancas, das estátuas dos deuses, das grutas das virgens se deixarmos de acreditar?

Assim, pouco a pouco também morrerei e jamais saberei qual o sabor do que dizem ser o amargo cacau, nem tampouco descobrirei se dormi enquanto vivia ou se vivi enquanto dormia, e de fato se existi, e “ojala” estas pencas de mim, penduradas em bananeiras!

Estou condenada a tudo anotar, rabiscar para nunca reencontrar?

E se você nunca mais me ligar?

Tampouco me desejar? 

Tudo virará anedota.

O melhor é que  ainda não dá para fugir na contramão por onde a vida quer alcançar.

Nestes senões, se sim, se talvez engolimos o “fui”, desperdiçamos o “sou”, condenamos o “serei”.

Não quero titubear, porque o problema mesmo é se eu não aprender a rimar! Que tipo de poema poderia recitar? 

Deixa pra la!

Nem farei mandinga, porque tenho muito “sarava”.

Chega pra lá, neste corpo fechado nenhuma dúvida entrara.

Só não conta nada que por aqui acendo incenso, por precaução, melhor não duvidar.

Por cuidado, antes de julgar, prefiro perguntar:

“ Há quanto tempo  você vive nestes paradoxos do inferno? Entre o começo e o fim da sua estrada?

São  dias, meses ou anos que não dá uma olhadela para os rios fundos que seu rosto carrega?” 

Deixa eu contar: entre o começo e o fim, há só o meio. Nesta temporada que precisamos celebrar. Nem mais para frente, nem mais para trás, porque o meio fio é coisa de quem não anseia desabrochar.

E se, desistir fosse opção?

Não esqueça:  tem coisas que não tem linha para remendar.

Por que fica confuso o verbo trocado nestas linhas assimétricas?  É que se eu não escrever tão descompassado, você pode pensar que nas quimeras, meus pensamentos continuamente vão procrastinar.

Se você não gostar, poesia é poesia e assim não preciso parar, nada terei que enfrentar.

To floreando para contar que de paranoia em paranoia a vida pode voar.

É nestes "ses'' que a gente deixa de estar !

 

Daniele de Cassia Rotundo