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12/01/2011
Arroz & feijão

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4/1/2011 - Gazeta do Povo

Hoje somos mais obesos, comemos mal, não fazemos exercícios físicos, somos estressados, esquecemos as prioridades com a saúde

Duas pesquisas do governo reveladas em dezembro passado mostraram mudanças na saúde e na alimentação dos brasileiros. No dia 14 o Ministério da Saúde divulgou o relatório Saúde Brasil 2009 que mostrou, dentre outras coisas, o aumento de mortes por diabete no Brasil. Já no dia 16 foram anunciados os resultados de um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a alimentação do brasileiro, com base nos alimentos disponíveis nas residências. Dentre outros dados, verificou-se a diminuição no consumo de arroz e de feijão.

Diversos estudos propagam as qualidades do nosso típico cardápio, composto essencialmente pela dupla arroz e feijão, pelo bife e por uma salada. É sempre bom lembrar que ele só é saudável se ingerido em doses corretas e com bom senso – imagine alguém comendo cinco enormes pratos dessas iguarias por dia e entenda o que quero dizer. Segundo o estudo do IBGE, o consumo do arroz (de 1975 a 2009, redução de 60%) e do feijão (redução de 49%) diminuiu, mas também foi menor o de açúcar (redução de 79%). Menos mal. O problema é que parece ter havido a substituição de nosso menu tradicional, e extensamente aprovado, por comida industrializada, gorduras ruins, refrigerantes, guloseimas e lanchinhos apressados. Só o refrigerante de guaraná saltou de 1,3 quilo anual per capita em 1975 para 6 quilos em 2009.

Vamos a alguns números que achei interessantes desse estudo do IBGE, que faz parte do levantamento “Avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil”, feito com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009. Quanto mais alta a faixa de renda, maior o consumo de ácidos graxos saturados (gordos; de gordura animal e não vegetal), que também está ligado ao diabete. O consumo pulou de 9,1% para 10,6% do total das calorias consumidas, se compararmos os menos abastados com as pessoas mais ricas. Ou seja, nem sempre o maior pode aquisitivo e um suposto maior acesso ao conhecimento ajudam na escolha correta do alimento.

Outro destaque: os alimentos essencialmente calóricos (óleos e gorduras vegetais, gordura animal, açúcar de mesa e refrigerantes) atingem 31,8% da caloria consumida entre os 20% mais ricos. O recomendado por nutricionistas é que esse índice não ultrapasse os 30%. A média nacional, tirando os ricos, é de 28%. Outra vez, dinheiro no bolso não prova mais critério na hora de escolher o alimento saudável.

E o relatório do Ministério da Saúde diz que o número de mortes por diabete pulou da quarta para a terceira causa de morte no Brasil. Só perde para as doenças cerebrovasculares, como o derrame, e para as cardíacas. Mas aí vem o detalhe: muitas doenças cardíacas são causadas pelo diabete. Ou seja, entra na estatística que a pessoa morreu do coração, mas, na verdade, o que causou a morte foi o diabete. E o que causa o tipo de diabete mais comum? Em termos gerais e bem simplistas, sedentarismo, obesidade e má alimentação.

Ou seja, os dois estudos falam, no fundo, do mesmo assunto: mudança no estilo de vida. E mudança para pior. Hoje somos mais obesos, comemos mal, não fazemos exercícios físicos, somos estressados, esquecemos as prioridades com a saúde. Quem sabe este seja um bom item para se colocar na lista de metas para 2011: arroz e feijão preparado em casa e saboreado em família na hora do almoço. Já seria uma boa maneira de começar a repensar sua atitude em relação à alimentação.

Mauro Scharf é endocrinologista e diretor médico do Frischmann Aisengart/DASA.


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