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Nem todos embriões servem para pesquisa

Número disponível no País pode não chegar a 5 mil, segundo especialista.

O número de embriões disponíveis para pesquisas com células-tronco no Brasil pode ser bem menor do que se imagina, segundo o diretor de uma grande clínica de reprodução em São Paulo. “Creio que não deve chegar a 5 mil”, afirma Edson Borges, diretor da Fertility e, até o ano passado, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida. Assim que o Projeto de Lei de Biossegurança entrou na pauta do Congresso, esta semana, a organização iniciou uma pesquisa por e-mail com todas as clínicas do País (cerca de 150) para tentar determinar quantos embriões estão congelados e quantos seriam viáveis para pesquisas com células-tronco. Ao longo das discussões, muitos cientistas e parlamentares mencionaram estimativas de 20 mil ou 30 mil embriões congelados – que ninguém sabe exatamente de onde saíram. Na melhor das hipóteses, segundo Borges, isso representa o número total de embriões congelados, mas ele lembra que nem todos estarão disponíveis para pesquisa. A Lei aprovada na quarta-feira na Câmara permite apenas o uso de embriões produzidos por fertilização in vitro, que estejam inviáveis ou estejam congelados há mais de três anos, doados para a ciência com o concentimento dos genitores. “Uma coisa é você ter um embrião congelado. Outra é esse embrião estar congelado há mais de três anos. E outra é o casal doar esse embrião para pesquisa”, observa Borges. Dos cerca de 2 mil embriões congelados na clínica, ele calcula que só 250 serviriam para pesquisas com células-tronco. Borges explica que os embriões excedentes – ou seja, produzidos, mas não transferidos para o útero da mãe – são congelados três dias após a fertilização in vitro, quando têm apenas de seis a oito células. Para que as células-tronco possam ser extraídas, eles precisam chegar ao estágio de blastocisto (cinco ou seis dias), quando já têm de 100 a 500 células. “Mas só entre 40% e 50% dos embriões descongelados chegam a blastocisto”. O ideal, segundo ele, seria que os embriões fossem doados “frescos”, direto da bancada para o laboratório de pesquisa. “Aí, sim, você teria uma fonte infinita de material viável”. Há ainda a necessidade da doação. Levantamento com 721 casais que passaram pela clínica no último ano e meio revela que, dos 67% que aceitaram congelar embriões excedentes, só 33% os doariam para pesquisa. E 20% gostariam de levá-los para casa – o que é permitido, mas resulta na morte dos embriões em nitrogênio líquido a – 192º C.

O Estado de São Paulo