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26/10/2023
A Bisa e os cueiros

Uma aposentadoria compulsória!

Foi com grande alegria que um dia desses recebi a notícia que seria bisavó novamente. Dessa vez do meu segundo neto que também ajudei a criar. Meu coração pulou feliz dentro do peito e imediatamente comecei a imaginar as fraldinhas enfeitadas e os cueiros ( hoje se usa pra funções diferentes do passado) que eu mais uma vez faria, afinal ajudei no enxoval de filhos, netos e bisneta que já tenho. 

Uma chave se liga dentro de meu cérebro e passo a procurar, pesquisar tudo o que poderia fazer e comprar pra essa nova criança da família…sempre fui assim, “ apaixonada por bebês”! Por muitas vezes pensei que poderia ser uma dessas babás que cuidam integralmente de recém nascidos, caso não fosse esteticista, minha segunda paixão. 

Bendizendo a “ internet” que tornou nossas pesquisas tão mais fáceis, eu busco novidades pra essa arte que gosto muito de fazer…são tantas possibilidades que eu entro em parafuso… quero fazer um modelo de cada, então preciso “ puxar meu freio de mão” pois caso contrário farei tantas coisinhas que nem quando o bebê fizer 21 anos ele terá tempo de usar tudo. Sou literalmente exagerada. 

E nessa empolgação, eu fui pegar camisinhas pagão, os bodys, os babadores tudo bordado a mão que guardo como um grande tesouro, já que temos a tradição de passar de filhos pra netos e depois bisnetos as mesmas peças raras, algumas feitas por mim sob a orientação de meus antepassados. 

Fui lavando, “ quarando” ( alguém aqui lembra dessa palavra?) deixando tudo lindo e cheiroso, levei horas para passar a ferro… aquelas rendinhas ah como são difíceis de alisar… mas ficaram lindas. Tudo pronto eu coloquei sobre uma cama forrada com um lençol limpo e ansiosa aguardei a chegada dos papais da vez, pra mostrar com orgulho o que tinha preparado para o bebê Arthur que está chegando. Comprei também o carrinho de bebê que eles queriam, algumas peças novas, e ainda estou crochetando  e fazendo “ pat apliquê” nas fraldas de ombro, mas o que estava pronto eu já apresentei pra eles. 

Assim que chegaram, eu os levei para ver os meus tesouros…foi então que o meu susto começou… olhando os bordados das camisinhas de cambraia e dos bodys, eles começaram a torcer o nariz. Meu neto militar e machista juntamente com sua companheira que também é militar, começou dizendo: “ meu filho é homem vó, não usará nada bordado com florzinhas e nem em cores vermelhas …eu em choque olhei para a esposa dele que para meu maior espanto concordou. Em vão tentei explicar que bebês recém-nascidos usam essas roupinhas delicadas e ali haviam peças que foram dele quando nasceu, e que também não tinham flores. 

Eles analisavam como estivessem vendo as fardas de um soldado e meio a contragosto separaram algumas pecinhas, mas que sem dúvida, foi só para eu parar de “ encher o saco” deles com minhas baboseiras de tradição de família etc etc. 

Pelo menos ela gostou dos tecidos que comprei para os cueiros e das fraldas de ombro que estou fazendo. 

Esse foi meu primeiro banho de água fria, mas no decorrer do dia, haveria o “ golpe de misericórdia”!

Pelo menos gostaram do carrinho, mais bebê conforto que compramos…

Nesse dia tínhamos um aniversário pra comemorar aqui em casa então o assunto das roupinhas ficou entalado na minha garganta e nem pensei em mostrar pra minha filha que será a avó e pro resto do povo, com medo de passar vergonha de novo. Afinal parece que a tradição e as peças raríssimas que existem poucas por aí são um motivo de riso pra esses jovens de hoje. 

Foi então que quando estávamos embalando as peças que eles escolheram pra levar eu fiz a pior pergunta do dia…: “ bom vcs avisam quando eu devo ir pra ajudar né?”

E meu neto muito sem graça respondeu: “ vó, agora não será você que irá ajudar, é a vez das avós, minha mãe e a mãe dela. Você é bisavó certo? Não é justo que você ocupe o lugar delas entende?

Eu: “ mas você não disse que quando tivesse filho gostaria que eu fizesse o que fiz pela outra bisneta?”

Sim vó, mas eu estava errado. Agora não é mais sua vez…!

Eu: “ mas sua mãe trabalha”

Ele: “ Vóoo , por favor!

Então caiu a ficha. 

Entendi finalmente que ali tinha a vontade da esposa dele, da mãe dele, da sogra dele e o que ele poderia dizer, coitado. 

Desnecessário dizer o que senti né?

Segurei a bronca, disse a ele que entendia e que sempre estaria com ele para qualquer coisa que precisasse e disfarçando saí do quarto porque se  ficasse ali, desabaria num choro ridículo de bisavó que não soube ocupar o seu lugar. 

Felizmente era a hora de todos irem embora e eu pude me recolher amparada por meu marido que contou que meu neto disse a ele que não queria me deixar triste, mas não podia fazer nada para evitar isso. 

Confesso que passei alguns dias com uma tristeza profunda, mas já estou curada desse desapontamento e consigo rir fazendo piada sobre a minha “ aposentadoria compulsória de babá de recém nascido”!

Bom caros leitores, essa foi mais uma de minhas aventuras, talvez uma desventura!

Mas estou pensando em comprar um “ bebê reborn” desses bem realistas feitos em silicone para poder vesti-lo com as roupinhas bordadas a mão que guardei como tesouros. Afinal esse bebê não vai reclamar do fato delas serem bordados com florzinhas…

Kkkkkkkkkk

Selma - Esteticista