14/12/2007
Caieiras Fatos e Personalidades

Caieiras :Fatos e Personalidades da“Cidade dos Pinheirais ”


Marcílio Dias de Moraes

Apresentação
Esta obra tem por finalidade perpetuar a lembrança de um povo simples, pacato e trabalhador que, numa atmosfera de paz, harmonia, cordialidade e alegria, construiu uma sociedade que, diga-se de passagem, serve de modelo a muitas de suas congêneres.
Um grupo de pessoas composto, na maioria, de imigrantes italianos e alemães, começou a existir em torno de 1890 como o embrião do que futuramente seria a atual sociedade caieirense. Com o passar do tempo, aquele núcleo de famílias foi crescendo à medida que chegavam outros elementos provindo dos mais longínquos rincões do Estado de São Paulo, ou seja, de Atibaia, Bragança Paulista, Jundiaí, Campinas, Piracicaba, Limeira e Alta Araraquarense.
E assim, aquele grupo social foi tornando-se um mesclado de raças com as mais variadas tendências. Por isso, Caieiras está bem representada na cultura, incluindo as artes e a ciências.
O presente trabalho não tem a pretensão de ser perfeito, mas tem, no entanto, a intenção de trazer ao conhecimento público a vida de um povo, no tempo e no espaço, mostrando a sua evolução moral, material e cultural.
Ao mesmo tempo, a obra procura enaltecer os nomes não somente daqueles que já partiram e que, com muita honra, levaram o nome de Caieiras além das fronteiras, como também daqueles que aqui permaneceram, dando o melhor de seus esforços para o progressso desta coletividade.


O autor


Nota do organizador



A obra de Marcílio Dias de Moraes não é linear. Seu trabalho evita traçar a evolução dos acontecimentos como um livro didático. O autor optou por retratar épocas restritas e momentos isolados que, uma vez reconstituídos, são capazes de montar o mosaico do quebra-cabeça histórico da cidade de Caieiras.
Não houve, portanto, grande preocupação em explorar as últimas décadas. A atenção está centrada na primeira metade do século. Esse direcionamento da pesquisa, que se dedicou, sobretudo aos tempos remotos e deixou lacunas em outros períodos, não deixa de ser legítimo. Ao supervalorizar épocas como os anos 40 e episódios cotidianos da comunidade de trabalhadores, Marcílio capta elementos pitorescos e datados, que não poderiam continuar desconhecidos pelas últimas gerações. A retrospectiva completa pode ainda ser feita por outro historiador, mas, no caso deste livro, a intenção não foi essa.
A alta de rigor técnico na citação de personalidades, sem a convencional apresentação acadêmica, também se justifica. O livro não poderia se tornar uma enciclopédia onomástica, repleta de nomes de rodapé. Para suprir um pouco essa necessidade, já existe o capítulo Personalidades, que trata das biografias de algumas das mais importantes pessoas da história caieirense. Cabe nesse item uma observação. Marcílio Dias preferiu não publicar a saga de personalidades que marcaram o progresso da cidade e que ainda estivessem vivos até a data da primeira edição.
A obra foi produzida não apenas para servir de objeto de consulta, mas para o deleite de quem quiser ler os capítulos narrativos quase como um romance histórico. Há trechos, porém, que não correspondem à essa sutileza literária, como os que se referem à transcrição de leis heráldicas e descrição de paisagens geográficas. Embora sejam capítulos não tão agradáveis quanto outros, não poderiam estar ausentes, visto o seu interesse em trabalhos escolares.
Os moradores mais antigos de Caieiras podem reconhecer nas dezenas de nomes citados alguns de seus antigos familiares. Dessa forma, o autor liga os feitos do personagem passado com o interesse do leitor presente. Cria-se, assim, a identificação do indivíduo com suas própria origens.
O retrato da vida privada e dos laços culturais foi preponderante na pesquisa de Marcílio. Esse aspecto contraria o costume de alguns historiadores em se limitarem à seqüência dos fatos políticos, o que geralmente omite a simplicidade do cotidiano.
A organização do livro decidiu pela divisão em capítulos para tornar o conteúdo (que já estava quase todo escrito) sistematizado e mais digerível. Essa escolha não impede que informações de um capítulo sejam repetidas em outro, de acordo com a necessidade da narração. As mudanças feitas pelo trabalho de revisão visaram padronizar o texto conforme as regras gramaticais e as normas preestabelecidas de redação. Mas o estilo essencial do autor foi mantido.
Vale salientar que os elogios tecidos à Companhia Melhoramentos de São Paulo são espontâneos e partiram do autor, com forma de reconhecimento de Caieiras à empresa precursora de seu desenvolvimento. Não houve motivo comercial, seja em forma de patrocínio ou qualquer outro, que influenciasse essa atitude. O mesmo vale para todos os estabelecimentos comerciais e industriais citados no livro.
“Caieiras - Fatos e Personalidades da Cidade dos Pinheirais” deve ser entendida como a obra de um autor que viveu o período sobre o qual se propôs a escrever. E, como tal, retrata a sua própria visão da história. Leitores que também participaram desses acontecimentos podem não concordar com vários dos pontos documentados.
Todavia, a polêmica só enriquecerá a discussão sobre o tema, podendo até originar futuras obras, capazes de abordar tópicos diferentes. Caieiras só tem a ganhar com iniciativas do gênero. Afinal, um povo que busca freqüentemente conhecer seu passado pode viver melhor seu presente e planejar com prudência o seu futuro.


Renato de Souza


O século 19 e a fundação da Melhoramentos


Os projetos de um coronel


O início da história de Caieiras está estritamente ligado a uma personalidade de destaque do comércio, da agricultura e das instituições financeiras de São Paulo. Trata-se de Antônio Proost Rodovalho, que chegou ao posto de coronel, uma designação típica do século 19, graças ao apoio dado ao Exército brasileiro ainda durante a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Tudo começou quando Rodovalho comprou uma fazenda ao longo do Rio Juqueri-Guaçu, numa região próxima às terras hoje ocupadas pelo Município de Caieiras. Era a oitava década do século passado. Ele plantava uva e chegou até a praticar pecuária na fazenda.
Numa de suas visitas às suas terras, onde costumava caçar e pescar descobriu por meio da observação de pessoas que circulavam no local a existência de minerais ricos em carbonato de cálcio, excelentes para a produção de cal. Esse produto tinha grande valor num país que prenunciava um processo intenso de industrialização na virada do século, exigindo matéria-prima para a construção civil. O local que armazenava os minérios ficou sendo dominado Bom Sucesso, nome que, aliás, seria mantido na oficialização do bairro que ali se formaria.
Já em 1877, o empreendedor Rodovalho mandou construir dois fornos de barranco para o início da produção da cal, mantidos graças ao corte de madeira abundantemente encontrada na região. Os fornos serviram de sugestão para o nome da localidade: Caieiras. Existia já uma trilha pela qual passavam boiadas. Esta foi transformada em estrada para que a cal obtida nos fornos pudesse ser levada à Estação Ferroviária de Perus, em lombo de mula. Produtos derivados da cal, como manilhas, ladrilhos, guias e sarjetas, também eram encaminhados à estação ferroviária da The São Paulo Railway Company Limited, chamada pelo povo de “Inglesa”.
O coronel entrou em acordo com amigos e financistas da Capital e fundou em conjunto, a 25 de julho de 1877, a Companhia Cantareira de Esgotos, que visava extrair os recursos disponíveis em Caieiras para a realização de serviços de higiene em São Paulo. Facilitava-se assim a chegada de água para beber e se banhar


Um núcleo planejado de trabalhadores

Aos poucos, Caieiras foi se tornando um “animado canteiro de obras e serviços”, como cita o historiador Hernani Donato. Trabalhadores italianos que anteriormente se dedicavam à agricultura foram fixados em 180 residências construídas com essa finalidade. Estava formado o primeiro núcleo habitacional planejado para trabalhadores livres do Brasil.
Data de 19 de julho de 1883 a criação da Estação Ferroviária de Caieiras, façanha implantada pela “Inglesa” e solicitado por Rodovalho e seus sócios britânicos e influentes da Cantareira. A partir desse ano, não era mais necessário o uso de animais para o transporte da produção até a estação. Um plano inclinado de 5 mil metros foi construído a mando de Rodovalho para suprir aquele problema. Monjolinho, Fábrica, Calcárea e Bom Sucesso eram os pontos que serviam de depósito do material que era levado em caçambas.
Já nesse período, salas de aula abrigavam aproximadamente 70 crianças em Caieiras propriamente dita e no Bom Sucesso.
O morador Emílio Ascanha, fixado entre o Bom Sucesso e o Monjolinho, mudaria os planos de Rodovalho. Ele misturou guaraná e samambaia na obtenção de uma pasta com características de papel e precisava de ajuda para montar uma fábrica. Após se fazerem pesquisas com materiais sumários, como tina, peneira e fibra, chegou-se ao produto desejado, embora ainda sem muita qualidade.
Decidiu-se então que, a partir de 1877, seria fabricado papel industrial em Caieiras, um projeto que ficou a cargo da empresa alemã Gebruder Hemmer, Neidenburg, Pfalz, considerada especializada nesse tipo de negócio.

A infra-estrutura foi sendo montada paulatinamente. Os materiais necessários para a produção do papel foram sendo obtidos. As pedras foram
Extraídas do morro do Tico-Tico, enquanto o cimento e as folhas de zinco tiveram que ser importados da Europa. Foi feita uma barragem, navegaria barcaças a vapor para o escoamento da produção.
Nessa época, a população de Caieiras recebeu novos imigrantes, desta vez, os alemães vindo de Hamburgo em março de 1889 para a montagem das três primeiras máquinas de fabricar papel, que chegaram um ano antes. O início da produção de papel se deu em 4 de abril de 1890, com o funcionamento de uma das máquinas.
Em abril de 1890, Caieiras recebeu a visita do então presidente da Província de São Paulo, cargo hoje similar ao de governador do Estado. Pelo que a História do Brasil assinala naquele período, o então presidente de São Paulo era Prudente de Morais, que se tornaria em breve o presidente da República. Poderia ser também Jorge Tibiriçá. Não foi possível saber o mês em que um deles saiu do cargo para ser substituído pelo outro. Na visita estavam presentes também outros políticos e empresários. O evento foi documentado na primeira página do jornal O Estado de S. Paulo, em sua edição de 20 de abril de 1890. Todas as instalações da fábrica de papel foram mostradas em detalhes aos seus participantes.
As condições apontavam a possibilidade de criação de uma grande empresa no local. Havia no Rio de Janeiro, capital da República, a Empresa Industrial de Melhoramentos no Brasil, financiada pelo Governo Federal e que pretendia estabelecer negócios nos outros Estados. Estava ali a chance de Rodovalho fundar a sua empresa com base nas instalações que já possuía.


A origem do nome

A denominação “Caieiras” foi dada à estação da antiga estrada de ferro The São Paulo Railway Company Limited pelo seu engenheiro Mac Leod e seus companheiros, após fazerem o levantamento planaltimétrico da região para a locação do leito da ferrovia.
Para dar nome às estações, era praxe usar as características dos lugares onde as mesmas seriam edificadas. Naquela época, entre os poucos pontos característicos do local, estavam os fornos de cal, existentes nas proximidades da estação, no bairro do Monjolinho. Daí, o nome “Caieiras”, em referência à denominação comumente dada aos fornos que produzem cal.

Os fornos se encontram hoje desativados, mas estão no mesmo lugar, quase intactos, como marcos imperecíveis através dos tempos e cuja imagem se encontra gravada no brasão da cidade.


Nasce a Companhia

A Companhia Melhoramentos de São Paulo - Indústria de Papel, com a denominação, simplesmente, de Companhia Melhoramentos de São Paulo, foi então fundada em 12 de setembro de 1890, no salão nobre do Banco do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, por um grupo de empreendedores e progressistas brasileiros.
A denominação “Melhoramentos”, sugestiva e dinâmica, tão adequada à vertiginosidade da terra de Piratininga, permite a formulação de uma hipótese cujos fundamentos se prendem aos primórdios da era republicana, época que, no campo dos negócios e das finanças, se assinalou por violento e descontrolado o surto de atividade de todos os gêneros no Brasil, sob o influxo inflacionista do fim do século 19.
Fundava-se no Rio de Janeiro uma sociedade com a denominação de Empresa Industrial de Melhoramentos do Brasil. Ela pretendia levantar capitais para se formar uma sociedade industrial em cada Unidade de Federação. Todas essas iniciativas se identificariam sempre pela expressão “melhoramentos”, acompanhada do nome do Estado onde estava sendo fundada. Documentos históricos indicam que apenas São Paulo se incorporou ao negócio.
A Companhia Melhoramentos de São Paulo era adquirida por compra feita em nome do coronel Antônio Proost Rodovalho e sua esposa, D. Etelvina Dutra Rodrigues Rodovalho, por escritura de 26 de setembro de 1890.
As anotações do 3º Ofício de Notas da cidade do Rio de Janeiro descreviam os limites de uma a uma das prosperidades de posse da nova empresa. Apesar da cansativa listagem de lugares hoje obsoletos, a descrição é até peculiar. Naquele tempo, havia proprietários de terra conhecidos como “Francisco de Tal” etc. Eis as terras adquiridas pela Melhoramentos por ocasião de sua fundação.
•A Fazenda Manguinho, na Freguesia Nossa Senhora do Ó:
limitada pelo Rio Juqueri, desde a foz do Ribeirão do Joá ou Várzea Grande, até encontrar um rasgão; seguia até as cabeceiras e continuava até a lagoa onde desce a divisa rumo à foz do Ribeirão do Joá; esse terreno dividia-se em toda a sua extensão com terras da sociedade que existia entre o finado capitão Domingos Manoel Barbosa e os herdeiros de D. Maria Joaquina Nóbrega, à exceção do lado de Rio Juqueri;

•A Fazenda Monjolinho: na Freguesia de Parnaíba, que estava compreendida sob o nome de Fazenda Bom Sucesso a parte utilizada na indústria pastoril, situada na Vila Parnaíba; essa vila era limitada pelo lado direito com o Rio Juqueri e por terras da propriedade chamada Fazendinha; pelo lado esquerdo, se encontrava o sítio Crisciúma; à frente, também estava o sítio Crisciúma, além da Estrada de Ferro “The São Paulo Railway” (Santos – Jundiaí); pelos fundos, estavam o Sítio dos Buenos e o Sítio Juqueri – Mirim;

•Pedreiras Olhos de Água: compradas de Charles Jones em 1880 e que estavam agora como dependência da Fazenda Monjolinho;

•Metade do Sítio Fazendinha: na Freguesia do Ó, cujas confrontações partiam do Rio Juqueri até a foz do Ribeirão Juliá ou Várzea Grande, encontrando, a seguir, as terras do sítio que pertencera a José Tibúrcio Leite Penteado; subiam a divisa pelo Córrego Pinheirinho até as cabeceiras; daí, a fazenda da Melhoramentos seguia por um valo velho, que descia até a separação das terras dos herdeiros do proprietário José Manoel Leitão; descia, pois, a divisa pelo Ribeirão da Várzea Grande, terminando na foz do Rio Juqueri;

•Parte do Sítio Crisciúma: nas partes da Freguesia de Nossa Senhora do Ó e da comarca de Jundiaí; as fronteiras eram, pelo lado da Capital, as terras de Francisco de Tal, Valério e Raimundo de Tal; pelo lado do Juqueri, os terrenos de D. Francisca de Tal; pelos lados de Perus, as terras de Dr. Laurindo Abelardo de Brito; pelo lado da linha férrea, o Rio Juqueri;

•Parte do Sítio Morro Grande: os limites eram as terras de Chico Gato, vulgo nome de Francisco de Tal, e os terrenos dos herdeiros de Joaquim Bueno de Moraes e de José Cândido de Moraes, além do Sítio Crisciúma;

•Partes do Sítio Juqueri – Mirim: eram pertencentes ao Distrito e Vila de Parnaíba, compreendendo terras que foram de Antônio Bento da Silva, num lugar chamado Lavrinha; as fronteiras eram: Córrego da Capela do Bom Sucesso, desde a foz do Rio Juqueri – Mirim até o lugar onde ele formava uma espécie de cotovelo; seguindo uma linha à direita, alcançava-se o Morro Agudo, até encontrar a divisa com terras dos Pés e o Rio Juqueri – Mirim; as terras encontravam, a seguir, o Rio Juqueri – Guaçu, se entrecortando com terras dos Rocha; daí achava-se a foz do Córrego do Bom Sucesso, onde toda a divisa se iniciou.

De início, a Melhoramentos de São Paulo deveria usar suas terras também para atividades agroindustriais. Grande parte do capital social da empresa foi admitido em bens reais, que foram divididos em dois grupos:

• 1º grupo: teria instalações industriais montadas nas propriedades de Caieiras e que pertenciam ao coronel Proost Rodovalho, num total de 6 léguas quadradas;

• 2º grupo: propriedades agrícolas nos municípios de São Simão e Pirassununga, no interior do Estado. A idéia era se utilizar várias fazendas com mais de 2 mil alqueires de terra roxa e outros 2.500 de terras baixadas e pastos, além de cerca de 800 mil pés de café formados e mais 1 milhão de outros pés cafeeiros de 1, 2 ou 3 anos. A previsão era que, no ano de 1891, a produção deveria exceder a 80 mil arrobas. A colheita a ser obtida em três anos, só pelo que existia de cafezais a formarem-se, chegaria também a mais de 80 mil arrobas.

Nos bens do primeiro grupo, referente às terras caieirenses, os chamados “louvados” de 1890 salientavam:

“Na fazendinha está a concluir-se a montagem de uma fábrica de papel do tipo mais aperfeiçoado, dotada de todas as máquinas necessárias, edifícios incombustíveis, força motriz hidráulica, três turbinas etc(...) Os louvados são de parecer que a conclusão desta importante fábrica de papel deverá ser ultimada pela atual proprietária e, incluindo a matéria-prima já em depósito, avaliam esta fábrica em 1.200 contos de réis.”

Os dados mencionados eram de grande interesse e curiosidade. Mostravam o arrojo do empreendimento visado dentro de uma sociedade de capital organizada. O capital social da empresa, em 1890, subscrito ou incorporado aos bens reais, chegava a 15 mil contos de réis, uma vultuosa importância para a época.


A Melhoramentos em ação
Os irmãos Weiszflog


Fundada e juridicamente organizada pela forma de sociedade anônima, a trajetória da Companhia Melhoramentos de São Paulo se dividiu em partes distintas: de 1890 a 1920, tempo do pioneirismo de Rodovalho; de 1921 a 1962, era dos pioneiros que surgiam após a entrada dos irmãos Weiszflog na administração da empresa; de 1963 a 1990, período em que tentou se firmar ainda mais no mercado; a partir de 1990, que engloba o seu segundo século de existência.
De 1890 a 1920, a empresa viu-se presa às grandes crises que recaíam sobre a estrutura econômica da República. Lutando com dificuldades imensas, geradas pela diversidade de seus objetivos, a situação se agravava pelas circunstâncias de possuir sua sede no Rio de Janeiro e operar em São Paulo.
O dilema era: ou dedicar-se a objetivos essencialmente agrícolas nas suas imensas fazendas de café e de outras culturas ou voltar-se inteiramente ao setor industrial, que se encontrava carente de atenção e de recursos financeiros.
A diretoria optou pela segunda face do dilema, em consonância com a nova realidade histórica brasileira, que favorecia o crescimento industrial. Anos depois, a Melhoramentos se desinteressa de suas propriedades agrícolas e transfere sua sede finalmente para a capital paulista em 1903.
Em seus primeiros 30 anos, a Companhia Melhoramentos de São Paulo foi marcada pelas constantes lutas de seus notáveis homens de ação, que prestaram o melhor de sua inteligência, capacidade e obstinada confiança no futuro. Valorizando a dedicação de todos, desde os mais humildes trabalhadores até os mais altos dirigentes, cabe citar os nomes de dois dos maiores representantes desse grupo: coronel Antônio Proost Rodovalho e Joaquim Pinto Pereira de Andrade.
O primeiro foi um empreendedor nato, que assentou em Caieiras a primeira máquina de papel da empresa e a terceira do Brasil. Formou o primeiro núcleo de indústrias da Melhoramentos. Já o segundo foi eleito presidente da empresa em 27 de janeiro de 1910 e só sairia do posto em 25 de julho de 1943. Joaquim Pinto era um notável homem de negócios, financista e administrador de grande tato e experiência. Foi por meio dele que foram possíveis os entendimentos que culminaram na incorporação à Companhia da firma Weiszflog Irmãos.
O ano da junção da firma dos irmãos Weiszflog a Melhoramentos foi 1920. Aquela empresa havia sido fundada em 1894 pelos irmãos Otto e Alfried Weiszflog, aos quais se une em 1904 outro irmão, Walther Weiszflog. Ele se tornaria grande colaborador, inicialmente, do departamento editorial da firma. Como Otto faleceu já em 1910, não foi possível ver os destinos promissores que esperavam os irmãos alemães.
A partir de então, a Melhoramentos toma extraordinário impulso, ampliando o âmbito de suas atividades industriais também para o ramo das artes gráficas e da produção de artefatos de papel, serviços de especialidade da antiga Weiszflog Irmãos. Na ata de incorporação a Melhoramentos da firma que funcionava em São Paulo, constavam os seguintes dizeres, escritos em 4 de dezembro de 1920:

“Com o estabelecimento gráfico Weiszflog Irmãos tem todo um perfeito aparelhamento para produzir grande variedade de produtos, com enorme freguesia e representantes espalhados por todo o Brasil, a direção (da Melhoramentos) acha que, saindo do mercado Weiszflog Irmãos, pela venda de todo seu aparelhamento, a nossa Companhia pode, sem receio da falta de consumo, desenvolver sua atividade numa grande produção. Para vender mais barato, é preciso produzir grandes quantidades(...) Para não guardar enormes estoques, grande parte de sua saída será assegurada pela indústria que anexaremos, de pautação, encadernação, livros em branco, edições, fabricação de envelopes, baralhos, tipografia, litografia, enfim, todas as produções de Weiszflog Irmãos.”

O grupo Industrial Weiszflog constituiu-se de fato em fator decisivo para o desenvolvimento da Companhia Melhoramentos. Alfried Weiszflog (1872-1942) empreendeu a realização de vasto programa de reequipamento industrial. Foi o que chamam de homem de ação. Suas diretrizes sempre estiveram providas de prudência e segurança, apesar da conturbada conjuntura econômico-social do mundo. Nas comemorações dos 50 anos da Melhoramentos, em 1960, Alfried foi classificado como “o consolidador” da empresa.



A 2a Guerra e a crise econômica

Em 1938, quando a Alemanha já se preparava para o desfecho da Segunda Guerra Mundial, chamando seus súditos para assumirem seus postos hierárquicos na armada daquele país, iniciou-se também uma grande crise internacional, que finalmente atingiu quase todos os países do mundo.
O Brasil encontrou-se nessa fase de sua história numa situação bastante constrangedora. Mantinha ótimas relações com a Alemanha e tinha representantes da raça germânica em seu território. Os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul detinham colônias alemãs, que até hoje conservam seus costumes, sua tradição e seu folclore, amando tanto o Brasil como a terra de seus pais. Possuem uma cultura riquíssima. Desses Estados, saíram também grandes generais, homens de letras e estadistas .
Eis que, por razões que não conhecemos com absoluta certeza, o Brasil foi obrigado a cerrar fileiras com os Países Aliados, contra os alemães, mandando para a Europa nossos pracinhas.
Naquela ocasião, Caieiras também foi representada na guerra pelos seus filhos Antônio José Nani, Sílvio Pinheiros e padre Aquiles Silvestre, sendo este último retratado em capítulo biográfico à parte.
Curiosamente, naquele mesmo ano de 1938, Companhia Melhoramentos, que resumia em seu âmbito quase toda a história caieirense ocorrida até então, recebeu da Alemanha a sua última encomenda, feita antes da guerra: a Máquina nº 5, fabricada pela firma J. M. Voith Haidenhain, a mais perfeita no gênero, com mais de 100 metros de comprimento e com capacidade de produção de mais de 100 metros de papel por minuto.
Para assentamento dessa máquina, a Companhia foi obrigada a construir um enorme prédio, todo em concreto armado, para resistir seu peso e evitar a vibração provocada por seu movimento de rotação. O prédio foi feito sob responsabilidade técnica da firma Freitas & Janks, tendo como técnico de obras Alexandre Lutswerk, que após o término daquela obra, radicou-se em Caieiras, onde viveu até a morte, cercado de amizades e deixando entre nós sua esposa, D. Paulina Lutswerk.
Vale lembrar que a Melhoramentos mantinha em todos os seus estabelecimentos fabris aparelhos contra incêndios, como o de pó químico e o de soda cáustica, colocados em lugares estratégicos. Havia treinamento periódico do pessoal que operava as máquinas, a fim de se evitarem tragédias.
Caso houvesse atraso na encomenda da máquina nº 5, talvez a Melhoramentos tivesse que aguardar até o final da guerra, em 1945, para sonhar com a chegada da grande mercadoria, uma vez que as relações comerciais de quase todos os países do mundo com a Alemanha se azedaram durante o conflito.
A crise de 1938 atingiu diretamente todas as indústrias paulistas, provocando uma onda de desemprego em massa e chegando ao ponto de causar um êxodo de operários que abandonavam desesperados as cidades rumo ao campo, a fim de encontrarem outras atividades para fugirem da fome e da miséria.
A Melhoramentos também sofreu grandemente esse impacto, vez que importava celulose do Canadá, na América do Norte. Aquela era a principal matéria-prima para o fabrico do papel. Os fardos de celulose eram desembarcados no Porto de Santos e transportados para a Estação de Caieiras pelo trem da antiga “The São Paulo Railway”. Daí para a fábrica de papel, a celulose era levada pelo trenzinho da própria Companhia, o mesmo que em horários normais de trabalho transportava os operários para o serviço.
Quando a importação da celulose tornou-se tão restringida e finalmente cortada, a Companhia conseguiu ainda contornar a situação, devido ao grande estoque que possuía e ao enorme volume de aparas que vinha armazenando através dos anos.
Nesse período, as indústrias de São Paulo lançavam mão da dispensa em massa dos operários. No entanto, a Melhoramentos, graças à habilidade de seu diretor técnico, Johannes Ferdinand Ehlert, apenas diminuiu por certo tempo a jornada de trabalho, mas não despediu um sequer de seus empregados.
A formação moral e cívica dos funcionários os fez reconhecer a crise por que passava a Companhia. Mesmo em horário reduzido, eles deram o máximo de sua capacidade laborativa para que a empresa não viesse a sofrer grande defasagem na produção, o que certamente prejudicaria o atendimento do mercado.
Sendo assim, a Melhoramentos continuou fabricando com suas reservas de celulose o papel de primeira classe. O papel de segunda tinha reservas de aparas, que passavam por um processamento especial para se obter o aproveitamento total.
Mesmo assim, para fazer face àquela crise, a Companhia foi obrigada a lançar mão de um empréstimo do Banco Transatlântico Alemão, o que foi saldado em pouco tempo. Graças à sábia orientação do técnico e administrador Ehlert, naquele conjunto de esforços físicos, materiais e humanos, a Companhia voltou ao seu ritmo normal de trabalho, sendo logo obrigada a aumentar seu contingente de obreiros para atender à demanda do mercado, que também voltava à normalidade.




Uma excursão em massa

Após aquela espetacular vitória da Melhoramentos em poder transpor uma de suas crises, Ehlert não conteve seus impulsos de homem justo e reuniu os sócios para propor que, em reconhecimento pela fidelidade, compreensão e colaboração dos empregados, fosse dado a eles uma recompensa, o que foi aprovado por unanimidade.
Assim resolvido, encarregaram o diretor social da Companhia, Antônio Siqueira Branco, a organizar uma excursão para todos os empregados. O local escolhido foi à praia do Gonzaga, em Santos. Para tal empreendimento, o diretor social tratou de fretar um trem da antiga “São Paulo Railway” para fazer o percurso de Caieiras a Santos, ida e volta, bem como os bondes da Companhia City de Santos para efetuar o trajeto da Estação de Santos à Praia do Gonzaga. A notícia foi recebida pelos operários com gritos de alegria. A partir daí, passaram a contar nos dedos os dias que se passavam.
Finalmente, chegava a madrugada em abandonaram a cama às 4 horas da matina, deixando Caieiras deserta, pois todos corriam apressados a fim de pegar um lugar naquele trem reservado especialmente a eles.
Na plataforma da Estação de Caieiras, na hora da partida, se encontravam os senhores Ehlert e Walther Weiszflog, acompanhados de suas respectivas esposas, D. Alice e D. Bertha, os quais assistiam à saída vagarosa daquele trem repleto de alegria. Os operários gritavam incessantemente “vivas aos bota fora”, gritos estes entrecortados pelos apitos repetidos da máquina. O Maquinista, contagiado pelo entusiasmo dos operários, participava ativamente daquele folguedo e, vendo os operários acenarem com lenços em sinal de despedida, continuou acionando o apito da máquina até o trem desaparecer na curva da estrada.
A viagem foi demorada e cansativa, especialmente para as crianças. Todavia, por outro lado, somente o espetáculo da natureza que tiveram a oportunidade que tiveram de ver na descida da Serra de Santos compensou todo e qualquer sacrifício da viagem.
E para a surpresa de todos, na chegada da caravana à Estação de Santos, notaram que havia dezenas de bondes reservados para o transporte do pessoal até a praia do Gonzaga, os quais traziam faixas escritas “Bem-vindos os caieirenses à nossa cidade”. O que constituiu mais uma surpresa para todos foi quando, passando por uma linda praça no centro da cidade de Santos, lá estavam os diretores da Companhia acenando e dando boas-vindas, o que era respondido com aplausos, num dia em que tudo era festa e alegria.
Ao chegar à praia, cada um procurou o esporte de sua preferência, pois além do banho de mar, havia as corridas de bicicleta, jogos de voleibol, petecas etc, não faltando a caipirinha e os espetinhos de camarão.
Finalmente, por volta das 18 horas, quando o sol baixava detrás da serra, deixando seus raios dourados incidirem sobre as nuvens e provocando os mais variados matizes, todos caminhavam tranqüilos em direção aos bondes que os esperavam enfileirados defronte à praia para a volta à estação de embarque.
Durante a viagem de volta, como era de costume, cada um destrinchava um farnel, uns levavam uma refeição frugal, constituída de pão, queijo, presunto e frutas, outros, o tradicional frango assado com farofa de miúdos. E finalmente, os gastrônomos levavam panelas de macarronadas, carne etc.
Assim, por volta de meia-noite daquele dia, o trem estava chegando à Estação de Caieiras, onde o trenzinho da Companhia os aguardava a fim de leva-los para casa. E assim, para a saudade de todos, ficou aquela viagem na história de Caieiras e na memória nostálgica dos que participaram dela.




Investimentos sucessivos

Os investimentos promovidos pela Companhia Melhoramentos em seu parque industrial sempre representaram aplicações de capital essencialmente brasileiro. Todas as variações que suas finanças sofreram refletiram apenas as possibilidades, retratações ou condições peculiares do mercado nacional de capitais. Ela pode ostentar com orgulho a condição de ser uma das mais antigas empresas industriais do país, com capital, atividades e objetivos que jamais deixaram de ter cunho verdadeiramente nacional.
Em publicação comemorativa do sucesso da empresa, foi citado em 1950 que o desenvolvimento da organização se devia às diretrizes e à atuação do industrial Alfried Weiszflog. “Dele, os dirigentes de 1950, e quiçá os de muitos anos futuros, se sentem continuadores, tão marcantes traços ficaram de sua personalidade no conjunto orgânico das atividades da empresa.”
Em 1950, a Melhoramentos já possuía sua sede social no Bairro da Lapa, em São Paulo, num moderno edifício construído junto aos estabelecimentos industriais da Companhia, totalizando uma área superior a 15 mil metros quadrados. Lá se instalaram as grandes fábricas de diversificados artefatos de papel e organizaram todo o trabalho editorial da empresa. No centro da capital, à Rua Líbero Badaró, no mesmo prédio que em tempos idos pertenceu à firma Weiszflog Irmãos e onde teve sua sede até 1948, a Melhoramentos passou a colocar sua tradicional loja de vendas a varejo, num ponto que se tornou centro costumeiro de encontros de amigos, autores, professores e intelectuais paulistas.
No Rio de Janeiro, a Companhia ainda preferiu manter naquela época uma filial para representa-la e promover a venda e distribuição de seus produtos na cidade que era então a capital do Brasil. Evaristo Bianquini foi a personalidade inesquecível que chefiou durante cerca de 30 anos aquela filial da Melhoramentos.




Um reflorestamento científico

Em todos os lugares onde a Melhoramentos atuou, inclusive Caieiras, sempre foi dada especial atenção ao reflorestamento do solo com essências vegetais utilizáveis na indústria papeleira como matéria-prima ou combustível.
No início dos anos 20, um levantamento realizado pela Companhia captou que dos 4 mil alqueires disponíveis em Caieiras para a empresa, 30% estavam cobertos por mata, 66% por campo e outros 4% ocupados em atividades agrícolas. Os fornos de cal queimavam 3 mil metros cúbicos Poe mês. Outros 700 metros de lenha partiam para os fornos e até para o uso dos moradores locais.
Diante daquela situação alarmante, foram convocados engenheiros silvicultores para planejar tecnicamente um viveiro de mudas de dimensões aproximadas de 2,9 hectares, o que foi finalizado em 1925. Era a primeira floresta cientificamente planejada em todo o subcontinente. Em 1930, havia em Caieiras 442 mil árvores e 1 milhão de mudas aguardavam plantio no mesmo viveiro. Em 1990, quando a Melhoramentos completou seu primeiro século de existência, computavam-se nada menos que 7 milhões de árvores em suas três fazendas florestais, contando aí a participação caieirense.





Os núcleos populacionais

Por paradoxal que pareça, a década de 40, a pior para o mundo devido à Segunda Guerra Mundial, foi ótima para Caieiras. A Companhia Melhoramentos era constituída de um conjunto populacional de centenas de famílias que viviam numa atmosfera de paz e harmonia, a ponto de dar a impressão de que toda a comunidade era formada por uma só família: a família caieirense.
O historiador Hernani Donato, em sua obra “100 Anos da Melhoramentos”, descreve sumariamente a sociedade caieirense do início dos anos 40, tratada também numa edição de 1940 da revista paulistana “Serviço Social”. Tais dados são de grande importância para se recortar o panorama da população da cidade naqueles tempos.
A pesquisa cita que 3 mil pessoas ocupavam os núcleos de trabalho da Companhia, das quais 1.500 eram assalariadas diretamente pela empresa. Ocupar as casas onde moravam aqueles trabalhadores requeria o pagamento de taxas simbólicas de aluguel. Os funcionários podiam se utilizar áreas para cultivo de cereais. Havia concursos e promoções para incentivar a manutenção da limpeza e das fachadas floridas nas residências, tal como existe atualmente em estâncias turísticas do sul do Brasil e de outras regiões. Daí o interesse em se deixarem os jardins e pomares típicos de cidades européias, embora sempre simples.
Os serviços sociais à população carente eram desempenhados normalmente pelas esposas dos diretores da Companhia, como Bertha de Moraes Weiszflog, Ingeborg Reimann, Karola Weiszflog, Adolfa Plöger e Alice Ehlert. Clubes eram pontos constantes de animação.
Especificamente em 1940, foi instalado no local o Tiro de Guerra 35, Seção Caieiras, para treinamento militar. No salão de festas da Companhia Melhoramentos, o capitão fez comentários sobre a cidade na qual estava sendo construído um estande de tiro, a ser instalado num bairro chamado Barreirinho.
O capitão destacou o trabalho do diretor técnico Ferdinand Ehlert, Cujo papel à frente da Melhoramentos e no desenvolvimento em toda região está traçado em capítulos biográficos deste livro. Falava o capitão:

“Assim é que hoje, graças aos seus denodados esforços e larga visão, tem Caieiras uma fábrica de papel das mais perfeitas e uma organização completa, objeto de contínuos e francos elogios, emanados de altas sumidades, em evidência no Brasil e mesmo no Exterior, seja no mundo das letras, do alto comércio, das indústrias em geral, da administração pública, das classes armadas e da religião, tudo pelo aperfeiçoamento de suas instalações, que somente produzem papéis de alta classe”.

A respeito da sociedade caieirense, o militar também fez suas observações.

“No terreno social, tem sido a Companhia Melhoramentos alvo dos maiores encômios, de valor inestimável, em razão de promenarem de vultos de grande projeção intelectual em todos os ramos de atividade e que não têm escondido sua admiração pelo elevado nível de vida da família operária de Caieiras”.

Um dos problemas que mais mereciam atenção do governo brasileiro na época é que, graças ao empenho da administração da Companhia, em nome do senhor Ehlert, ela já possuía a matéria-prima nacional para a produção do papel, fabricada com pinho paulista. Já estava sendo aproveitada a madeira da vasta floresta existente em Caieiras, bem como a de Camanducaia, no Estado de Minas Gerais, a fazenda Levantina, cuja formação também foi uma das mais belas e produtivas realizações da Companhia.
Colaborava-se daquela forma pela emancipação de nossa indústria papeleira em relação à matéria-prima antes importada, gerando uma grande economia de divisas para o País.
Os visitantes verificavam as acomodações dos trabalhadores e de suas famílias em residências confortáveis e providas de todos os requisitos higiênicos e salutares, dispondo de luz elétrica, água encanada, pisos assoalhados e forros de estuque.
As casas tinham amplos terrenos, onde se viam bem cuidados jardins, hortas, tudo muito bem distribuído. E para facilitar o acesso dos moradores aos locais de trabalho, ruas tratadas, com rede de esgoto e bicos de iluminação elétrica eram abertas.
Inteiraram-se da existência de bem organizados serviços de assistência médica, grupo escolar, escolas isoladas, cursos gratuitos de aperfeiçoamento profissional, farmácia e armazém de abastecimento, onde os gêneros de primeira necessidade, inclusive o pão, eram vendidos a preços inferiores aos do comércio varejista de São Paulo.
Havia distribuição de leite puro a preço ínfimo, açougue, quitanda, ferrovia com transportes grátis e que ligavam entre si os bairros em comunicação com os trens da antiga “The São Paulo Railway”, rumo a São Paulo e ao Interior.
Existia também automóvel de passeio cedido a qualquer família da localidade para casos de enfermidade que exigisse tratamento urgente ou hospitalização na Capital. Uma rede telefônica, ligada à linha interurbana, estava à disposição de todos.
A empresa cedia suas terras aos seus operários e ainda incentivava-os a cultiva-las nas horas vagas, adquirindo, aqueles que assim desejassem, as obras da colheita de cereais ao preço em vigor no comércio paulistano.
Os visitantes verificavam que todos os benefícios proporcionavam aos trabalhadores um invejável padrão de vida, o que os fazia ficarem satisfeitos e desejosos de se radicarem em Caieiras.
Os descendentes dos moradores integravam o batalhão de escoteiros criado e mantido pela Companhia, onde os pequenos recebiam instrução cívica, moral e física, excelente preparo a fim de no futuro bem servirem ao Brasil.
Os tais visitantes que a Melhoramentos recebia compreendiam de pronto que ali se produzia algo de fato positivo, nobre e de elevado valor em prol do engrandecimento da Pátria. Eles não se furtavam dos mais calorosos e merecidos aplausos, afirmando todos eles que, em Caieiras, estava perfeitamente resolvido o problema social.
Apontada como uma das mais avançadas do mundo, a Legislação brasileira, em matéria de assistência e previdência sociais, impõe à indústria em geral a obrigatoriedade de contribuições ou encargos que oneram sensivelmente os custos de produção. Esse mesmo sistema de contribuição assistencial e previdenciário, mesmo que altamente custoso não tem podido corresponder aos justos anseios das classes trabalhadoras. Estes não têm conseguido sequer prescindir, como seria justo e ideal, da ação supletiva que as empresas sempre são obrigadas a manter além de suas já pesadas contribuições compulsórias.
Dessa forma, no intuito de que seus empregados e dependentes usufruíssem do máximo de benefícios assistenciais dos órgãos e serviços criados por Lei, a companhia Melhoramentos procurava desde cedo desenvolver um vasto e completo serviço de assistência social própria.
A tradição da empresa foi sempre de estimular a consciência de que os empregados são tão interessados no bem-estar de seus subordinados como estes o são na estabilidade econômica e no desenvolvimento da indústria. Sempre que possível à administração e a responsabilidade pelos serviços sociais eram confiadas aos próprios empregados, com um máximo de autonomia. A interferência da Melhoramentos se limitava a planificar o interesse da consecução de idéias e objetivos comuns, o que era essencial para o seu próprio funcionamento.



A participação na economia nacional

Foram inúmeras as formas em que os empreendimentos da Melhoramentos refletiram na economia nacional já em suas primeiras décadas de atuação, valorizando sempre o homem brasileiro e sua cultura.
Somente para ilustrar, em 1891, primeiro ano de operação da empresa, a Companhia produziu 194 mil quilos de papel. Em 1949, suas máquinas já fabricavam 12.669.900 quilos de papel de excelente e tradicional qualidade, quantia apta a atender às exigências do mercado interno e externo.



Os lançamentos editoriais

Desde a primeira publicação do departamento editorial da Melhoramentos, em 31 de outubro de 1915, já foram lançados milhões de títulos com sua marca nas livrarias de todo país. Nos primeiros 35 anos de sua operação, o número de livros publicado já superava 33 milhões.
A Literatura Infanto-Juvenil, de tanta importância para a formação moral e espiritual das crianças e adolescentes, sempre foi uma das prioridades. No ano de 1950, a Editora Melhoramentos era responsável por aproximadamente 80% das obras infanto-juvenis e 25% das publicações didáticas lançadas anualmente no Brasil.
Os historiadores da Literatura sempre ressaltaram o papel preponderante exercido pelas empresas gráfico-editoras no florescimento das letras pátrias, oferecendo oportunidade aos autores de talento, difundindo obras de valor e encorajando a iniciativa literária até para trabalhos especializados. A divulgação em vernáculos de obras clássicas estrangeiras também foi de suma importância.
O literato Pedro Calmon, membro da Academia Brasileira de Letras, formalizou em 1931 à Companhia Melhoramentos de São Paulo a sua admiração pelo incentivo dado à Literatura:

“Tenho muita satisfação em poder editar na sua casa mais um livro. Isto me honra, porque nenhuma outra empresa editora tão grandes serviços vem prestando às letras nacionais.”

Desde 1915 e depois a partir de 1939, os livros que ostentariam um dia o rótulo “Edições Melhoramentos” têm sido publicados com grande êxito, incluindo grandes e imperecíveis obras, muitas delas de consagrados mestres brasileiros. Grandes intelectuais das primeiras décadas do século puderam ser lidos pela Melhoramentos: Rocha Pombo, Erasmo Brago, Arnaldo de Oliveira Barreto, Mariano de Oliveira, Francisco Viana, Antônio Firmino Proença e outros.
Os livros de História do Brasil também foram destaque no setor editorial da empresa. Entre eles, estiveram “História Geral do Brasil”, de Francisco Adolfo Varnhagen, atualizada por Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, “História do Brasil”, de Frei Vicente do Salvador, e de outras obras de autores não menos importantes, como Manoel de Oliveira Lima, Pedro Taques, Visconde de Taunay, Afonso de E. Taunay e outros.
Para várias categorias profissionais, foram criadas séries especializadas. Aos professores, surgiu a “Biblioteca da Educação”, dirigida pelo prof. Lourenço Filho. Aos agricultores e pecuaristas, destinaram-se três coleções: “Biblioteca Agronômica Melhoramentos”, “Criação e Lavoura” e “ABC do Lavrador Prático.”
Milhões de exemplares de obras didáticas foram colocados no mercado também pelas Edições Melhoramentos, desde as cartilhas de primeiras letras, os mapas, os cadernos, até outras mais complexas, voltadas a estudantes dos cursos secundário e superior.
A literatura Infantil é outro campo vasto, que sempre contou com álbuns, biografias, relatos de viagem, aventuras, histórias didáticas e recreações em geral.
A Melhoramentos sempre contou com a colaboração dos grandes autores de obras para a infância, de tradutores especializados e de ilustradores.



A busca constante do progresso

Por meio de todas as conquistas em prol do povo caieirense e brasileiro como um todo, a Companhia Melhoramentos de São Paulo pôde inscrever em suas edições o seu tradicional slogan: “Do Pinheiro ao Livro – uma Realização Melhoramentos”.
A organização da empresa, incluindo o ciclo completo da fabricação de seus produtos, desde a matéria-prima até o acabamento, representa a busca constante de um ideal. As palavras pronunciadas pelo ex-diretor Alfried Weiszflog para pessoas de sua família, poucos dias antes de falecer, simbolizam esse ideal.

“Revendo tudo quanto fiz na vida, sempre abstraí a minha pessoa da Companhia Melhoramentos de São Paulo para vê-la como um artista que, ao contemplar sua obra, procura melhorá-la, retocando-a até que chegue à perfeição visada... E hoje, finalmente, tentamos terminá-la com a construção e instalação de nossa fábrica de celulose, dando assim, o retoque final à nossa indústria de papel, numa evolução de sentido completamente nacional”.

Alfried Weiszflog (1872-1942)
Jornal O Estado de S.Paulo, 13.12.1942


Essas palavras do eminente industrial, publicadas no jornal O Estado de S.Paulo, Confirmam a importância da atuação da Companhia Melhoramentos de São Paulo ao progresso da terra de Piratininga, procurando sempre honrar e dignificar o lema do brasão paulista: Pro Brasília Fiant Eximia!
Com mais de um século de realizações, a Companhia Melhoramentos é hoje um patrimônio da história de Caieiras, motivo pelo qual faz parte da obra que pretende traçar fatos da cidade. Suas últimas conquistas, como a compra da subsidiária de uma multinacional americana, a KC do Brasil, em 1994, não foi tratada neste livro por serem episódios mais recentes e que merecem análise em obras publicadas no futuro.
Inúmeros outros acontecimentos e personalidades ligadas à história da Melhoramentos estão tratados ao longo de toda esta obra, nos capítulos que a compõem.


Nota explicativa do autor

Grande parte dos fatos relatados neste capítulo sobre a história da Companhia Melhoramentos de São Paulo foi extraída de uma publicação da empresa por ocasião da passagem de seus 60 anos de existência (1890-1950).
Nesse período, o Brasil não era em grande parte um país intervencionista e nem poderia ser, visto que não possuía uma legislação adequada. Mesmo assim, o operariado desta Companhia nunca foi explorado, a exemplo do que ocorreu até em países da Europa, como a Bélgica, no século passado.
Os países capitalistas sugavam o máximo da capacidade laborativa de seus empregados, sem se importar com suas condições de vida. Os trabalhadores chegavam ao estado de extrema miséria, razão pela qual muitos deles abraçaram o comunismo como tábua de salvação.
Esses fatos serviram de subsídio ao grande pontífice Papa Leão X para escrever sua encíclica denominada Rerum Novarum. Esses acontecimentos históricos já tinham sido observados por ele durante o tempo em que foi núncio apostólico daquele país
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Observação: Desde 1994, a denominação da primeira empresa da cidade é Melhoramentos Papéis S.A. No entanto, essa indústria papeleira foi citada nesta obra como Companhia Melhoramentos de São Paulo, por ser um nome mais corrente, popular e que perdurou por mais de um século na história de Caieiras.


Política



Sociedade Amigos de Caieiras

Moradores se unem pelo bem da comunidade


Quando Caieiras ainda era Distrito de Franco da Rocha, ocorreu a fundação da Sociedade Amigos de Caieiras, uma entidade sem vínculos políticos, mas que marcou a organização da população em busca dos objetivos comuns. O fato se deu numa reunião de 30 de agosto de 1936 entre algumas das famílias de Crisciúma e representantes do quadro da Companhia Melhoramentos de São Paulo, que discutiram assuntos de interesse geral da comunidade. Esse encontro ocorreu no largo da Igreja de Santo Antônio de Crisciúma.
Não tardou para ser realizado no mesmo local uma reunião com um fato sui generis. Foi posto em prática o exercício do voto secreto, sistema de votação que ainda estava recém aprovado pela Constituição brasileira de 1934, sendo regulamentado pelo Código Eleitoral feito em seguida. De qualquer forma, não era uma prática política comum no Brasil.
Votaram na reunião da Sociedade Amigos de Caieiras 52 eleitores, ficando assim constituída a diretoria da entidade: Dr. Armando Pinto, presidente, João Leonardo Barreti, vice-presidente, Alcides Maziviero e João Pereira dos Santos, secretário, Atílio Massinelli e Pedro Rodrigues de Paula, tesoureiros, e Geraldo Valim e Luiz Gaspar, como bibliotecários.
Dr. Armando Pinto incumbiu a entidade de preparar seu estatuto e prometeu a doação de um terreno de sua propriedade àquela novel sociedade para a construção de sua sede. Em seguida, passou a escritura pública de doação.
A sociedade Amigos de Caieiras se responsabilizou pela continuidade das obras da Igreja de Santo Antônio a partir do início dos anos 40. Promovia solenidades e festas de Natal com até 500 crianças. Somente em 1942, a associação conseguiu contemplar mais de 1.000 crianças, sendo a maior parte vinda de Franco da Rocha e de Perus em trens especiais, cedidos pela antiga “São Paulo Railway”. Executou também a abertura dos alicerces daquele tempo.
Seus membros estavam sempre ligados a todas as iniciativas levadas a efeito no bairro. Sua atividade pujante se fez sentir em todos os momentos, o que possibilitou tornar Crisciúma a vanguarda das maiores realizações da cidade.
Também por seu empenho, a luz elétrica foi inaugurada em 1939, ocasionando uma festa na casa do senhor Pedro Muro. Em seguida, o povo foi reunido na residência de Dr. Armando Pinto, o qual ofereceu uma recepção especial, deixando aquele dia na história de Caieiras.
Em 1950, a Sociedade Amigos de Caieiras foi extinta, mas seus membros continuaram lutando pelo futuro da cidade.



O Distrito de Franco da Rocha

Caieiras sempre foi ligada a Franco da Rocha e, assim, nunca deixou de dar ao “município pai” sua contribuição física, moral e financeira, até a ocorrência de sua emancipação. Contribuição física porque sempre participou ativamente da vida política francorrochense, desde as primeiras iniciativas daquela cidade no sentido de sua própria emancipação em relação ao então Município de Juqueri, hoje Mairiporã.
Entre os filhos e colaboradores caieirenses que mais participaram da história de Franco da Rocha, esteve o saudoso e dinâmico Dr. Armando Pinto, que lutava por seus ideais políticos por meio da imprensa. Ele comandava o jornal Vida Nova, o qual, com a ajuda de amigos e correligionários cujos nomes dispensam adjetivos, continua até hoje um marco imperecível através dos tempos. Cada exemplar traz uma torrente de entusiasmo e recordações, dando alento para a luta pelo bem-estar da coletividade.
O jornal de Dr. Armando Pinto teve uma atuação marcante na história política de Franco da Rocha, dando cobertura de todos os seus acontecimentos e difundindo os trabalhos executados pelos poderes públicos e pelas entidades particulares. Seu objetivo era sempre a elevação cultural do povo.
Mas a luta pela emancipação de Franco da Rocha seria ferrenha, a ponto de Dr. Armando ser processado por crime de imprensa. Seu acusador não poderia ser outro senão o então prefeito de Juqueri, Benedito Fagundes Marques, que não se conformava com a iminente emancipação de Franco da Rocha. Apesar de ter lançado mão de todos os recursos para evitá-la, tudo foi em vão.
Dr. Armando teve como seu defensor o ilustre criminalista Dr. Boaventura. Num trabalho brilhante, ele conseguiu a absolvição de seu cliente por unanimidade no antigo Fórum da Praça Clóvis Beviláqua. Aquele foi um dia de grande apreensão, tanto por parte de Dr. Armando, como pelos seus amigos. Mas foi também uma data de festa e alegria, pois, após o término do julgamento, Dr. Armando Pinto levou seus amigos à Cantina Capri, onde mandou servir a todos um lauto jantar regado a um bom vinho.
Quanto à emancipação, Franco da Rocha obteve vitória em todos os pontos de vista.
Depois da independência francorrochense, Caieiras ainda continuou subdistrito daquele município. Mas o povo caieirense foi bem representado nas primeiras gestões da Câmara Municipal de Franco da Rocha. Além de Dr. Armando Pinto, outras personalidades a alcançarem o posto de vereador nos anos 40 e 50 foram: Ozório Ferreira Camargo, Sebastião Pimentel, João Henrique de Macedo Mendes, Nelson Manzanares, Vitório Rossi, Antônio Milano Neto, Wilson Garbelini, João Pasin, João Lusvardi e outros cidadãos caieirenses que atuaram na política do distrito no período.
A contribuição moral de Caieiras, citada no início deste capítulo, se entende pela escolha de seus cidadãos de melhor gabarito a fim de representar a comunidade na vida política e administrativa do distrito. Essas pessoas deram o melhor de seus esforços na luta pelo progresso. Quanto à contribuição financeira, Caieiras tinha como subdistrito uma arrecadação muita boa, devido principalmente ao pagamento dos impostos pela Companhia Melhoramentos de São Paulo, disparada a maior empresa da região na época.
A seguir, a galeria dos prefeitos de Franco da Rocha, desde o primeiro mandato:



Galeria dos prefeitos de Franco da Rocha

Benedito Fagundes Marques
De 01.01.45 a 07.02.45 e de 15.12.45 a 24.03.47
Osório Ferreira Camargo
De 07.02.45 a 06.03.45
Cevero de Oliveira Moraes
De 23.11.45 a 15.12.45 e de 24.03.47 a 15.04.47
Aldo Savazoni
De 15.04.47 a 31.12.47
João Victor Júnior (1º eleito)
De 01.01.48 a 31.12.51
Bernardino Pereira Mauro (vice: Pedro Lélis de Souza)
De 01.01.52 a 31.12.55
José Alves Ferreira Filho
(vices: Antônio Molinari e Emílio Hernandes Aguilar)
De 01.01.56 a 31.12.59 e de 01.01.64 a 26.03.65
Pedro Lélis de Souza
(vice: Emílio Hernandes Aguilar)
De 01.01.60 a 31.12.63
Emílio Hernandes Aguilar (mandato prorrogado)
De 26.03.65 a 31.01.69
Donald Savazoni (vice: Antônio Teixeira)
De 01.02.69 a 31.01.73
Ângelo Seleguim (vice: Rocildo Rolim Quesado)
De 01.02.73 a 31.01.77
Donald Savazoni (vice: Oscar de Almeida Nunes)
De 01.02.77 a 25.04.80
Oscar de Almeida Nunes
De 25.04.80 a 31.01.83
Emílio Hernandes Aguilar (vice: Dionízio Bovo)
De 03.02.83 a 31.12.88
Oscar de Almeida Nunes
(vice: José Severo Horta)
De 01.01.89 a 31.12.92
Mário Maurici de Lima Morais
(vice: Widerson Tadeu Anzelotti)
De 01.01.92 a 31.12.96*
* término previsto




As primeiras lideranças políticas

As verdadeiras lideranças políticas começaram a nascer em Caieiras por volta de 1953, quando seu povo queria participar além das representações que mantinham na Câmara Municipal de Franco da Rocha. Desejava-se também um prefeito caieirense no distrito. Daí a razão de terem sido escolhidos para candidatos dois jovens líderes da mocidade de Caieiras: Gino Dártora e Marcílio Dias de Moraes. Estes contavam com apoio da mocidade católica e da população como um todo, estimada na época em 5 mil habitantes o prováveis 800 eleitores.
Franco da Rocha se preparava nesse período para as eleições de 1954. As campanhas políticas se intensificavam cada vez mais e Caieiras também se preparava para a luta, confiante na vitória de seus representantes. Num comício realizado na Avenida Sete de Setembro, no centro de franco da Rocha, os candidatos caieirenses foram aplaudidos por um contingente de aproximadamente 3 mil pessoas. Parecia que havia possibilidade real de vitória. O povo de Franco da Rocha deu naquela noite uma demonstração de civismo, aplaudindo os candidatos mesmo que por uma questão de simpatia.
Mas era público e notório que o bairrismo imperava, razão pela qual os candidatos caieirenses perderam a eleição por uma margem razoável de votos para o candidato “Zezinho”. Apesar do resultado geral negativo, os candidatos de Caieiras tinham obtido cerca de 80% da escolha de eleitores de sua própria cidade.
Logo após a eleição, o prefeito eleito conversou com um dos candidatos derrotados, Marcílio Dias de Moraes, num encontro ocorrido na sede do Clube Expedicionários, então localizado em frente a Fábrica de Linhas Centaurus, hoje Avenida dos Expedicionários. Na oportunidade, Zezinho pediu que os ex-candidatos do subdistrito não ficassem aborrecidos por terem perdido a eleição. “O que pretenderem para Caieiras, eu, como prefeito, tudo farei por vocês”, citou o prefeito eleito.
Mesmo sem esperar, Zezinho recebeu sem nenhum constrangimento a reivindicação: Caieiras desejava sua emancipação político-administrativa. A resposta do prefeito foi clara e sucinta: “Somente peço que não iniciem qualquer movimento nesse sentido pelo menos antes do meado do meu mandato; se iniciarem após esse período, ou mesmo próximo do fim, prometo que, além de não colocar obstáculos, serei também um colaborador, reconheço todo o mérito daquele povo e, acima de tudo, o direito que assiste”.
Aquelas foram, sem dúvida, as primeiras palavras sobre a emancipação política e administrativa de Caieiras, saídas do próprio prefeito recém eleito de Franco da Rocha.


Nomeação e queda do subprefeito

O prefeito José Alves Ferreira Filho, além de cavalheiro, era também um homem de palavra. Da mesma forma como houvera dito, o movimento de emancipação de Caieiras se iniciou realmente no fim de seu mandato. Um de seus primeiros atos foi o da instalação da Subprefeitura de Caieiras, levando um de seus ex-adversários para o cargo de subprefeito: o senhor Gino Dártora.
Na ata da sessão de posse de Gino, consta a data e o endereço do grande evento: 4 de fevereiro de 1956, no edifício onde funcionava a Subprefeitura do Distrito de Caieiras, à Rua Crisciúma, 139, às 17h45. Gino Dártora havia sido “nomeado conforme portaria nº 17, de 2 de fevereiro de 1956”. Após a leitura do termo de compromisso por Cevero de Oliveira Moraes, chefe da Seleção do Expediente e do Pessoal, o documento foi assinado pelo novo subprefeito e pelo chefe do Executivo de Franco da Rocha. Este justificou o nome escolhido para ocupar o posto dizendo que “apesar de haver inúmeros candidatos livres de questões políticas, sua consciência determinou que Gino Dártora fosse nomeado subprefeito de Caieiras”.
Salientou também que estava fazendo uma “política sadia, pois o povo de Caieiras queria Gino não para subprefeito, mas sim para prefeito de Franco da Rocha”. Sua lamentação ficou por conta da ausência das autoridades, especialmente do Poder Legislativo, na homenagem ao novo subdistrito.
Em seu primeiro discurso, já empossado no cargo, Gino proclamou: “Aceito este cargo não porque quero um cargo, mas porque quero cooperar com o município”. Disse também que a renda do distrito seria aplicada exclusivamente em sua própria jurisdição e agradeceu a confiança depositada nele pelo Poder Executivo francorrochense, que estaria tendo nas mãos de José Alves “melhores destinos”.
Facultada a palavra, falaram os senhores Joaquim Cerca, Marcílio Dias de Moraes e Antônio Siqueira Branco, este como representante da Companhia Melhoramentos de São Paulo.
O prefeito municipal encerrou os trabalhos, agradeceu a presença de todos os que compareceram para homenagear Gino Dártora e determinou que a ata fosse lavrada.
Porém, Gino Dártora não ficou muito tempo como subprefeito. Houve desentendimento com o prefeito de Franco da Rocha e acabou sendo exonerado do cargo.
O motivo da discórdia pode ser explicado. Naquela época, o fornecimento de energia elétrica para Caieiras e Franco da Rocha era feito por meio de geradores instalados no Bairro de Pouso Alegre. Havia um fator muito complicador, pois a potência total dos geradores não comportava a demanda de duas cidades ao mesmo tempo. Por isso, era necessário fazer a ligação para Franco da Rocha e Caieiras alternadamente. Ocorre que o subprefeito de Caieiras, Gino Dártora, foi até a casa de máquinas e ordenou a ligação dos geradores para o lado caieirense, deixando a cidade de Franco da Rocha às escuras.
O prefeito Zezinho não gostou da atitude do subprefeito Gino e, conseqüentemente, exonerou-o do cargo. Em substituição, nomeou José Pereira dos Santos, que seria o último subprefeito de Caieiras. Foi um caso puramente administrativo, sem nenhuma interferência política. Por essas alturas, já não mais havia por parte de Gino interesse pelo cargo, vez que suas atitudes e preocupações estavam voltadas para a emancipação política e administrativa de Caieiras. Seu desligamento do cargo, mais cedo ou mais tarde, haveria de acontecer.



O povo toma a iniciativa

A verba destinada pela Prefeitura de Franco da Rocha à Subprefeitura de Caieiras era da ordem de Cr$ 5 mil, o que não dava sequer para tapar os buracos formados pela erosão e muito menos para patrulhar as ruas e as estradas do Subdistrito de Caieiras.
Nessa época, Caieiras contribuía para a sede com uma arrecadação muito boa, devido principalmente á tributação da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Mas a expansão demográfica do município aumentava vertiginosamente e os gastos demandados da receita cresciam na mesma proporção. Logicamente, o prefeito francorrochense não poderia fazer milagres.
A situação financeira de Caieiras tornou-se tão precária que a prefeitura não tinha sequer de contratar um engenheiro para assumir a responsabilidade técnica das obras da Administração Municipal. O salário legal do profissional dessa categoria era cerca de dez salários mínimos vigentes no período. Para preencher aquela lacuna, o prefeito de Franco da Rocha, José Alves Ferreira Filho, contratou os serviços de Marcílio Dias de Moraes, projetista e arquiteto, para trabalhar como técnico de obras daquela prefeitura.
Para cooperar com o prefeito na solução do problema, Marcílio aceitou a condição de receber apenas um salário mínimo, avaliado então em Cr$ 7,00 mensais. Ele deveria despachar os documentos e fazer as vistorias mais urgentes aos sábados e domingos, já que era também funcionário efetivo da São Paulo Light Serviços de Eletricidade, hoje Eletropaulo. Assim sendo, ele trabalhou para a Prefeitura de Franco da Rocha até o final da gestão do prefeito José Alves Ferreira Filho e no começo do mandato de seu sucessor, Pedro Lélis, quando foi substituído por Armando Misson. Este continuaria funcionário da prefeitura até sua aposentadoria.
Com todas essas dificuldades, Caieiras, por meio de seu povo, começou a sentir-se como uma “menina desprezada”, pois estava quase isolada da sede do município, cuja distância era de aproximadamente 5 quilômetros, num trecho cortado por terras pertencentes ao Estado e onde estava localizado o Hospital Psiquiátrico.
Por outro lado, o Município de Franco da Rocha, dado os seus parcos recursos, não poderia oferecer nem para a sede do distrito os serviços públicos mais prementes, quanto menos para seus subdistritos. Por isso, em Caieiras, tudo era feito a partir da iniciativa privada, com seus clubes, escolas e bandas de música, todas sendo entidades mantidas pela Companhia Melhoramentos, inclusive as professoras e o próprio padre capelão. A única escola que havia fora das propriedades da Companhia era a Escola Mista de Crisciúma, mas mesmo esta funcionava num prédio particular, de propriedade de D. Terezinha Camargo Pinto.
No final dos anos 50, não obstante as ruas de Vila Crisciúma fossem despidas de calçamento, eram bem conservadas. Dentro das cercanias do Hospital Psiquiátrico de Franco da Rocha, havia grande quantidade de uma espécie de areia grossa, quase como pedrisco, diferindo apenas pela cor avermelhada. Por permissão do diretor daquele hospital, o material era extraído pela Prefeitura e colocado nas ruas da cidade. Depois de consolidada no terreno, essa areia se tornava como calçamento, evitando a poeira ao mesmo tempo em que não se esvaía com a enxurrada. Mas o calçamento propriamente dito não chegava.
O tempo se passou e o povo se cansou de ficar na expectativa de dias melhores. Eis que num dia do mês de fevereiro de 1956, reuniu-se um grupo de pessoas radicadas em Caieiras no salão de então Cine Santo Antônio, localizado à Rua Domingos do Carmo Leite, Bairro de Crisciúma, onde passou a funcionar mais tarde a Discoteca Rainbow. A finalidade do grupo era de fundar uma agremiação filantrópica do tipo sociedade amigos de bairro. A arrecadação da entidade seria destinada às obras de calçamento de Vila Crisciúma.
As pessoas resolveram por bem que a dita sociedade que se pretendia fundar passaria a denominar-se Comissão Pró-Melhoramentos de Caieiras, a qual futuramente seria a Comissão de Emancipação de Caieiras, pois todo o plano daria certo.
No mesmo dia da reunião, foi eleita por aclamação a primeira diretoria que provisoriamente comandaria os destinos daquela sociedade. Em seguida, tratou-se de preparar o estatuto, cujo objetivo era de arrecadar fundos para obras públicas, tendo por princípio o início do calçamento de Crisciúma.
O povo de Caieiras era e continua sendo um povo extraordinário em matéria de cooperação e filantropia, principalmente quando se trata de um movimento visando o bem-estar da comunidade. Após a primeira reunião da comissão, a notícia se espalhou de boca em boca, a ponto de que, dentro em pouco, toda a população caieirense já se encontrasse inteirada daquele movimento e de suas metas.
Passaram a fazer parte do movimento os senhores Gino Dártora, Marcílio Dias de Moraes, Olindo Dártora, Alípio Martinho, João de Abreu Júnior, João Pasin, Joaquim Cerca, Licínio Jarussi, Assis Crema, Ortézio Crema, José Carlos da Silva Júnior, Francisco Assis Fernandes, Júpiter Bueno, Sebastião de Paula, João Araújo, Sebastião Pereira de Araújo e Jorge Pereira de Araújo. Todos eram ilustres personalidades da história da cidade.



Festas para arrecadar fundos


Programa de calouros

Entre as primeiras decisões da nova diretoria da Comissão Pró-Melhoramentos de Caieiras, esteve a iniciativa de organizar um programa de calouros para arrecadar verbas. O show ocorreria às segundas-feiras, já que nesse dia não havia sessão cinematográfica no salão do Cine Santo Antônio. Sendo assim, o proprietário cedeu gratuitamente o salão para aquela finalidade.
O ingresso do show de calouros era irrisório, de apenas Cr$ 5,00, e a arrecadação era destinada ao início das obras de calçamento de Crisciúma.
O calçamento foi introduzido por quatro funcionários municipais, entre os quais, o senhor Dionízio, que era especialista em assentamento de pedras. Dois canteiros trabalhavam na pedreira preparando as pedras em paralelepípedos, assentados por dois calceteiros. Conseguiu-se, assim, o calçamento de um trecho da Rua Domingos do Carmo Leite, a começar da esquina com a Avenida 14 de Dezembro até a Rua Eugênio Berti. Aquele serviço ficou como um marco inicial na história do povo que, num esforço incomum, iniciava o calçamento de sua cidade. Se não fosse interrompido por motivos políticos e interesses obscuros, o projeto teria continuado a ponto de talvez calçar a cidade toda.
Passando a funcionar semanalmente, o programa de calouros contou em primeiro lugar com colaboração efetiva do maestro Francisco Assis Fernandes, que se encarregou da parte musical do programa, ou seja, do acompanhamento de todos aqueles que se apresentavam para cantar, bem como dos ensaios e da preparação geral dos calouros. Assis reunia os calouros no salão do cinema todos os domingos de manhã e lá passava horas ensaiando as crianças e adultos para a apresentação.
O programa funcionou durante dois anos no salão daquele cinema e tornou-se tão conhecido e freqüentado, que não havia condições de se atender a todos os que chegavam para tomar parte entre os calouros. Não havia interesse em ganhar prêmios, mas apenas de desfrutar o prazer de participar e colaborar com aquela iniciativa.
Aparecia uma gama de artistas de todos os gêneros, como cantores, declamadores, violeiros, catireiros, faquires, comedores de fogo, malabaristas, acordeonistas, solistas e acompanhadores, inclusive conjuntos famosos das rádios da Capital. Houve colaboração até do famoso apresentador e comentarista “Comendador Biguá”, da Rádio Tupi. Ele trouxe em sua companhia vários conjuntos e duplas, como as Irmãs Galvão, Pininha e Serrazinha e um conhecidíssimo cômico da TV Record, Saracura.
Além dessas sessões das segundas à noite, realizavam-se aos domingos à tarde concertos e horas lítero-musicais. Nessas ocasiões, pôde-se contar com a cooperação de muitas personalidades do mundo musical e artístico de São Paulo, como o professor Matuzzi, concertista de violino, e seu amigo e também professor Marcelo Guaicurus, especialista em acompanhamento para concertos de violino e orquestra.
Numa dessas exibições, Caieiras teve a honra de receber a famosa professora de balé Araci Evans de Oliveira. Ela trouxe à cidade 18 números de balé, num programa elaborado com muito carinho. Fora as músicas populares, havia arranjos de câmera e grandes clássicos. As alunas de Araci ficaram encantadas com a viagem pitoresca que fizeram, como também com a hospitalidade do povo caieirense.
Cada menina participante, ao encerrar o espetáculo sob os aplausos frenéticos do público, recebeu uma medalha gravada como lembrança daquele acontecimento. A professora Araci Evans foi presenteada com uma corbelha de rosas. Para o encerramento da festa, a professora escolheu um número especial, com uma coreografia de sua autoria. Para executá-la, foi chamada uma de suas alunas prestes a se formar, Maria de Lourdes Camargo, que dançou a música intitulada “Mercado Persa”.

Concurso de beleza

Realizou-se na mesma época, também no Cine Santo Antônio, um concurso de beleza entre as moças de Caieiras. Desse certame, sagrou-se vencedora Cida Natalina de Abreu, com o título de rainha. Como princesa, ficaram as senhoritas Diva Bugnotti e Neuza Siqueira. O concurso foi patrocinado pela clínica do Dr. Hermann Bello. Além de cobrir todas as despesas da festa, o proprietário da clínica ofereceu lindos presentes às moças eleitas.
Foi nessa festa que Caieiras recebeu a visita da secretária do Comitê Metropolitano do Partido Socialista Brasileiro, D. Eliza Romero Castilho, a convite do professor Alípio Correa Neto, presidente do partido. Nesse partido, chegou a ter livre trânsito até aquele que seria o futuro presidente da República, Jânio da Silva Quadros, sem contar o líder Rogê Ferreira. Usando a palavra, D. Eliza proferiu um belo discurso enaltecendo o povo de Caieiras e parabenizando as moças eleitas.



O fim da participação popular

Lamentavelmente, aquela festa de coroação das meninas caieirenses foi a despedida daquele programa de calouros e, por conseqüência, daquele movimento tão bonito, que congregava toda a família caieirense num ambiente de paz, harmonia e cordialidade. Lutava-se para um objetivo nobre, que era de formar ali o movimento de emancipação de Caieiras, o que não ocorreria por aqueles meios.
Daquele tempo em diante, o movimento de emancipação já se amadurecia. Surgiam os interesses políticos e daquele antigo movimento, que contava com muita gente, separou-se um grupo eclético, que passou a selecionar os elementos que deveriam fazer parte do processo de emancipação.
Um elemento desse grupo selecionado associou-se ao dono do Cine Santo Antônio com uma única condição, ou seja, de proibir a realização do programa de calouros e dos demais eventos. Certa noite encontrava-se a comissão reunida numa das dependências da Panificadora São João, de propriedade de João de Abreu Júnior. Apareceu no local o proprietário do cinema, Osvaldo de Lima. Para a surpresa de todos, ele declarou: “Infelizmente não posso mais permitir o funcionamento do programa de calouros em meu cinema, pois agora tenho um sócio e este proibiu terminantemente o uso do cinema para qualquer outra finalidade”.
Dessa forma, foi entregue aquele salão aos seus proprietários, com todos os aparatos com os quais funcionava o programa de calouros: um palco construído pelo povo em madeira de lei, um aparelho amplificador de som, um microfone com pedestal e um alto-falante tipo corneta. Esses aparelhos acabaram por desaparecer, sem que ninguém prestasse conta ou alguém viesse a reclamar.
Mas aqueles antigos participantes, embora expurgados do grupo privilegiado e jogado ao ostracismo, continuaram trabalhando pela emancipação, visto ser este o sonho de todos, sem exceção. O grupo privilegiado tomou para si a honra de serem seus elementos us únicos emancipadores de Caieiras.



Oposição fictícia

O grupo de caieirenses escolhidos criou então uma oposição fictícia, que jamais existiu na prática. Se existisse, poderia ser somente por parte da Prefeitura de Franco da Rocha, ou então, pela Companhia Melhoramentos, e nunca por parte do povo unido pela realização do sonho de ter seu município independente.
A Companhia Melhoramentos, representada na pessoa de seu diretor administrativo, Dr. Mário de Toledo Moraes, fez questão de esclarecer publicamente a sua posição quanto à emancipação de Caieiras, que poderia estar prestes a se realizar. Para isso, pediu a José Pereira dos Santos, então subprefeito de Caieiras, que convocasse o povo para uma reunião, na qual a empresa faria publicamente seu manifesto.
O subprefeito promoveu a reunião para todas as pessoas interessadas em ouvir o manifesto da Melhoramentos por meio de Mário Toledo de Moraes. Compareceram aproximadamente 60 pessoas. Dr. Mário explicou em detalhes que a Companhia pagava impostos em três municípios, São Paulo, Franco da Rocha e Santana de Parnaíba. Não haveria, portanto, nenhum constrangimento ou alteração quanto ao pagamento de seus tributos diante de uma emancipação caieirense. A diferença seria que, em vez de pagar seus impostos à Prefeitura de Franco da Rocha, passaria a pagá-los ao novo município. No encerramento do discurso, Dr. Mário desejou a todos pleno êxito na campanha e disse que estava aguardando para brevemente poder festejar a vitória com a população.
Já a Prefeitura de Franco da Rocha cumpriu a palavra de não intervenção quanto aos movimentos populares caieirenses. O prefeito daquela cidade, José Alves Ferreira Filho, que chegava a essas alturas ao final de sua gestão, acompanhou paulatinamente todos os acontecimentos com absoluta serenidade, prestigiando com sua presença todas as solenidades. Cumpriu, assim, o que tinha prometido no início de seu mandato, ou seja, dar ao povo de Caieiras o que lhe era de direito: a liberdade sem obstáculos por parte da prefeitura à sua emancipação.
Para não dizer que não houve nenhum protesto por parte de quem quer que seja, ocorreu apenas uma ação popular movida em nome de Nelson Escolfaro, que tentou impedir junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo a realização do plebiscito pela emancipação. Houve nesse caso a anuência do prefeito de Franco da Rocha, numa atitude que se justifica plenamente pela circunstância do cargo que exercia.
Enfim, tudo se passou. Hoje, Franco da Rocha se orgulha da supremacia de ser detentora da sede da comarca. Com o título de “Cidade Ternura”, ela vive como a mãe extremosa com dois filhos queridos. De um lado, está Francisco Morato, que representou um “menino travesso” com seu famoso prefeito extrovertido, Cassiano Gonçalves Passos. Embora fosse cassado duas vezes pela Câmara Municipal de Morato, marcou sua atuação como o “homem de aço”. De outro, está Caieiras, a “Cidade dos Pinheirais”, sem dúvida alguma, a “menina moça” da Comarca de Franco da Rocha. Ela continuou cultuando suas tradições numa atmosfera tranqüila.





O plebiscito da emancipação

A Comissão Pró-Emancipação de Caieiras enviou à Assembléia Legislativa a solicitação oficial para que a população local fosse submetida a um plebiscito que decidiria sobre a criação do Município de Caieiras.
Tomando conhecimento da representação que lhe fora dirigida, a Comissão de Divisão Administrativa e Judiciária da Assembléia Legislativa deliberou aprová-la, ordenando que o plebiscito fosse levado a efeito. Coube, assim, ao Tribunal Eleitoral designar o dia para a realização da consulta à população. Segue abaixo uma adaptação sucinta do parecer assinado por parlamentares como o deputado Francisco (“Chiquito”) Franco, que tanto intercedeu pela emancipação de Caieiras, e o então futuro senador, governador do Estado e deputado federal André Franco Montoro.

Parecer nº 2.056, de 1958, na Comissão de Divisão Administrativa e Judiciária, sobre o processo nº RG 0999, de 1958

Examinando todos os elementos do processo referente ao pedido de elevação do Distrito de Caieiras à categoria de município, verifica-se que a representação deu entrada na Assembléia Legislativa dentro do prazo legal e que, além disso, preenche os demais requisitos legais.
O presidente caso trata de uma jurisdição administrativa que apresenta um índice de população e uma rede superiores respectivamente a 8 mil habitantes e a Cr$ 1 milhão. Assim sendo, já está dispensada de continuar sendo distrito ou subdistrito, já que sua população é de 8.520 habitantes e sua renda arrecadada em 1957 foi de Cr$ 1.506.410,50.
Não deve ser levado em consideração o protesto enviado em ofício pelo prefeito de Fraco da Rocha contra a elevação do distrito em exame à categoria de município. O Distrito de Caieiras atende às normas da Lei Orgânica dos Municípios.
Somos de parece que a Assembléia Legislativa deve mandar proceder o plebiscito solicitado no presente processo. Fica para posterior aprovação no plenário o seguinte:




Projeto de Resolução de 1958

A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo resolve:
Art. 1º - Fica determinada(...) a realização do plebiscito de consulta à população do território compreendido pelas atuais divisas do Distrito de Caieiras, Município de Franco da Rocha, Comarca da Capital,que se pretende seja elevada a município.
Art. 2º - Esta resolução entrará em vigor na data de sua aprovação.
Sala da Comissão, outubro de 1958.

Francisco Franco
Leônidas Camarinha
Scalamandre Sobrinho
Condeixa Filho
Geraldo P. de Barros
Hilário Torloni
Germinal Feijó
João Mendonça Falcão
André Franco Montoro
Aprovado o parecer em reunião de 22 de outubro de 1958

40 votos contrários

Realizado o plebiscito, houve realmente entre os eleitores de Caieiras 40 votos contrários à elevação do subdistrito a município de Caieiras. Mas o fato pode ser explicado por alguns fatores. Havia algumas pessoas que, embora inscritas no quadro de eleitores de Caieiras, viviam em Franco da Rocha, onde residiam e tinham suas atividades, fossem no Hospital Psiquiátrico ou no comércio. Logo, a interação ambiental poderia se tornar um fator preponderante na opinião das pessoas. Por isso, nem sequer acreditaram na possibilidade da conquista da emancipação. Outro fator que contribuiu foi à existência de pessoas que não residiam mais em Caieiras, comparecendo somente no dia da eleição. Estavam completamente fora da realidade e também não acreditaram na emancipação.
O plebiscito teve o seguinte resultado:
Total de votos: 968
A favor à emancipação: 926
Contra a emancipação: 040
Nulo: 001
Branco: 001
Mas nada desses números importa tanto, mas sim, o fato de Caieiras ter sido emancipada. Era a alegria e a felicidade de todos os caieirenses.
A luta pela emancipação político-administrativa de Caieiras foi talvez o movimento mais marcante da história política da cidade. As pessoas que presenciaram aquela batalha política e burocrática jamais se esquecerão de grande conquista de 1958.
Reuniões sucessivas, discordâncias ideológicas e principalmente o desejo de tornar a cidade livre marcavam aquele período nas discussões promovidas em restaurantes e ambientes políticos em geral. Foi uma batalha que exigiu grandes esforços por parte de um grupo de líderes.
Entre esses caieirenses ilustres, esteve Dr. Olindo Dártora. Antes de sua participação ativa em prol da emancipação do município, elegeu-se vereador já na primeira gestão legislativa de Caieiras. Foi naquela ocasião o parlamentar mais votado da cidade. Pouco depois de abandonar a política, Olindo faleceu, deixando um legado de perseverança aos futuros cidadãos da Caieiras emancipada.
Outra personalidade que se destacou no movimento pela independência de Caieiras foi Dr. Jorge Pereira de Araújo. Antes da emancipação, ele já havia participado da campanha eleitoral de Gino Dártora à Prefeitura de Franco da Rocha. Atuou mais tarde na Comissão Pró-Melhoramentos de Caieiras, transformada em Comissão Pró-Emancipação, da qual foi secretário. Disputou a primeira eleição de vereadores da cidade e ficou como segundo suplente, vindo a exercer o cargo de 1960 a 1963. Candidatou-se a prefeito nas eleições de 1976 e 1982 e voltou à Câmara dos Vereadores após o pleito de 1992.



História Contemporânea

Da primeira legislatura a 1994


1960 a 1963

Prefeito: Gino Dártora.
Vice-prefeito: Milton Ferreira Neves
Presidentes da Câmara: José Carlos da Silva Júnior (1960 a 1962); Antônio Molinari (1963)
Vereadores: Alcides Ferracini, Alfredo Casarotto, Américo Massinelli, Antônio Molinari, João Henrique de Macedo, José Carlos da Silva Júnior, Luiz Lopes Lansac, Olindo Dártora e Teldoro Gonçalves Machado.
Suplentes que assumiram a vereança: Assis Crema, Guilmar G. Nunes, João Menegatti, Pedro Massaia e Jorge Pereira de Araújo.

Essa administração, sendo a primeira a reger os destinos de Caieiras, teve grandes dificuldades no desempenho de suas funções. Nada estava estruturado. Tudo estava por fazer, desde a organização do quadro de funcionários e a gestão do orçamento de acordo com a fonte arrecadadora, até as poucas obras públicas que foram possíveis de executar. Faltavam recursos à prefeitura recém-nascida.
Mesmo assim, as poucas obras que conseguiram ser concretizadas deram a Caieiras um novo aspecto, ou seja, de uma cidade propriamente dita, na qual podia-se ver hasteada na fachada da prefeitura sua própria bandeira, ao lado do Pavilhão Nacional. Dava-se, dessa forma, motivo de orgulho ao povo caieirense.
O primeiro prefeito chamou para seus auxiliares administrativos os senhores Édio Barsotti e Donald Savazoni, além de Benedito Rodrigues, o “Guta”, e Antônio Gaspar, este para atuar na parte técnica. Após essa gestão. Eles continuaram como assessores de prefeitos seguintes.



1964 a 1969

Prefeito: José César de Oliveira.
Vice-prefeito: Mílton Ferreira Neves
Presidentes da Câmara: Américo Massinelli (1964); Júpiter Bueno da Silva (1965 a 1967); João Menegatti (1968 a 1969).
Vereadores: Antônio Molinari, Américo Massinelli, João Henrique de Macedo Mendes, João Menegatti, Júpiter Bueno da Silva, Vanda Batista de Oliveira, Verque José Gonçalves Leme, Vitório Rossi e Waldemar Baboim.
Suplentes que assumiram a vereança: Assis Crema, Augusto Pereira, Anésio Bulgarelli e Zeferino Fabrega.

Essa legislatura seria de 1964 a 1967, mas foi prorrogada até janeiro de 1969. Como assessores, o prefeito teve os jovens dinâmicos Donald Savazoni e Édio Barsotti, bem como Benedito Rodrigues e João Fackri. Eles ocuparam cargos de destaque, como auxiliares diretos da Administração Municipal. Os três vieram a falecer muito jovens, deixando, no entanto, um passado de glórias. Foram exemplos de dedicação e amor a Caieiras.


1969 a 1973

Prefeitos: Gino Dártora (01.02.69 a 16.10.69); Américo Massinelli (17.10.69 a 28.11.70); Nelson Manzanares (28.11.70 a 31.01.73).
Vice-prefeitos: Antônio Furlaneto (01.02.69 a 19.11.70); Verque Gonçalves Leme (28.11.70 a 31.01.73).
Presidentes da Câmara: Nelson Manzanares (1969); Américo Massinelli (1969); João Henrique de Macedo Mendes (1969 a 1970); Dércio Pasin (1970 a 1971) e Américo Massinelli (1971 a 1973).
Vereadores: Américo Massinelli, Armando Pastro, Dércio Pasin, João Henrique de Macedo Mendes, Luiz Gonzaga Dártora e Luiz Verque Gonçalves Leme.
Suplentes que assumiram a vereança: Antônio Molinari, Assis Crema, Benedito Lopes de Campos, Sebastião Pereira de Araújo, Valdemar Pedro Parizotto e Waldemar Baboim.

Gino Dártora atuou como prefeito entre fevereiro e outubro de 1969, quando foi afastado do cargo pela Câmara Municipal de Caieiras. Assumiu o cargo vago o então presidente da Câmara, Américo Massinelli, que completou o mandato tampão em novembro de 1970.
Em eleição suplementar, foi eleito para prefeito Dr. Nelson Manzanares, que teve como vice Verque Gonçalves Leme. Nesse período, foi construído o Centro Esportivo Municipal de Caieiras e se iniciou o plano de industrialização.


1973 a 1977

Prefeito: José César de Oliveira
Vice-prefeito: Lorides Del Porto.
Presidentes da Câmara: Dércio Pasin (1973 a 1975); Pedro Sérgio Graf Nunes (1975); Mauri Gabrielli (1976).
Vereadores: Afdóquia Chaib Ferreira Neves, Antônio Romero Polon, Benedito Lopes de Camargo, Dércio Pasin, Esther Pinto Polkorny, João Menegatti, Mário Della Torre, Mauri Gabrielli, Pedro Sérgio Graf Nunes, Savério Agostinelli e Verque Gonçalves Leme.

Esses anos foram de grande progresso para a cidade, pois já se encontrava pronta toda a infra-estrutura para a concretização do Parque Manufatureiro de Caieiras, bem como os loteamentos específicos para esse fim: a Vila Industrial de Vera Tereza e o Parque Araucária, localizado às margens da ex-Estrada Velha de Campinas, no trecho entre Perus e Caieiras.
Houve também a reestruturação dos principais órgãos estaduais que tratam dos melhoramentos públicos, como Cesp, Sabesp e Telesp, o que veio dar condições para o pleno desenvolvimento da industrialização caieirense.


1977 a 1982

Prefeitos: Gino Dártora (1977 a 1982); Luiz Lopes Lansac (1982).
Vice-prefeito: Luiz Lopes Lansac.
Presidentes da Câmara: Névio Luiz Aranha Dártora (1977 a 1978 e de 1981 a 1982); Aparecido Correa de Campos e Savério Agostinelli (1978); Carlos Gomes (1979 a 1980).
Vereadores: Aparecido Correa de Campos, Assis Crema, Benedito Lopes de Campos, Carlos Gomes, Dércio Pasin, Hugo Pereira da Silva, João Henrique de Macedo Mendes, Luiz Spigarollo, Mário Della Torre, Nelson Manzanares, Névio Luiz Aranha Dártora, Ruth de Carvalho Dártora e Savério Agostinelli.
Suplentes: João Messias de Alvarenga, Antônio Alves de Jesus, Pedro Martins Ramos, Ataíde de Camargo, Romeu Govato, Antônio Romero Polon, Afdóquia Chaib Ferreira Neves, Mauri Gabrielli e João Menegatti.

Essa gestão foi pontilhada de muitos acontecimentos políticos, incluindo controvérsias entre a Câmara Municipal e a Prefeitura, especialmente no tocante às obras de vulto do Executivo, cujo mérito não cabe nesta obra discutir.
Entre tantas iniciativas, existe uma que merece destaque: o projeto de construção de Vila Esperança. Embora seriamente criticada pela oposição, ela trouxe à população de baixa renda a oportunidade única de adquirir sua casa própria, sem sacrifício do orçamento doméstico. Suas prestações foram calculadas sobre o percentual do salário recebido pelo comprador. Basta dizer que uma modesta funcionária da prefeitura, com seu minguado salário de merendeira, conseguiu adquirir sua casa própria sem faltar o pão de cada dia de seus filhos.


1983 a 1988

Prefeito: Nelson Fiore.
Vice-prefeito: Fausto da Silva Júnior.
Presidentes da Câmara: Assis Crema (1983 a 1984); Mílton Valbuza Silveira (1985 a 1986); Névio Luiz Aranha Dártora (1987 a 1988).
Vereadores: Afdóquia Chaib Ferreira Neves, Aparecido Correa de Campos, Antônio Romero Polon, Assis Crema, Daniel Donha Fernandes, Edson Martins, João Henrique de Macedo Mendes, José Lira Guedes, Mílton Valbuza Silveira, Nelson Urtado, Névio Luiz Aranha Dártora, Pedro Sérgio Graf Nunes e Vanda Matiazzo.
Suplentes: Antônio Molinari e Valdemar Pedro Parizotto.

Esse mandato foi de relativa tranqüilidade. À essa altura, no início dos anos 80, Caieiras já se encontrava com as soluções para todos os problemas de bases consolidadas, com uma infra-estrutura capaz de dar a seu parque manufatureiro todas as condições de funcionamento, como abastecimento de água abundante, energia elétrica e isenção de certos tributos para novas empresas. Chegara-se à consolidação estrutural e seu efetivo funcionamento.
No entanto, registraram-se problemas de ordem financeira, que recaíram principalmente no início da administração do prefeito seguinte.


1989 a 1992

Prefeito: Dr. Mílton Ferreira Neves.
Vice-prefeito: Edson Navarro.
Presidentes da Câmara: Aparecido Correa de Campos (1989); Nelson Urtado (1990), Afdóquia Chaib Ferreira (1991); Antônio Romero Polon (1992)
Vereadores: Aparecido Correa de Campos, Ítalo Agostinelli Neto, Ilma dos Santos Batista, Nelson Urtado, Afdóquia Chaib Ferreira Neves, Antônio Romero Polon, Benedito Pereira Pio, José Soares, Manoel Sales da Silva, Maria José de Mello Manzanares, Mílton Valbuza Silveira, Névio Luiz Aranha Dártora, Osmarino de Oliveira e Silva, Sérgio Eduardo Menegatti e Valdemar Pedro Parizotto.
A sétima administração encontrou na Prefeitura de Caieiras um verdadeiro caos, com cofres vazios, dívidas altíssimas e atraso no pagamento dos funcionários. Mesmo assim, o povo de Caieiras sempre tem confiança nos eleitos. Dado seu amadurecimento político, soube escolher para ocuparem os respectivos cargos pessoas honestas, sinceras, conhecedoras das necessidades do município, bem como dos principais problemas administrativos. Estavam imbuídas de um desejo de dar a Caieiras o franco progresso em todos os setores de atividade.


1993 a 1996 *

Prefeito: Névio Luiz Aranha Dártora.
Vice-prefeito: Pedro Sérgio Graf Nunes
Presidentes da Câmara: José Soares (1993); Nelson Urtado (1994); Jorge Pereira de Araújo (1995).
Vereadores: Afdóquia Chaib Ferreira Neves, Antônio Romero Polon, Daniel Marcolino da Cruz, Jesuíto Guedes dos Santos, Jorge Pereira de Araújo, José Soares, José Vicente Filho, Maria José de Mello Manzanares, Marli Roma Agostinelli, Nelson Urtado e Paulo do Carmo Monteiro.

* término previsto

Sem demérito a todos os prefeitos que passaram pela administração de Caieiras, o jovem prefeito Névio Luiz Aranha Dártora merece atenção especial. Ele deixa seu nome gravado na galeria de prefeitos para os quais esta obra deposita um pleito de gratidão e saudade.
De antemão, cabem as homenagens do povo de Caieiras aos feitos de Névio, como jovem dinâmico e trabalhador na solução dos problemas do município. Ele não deu apenas continuidade ás obras iniciadas por outros prefeitos, como também as aprimorou, tendo sempre sua atenção voltada para o bem-estar do povo.
A promoção de atividades culturais e esportivas já marcou honrosamente seu governo. Os Jogos Regionais, evento que reuniu em 1994, atletas e espectadores de mais de 30 cidades do interior paulista, entraram para a história como um dos principais acontecimentos festivo da década na região. Cada bairro ganha um ginásio de esportes, equipado para várias modalidades.
Além do incentivo à cultura, ao esporte e ao lazer, seu governo tem como prioridade à solução da casa própria. Moradias já foram entregues e outras tantas já estão a caminho da população carente.
Na gestão do prefeito Névio Dártora, muitas obras públicas foram empreendidas, como a construção do novo Velório Municipal e do Galpão do Produtor Rural. As ruas da cidade receberam cerca de 350 mil metros quadrados de asfalto. Foi viabilizada a canalização do Córrego Crisciúma e do acesso às ruas Santa Rita, São João, São Pedro e Presidente Kennedy. No setor de transporte público, a estação rodoviária entrou em processo de total reestruturação.
Na área educacional, sua administração priorizou a construção do prédio da primeira faculdade da região. Novos estabelecimentos das Escolas Municipais de Educação Maternal e Infantil (Ememis) foram colocados à disposição da população. Foi inaugurado mais um posto médico no Bairro do Serpa, mais especificamente no Jardim dos Eucaliptos. O Pronto Socorro Central, que se tornou um mini-hospital, passou a operar 24 horas por dia e ganhou leitos, novos equipamentos e serviço de parto.
Nos esportes, o apoio foi grande, com a inauguração do Ginásio de Esportes Ivan Carlos e de uma piscina aquecida no Centro Esportivo Municipal (CEM), além de outra piscina comum no Bairro do Serpa. Novos centros esportivos foram erguidos para as comunidades de Vila Rosina e do Jardim Nova Era. Caieiras foi a primeira cidade do Estado a ganhar uma pista de atletismo. Investimentos foram destinados ao Parque Industrial. O Bairro de Laranjeiras, pelas suas dimensões, ganhou um prédio para sediar sua Regional.
É com justo orgulho que registramos seus feitos na história da “Cidade dos Pinheirais” e de seu povo.



A vida presente

Caieiras pode se orgulhar hoje de ocupar o segundo lugar entre os municípios que compõem a Grande São Paulo em serviços sociais, como calçamento, água e esgoto.
Conta com seu parque manufatureiro, composto de mais de 60 indústrias de porte. Entre elas, está uma das pioneiras da fabricação de papel no Brasil, a Companhia Melhoramentos de São Paulo, cuja história se encontra descrita em vários dos capítulos desta obra.
O comércio de Caieiras, embora não seja o mais expressivo da região, contava já em 1988 com 310 estabelecimentos.
Quanto ao desenvolvimento cultural, a cidade possui escolas estaduais, municipais e particulares. E uma faculdade que se avista no horizonte...
Apesar do muito que ainda tem por ser feito, o povo caieirense tem tudo para ser feliz, principalmente porque, desde os primórdios tempos, vive em paz, harmonia e cordialidade.
A cidade tem aspecto alegre, clima ameno. Além do centro comercial e das fábricas, aldeias estão incrustadas no meio da vasta floresta de luxuriante vegetação, composta de pinus de várias espécies: araucária, heliot, conífera etc. Essas plantas servem de reflorestamento permanente da Companhia Melhoramentos e ocupam uma área aproximada de 4 mil alqueires paulistas.
O lazer do povo de Caieiras consiste das tradicionais festas esportivas, como jogos de futebol, voleibol, basquetebol e natação. Conta também com bailes, desfiles e concurso de fanfarra. Além dessas diversões, saem de Caieiras excursões programadas para os demais Estados do País.



Indústria e Comércio


O parque industrial

A análise do atual panorama industrial e comercial de Caieiras não permite a publicação de estudos detalhados, motivo pelo qual esta obra não tem condições de listar todos os estabelecimentos ligados a esses setores. Esse assunto mereceria até uma publicação à parte, dada a sua abrangência, importância e minúcia de tratamento de todos os fatores inter-relacionados.
De qualquer forma, a atividade industrial na cidade sempre foi promissora, haja vista o seu próprio nascimento, ocorrido a partir da instalação de uma indústria que se tornaria uma das pioneiras da fabricação de papel no País, a Companhia Melhoramentos de São Paulo. A cidade já chegou até a sediar feiras industriais nos anos 70, com a participação de grandes empresas do Brasil.
Dados divulgados pela Administração Municipal em fevereiro de 1988 apontavam a existência de 64 empresas no ramo produtivo, oferecendo empregos para habitantes não só de Caieiras, mas de toda a região. A disposição desse parque industrial não se encontrava mais concentrada num único ponto do município. Ao contrário, os estabelecimentos estavam distribuídos desde a região central até os bairros mais periféricos.
As indústrias instaladas na cidade, sendo pequenas, médias ou grandes, são dos mais variados setores: plástico, mecânico, metalúrgico, químico, papeleiro, agrícola, têxtil, alimentício, construção civil etc. Entre elas, estavam nessa lista de 1988 a Almeida Equipamentos Rodoviários Ltda., a Arseme Indústria Metalúrgica Ltda., Companhia Melhoramentos de São Paulo, Dresser do Brasil Ltda., MD Nicolaus – Indústria de Papéis Ltda., Polyplastic S/A Indústria e Comércio, Primícia S/A Indústria e Comércio, Telexpel Papéis para Teleinformática Ltda. e outras.
Na década de 90, algumas indústrias da cidade já se lançam rumo à modernização que o próprio mercado e a concorrência nacional e internacional impõem. Há estabelecimentos, como a Melbar Produtos de Lignina Ltda., que já vêm adotando mecanismos de ajuste da empresa a normas como a ISSO 9.000, passo fundamental para a melhor operacionalização e sobrevivência das indústrias do século 21.



As iniciativas comerciais

Apesar de ser conhecido do público o fato de Caieiras não possuir uma forte infra-estrutura comercial, nem sequer um mercado consumidor grande e diversificado, os números a respeito sempre surpreenderam. A exemplo do setor industrial, o comércio caieirense não está retratado por dados precisos e atuais. Há de se basear em estatísticas antigas, que apesar da perda da utilidade prática, não estão desprovidas de interesse histórico.
Relatório fornecido pela Prefeitura de Caieiras em fevereiro de 1988 enumerava 310 estabelecimentos comerciais na cidade, uma média de quase uma loja para 100 habitantes. Os setores envolvidos eram os mais distintos possíveis: alimentício, artesanal, construção civil, mecânico, cultural e muitos outros. A maior parte deles era de pequeno porte.
Como no setor industrial, os estabelecimentos de comércio já se encontravam nessa época distribuídos ao longo de todos os bairros. Cabe salientar que muitos deles já não existem, mas marcaram presença no desenvolvimento comercial do município, sendo substituído por outros nos anos seguintes.
A Associação Comercial e Industrial de Caieiras (Acisc), fundada com o empenho do advogado Marcílio Dias de Moraes, hoje afastado da entidade, pode prestar mais informações sobre a indústria e o comércio de Caieiras nos anos 90. A publicação de um catálogo co todos os estabelecimentos criados nesses ramos e que ainda funcionam na cidade seria de grande serventia.
Reportagens publicadas nos jornais regionais mostram a intenção da Prefeitura de Caieiras, na administração de Névio Luiz Aranha Dártora, de ceder o espaço para a construção do primeiro centro de compras da cidade, um shopping center, que ficaria ao lado da velha Estação Ferroviária do município. Poderia ser uma forma de intensificar as relações comerciais num mercado em condições de crescer. Os próximos anos serão decisivos nesse progresso.
O comerciante Firmiano Pacheco, cuja biografia está tratada no capítulo Personalidades, representa o progresso do comércio da cidade.



Transportes
Dos barcos ao primeiro automóvel




O represamento do Rio Juqueri e os primórdios das ferrovias

Nos primórdios tempos da história de Caieiras, ainda no final do século passado, o único sistema de transporte próprio da região era o fluvial. Uma pequena barragem foi construída no Rio Juqueri, ao lado da fábrica de papel da então recém fundada Melhoramentos, visando a elevação do nível das águas.
A obra pretendia possibilitar a movimentação de barcos de pequeno calado para o transporte pessoal e material da fábrica à Estação de Caieiras. Esta já estava conectada à ferrovia The São Paulo Railway Company Limited, chamado popularmente de “A Inglesa” (em referência à nacionalidade de seus idealizadores), desde 1883.
Mas antes de tratar propriamente da ferrovia, vale citar um fato ocorrido durante o período de construção da barragem do Rio Juqueri, tão importante para a escoação da pequena produção da época. O historiador Hernâni Donato documentou em suas pesquisas sobre a centenária Companhia Melhoramentos um episódio ocorrido em 26 de maio de 1889, ano da Proclamação da República do Brasil.
Um técnico alemão que trabalhava na construção da barragem escreveu à sua família uma carta relatando sua aventura. Segundo ele, o proprietário das terras que ficavam além do Rio Juqueri mandou “alguns negros armados (o Brasil tinha acabado com a escravatura apenas um ano antes) arrancar o dique”. Após uma troca de tiros, os supostos invasores abandonaram a represa a voltaram em seguida, sendo novamente expulsos do local à bala. A tensão fez com que fosse instalada uma comunidade trabalhadora para defender a barragem, o que originaria também o primeiro cemitério das futuras terras caieirenses. Nele foram enterrados profissionais alemães vindos da cidade de Hamburgo, vítimas dos perigos selvagens da região, como cobras e frutas venenosas.
A ferrovia que depois transformaria na Rede Ferroviária Federal S.A., agora controlada pelo Governo do Estado de São Paulo, mantinha na Estação de Caieiras a única área que não pertencia à Companhia Melhoramentos em toda a redondeza. Partia dela um caminho mal conservado, que passava ainda pelas terras da Companhia, beirando algumas casas velhas, com destino a um terreno pertencente aos Carmo Leite. Dirigia-se em seguida ao Morro Grande, sempre atravessando as propriedades da empresa.
Com o passar do tempo, a Melhoramentos foi paulatinamente construindo outros meios de transporte. Em primeiro lugar, colocou em operação uma estrada de rodagem da Estação de Caieiras até a fábrica de papel. Depois, montou uma estrada de ferro interligando os bairros da Fábrica, Cerâmica, Monjolinho, Calcárea e Bom Sucesso, combinando, conseqüentemente, com os horários da “Inglesa”. Hoje, a ferrovia da Companhia está totalmente desativada e o transporte interno é feito por meio de ônibus e caminhões.




O surgimento dos trens de subúrbio

Por volta de 1940, não havia trens de subúrbio entre Caieiras e São Paulo. Existia apenas alguns trens da velha “The São Paulo Railway” que, em horários muito esparsos, vindos de Barretos e Tupã, interior do Estado, paravam na estação caieirense para serem abastecidos de água e não necessariamente para apanhar passageiros.
Porém, naqueles horários, alguns passageiros aproveitavam para tomar o trem a São Paulo, ocorrendo o mesmo na volta da Capital. Na época, a cidade já possuía moradores com residências fixas, entre ao quais, o advogado Dr. Armando Pinto, que militava na Comarca de São Paulo, à Rua São Bento, e o funcionário da popular Rádio Record, Luiz Lopes Lansac. Eles necessitavam de uma condução com intervalos de tempo regulares para atenderem o horário comercial de São Paulo. Daí a razão de um dia terem encabeçado um abaixo-assinado enviado à direção da estrada de ferro para que a mesma determinasse uma parada oficial de trem na Estação de Caieiras, já que o número de passageiros aumentava dia a dia.
O requerimento foi prontamente atendido pela diretoria, que estabeleceu que um trem da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, que partia de Tupã rumo a São Paulo e Santos, anexasse um vagão a mais para atender os passageiros caieirenses que viajavam e voltavam de São Paulo diariamente. O vagão anexado àquela composição era do tipo misto, isto é, metade de primeira classe e metade, de segunda.
A partir de então, trabalhadores como Luiz Lopes Lansac poderiam chegar com maior tranqüilidade em São Paulo. Lansac posteriormente seria funcionário da TV Record, uma das primeiras emissoras de TV do Brasil. Hoje, ele se encontra aposentado de seu emprego naquela empresa, mas continua como um marco imperecível através dos tempos, pois mora em Caieiras e participa, como pode, da vida política da cidade, como testemunha ocular dos fatos. Os trens da época jamais se apagarão de sua memória.



Vagões de luxo e conforto

A composição de passageiros dos trens da Companhia Paulista de Estrada de Ferro S.A era constituída de vagões de aço sobre truques pesadíssimos, que davam ao trem uma estabilidade à toda prova, com uma saída macia e silenciosa, quase imperceptível. Mesmo em alta velocidade, a trepidação era absorvida por molas especiais. E quanto ao ruído, ouvia-se apenas um pequeno chiado provocado pelo atrito das rodas sobre os trilhos.
Os bancos eram forrados com tecidos de palhinha de Índia, sendo seus encostos cobertos com capas de puro linho irlandês. O carro restaurante continha iluminação especial e era provido de lustres de cristal da Boêmia. O teto do vagão tinha uma abóboda com vidros coloridos em desenhos com junta metálica.
Os móveis eram de mogno envernizado, as mesas eram cobertas com toalhas de puro linho e adornadas com vasos de cristal que continham cravos vermelhos.
O carro “pullman”, que representava uma sala de visitas de alto luxo, além dos requintes já descritos, era composto de mesas redondas para jogos e leitura, com poltronas giratórias forradas de couro legítimo.
A tripulação era composta de maquinista, foguista, cozinheiros, copeiros, garçons, camareiros e guarda-trem. Este último se encarregava de fiscalizar o comportamento dos passageiros e auxiliá-los em todo e qualquer caso de emergência.



Enfim, quatro rodas

O primeiro automóvel particular de Vila Crisciúma foi de propriedade do morador Amato Bugnotti. Era preto e tinha a chapa P-4328 fixada sob o farol dianteiro esquerdo.




Segurança Pública

O subdistrito ganha uma delegacia

Durante a gestão de Aldo Savazoni na Prefeitura de Franco da Rocha (nos anos 40), pessoa que administrava, por conseqüência, toda a comarca daquela cidade, incluindo Caieiras, estava como titular da delegacia de polícia local o Dr. Antenor de Castro Lélis.
Neste período, foi inaugurado uma subdelegacia de polícia de Caieiras, que funcionou num prédio cedido pela Companhia Melhoramentos a partir do dia 9 de julho de 1947.
O primeiro subdelegado de polícia de Caieiras foi Antônio Milano Neto, que teve como suplentes Elpídio Pereira da Silva e Porfírio Antônio da Silva.



Educação
Um século de aula



A primeira escola
Logo que foi formada a população de Crisciúma, no início dos anos 30, seus moradores manifestaram o desejo de construção de uma escola para suas crianças. Aquela justíssima aspiração sofreu oposição oculta por algum tempo. Mas os obstáculos foram superados.
Inicialmente, houve tentativa frustrada de se estabelecer uma escola no Morro Grande, o que não vingou por falta de freqüência do corpo discente, ainda muito pequeno, e por dificuldades da própria professora. A escola seria então transferida para Crisciúma.
Avisados de que as carteiras a serem utilizadas pelos estudantes precisavam ser conduzidas para o novo local, o advogado Dr. Armando Pinto emprestou o caminhão do morador Antônio Baboim para transportá-las ao pequeno prédio que se encontra até hoje ao lado da Estação Ferroviária de Caieiras. O local foi entregue ao ensino das crianças caieirenses pela sua proprietária, D. Terezinha Camargo Pinto, esposa de Dr. Armando.
Finalmente, a 18 de fevereiro de 1942, foi inaugurada a Escola Mista de Caieiras, que teve como primeira professora D. Ondina Bravo, a quem se deveu um ensino eficiente, preparando para um futuro melhor. Muitos alunos daquela ilustre professora vivem hoje, sendo elementos de projeção no meio social de Caieiras.
No ato inaugural do primeiro colégio de Caieiras, houve benção da sala de aula pelo reverendo padre Aquiles Silvestre, pároco da Companhia Melhoramentos de São Paulo, com a presença dos professores Adamastor Batista, Francisco Gonçalves Vieira e outros.
Citações do historiador Hernâni Donato em “100 Anos da Melhoramentos” revelam que já no século passado , quando chegaram os primeiros imigrantes italianos para trabalhar na fábrica de cal que originaria a Melhoramentos, escolas já foram fundadas para cerca de 70 crianças. Completa-se, portanto, um século na tentativa de levar o ensino às crianças de Caieiras.
Nos primeiros anos da década de 40, havia 355 crianças estudando em 7 salas de aula no centro de Caieiras, num tempo em que meninos e meninas ainda ocupavam classes separadas. Ao todo, eram 597 estudantes, espalhados em 15 classes, incluindo as do Monjolinho e da Calcárea. Esses dados mostram uma grande evolução do setor educacional na cidade pouco tempo após o surgimento da primeira escola.



Panorama atual

Passadas décadas após o surgimento de suas primeiras escolas, Caieiras registra hoje 17 estabelecimentos públicos de ensino de 1º e 2º graus, 11 pré-escolas municipais e 2 colégios particulares em geral. Trata-se de um progresso que se faz significativo quando comparamos esses números com a realidade educacional daqueles difíceis anos 40. Na época, poucas eram as famílias dos bairros periféricos que tinham condições de enviar seus filhos à escola, uma vez que as crianças já eram obrigadas a cooperarem no trabalho dos pais pelo aumento da renda familiar.
A Delegacia de Ensino de Caieiras, construída nos anos 70 na Avenida Prof. Carvalho Pinto, expede as principais decisões do setor educacional das cidades da região. Apesar da precariedade do ensino público atual da qual a cidade também é vítima, os caieirenses ainda podem se orgulhar de ter um número de escolas e uma qualidade de serviços minimamente compatíveis com as expectativas de seus alunos, com raras exceções. Trata-se de uma realidade não vista na grande maioria das cidades brasileiras.




Catolicismo


A igreja de Santo Antônio

Da pedra fundamental à chegada das imagens
No início da década de 30, D. Ambrosina do Carmo Buonaguide, proprietária de terras que formariam o Bairro de Crisciúma, manifestou desejo de levantar uma capela em louvor a Santo Antônio. Para tanto, reservou um terreno e doou-o mais tarde à Mitra Diocesana de Bragança Paulista, cujo bispo titular era D. José Maurício da Rocha. Tratava-se de uma bela área de 8.670 metros quadrados.
A iniciativa de D. Ambrosina foi plenamente amparada pelo advogado Dr. Armando Pinto, o qual sugeriu que, ao invés de uma capela, fosse construída uma igreja maior, prevendo já o futuro da povoação.
Em abril de 1934, realizou-se a primeira reunião das diversas pessoas que se obrigaram a levantar o templo em honra a Santo Antônio. O livro de presença do encontro foi assinado por ilustres personalidades: Ambrosina do Carmo Bounaguide, Dr. Armando Pinto, Terezinha Camargo Pinto, José Carlos da Silva, Nicolau Kiss, Geraldo Valim, Idalina Arruda Camargo, Manoel Gaspar, Pedro Viana, Luiz Gaspar, Paulina Viana Gaspar, Manoel Ruivo, José Silverinha, Manoel Gomes, Antônio Generoso da Silva, Gonçalo Siqueira da Rocha, Francisco Pereira Leite, Euclides Antônio Domingues, Jaime Diogo da Silva, Elza S. Moraes, José Pasini, Ricieri Paschoaloto, João Augusto de Souza, Pedro Muro Vasquez, Lúcia Muro, Maurício Massinelli, Faustina Monteiro da Cruz, Miguel Lopes, Domingos Toigo, Érico Wusbacher, Luiz Lopes Lansac, José Molo, Benedito Buonaguide, Tereza Maria das Dores, Afonsina Pereira, Maria José da Silva, Carlos de Carvalho, Maria da Silva, Atílio Massinelli e Antônio Baboim.
Não tardando que outros viessem amparar a louvável iniciativa, cada um se prontificou a contribuir com a importância de 1 mil réis mensalmente.
Aos 17 de junho de 1934, foi lançada a pedra fundamental para o levantamento do templo, com a presença do reverendo padre Luiz Assemany, vigário de Juqueri. Na ocasião, foi constituída a primeira comissão para dirigir aquele movimento, a qual teve como presidente Dr. Armando Pinto e como vocais os senhores Manoel Gaspar, Pedro Muro Vasquez, Atílio Massinelli, Francisco Teixeira de Araújo, José Silverinha, Adil Pais Leme, Zamith, Luiz Gaspar, Geraldo Valim, José Molo e Benedito Bounaguide.
Precisamente às 16 horas do dia 3 de maio de 1936, realizou-se a solenidade do início da construção do Templo de Santo Antônio de Crisciúma, cujo primeiro tijolo foi assentado por José César de Azevedo Soares, então subprefeito de Franco da Rocha, lavrando-se a respectiva ata. Sobre o ato, falou Dr. Armando Pinto.
No mesmo mês de maio, fez-se outra reunião da comissão, na qual Dr. Armando declarou ter confiado aos pedreiros e serventes integrantes do quadro de empregados da Companhia Melhoramentos as obras de construção da igreja, em atenção à boa vontade apresentada pelos mesmos.
Foi declarado que os senhores Ângelo Lumazini, Antônio Cestarolli, Pedro Leite, José Lumazini, João Cecati, Benedito da Silva, Antônio dos Santos e João Bertolo, que se achavam presentes, comprometiam-se a trabalhar na construção em suas horas vagas. Ficou combinado também que os pedreiros trabalhariam a 1.700 réis por hora e os serventes, a 1.000 réis. Como mestre de obras, foi designado o senhor Ângelo Lumazini.
A parte dos fundos da igreja foi inaugurada solenemente em 26 de junho de 1936. As imagens de Santo Antônio, o padroeiro, do Sagrado Coração de Jesus e do Sagrado Coração de Maria foram introduzidas no interior do templo. Elas foram transportadas de São Paulo em procissão acompanhada pelo reverendo frei Luigi e pelos paroquianos do Pari, que deram um exemplo inequívoco de solidariedade cristã.
Foram padrinhos da imagem de Santo Antônio o senhor Firmiano Pinto e Silva e sua mãe, D. Emília Pinto e Silva, que foram seus doadores. Do sagrado Coração de Jesus, o senhor Atílio Massinelli e D. Idalina Arruda Camargo foram os padrinhos. Já para a imagem do Coração de Maria, foram escolhidos Dr. Armando Pinto e D. Ambrosina do Carmo Buonaguide.
A comissão pôde, pelos relevantes serviços prestados, fazer a entrega do templo ao povo de Crisciúma em apenas dois meses. Vale ressaltar o concurso inestimável do povo de Caieiras para isso, porque Crisciúma possuía naqueles tempos poucas casas e reduzidíssima população.
O montante das obras, segundo consta numa demonstração de receita e despesa, acusava um lucro da ordem de 5.362,900 réis e gastos 11.025,900 réis, o que representava, portanto, um déficit de 5.663,000 réis. Examinando essas contas, foi possível encontrar em anexo o parecer seguinte:

Os abaixo-assinados tendo aceitado o convite que lhes fez o ilustríssimo advogado Dr. Armando Pinto, presidente da Comissão de Obras da Igreja de Santo Antônio de Crisciúma, para darem parecer sobre este balancete, apresentado pelo mesmo senhor conforme documentos de 1 a 19 e de números 1 a 36, referentes às receitas e despesas, respectivamente, com a construção deste templo, examinaram e acharam tudo conforme. Temos assim o prazer de apresentar os nossos votos de congratulação pela maneira correta com que tem sabido conduzir-se, abraçando tão espinhosa missão.

Caieiras, 28 de agosto de 1936.

Ubaldo Meneguini
Luiz Lopes Lansac
Domingos Toigo


A Sociedade Amigos de Caieiras, fundada em 1936 e cuja história está relatada em capítulos à parte, reservou a si a incumbência de continuar as obras de construção da igreja, sempre com a participação do jornal Vida Nova, que embora sendo de Franco da Rocha, desde logo se tornou o legítimo reivindicador dos interesses do bairro.
Nas datas nacionais, a entidade tomava a iniciativa de fazer realizar as solenidades, promovendo também as festas do “Natal das Crianças”. O primeiro Natal atraiu 500 crianças. A abertura dos alicerces da Igreja de Santo Antônio de Crisciúma ficou também a cargo dos sócios da Sociedade Amigos de Caieiras, numa demonstração de solidariedade cristã.



Anos de paralisação

No início da década de 40, houve uma paralisação total das obras da Igreja de Santo Antônio, dadas às dificuldades financeiras da época e tendo como fator os efeitos da Segunda Guerra Mundial, como inflação e desemprego.
Nesta época, a igreja se encontrava respaldada e coberta, mas não tinha ainda nem portas e janelas, sendo que, no vão das mesmas, foram colocadas algumas tábuas para evitar a entrada de animais de porte. Essa paralisação durou aproximadamente 12 anos e, durante esse tempo, Caieiras recebia uma vez por mês a visita do pároco de Franco da Rocha, padre José Botinelli.
Durante esse período, a pobreza da igreja era total, pois não possuía um paramento sequer para a celebração da missa. Dada a pobreza também da Paróquia de Franco da Rocha, o padre Botinelli aparecia com a batina rota, embora bem passadas pelas senhoras zeladoras do culto. Não havia sino, nem altar e nem campainha. Padre Botinelli celebrava a missa sobre um caixote vazio de cebola e acompanhado por um dos fiéis, mesmo porque também não havia coroinha.



Episódios misteriosos

Aconteceu nessa época um fato pitoresco. Correu um boato que a Igreja de Santo Antônio de Crisciúma se encontrava mal assombrada e que as pessoas que por lá passavam em altas horas da noite ouviam barulhos e choros de criança. No começo, houve muitas piadas e brincadeiras a respeito do assunto, mas com o passar do tempo, as notícias foram aumentando.
Os curiosos começaram a freqüentar o lugar e a permanecer lá até tarde da noite a fim de ver e ouvir o fenômeno tão propalado. E o pior é que realmente ouviam o referido barulho e os sussurros que pareciam gemidos de pessoas. O fato foi se agravando a ponto de ser evitada por muita gente a passagem por aquele lugar.
O povo resolveu então se reunir e nomear uma comissão para desvendar o mistério. Um grupo de pessoas armadas já descobriu na primeira noite de plantão o enigma.
Era nada mais, nada menos, que um casal de corujas gigantes das chamadas Suindaras, que construíram um ninho entre o telhado e o forro da sacristia da igreja. Nas noites de lua cheia, as corujas faziam seus folguedos amorosos, apavorando a todos os que por lá passavam às altas horas da noite.
Um outro fato pitoresco, sem muita importância, porém, digno de nota, ocorreu na mesma época.
Segundo um costume do interior, de onde vieram muitas das primeiras famílias a residirem em Crisciúma, festejavam-se, respectivamente, nas datas de 13, 24 e 29 de junho, os dias do santo padroeiro Santo Antônio, de São João Batista e de São Pedro, o príncipe da Igreja Católica Apostólica Romana. Nessas datas, eram hasteadas bandeiras que traziam os retratos de cada santo. Se não houvesse no local um cruzeiro, este seria colocado como um marco de fé e tradição do catolicismo.
Todo ano era eleita uma comissão de festeiros, composta de meia dúzia de pessoas. Pela tradição, era escolhido também o cidadão responsável pela colocação do mastro com sua bandeira, a qual era trocada por outra no ano seguinte. O cruzeiro também poderia ser trocado caso sua madeira se encontrasse apodrecida ou comida pelos cupins.
Aconteceu que, num determinado ano, o cruzeiro foi trocado por um de madeira completamente verde. Por isso, o povo começou a notar que a madeira da cruz não secava. Em pouco tempo, começaram a surgir brotos. Com o passar dos anos, transformou-se numa frondosa árvore, que passou a dar sombra ao pátio e abrigar as aves. Estava dada a prova de fertilidade das terras de Vila Crisciúma, cujas casas com enormes quintais possuem grande quantidade de árvores frutíferas, como abacate, caqui e até parreiras de uva.



Reinício das obras e inauguração

Por volta de 1950, Dr. Armando Pinto, embora fosse um homem que não admitia cansaço, começava a se sentir exausto de tantas atividades. Reconhecendo que já era hora de dividir suas responsabilidades, resolveu nomear uma comissão para prosseguir as obras da Igreja de Santo Antônio. Escolheu um grupo de pessoas de sua confiança para ocupar aquele cargo, ficando a diretoria da comissão assim constituída: Marcílio Dias de Moraes, presidente, Santo Pascoal Menegatti, vice-presidente, Luiz Lopes Lansac, secretário, José Massinelli, tesoureiro, Manoel Sanches, zelador do culto, e Antônio Furlanetto, segundo secretário.
Logo após a posse daquela diretoria, foi elaborado o projeto definitivo da igreja pelo projetista de arquitetura Marcílio Dias de Moraes, que contou com a colaboração do arquiteto Aquiles Gabriel Mirabelli, especialista em cálculo de concreto armado. Este calculou a ferragem da torre, vistoriou toda a obra e deu toda a assistência técnica necessária à sua segurança.
Mas as dificuldades encontradas pela comissão para dar prosseguimento à obra não foram poucas. No princípio, não havia luz elétrica, nem água. As quermesses para angariar fundos eram feitas sob luz de vela e lampião de gás.
A água era obtida dos vizinhos mais próximos, que a tiravam de seus poços com sarilhos. Mesmo assim, a comissão, movida por um sentimento de fé e um espírito de luta, lançou mãos à obra, enfrentando todas as dificuldades.
Na ocasião, o povo de Caieiras deu uma prova de seu verdadeiro espírito de fraternidade, pois uniu-se em torno da comissão, dando apoio irrestrito e colaborando de todas as formas possíveis para que a obra não sofresse interrupção.
O senhor Luiz Lopes Lansac, que trabalhava na Rádio Record, obteve daquela emissora, a título de empréstimo, um pequeno gerador de força movido à gasolina, o que veio dar condições de se realizarem as quermesses com iluminação elétrica.
Para sanar as dificuldades que ainda existiam, a comissão iniciou a abertura de um poço em terreno da igreja, e bem próximo dela, a fim de obter água para a continuidade das obras. No ano de 1954, foi eleito prefeito de Franco da Rocha o senhor José Alves Ferreira Filho, que não apenas concordou com a abertura daquele poço, como também visitou a obra periodicamente, pondo-se à disposição para eventuais necessidades, apesar dos parcos recursos que possuía a sua prefeitura.
A partir daí, tudo mudou, pois a comissão continuou trabalhando normalmente e realizando suas quermesses, além das festas tradicionais, cujos fundos deram condições para contratar profissionais que terminassem a obra.
Os contratados para o término da torre foram o senhor Guilherme Wilhelm e seu sobrinho Hans Friedhelm Sliper, chamado de Fritz. Sebastião de Paula foi contratado para executar o acabamento interno e, num trabalho de verdadeiro artista, moldou as colunas em estilo romano e com capitéis dóricos, repetindo esse estilo no altar. A escada foi feita em granito.
Finalmente, em 1960, o povo de Caieiras teve a satisfação de assistir à inauguração da Igreja de Santo Antônio de Crisciúma, com a visita de D. José Maurício da Rocha, então bispo diocesano de Bragança Paulista. Na manhã do dia da inauguração, ele oficiou missa solene e, à tarde, o santo Sacramento do Crisma.
Mais tarde, as terras que haviam sido doadas por D. Ambrosina do Carmo Buonaguide serviriam não só para a igreja, mas também para a construção de um jardim e de uma concha acústica própria para a realização de espetáculos. O monsenhor José César de Oliveira, hoje com mais de quatro décadas de sacerdócio, se tornaria pároco da Igreja de Santo Antônio e coordenaria muitos dos principais momentos eclesiais da cidade.



O santo padroeiro

Santo Antônio de Lisboa, conhecido também por Santo Antônio de Pádua, por ter vivido muito naquela cidade portuguesa, é o padroeiro de Caieiras. Era filho de Martins de Bulhões e Tereza Taveira, sendo seu nome secular, Fernando de Bulhões. Nasceu em Lisboa no ano de 1195 e faleceu em Pádua em 1232, onde deixou fama de orador eloqüentíssimo. Religioso franciscano, foi levar aos muros da África as sacrossantas luzes do Evangelho.
Costumam invocá-lo especialmente para encontrar objetos perdidos. Em Portugal, é o santo mais popular, ligando-se ao seu nome lendas graciosas. As crônicas lhe atribuem inúmeros milagres. Geralmente é representado por uma imagem na qual tem na mão um livro sobre o qual está colocado o Menino Jesus.


Outros templos

A devoção religiosa sempre foi um dos traços populares marcantes dos católicos caieirenses. Antes da construção da Igreja de Santo Antônio, os fiéis já freqüentavam as igrejas construídas pela Companhia Melhoramentos em seu território: a Nossa Senhora do Rosário, erguida em 1917 e que ostenta o rótulo de mais antigo templo da cidade, e a São José, de 1933, cuja simplicidade é enobrecida por seu capricho arquitetônico.
Associações de formação religiosa e cursos de prendas domésticas estavam abertos ao público na primeira metade do século, sob a direção do capelão padre Aquiles Silvestre, jovem criativo e muito trabalhador.
Aos poucos, foram surgindo igrejas nos outros bairros, como a Capela de Nossa Senhora Aparecida, no Serpa, em 1953, com a liderança de um grupo no qual se incluíam os senhores Antônio Portela, José de Almeida e Ferruci Guzon.



Cultura

Anos festivos

Clubes, festas e entidades culturais agitavam o dia-a-dia dos trabalhadores da região

O esporte e as comemorações de 1º de maio
Na década de 40, Caieiras teve uma vida social intensa. A televisão havia apenas na imaginação do povo e muitos nem sequer acreditavam na possibilidade de um dia possuí-la, visto que, naquela época, o rádio ainda era um objeto de luxo, difícil de ser adquirido devido ao seu alto custo. Por isso, o povo vivia mais agrupado. As diversões mais procuradas eram o cinema, o baile e os passeios.
Os esportes prediletos eram o futebol, o voleibol e a natação. A cidade possuía naquela época quatro clubes de caráter esportivo e recreativo, todos de renome: Clube Recreativo Melhoramentos, fundado em 1916, União Recreativa Melhoramentos (antigo Esporte Clube Caieiras, de 1927), Ítalo Futebol Clube, de 1924 (transformado em Brasil Futebol Clube), e, finalmente, o Expressinho da Sociedade Amigos de Caieiras, este mais recente. Os times desses clubes disputavam campeonatos internos e externos com os demais clubes da segunda divisão do futebol profissional, como Nacional Futebol Clube, Lapianinho, Elevadores Atlas, Guarda Civil de São Paulo etc. Mais tarde, na década de 50, até os grandes times da primeira divisão apareciam em Caieiras para jogar, como Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Portuguesa. As mensalidades dos clubes caieirenses eram consideradas módicas, quase simbólicas.
Em fotos datadas provavelmente dos anos 40, mas em estado precário de conservação, podem ser vistos perfilados os jogadores do primeiro e do segundo quadros do Clube União Recreativa Melhoramentos de São Paulo.
No primeiro quadro, eram eles: Mário Del Porto, Lumazini, Messias, Egídio, Jorge, Samim, Otávio, Cherim, Tite, Armando, Camargo I, Tunga, Paulino, Adelino e Raul. Já no segundo quadro, jogavam alguns esportistas do primeiro grupo: Egídio, Renato, Cutia, Luiz Zovaro, Florêncio, Antônio Basejo, Dino, Vitório, Armando Basejo, Tite, Tunga, Camargo II, Lula e Joãozinho. O técnico de ambos os times era Basílio Spigarollo e um dos juízes freqüentadores das partidas era Artur Del Porto.
A praça de esportes do União Recreativa Melhoramentos de São Paulo era constantemente alugada por clubes e grandes firmas da Capital, que fretavam trens da antiga The São Paulo Railway Company Limited, cuja composição transportava aproximadamente 4 mil pessoas.
A festa começava pela manhã com toda sorte de brincadeiras para crianças. Em seguida, vinham as gincanas para moças e rapazes e, à tarde, jogos de futebol entre equipes locais e visitantes. Assim, as praças de esporte de Caieiras se tornavam disputadas entre clubes e empresas de São Paulo.
A exceção era a data de 1º de maio, quando se comemora o “Dia do Trabalhador”. Nessas ocasiões, a festa se realizava sob o auspício da Companhia Melhoramentos, com um programa composto de missa campal e solene pela manhã celebrada pelo então padre Aquiles Silvestre, capelão da Companhia. A seguir, era a vez das gincanas, com brincadeiras para crianças e adultos. No período da tarde, competições de futebol com clubes da região e outros convidados.
Durante todo o dia, havia farta distribuição de chope, sanduíche e outras guloseimas. Essas festas eram sempre prestigiadas com a presença do diretor técnico da Melhoramentos, Johannes Ferdinand Ehlert, de sua esposa, D. Alice, e de sua filha, Renata.



O ápice nos anos 90

Saltando várias décadas na história esportiva da cidade, chegamos até julho de 1994, ano em que ocorreram os 38ºs. Jogos Regionais, que reuniram em Caieiras mais de 4 mil atletas de todo o Estado de São Paulo. Delegações de mais de 35 cidades foram alojadas em escolas e outros departamentos do município e da região. Foram 10 dias de muita competição, festa, torcida e trabalho, capazes de marcar para sempre a história do esporte em Caieiras.
Para a realização do evento, a administração municipal desenvolveu uma infra-estrutura singular no País, se for levado em conta o tamanho da cidade sede. Ginásios de esporte, quadra etc foram reformados e outros construídos. Todos os detalhes foram bem planejados. Na festa de abertura, grandes personalidades da política nacional estiveram presentes, sendo aplaudidos por milhares de espectadores.



A chegada do teatro

Entre as entidades culturais existentes nos anos 40, Caieiras possuía grupos dramáticos, compostos de jovens que se dedicavam ao teatro amador. Esses grupos se encontravam sob orientação de pessoas capacitadas nas artes tanto cênica como coreográfica, entre os quais, pode-se destacar a pessoa do jovem Nelson Turini, que veio a Caieiras com sua esposa ainda jovem, a fim de trabalhar como escriturário da Companhia Melhoramentos.
Nos primeiros contatos que teve com a mocidade caieirense, Turini notou que havia um campo fértil para o desenvolvimento de seu trabalho como teatrólogo, pois havia recentemente se formado em Artes Cênicas e Coreográficas na capital paulista. Portanto, tinha verdadeira fome de aplicar seus conhecimentos na prática da arte dramática.
Para isso, pôde contar não apenas com o elemento humano, ou seja, com uma mocidade dinâmica, mas também com o apoio da Companhia Melhoramentos no fornecimento de todo o material e infra-estrutura necessários, como salão com palco para ensaios, material para confecção de cenários, enfim, todos os móveis imprescindíveis na composição das cenas.
Dessa forma, aqueles grupos tiveram condições de levar ao palco peças de renome e de grande responsabilidade por parte dos figurantes, cooperando assim para a elevação cultural daquele povo.



O “Cine Cayeirense”

Os caieirenses já puderam desfrutar de cinemas em seu território. Na década de 40, três salas de cinema, com aparelhos considerados modernos para a época e a preços módicos, eram opção de lazer para a população.
A sétima arte chegou a Caieiras ainda em 1917, apenas 22 anos após sua invenção. Mas somente nos anos 40 o cinema passou a operar num prédio próprio e adequado: o antigo salão de festas da cidade. Uma placa apontava no alto “Cine Cayeirense”, com o “y” que a Língua Portuguesa impunha naqueles tempos.
O senhor Domingos Toigo trabalhou na organização das primeiras exibições daquele cinema. Como os filmes ainda eram mudos, Domingos tocava violino para animar a noite dos expectadores, enquanto Clímene mostrava seus dotes artísticos ao piano. Se os filmes eram bons, não se pode avaliar com o gosto moderno. Mas, com certeza, o concerto devia ser digno de valer um ingresso à parte.
No salão de festas, realizavam-se também reuniões comemorativas, conferências e recepções. Entre seus conferencistas, estiveram: padre Banwar, diretor da Federação das Congregações Marianas de São Paulo, Dr. José Azevedo Santos, diretor da Ação Católica da Capital, comendadores Melilo e Tolosa e o próprio D. José Gaspar Afonseca e Silva, arcebispo metropolitano de São Paulo, todos convidados por padre Aquiles Silvestre.
O Cine Cayeirense foi desativado no início da década de 60 e, poucos anos depois, começou a destruição do prédio.
Os famosos bailes da passagem do ano e de carnaval também ocorriam naquele espaço. Em matéria de carnaval, Caieiras ajudou a incrementar as festas da alta sociedade das grandes cidades. A fábrica de papel da Melhoramentos chegou a produzir em 1919 uma espécie de papel parafinado e outro tido como base para estampas. Com a instalação de bobinas na Cerâmica, confete e serpentina passaram a ser enviados em caixas de madeira para animar o carnaval de todo o País.
Outro cinema – o Cine Santo Antônio – foi instalado no prédio da atual Discoteca Rainbow, que também chegou a ser usado para importantes eventos da história da cidade, documentados no capítulo sobre a emancipação política do Município de Caieiras. Pouco antes de sua desativação, os caieirenses assistiam nele a filmes tanto internacionais, tipo, “Dio, como ti amo” e as comédias de Jerry Lewis, quanto nacionais, como “Roberto Carlos em ritmo de aventura”.



Música na mata virgem

O difícil trajeto das primeiras bandas

Grande parte da população desconhece que Caieiras nasceu e continua sendo uma cidade musical. Seu surgimento deu-se no meio de uma floresta de mata virgem e cerrados, onde se ouviam ainda o som estridente do canto da araponga, o gorjeio dos lendários tangarás, que também dançavam, bem como o lúgubre e apavorante canto do urutau, que na calada da noite, soltava seus gritos em forma de gargalhadas. Este barulho era chamado de “o canto das almas penadas” pelos caboclos. À tarde, se ouviam também os últimos gorjeios do sabiá como despedida do dia que se findava.
Todos esses sons desapareceram com o tempo, mas por outro lado, foram substituídos por outros, ou seja, pelos sons dos instrumentos musicais da primeira banda que se fundaria naquele local. A Companhia Melhoramentos de São Paulo, para atender o desejo de seu grupo de trabalhadores, a maioria de imigrantes italianos e filhos destes, tratou de formar uma banda de música.
A história começa com as famílias pioneiras que foram alguns dos primeiros habitantes do local: Zanon, Marim, Valbusa, Satrapa etc. O complexo industrial da Melhoramentos foi sendo aumentado, bem como o núcleo populacional, na mesma proporção. Assim, por volta de 1920, o sistema de comunicação era muito precário, não havia diversão de espécie alguma, nem rádio. Televisão não passava sequer no pensamento.
Para quebrar então aquela monotonia surgiu à idéia de se formar uma banda de música, o que foi aceito de pronto por todos, inclusive pela diretoria da Companhia Melhoramentos, que passou a tomar as devidas providências nesse sentido.
Mas começaram a surgir os primeiros problemas. Um deles era que ninguém tinha conhecimento musical. No entanto, esse problema foi contornado rapidamente. A Companhia contratou um maestro chamado Leôncio, um tenente da Força Pública, que passou a lecionar música a todos os interessados em fazer parte da banda. E assim, com apenas três meses de ensaio, a banda já conseguiu executar uma peça, isto é, um pequeno dobrado.
Os instrumentos e uniformes foram sendo adquiridos pelos próprios músicos. E como não havia recinto apropriado para a realização dos ensaios, a banda ensaiava dentro da própria fábrica, mesmo com as máquinas funcionando. A banda, formada em 1922, passou a denominar-se Corporação Musical Fábrica de Papel.
Vendo a boa vontade dos músicos e o progresso da banda, a diretoria da Companhia resolveu ceder ao grupo uma casa residencial, localizada à Rua do Barbeiro, no Bairro da Fábrica. Neste lugar, a banda passou a ter sua sede própria, onde foi fundada a primeira sociedade para a manutenção da banda, que abrilhantava ali os bailes que se realizavam aos sábados e domingos.
A primeira banda caieirense foi formada pelos músicos: João Valbusa, Alberto Caminada, Carlos Barnabé, Américo Zanon, André Zuglian, Pompílio Gava, Guerino Luizato, Bento Guidolim, Antônio Martini, Bentivólio Guidolim, Ângelo Zanon, Constantino Toigo, Ernani Cavalete, Luiz Gabrielli, Pedro Ulman e Leão Meneguini. A direção ficava por conta do fundador, o saudoso maestro tenente Leôncio, que logo faleceu.
Após a morte de Leôncio, veio para Caieiras a fim de fazer a sua substituição um novo maestro, chamado Artur Patti, por sinal, um excelente maestro. Um fato paralelo ocorreu a seguir. Nesta época, foi fundado um clube de futebol cujo campo era localizado no alto da estrada da Ponte Seca. Apesar do esforço dos jogadores e da própria diretoria do clube, as dificuldades impediram a aquisição de uniformes para os seus membros. E assim, quando a entidade já se encontrava prestes a ser desfeita, eis que surge a idéia de se fundirem as duas sociedades: a que mantinha a banda e a que mantinha o futebol. Afinal, a primeira se encontrava organizada e com ótima situação financeira.
A diretoria da Companhia resolveu doar ao clube uma bela área de terras, onde os próprios músicos e associados construíram um grande salão social e um campo de futebol, sendo todo o material da obra doado pela Melhoramentos. A mão-de-obra surgiu dos próprios associados que, em horas de folga, feriados e domingos, trabalhavam na construção de seu clube. A nova entidade recebeu o nome de Clube Recreativo Melhoramentos.
Após a ampliação de terras pela Melhoramentos, foram construídas estradas vicinais dentro da propriedade, ligando bairros como Cerâmica, Monjolinho, Calcárea, e Bom Sucesso. A Companhia fez uma remodelação completa e ampliou o sistema de fabricação. Em seguida, instalou uma linha férrea ligando todos os bairros já referidos. Não era mais necessário transportar a matéria-prima para a produção do papel por meio de barcos pelo Rio Juqueri, no trecho compreendido entre a Estação de Caieiras e a fábrica de papel.
Neste contexto, a música volta a entrar em cena. A diretoria da Melhoramentos acostumava organizar duas vezes por ano um passeio sui generis para os operários, quando era preparado um imenso comboio de 15 vagões abertos e puxados por duas locomotivas. Em cada vagão era colocado um barril de chope e, bem no centro do comboio, ficava um vagão especial para a banda de música.
E assim, esse carrossel de alegria, entre comes e bebes e o som alegre da banda, partia da fábrica de papel e percorria os bairros da Cerâmica, Monjolinho, Calcárea, até Bom Sucesso, num percurso de aproximadamente 30 quilômetros ida e volta. Nesse passeio, o trenzinho ia devagar e com paradas freqüentes para que os passageiros pudessem admirar a paisagem e saborear seus lanches com toda segurança e tranqüilidade.
Devido à saída do maestro Artur Patti, assumiu a regência da banda o senhor Abílio Vieira. Nessa época, chegou a Caieiras o exímio saxofonista da Marinha de Guerra do Brasil, Francisco Assis Fernandes, que ingressou na banda como contramestre.
Com a vinda de Francisco Assis Fernandes, o Clube Recreativo Melhoramentos evoluiu muito, já que se tratava de um homem dinâmico e que gostava muito de música e teatro. Por essa razão, não demorou a formar um grupo teatral infantil e outro de adulto, dando vida nova ao clube, que acabou se tornando o mais freqüentado da região. Em seguida, ele formaria também um batalhão de escoteiros, juntamente com o senhor Miguel Lopes. O batalhão era muito bem organizado e admirado por ser o único de escoteiros da região.
Com a saída de Abílio Vieira como maestro da corporação, devido à grave enfermidade a que foi acometido, Assis Fernandes assumiu a regência, ficando como maestro da banda durante algum tempo.
Ocorre que a diretoria do Clube Recreativo Melhoramentos, que também dirigia os destinos da banda, resolveu contratar um maestro para regê-la. Foi então chamado o grande maestro José Bovolenta, fazendo com que Fernandes voltasse a ser contramestre da banda.
Além do Clube Recreativo Melhoramentos, havia nessa época o União Recreativa Melhoramentos, que também fundou sua banda de música. O maestro José Bovolenta passou a ensaiar as duas bandas, sendo uma as quartas e sextas-feiras, e a outra, às terças e quintas.
Vale reportar o mês de outubro de 1933, quando se realizou mais uma festa de Nossa Senhora do Rosário em Caieiras, considerada uma das maiores da região. Durante o ano todo, a juventude se preparava para o evento, principalmente as moças, que procuravam vestirem-se de acordo com a última moda, o que transformava a festa num verdadeiro desfile de roupas. Gente até de outras cidades participava da grande festa, cujas barracas de guloseimas eram armadas desde a garagem da Companhia, tomando todo o pátio da Igreja do Rosário e margeando lado a lado a Avenida dos Coqueiros, até o antigo Cemitério de Caieiras.
A montagem das barracas era permitida mediante o pagamento de uma pequena taxa para ajudar a igreja em suas obras sociais. Todos os clubes armavam suas barracas, onde o povo se divertia encontrando todos os tipos de comida, além de grande variedade de diversões. O que mais chamava a atenção era o fato da festa ser abrilhantada pelas duas corporações musicais.
Em 1934, o maestro José Bovolenta foi vítima de uma enfermidade, sendo obrigado a se internar num sanatório, onde veio a falecer. Após o ocorrido, a banda da União Recreativa foi desfeita. Na ocasião, Francisco Assis Fernandes assumiu a regência da banda do Clube Recreativo Melhoramentos e a maioria dos músicos que pertenciam à banda desfeita passou para a banda do Clube Recreativo, ficando esta considerada e reconhecida como a melhor de toda a região.
O maestro Assis era escriturário da Companhia Melhoramentos e, nas horas de folga, passou a lecionar música no salão do Clube Recreativo. Pela grande admiração e apreço que a diretoria da Companhia, mais precisamente seu diretor técnico, Ehlert, tinha pela música, houve por bem dispensar os músicos de seu trabalho para os ensaios remunerados, com a condição de que não faltassem neles.
Ainda em 1934, o senhor Sérgio Valbusa iniciou seus estudos musicais com o maestro Francisco Assis Fernandes. Sua dedicação e vocação eram tais que, aos dez anos de idade, já escolheu o pistom como seu instrumento predileto. Encontrou tanta facilidade em sua execução que, aos 11 anos, já ingressou na banda do Clube Recreativo Melhoramentos como terceiro pistom. Aos 12 anos, passou a primeiro pistom solista, tornando-se praticamente o destaque da corporação.
Nesse mesmo período, formou-se um grupo de três pessoas: Sérgio Valbusa, Francisco Assis Fernandes e Clarice Lucietto. Durante vários anos, eles ensaiaram as crianças para a formação de um grupo teatral, que apresentava também danças e coreografias. Seus elementos participavam de um programa de calouros que funcionava no próprio Clube Recreativo Melhoramentos, onde os alunos tinham os primeiros contatos com a platéia. Do esforço deles, formou-se um cadinho de onde saíram os primeiros interessados em fazer parte do teatro amador de Caieiras.
Por incrível que pareça, nessa mesma época, veio para a cidade um casal jovem e simpático, Nelson Luiz Turini e sua esposa, já citados anteriormente sobre sua contribuição no desenvolvimento da arte dramática em Caieiras.
Infelizmente, o que é bom dura pouco. Logo em seguida, foi eleita uma diretoria para reger os destinos do Clube Recreativo Melhoramentos composta de elementos que, de princípio, pensaram somente no futebol, marginalizando a banda de música, o grande orgulho de Caieiras. Marginalizou também o teatro amador, como também todas as outras atividades artísticas do clube.
Com esse fato, os músicos foram se tornando desgostosos e retirando-se do clube. Em pouco tempo, a corporação foi desfeita. Com a queda da banda, foram caindo também as outras atividades do clube. Assim, ficou Caieiras por vários anos sem uma banda de música.
O maestro Francisco Assis Fernandes se aposentou como funcionário da Companhia Melhoramentos, mudando-se para a Vila Crisciúma, a única vila fora das propriedades da Melhoramentos. O maestro Assis procurou o advogado Dr. Armando Pinto, também grande apaixonado pela música, residente em Crisciúma e presidente da Sociedade Amigos de Caieiras. Ambos pensaram em formar a banda dentro da referida sociedade e, para isso, entraram imediatamente em contato com a diretoria do Clube União Recreativa Melhoramentos e adquiriram o acervo instrumental da banda desfeita por um preço simbólico. Dessa forma, foi formada uma nova banda, que se denominaria Corporação Musical Sociedade Amigos de Caieiras.
Mal sabiam da tragédia que o destino havia evitado. Logo após esses acontecimentos, houve um incêndio de grandes proporções que destruiu por completo todas as instalações do salão de festas da Melhoramentos, em cujos porões eram guardados todos os pertences da corporação musical. Daí a sorte de se levar todo o acervo da extinta banda, com seu instrumental e partituras, para a Sociedade Amigos de Caieiras.
Após a extinção daquela banda da qual sempre fez parte, Sérgio Valbusa continuou na orquestra que se apresentava nos bailes de Caieiras, comandada pelo maestro Danilo Valbusa.
Em 1940, o acordeão tornou-se o instrumento da moda. Nessa ocasião, Sérgio Valbusa adquiriu um exemplar desse instrumento e passou a estudá-lo, mesmo sem mestre. Em pouco tempo, conseguiu dominá-lo, passando a dar aulas de música para acordeão em sua casa, no Bairro da Fábrica. Muitos foram os alunos que procuraram o maestro Sérgio para o aprendizado daquele instrumento, a maioria meninas.
Rapidamente, o maestro Sérgio Valbusa formava uma orquestra de acordeão com 60 componentes, com os quais passou a executar desde a música popular até a clássica. Nessa etapa, a Companhia Melhoramentos construiu um novo salão no mesmo local onde havia o antigo, destruído pelo incêndio. Como não havia mais banda de música, o salão foi inaugurado ao som da orquestra de acordeão, sob a regência do maestro Valbusa.
A seguir, diante da grande procura dos alunos para o estudo do acordeão, o maestro Sérgio resolveu fazer um curso de aperfeiçoamento. Ingressou então na Academia de Acordeom Ângelo Reale, de São Paulo. Após ter concluído o curso, prestou exame na União dos Acordeonistas do Brasil, onde foi diplomado.



A Corporação Musical Melhoramentos

O maestro Sérgio Valbusa, como compositor, arranjador e descendente de músicos, há muito tempo alimentava o sonho de ter sua própria banda. Enquanto o sonho não se realizava, usava as horas vagas para manter em sua casa, no Bairro da Fábrica, uma escola de música, onde dava aulas teóricas e práticas para instrumentos de fole, sopro, cordas, palhetas etc. O número de alunos era considerável e alguns deles se tornariam um dia profissionais da área.
Corria o ano de 1958 e Caieiras recebia a visita de missionários católicos, que agitavam com seu dinamismo a vida dos fiéis. E assim, o maestro prometeu a si mesmo que apresentaria àqueles religiosos algo que também agradasse Caieiras, ou seja, uma banda de música, tendo em vista que essa terra demonstrara ser berço de excelentes músicos, o que já lhe tinha rendido quatro bandas de certa envergadura.
Para pôr em prática suas idéias, Sérgio conversou com alguns músicos da época, bem como com os remanescentes das bandas anteriores, incentivando-os ao retorno da música. Teve resultados positivos, mas para a concretização desse objetivo, havia vários problemas a serem resolvidos.
O primeiro foi conseguir instrumentos para a banda, o que foi prontamente contornado, pois alguns músicos já possuíam instrumentos próprios. Para os demais, o maestro Sérgio passou a recuperar instrumentos antigos deixados pelas bandas extintas. As partituras foram escritas e copiadas. Iniciaram-se os ensaios na casa do maestro e a banda começou a tomar corpo.
Foi assim que, no encerramento das missões, para a surpresa de todos os missionários e do povo, a banda apareceu com um lindo uniforme, marchando gabosamente até o local da festa, onde executou os mais belos números de seu repertório.
O mais importante foi que aquele acontecimento não ficou apenas na euforia das primeiras apresentações, pois os ensaios continuaram regularmente, até como lazer para os músicos. A arte musical passava de pai para filho e, dessa forma, novos alunos para a escola do maestro surgiam, assim como mais músicos para a banda.
Certa tarde, o maestro ensaiava seus alunos em sua própria casa e lá apareceu o senhor Gunther Raymann, um dos diretores da Companhia Melhoramentos. Gunther era um grande apaixonado pela música, como também muito amigo do maestro Sérgio. Estava admirado pelo nobre trabalho que estava sendo realizado, principalmente por ser feito por puro altruísmo, sem visar grandes lucros, mas para atender os anseios daquela mocidade sedenta de saber.
O diretor Gunther, diante de tudo o que viu, tomou-se de entusiasmo e prontificou-se de imediato a auxiliar a banda em tudo o que fosse necessário. O primeiro passo a dar foi instalar a banda em sede própria, no Bairro da Fábrica. Ele completou a parte instrumental e determinou que a Melhoramentos instituísse uma verba mensal para a manutenção da corporação. Autorizou também que se oficializasse a data da fundação daquela banda, o que recaiu em 1º de maio de 1959, "Dia do Trabalhador", classe à qual pertencia à maioria dos músicos. A comemoração coincidiu também com o aniversário do maestro.
Posteriormente, a Companhia Melhoramentos cedeu novas instalações à banda e, desta vez, em Crisciúma, mais especificamente à Rua da Estação, nº 81-A. Além disso, a ajuda mensal não foi abandonada.
Caieiras, quando já município, se orgulhava da banda que tinha, a qual foi apelidada carinhosamente por alguém como a "pérola dos pinheirais", já que sua música era executada em várias cidades, sem contar os convites internos aos quais a banda atendia.
A Prefeitura Municipal de Caieiras via com bons olhos o desenrolar dos acontecimentos e decidiu apoiar as iniciativas do maestro Sérgio Valbusa. A administração da cidade solicitou que a banda fosse juridicamente organizada para que pudesse ser incluída no orçamento municipal, recebendo uma subvenção.
Foram então elaborados os estatutos em 8 de abril, sendo registrados no Cartório da Comarca de Franco da Rocha sob nº 61, em 12 de julho de 1974. Pelo Decreto Municipal nº 1.006, de 22 de agosto de 1974, a banda passou a denominar-se oficialmente Corporação Musical Melhoramentos de Caieiras, sendo organismo de utilidade pública.
Nesses longos anos de existência, muitas apresentações se sucederam, dentro e fora de Caieiras. Seu repertório tem se estendido desde a música sertaneja até a clássica, contanto com muitas obras de autoria do próprio maestro, hoje constantemente executadas por outras bandas.
De acordo com os seus estatutos, a corporação é hoje comandada por uma diretoria eleita entre os próprios músicos que a compõem. Para o mandato que se iniciou em 1º de maio de 1994 e que deve terminar em 1996, ela está assim constituída: José Branco Zuglian, presidente, Luiz Carlos Crema, secretário, Sérgio Valbusa, maestro e diretor de patrimônio, e Fúlvio Lucietto, como relações públicas.
Outra importante participação do maestro Sérgio Valbusa na história da música da região se deu no comando do Coral de Caieiras.



A melhor fanfarra do Brasil

Com o objetivo de desenvolver mais uma atividade que viesse contribuir para a formação educacional das crianças caieirenses, foi criada em agosto de 1970 a Fanfarra Mista Simples Walther Weiszflog. Hoje ela é denominada Fanfarra Mista Juvenil Simples da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus "Walther Weiszflog". A iniciativa partiu do professor Zílton Bicudo, que lecionava na escola, e logo contou com o entusiasmo e a vontade de um grupo de alunos e alunas da mesma escola.
O fato de ser pioneira fez com que a fanfarra tivesse que enfrentar inúmeras dificuldades até sua definitiva estruturação. A corporação era constituída por adolescentes estudantes, que tiveram que lutar muito para conseguirem o crédito e a confiança de todos que a viam nascer. Nas primeiras apresentações, tanto externas quanto internas, o uniforme utilizado era confeccionado e custeado a cargo dos próprios pais dos alunos que incentivavam seus filhos e filhas para uma participação efetiva e dinâmica na fanfarra.
Os alunos não se impressionavam com as dificuldades que apareciam. Muito pelo contrário, a vontade de vencer e a garra cresciam à medida que as dificuldades aumentavam, o que contribuiu de forma direta para abrir caminho rumo às primeiras conquistas.
Após muita marcha e contramarcha, a fanfarra estruturou-se em agosto de 1971, organizando seu primeiro estatuto e elegendo sua primeira diretoria. Como presidente, ficou o professor Zílton Bicudo, que acumulou o posto regente.
Durante os três primeiros anos, a diretoria cuidou da organização da fanfarra, visando às inúmeras apresentações das quais participava. Seus componentes adquiriram maturidade e personalidade, fato este que começou a chamar a atenção de todos.
Em outubro de 1973, a Prefeitura do Município de Caieiras cedia dois ônibus para conduzir a fanfarra ao Município de Guarulhos, onde participaria, pela primeira vez, de um concurso oficial, que contaria com 25 fanfarras participantes do Estado de São Paulo.
A fanfarra caieirense atuou com muita humildade e trajando um uniforme simples. Contudo, seus componentes encararam com grande seriedade a responsabilidade que lhes pesava sobre os ombros: representar oficialmente Caieiras pela primeira vez na história. Os jovens alunos da "Walther Weiszflog" voltaram de Guarulhos com um resultado surpreendente. Premiando os esforços e a dedicação de todos, veio a conquista de um honroso terceiro lugar.
A partir daí, as portas se abriram e as autoridades municipais começaram a olhar com mais carinho a fanfarra. O apoio passou a ser mais intenso, as verbas surgiram e foi confeccionado o primeiro uniforme de gala da corporação.
A fanfarra cresceu e passou a divulgar e dignificar o nome de Caieiras pelos lugares onde passava. Chegava a ultrapassar as fronteiras do Estado.
A cidade logo começou a lucrar com o desempenho da fanfarra, que contribuiu para o desenvolvimento musical de Caieiras como um todo. A Corporação Musical Melhoramentos passou a receber inúmeros adolescentes, que demonstravam grande interesse no aprendizado da música. Foi criada a Banda Infantil, carinhosamente chamada de "Bandinha", composta em 80% por crianças que haviam se iniciado na fanfarra.
Estimulou-se, por conseqüência, a formação de novas fanfarras no município, entre as quais, a da escola estadual "Otto Weiszflog". Surgiu também a primeira Fanfarra Feminina Simples da EEPSG "Walther Weiszflog". Toda essa revolução musical voltada às crianças e aos adolescentes e jovens se deveu aos alicerces lançados pela Fanfarra Mista Simples Juvenil.
O conjunto de títulos acumulados pela principal fanfarra caieirense rendeu dezenas de troféus, guardados na sede da instituição musical, em sala da escola que sempre comportou seus ensaios semanais. Desde 1973, a fanfarra já participou de 126 concursos, vencendo a maioria deles, tanto de projeção estadual, como nacional, como os da Rádio e TV Record, nos anos 70.
A seguir, a listagem dos títulos conquistados pela Fanfarra Marcial Mista Simples da EEPSG "Walther Weiszflog" nos concursos dos quais participou desde 1989, ano do primeiro título do campeonato estadual, até 1994:

(Texto baseado em documento da
Fanfarra M.M.S. Walther Weiszflog)



Títulos da Fanfarra Marcial Mista Simples da EEPSG "Walther Weiszflog"

Ano Cidade sede ou entidade organizadora Colocação

1989 Jacareí, SP campeã
1989 Arujá, SP campeã
1989 Catanduva, SP campeã
1989 Itaquaquecetuba, SP campeã
1989 Praia Grande, SP (1º título do estadual) campeã
1990 Jacareí, SP campeã
1990 Piedade, SP campeã
1990 Arujá, SP campeã
1990 Mongaguá, SP (bicamp. estadual) campeã
1990 Itaquaquecetuba, SP campeã
1990 São Paulo, SP campeã
1990 São Paulo, SP (1º título nacional) campeã
1991 Jacareí, SP campeã
1991 Piedade, SP vice-campeã
1991 Arujá, SP campeã
1991 Águas de Lindóia, SP (tricamp. estadual) campeã
1991 São Paulo, SP (bicamp. nacional) campeã
1992 Açorga, PR campeã
1992 Arujá, SP campeã
1992 Bebedouro, SP (tetracamp. estadual) campeã
1992 São Paulo, SP (tricamp. nacional) campeã
1993 Arujá, SP campeã
1993 Atibaia, SP campeã
1993 Santa Izabel, SP campeã
1993 Bragança Pta., SP (pentacamp. estadual) campeã
1993 São Paulo, SP (tetracamp. nacional) campeã
1994 Monte Mor, SP campeã
1994 Itaquaquecetuba, SP campeã
1994 Arujá, SP campeã
1994 Atibaia, SP campeã
1994 Santa Izabel, SP campeã
1994 Mauá, SP (hexacamp. estadual) campeã
1994 Socorro, SP (pentacamp. nacional) campeã


Musical, por excelência

Caieiras prova dessa forma que é, sem dúvida, uma cidade musical por excelência. Essa realidade é verificada graças aos esforços de todos os maestros que por aqui passaram, desde o saudoso tenente Leôncio, passando por Abílio Vieira, Artur Patti, José Bovolenta, Francisco Assis Fernandes e chegando ao talento contemporâneo de Sérgio Valbusa e Zílton Bicudo.
Ao longo dos anos, esses músicos foram ao encontro dos anseios da mocidade de Caieiras no cultivo da música, deixando um legado precioso e honrando seu passado. Caieiras tem hoje a honra de ser representada por uma fanfarra tantas vezes campeã, inclusive estadual e nacional de sua categoria, com mais de 800 páginas musicais compostas, inclusive de arranjos no mundo da música.
Há notícias de que, ainda nos anos 20, havia em Caieiras "fervorosos admiradores" do jazz. Formou-se até uma banda, a Jazz Band Cayeirense, com alguns dos instrumentos típicos da arte musical popular criada em Nova Orleans, nos Estados Unidos.
É uma cidade que sempre teve a honra de possuir um acervo de elementos humanos composto de músicos preparadíssimos para assumir qualquer responsabilidade no âmbito musical. Com um contingente da ordem de 300 elementos ligados à música, permite-se a organização até de uma orquestra sinfônica do maior gabarito.




Um centro de cultura

Entre as realizações culturais recentes da cidade, destacou-se a construção do Centro Educacional e Cultural "Izaura Neves", inaugurado no final da gestão de Dr. Milton Ferreira Neves, em 1992. Era um velho sonho do povo de Caieiras a sua criação.
Palco para teatros, shows e palestras, amplo espaço para bailes, salas de música, vídeo, exposições etc... A sua utilização nas administrações Dr. Milton e Névio Dártora contribuiu para suprir as necessidades da população quanto à execução de eventos culturais, que estavam escassos nos anos80. O Centro Cultural, com suas adequadas instalações, se tornou um ponto de encontro da cultura com o povo.





Imprensa

Os jornais regionais

O ano de 1936 foi o que marcou para o bairro de Crisciúma a época das maiores realizações em prol de seu progresso. Surgiu em julho o jornal Vida Nova, que desde logo se tornou o defensor dos interesses do bairro, embora fosse sediado em Franco da Rocha.
Fundado por Dr. Armando Pinto, ampliou aos poucos sua divulgação e se tornou o periódico oficial não apenas de Caieiras, mas de todo o Município de Franco da Rocha, a quem Caieiras pertencia como subdistrito. O Vida Nova, muito colaborou na campanha de construção da Igreja de Santo Antônio de Crisciúma. Apesar dos boatos improcedentes sobre seu fechamento, o trabalho do jornal ainda continua ativo.
O Vida Nova é sempre citado como o primeiro jornal a circular em Caieiras, embora existam notícias de que havia dois jornais na cidade já em 1925: O Pharol, fundado naquele ano por Gaffiero Genestretti, e Caib, mensageiro do Clube Atlético Ítalo-Brasileiro, então gerido por Antônio Pereira da Cruz.
O primeiro jornal com sede em Caieiras foi o Folha Regional, fundado em 1º de maio de 1976, por iniciativa do Sr. Peres, em formato standard.
Outros jornais passaram a circular em Caieiras nos últimos anos, alguns sediados na cidade, outros em municípios vizinhos. Entre eles, estiveram: Ida e Volta, Regional News, A Semana e outros.





Bairros

Formação de Crisciúma

Os primeiros proprietários, os compradores da Vila Osório e as precariedades do loteamento

Em 1930, era a Companhia Melhoramentos de São Paulo, em sua atividade sempre crescente, pois o que não lhe pertencia era somente a estação ferroviária da antiga “Inglesa”, a The São Paulo Railway Company Limited. Desta estação, partia um caminho muito mal conservado, que passava ainda por terras daquela Companhia, onde se viam algumas casas velhas. Seu destino era um pedaço de terras que pertencia à família Carmo Leite. Dirigindo-se ao Morro Grande, a ferrovia sempre atravessava propriedades da empresa fabricante de papel.
As décadas que antecederam o surgimento do Bairro de Crisciúma incluíram muitas vendas e compras. Cabe fazer um breve relato sobre o assunto.
No histórico daquele pedaço de terras, no lugar denominado Crisciúma, com aproximadamente 20 alqueires, encontrava-se uma escritura particular da oitava década do século passado. Por meio dela, em 17 de novembro de 1879, o casal Benedito Barbosa e Benedita Cândido de Assis vendeu metade da propriedade a José Maria do Carmo e a Manoel Pereira da Silva, pelo preço de 26.500 réis. A sisa paga no talão foi de 1.590 réis. Essa sisa era uma designação antiga para impostos de transmissão de bens. Essas terras já tinham estado em posse do capitão Domingos Manoel Barbosa, personalidade ligada à história de Franco da Rocha por ser um dos maiores proprietários de terra de todos os tempos na região. Entre as terras que lhe pertenciam, estavam as do Bairro do Mato Dentro.
Mais tarde, Manoel Pereira da Silva vendeu a parte que lhe pertencia a João Batista Carezato. Este, juntamente com José Maria do Carmo, resolve em 5 de setembro de 1917 extinguir aquele condomínio, cuja área total era de 28 alqueires e 1.198 metros quadrados, conforme planta levantada em 1911 pelo engenheiro Luiz Delpy.
Já o Sítio São Francisco, uma vila ao lado de Crisciúma, foi vendido em 1910 por Antônio Henrique Marcondes e sua mulher para João Batista Carezato e sua esposa, que, por sua vez, o repassaram ao padre Salvador Sorrentino. No mesmo ano, o sacerdote vendeu todo o lote de terras a Francisco Pinto Ferreira, que passou para Carlos Smith em abril de 1926. Smith venderia sua propriedade em 31 de outubro de 1938 para Pedro Van Tool e Carolina Dormeyer. O Sítio São Francisco passaria depois disso para a Sociedade Civil de Terrenos Crisciúma.
Voltando aos anos 20, com o falecimento de José Maria do Carmo, os 10 alqueires que ainda lhe pertenciam passaram par seus filhos, Ambrosina do Carmo Buonaguide e Domingos Estevão do Carmo. Pelo desejo deste, os terrenos permaneceram em comum até 1930, quando ambos resolveram entrar num acordo, cada um ficando com cinco alqueires. Mas antes da divisão, Ambrosina já tinha vendido um alqueire a Carmem Peres de Oliveira, outro a Terezinha Camargo Pinto e um lote a João Simão, em 1927, tendo este construído uma casa nas divisas da Companhia Melhoramentos.
Realizada a divisão, a planta levantada, foram locadas as duas avenidas, Crisciúma e Magnólia, que foram abertas por Dr. Armando Pinto. Ele contratou para esses serviços o topógrafo Valdomiro Valim, fazendeiro em São João da Boa Vista. Todo o projeto combinava como o desejo de Ambrosina do Carmo Buonaguide de formar uma povoação, iniciando-a com a abertura da Avenida Crisciúma.
Em 1931, Dr. Armando Pinto, ao mandar abrir a Avenida Magnólia, determinou que fossem plantadas árvores em toda sua extensão, até o largo da Igreja de Santo Antônio.
Em seguida, recomeçou Ambrosina do Carmo a venda de seus terrenos. D. Terezinha Camargo fez o mesmo sobre uma parte das terras que lhe couberam em toda a extensão da Avenida Magnólia.
Um dos primeiros adquirentes das terras de D. Ambrosina foi Jorge Simão, que construiu um prédio para armazém de secos e molhados, além de uma residência à entrada do lado esquerdo da Avenida Crisciúma. Seguiam-se depois as construções dos prédios de Pedro Muro e de outras pessoas: Terezinha Camargo Pinto, Nefália Pereira dos Santos, Luiz Lopes Lansac, Frederico Traets, José Pereira dos Santos, Leônidas de Almeida e Manoel dos Santos Osório.
Ao todo, D. Ambrosina do Carmo Buonaguide vendeu 28.540 metros quadrados para esses novos proprietários. Os terrenos tinham frente para a Avenida Magnólia e fundos para a Avenida Crisciúma. Formou-se no local a Vila Osório, vendida mais tarde a Dr. Armando Pinto e Érico Linbrencht.
Uma passagem interessante se deu quando se realizava a substituição do velho caminho, pela Avenida Crisciúma, à qual o proprietário do Sítio São Francisco, Van Tool, se opôs, chamando a polícia de Juqueri, a única da época na região, a impedir as obras. Ele achava que o antigo caminho em direção ao seu sítio devia ser conservado. Apesar da queixa levada a efeito na Delegacia de Polícia de Vila Juqueri, Tool não alcançou seu objetivo.
Pode-se afirmar que o surgimento de Crisciúma, portanto, se deu no ano de 1931, destinada a ser um povoado, não só pela situação topográfica privilegiada, como também pelo modo com que foi conduzida pelos seus antigos proprietários. Eles souberam vencer muitas dificuldades. Mesmo quando recebiam ofertas vantajosas para a venda daquelas terras, conseguiam conservá-la para que se preservasse o seu destino, hoje concretizado numa realidade.
Foi, portanto, D. Ambrosina do Carmo Buonaguide a pessoa que mais concorreu para que o Bairro de Crisciúma fosse formado, pois, ao lotear a sua parte sob orientação de Dr. Armando Pinto, fez questão de doar um terreno seu à Mitra Diocesana de Bragança Paulista. Na faixa de terras doada, edificaria-se o Templo de Santo Antônio de Crisciúma, que mais tarde foi erigido. D. Ambrosina não se preocupou em concentrar terras especulativamente, dando o exemplo a outros proprietários.
Em fins de 1931, algumas casas já estavam construídas, como as de Pedro Muro Vasquez, Terezinha Camargo Pinto, Luiz Lopes Lansac e José Pereira dos Santos.
Sem a ampliação do Bairro de Crisciúma, Caieiras não teria conseguido sua situação de cidade e esse progresso se deveu aos que, desde logo, venderam suas terras vizinhas a Crisciúma, formando a Vila Nova, que hoje constitui o Jardim São Francisco.
O loteamento de Vila Crisciúma foi o mais precário que se possa imaginar, pois não houve nenhuma infra-estrutura dessas que hoje são exigidas para a aprovação de um loteamento. Não tinha guias, sarjetas, água, luz, esgoto a captação de águas pluviais. Naquele loteamento, havia apenas demarcação e capinação das ruas, além do chamado piqueloteamento do terreno e mais nada.
No entanto, as pessoas compravam seus lotes, construíam suas modestas casas, abriam um poço a fim de obter água potável, uma fossa negra para os detritos e faziam uma privada nos fundos do lote para evitar o mau cheiro. Assim, viveu aquele povo durante 30 anos, à espera dos melhoramentos públicos, o que finalmente veio aos poucos, para a felicidade de todos.
Daí por diante, Crisciúma não mais parou. E em 1950, a Sociedade Amigos de Caieiras, que detinha os terrenos de Crisciúma, extinguiu-se, ficando os seus sócios, Dr. Armando Pinto, José César de Azevedo Soares, João Batista Soldovieri, Armando Sestini e Manoel Gaspar, com o que lhes pertencia. Não tardou para que as vendas fossem reiniciadas, entrando para o bairro as terras do antigo Sítio São Francisco. Crisciúma ficou então com 24 alqueires, incluindo todas as ruas.



Os quinhões de Laranjeiras

Antes do ano de 1928, as terras que hoje formam o Bairro de Laranjeiras constituíam um sítio que levava o mesmo nome. Sua superfície era de 3.633.388 metros quadrados ou 150,14 alqueires de terra de primeira e segunda classe. O Sítio das Laranjeiras tinha parte de suas terras já dentro do Município de São Paulo. O território que se encontrava em Caieiras tinha suas divisas iniciais no córrego da ex-Estrada Velha de Campinas, atual Rodovia Presidente Tancredo de Almeida Neves, quilômetro 27,9, na Fonte Alcina, muito conhecida pelos motoristas que utilizam aquela estrada. Seguia daí em direção ao oeste, fazendo divisa com a Companhia Melhoramentos e com o Sítio do Tijuco Preto. Ao norte, o sítio encontrava as terras de Lúcio de Freitas e do Hospital do Juqueri. A leste, dividia-se com o Sítio do Castanho.
Eis que, no ano de 1928, Jorge José Simão, Domingos Garcia Serpa e outros proprietários de terra resolveram dividir judicialmente o Sítio das Laranjeiras. Para isso, nomearam Dr. Orlando Tiani, que acompanhou todo o processo de segmentação, terminado somente em 1942.
Terminada a primeira divisão, chegava a hora de dividir os quinhões. O quinhão de número 9 coube a Antônio da Silva. Após sua morte, os herdeiros venderam suas terras para os irmãos Monteiro.
Já o quinhão 8 – A coube a Jorge José Simão, ficando este com divisas para a então Estrada Velha de Campinas e a Avenida Padre José César de Oliveira (antiga Estrada do Morro Grande). Nesse local, Jorge José construiu um prédio e instalou nele o primeiro armazém do bairro, com a ajuda de seus filhos Afonso e José Jorge Simão. Era ainda 1933. Esta propriedade foi posteriormente vendida a Mariano Penha, que alugou o armazém para José Monteiro.
Os quinhões de número 1 e 5 ficaram para Antônio da Silva. Parte dos mesmos foi vendida em lotes. Um desses lotes originou a Vila São Gonçalo, a primeira que surgiu no bairro. O quinhão 7 pertenceu a Domingos Garcia Serpa e o 7 – B foi para Inácio de Paula, quem dividiu-o em partes. Uma delas foi vendida para Antônio de Souza Dantas, que instalou naquele local a Indústria e Comércio de Artefatos de Cimento e Laminação de Ferro de Caieiras, um empreendimento propulsor do progresso do bairro.
Os quinhões 12 e 14 – A ficaram para os sucessores de João Bueno de Moraes, enquanto o de número 13 foi destinado a Julião de Godói. Este recebeu também o 24, juntamente com João Bueno de Moraes. Dr. Basílio Milano Neto ficou com os quinhões 19 e 20, vendidos depois a Fiorello Pecicaco, que iniciou a exploração de uma mina de caulim. Essas terras foram mais tarde arrendadas por terceiros, que iniciaram a fabricação de tijolos em cinco olarias. Pecicaco comprou mais tarde outra propriedade, o quinhão 22, de José Fanton.
O quinhão 18 foi possuído por Ulisses Matarazzo, que vendeu para Alceu Rebelo, responsável pela exploração de uma outra mina de caulim na região.
Hoje, o Bairro de Laranjeiras está em franco progresso. Sua avenida principal e boa parte de suas ruas se encontram pavimentadas. Há iluminação e completo serviço de abastecimento de água. Escolas de 1º e 2º graus, posto médico e outros serviços públicos essenciais já estão instalados, permitindo que seus moradores não permaneçam em dependência com o centro da cidade.
Cabe resumir a história de vilas antigas ligadas ao Bairro de Laranjeiras. Em 1964, Afonso Simão loteou as terras que havia adquirido dos herdeiros de D. Maria Joaquina das Dores e de outros proprietários. A planta foi aprovada pela Prefeitura Municipal com 83 lotes, que constituíam o Jardim São Simão.
Nesse loteamento, o proprietário reservou um terreno para a construção de um grupo escolar, concretizado em 1968, na administração do prefeito José César de Oliveira.
Já as vilas São Miguel e Ajuá surgiram em decorrência dos loteamentos realizados pelo senhor Miguel Hurtado em terrenos vindos de herança de sua esposa, D. Benedita de Moraes. Foi construído nesse lugar um armazém pelo comerciante Paulo Ferreira.
Os loteamentos de Vila Maria e Vila Industrial foram realizados por João Xavier de Moraes. Entre os moradores mais antigos, estavam Constantino Soares de Campos. Após seu falecimento, suas terras passaram a seus dois filhos, Amâncio Soares de Campos e Lindolfo Soares de Campos, que contavam com uma olaria e um fábrica de aguardente no local.
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Observação: A história dos bairros ligados à Companhia Melhoramentos de São Paulo e formados em seu próprio território pode ser lida em outros capítulos desta obra. Já o Bairro do Serpa tem algumas de suas informações históricas tratadas na biografia de um de seus ex-moradores, Isaías Luiz Matiazzo.



Personalidades

O Guerreiro da Fé

Padre Aquiles Silvestre

Sacerdote funda primeiras entidades religiosas da região e participa da 2a Guerra Mundial como capelão militar

Muitos dos principais momentos da prática religiosa da região, especialmente na primeira metade do século 20, se deveram à liderança do padre Aquiles Silvestre.
Quando ainda jovem, iniciou seus estudos no Seminário de Bom Jesus de Pirapora, numa cidade que recebe até hoje milhares de romeiros todos os anos. Ordenou-se sacerdote após cursar o Seminário Maior de São Paulo e chegou um Caieiras na década de 30, como capelão da Companhia Melhoramentos.
Contudo, sua missão religiosa não se limitou à Melhoramentos. Ele estendeu suas atividades a todos os recantos: Vila Crisciúma, Monjolinho, Calcárea, Bom Sucesso, Laranjeiras, Morro Grande, Rio Abaixo e Santa Inês.
Em 1938, fundou a Associação de São Luís Gonzaga e, dois anos mais tarde, a Congregação Mariana Nossa Senhora do Rosário. Essa entidade contava na época com cerca de 150 jovens, possuía um time de futebol – o Juvenil São Luiz Gonzaga – e outro de voleibol, que jogava à noite num campo iluminado, freqüentado por médicos do Hospital Psiquiátrico de Franco da Rocha, além de jogadores dos times do Lapeaninho e do Esporte Clube Comercial da Lapa.
A Congregação Mariana também mantinha um corpo cênico formado por rapazes e moças dirigidos por Nelson Luiz Turini. Com cursos de teatro, coreografias e caracterizações diversas, o grupo levou ao palco várias peças, entre as quais, “A Destruição Mont Pele”, aplaudida freneticamente pela platéia e reprisada a pedido da diretoria da Melhoramentos.
A Congregação tinha uma bela sede, com todo o conforto possível e provida de jogos de xadrez, dama, pingue-pongue, tênis de mesa a uma biblioteca com grande acervo de obras literárias.
Em 1940, surgiu também a Pio União das Filhas de Maria, outro grupo lançado pelo padre. Em meio a todas essas iniciativas, ele encontrou tempo para instruir uma equipe de catequistas encarregados na preparação das crianças para a Primeira Comunhão.
O curso hoje chamado supletivo, voltado ao ensino de adultos, já existia na década de 40 na cidade, fundado pelo padre Aquiles e lecionado pelos professores José Carlos da Silva Júnior, Constantino Trilha, Domingos Toigo, Ozório Ferreira Camargo e outros.

A juventude feminina da época não ficou de fora dos feitos do padre. Uma escola profissional para moças, com aulas de Educação Moral e Cívica, Literatura, Música, Corte e Costura, Higiene, Culinária e Trabalhos Artesanais, foi outro projeto colocado em prática pelo seu dinamismo.
A maior preocupação de padre Aquiles era elevar o nível cultural e religioso da população. Por isso, além da atenção dada às suas escolas e aos enfermos que recebiam suas palavras de conforto, ele trouxe a Caieiras vários conferencistas católicos. Entre estes, destacaram-se os padres Banwar, diretor da Federação das Congregações Marianas do Estado, Irineu Cursino de Moura, líder de todos os movimentos Marianos do Brasil, José Azeredo Santos, diretor da Ação Católica de São Paulo, os comendadores Toloza e Melilo e o próprio D. José Gaspar de Afonseca e Silva, arcebispo metropolitano da Capital.
No ano de 1942, quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, padre Aquiles foi convocado para servir como capelão militar da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Desembarcou com as tropas nacionais na Baía de Nápoles, na Itália, ingressando ao lado das fileiras de combate, quando sofreu todos os horrores da guerra. Acompanhou o desenrolar dos acontecimentos em companhia de outros capelães militares. Deu assistência religiosa e levou o Sacramento da Extrema Unção aos brasileiros que tombavam no campo de batalha e que repousaram durante anos nas terras italianas do Cemitério de Pistóia, até que seus corpos fossem transportados de volta ao Brasil.
Padre Aquiles voltou em 1945, data do final do confronto mundial, permanecendo ainda um tempo em Caieiras. Como obteve o posto de capitão, passou a prestar assistência religiosa como capitão militar no quartel do Segundo Exército, localizado à Rua Conselheiro Crispiniano, em São Paulo. Lá foi graduado major e, com a mudança do quartel para o Parque Ibirapuera, foi nomeado pároco da Freguesia do Ò. Faleceu em meados da década de 60.
Em sua longa passagem por Caieiras, padre Aquiles Silvestre deixou uma marca indelével no coração de todos os que o conheceram. Há quem ainda hoje se lembre de seus cativantes sermões proferidos com ternura em cerimônias natalinas ou religiosas em geral. Uma rua que faz esquina com a Avenida dos Estudantes, no centro de Caieiras, leva seu nome para a eternidade, na tentativa de se valorizarem as tradições da cidade.



O italiano seresteiro

Piacente Chivitarezzi


Primeiro cabeleireiro de Crisciúma se torna um grande agitador das festas populares

Nascido em torno de 1912, na cidade de Ortona Mare, Província de Kiete, na Itália, Piacente Cevitarezzi veio ao Brasil por volta de 1940. Como bom italiano, era amigo da macarronada a do vinho. Com estatura mediana, meio obeso, rosto sereno, tinha uma alma expansiva e alegre, era espirituoso e brincalhão. Assim se caracterizava o primeiro barbeiro de Vila Crisciúma, em Caieiras.
Piacente estava sempre disposto a qualquer empreendimento social ou filantrópico. Nas horas de lazer, reunia seus amigos de profissão – a maioria era formada de músicos como ele – para cantarolar trechos de operetas e canções de sua terra natal. Era comum encontrá-lo em companhia de seresteiros como Bruno Pizocaro, Jacinto e Teodoro Berruezzo e outros. Nas noites de luar, costumavam fazer serenatas, cantando com acompanhamentos de violões e pandeiros.
Esse mesmo grupo fundou a primeira escola de samba de Vila Crisciúma, numa época em que folias de carnaval eram muito diferentes das festas atuais. Piacente foi também o primeiro Rei Momo local.
Com o passar do tempo, o primeiro grupo de seresteiros foi substituído por outro de maior número, do qual faziam parte Armiro Leite, Renato e Raul Massinelli, Benedito Rodrigues e tantos outros, como ex-militar Francisco de Assis Fernandes. Nessa corporação, encontravam-se exímios saxofonistas, violinistas e clarinetistas. Eles solavam de seus repertórios as mais lindas composições de Zequinha de Abreu e outros compositores famosos.
Embora sem o conforto de hoje, o povo de Caieiras vivia numa atmosfera de paz e harmonia.



O Anjo da Medicina

Víctor Teixeira


Primeiro farmacêutico da cidade cuida da saúde de uma população inteira

O primeiro farmacêutico de Caieiras foi Víctor Teixeira, morador da Rua dos Coqueiros, propriedade da Companhia Melhoramentos, que foi depois batizada com seu próprio nome. Residia numa casa que tinha na parte da frente uma farmácia muito bem montada. Nos fundos, ficava a residência do farmacêutico.
Desde a década de 30, Víctor exerceu a profissão como um verdadeiro sacerdócio. Como único farmacêutico da região, tinha sob sua responsabilidade o trato da saúde de toda uma população, mesmo porque, além do tratamento de todos os empregados da Melhoramentos, atendia às necessidades dos bairros mais longínquos, desde a Calcárea e o Bom Sucesso, até a Santa Inês, divisa com o Município de Mairiporã, antigo Juqueri.
Nessa época, além dos produtos de linha fabricados nos laboratórios, havia alguns manipulados na própria farmácia de seu Víctor. Quando essa manipulação tornava-se difícil devido à gama dos componentes, os mesmos eram encomendados na Botica Viado d’Ouro, à Rua São Bento, na Capital.
Víctor Teixeira atendia a todos, indistintamente, não apenas os pacientes que chegavam até a farmácia, como também aqueles que, impossibilitados de caminhar, recebiam sua visita em casa, sendo tratados por aquele profissional zeloso e competente.
Por isso, muitas pessoas foram salvas de moléstias perigosíssimas, tais como tétano, tifo etc. quando esses males eram diagnosticados pelo farmacêutico caieirense, os pacientes atingidos eram imediatamente encaminhados para hospitais de maiores recursos, como o Hospital e Isolamento Emílio Ribas, Hospital das Clínicas, Santa Casa e outros.
Víctor Teixeira, em sua passagem entre nós, tal como um anjo, deixou uma imensa saudade.


A dama idealista

Ambrosina do Carmo Buonaguide


Proprietária de terras semeia o nascimento de Crisciúma e doa terras para a construção de um templo católico

Em 30 de setembro de 1882, nascia Ambrosina do Carmo Buonaguide, filha de Tereza de Jesus e de José Maria do Carmo, um dos primeiros proprietários de terra na região onde posteriormente seria edificada Caieiras. Casou-se mais tarde com Antônio Buonaguide, de quem herdou o sobrenome.
Ambrosina, na sua simplicidade de mulher humilde, despretensiosa e, ao mesmo tempo, idealista, foi sem dúvida, a figura principal na formação do bairro de Crisciúma, o primeiro da cidade fora dos domínios da Companhia Melhoramentos e que hoje compõe a sua região central.
A posse das terras herdadas de seu pai foi sempre valorizada por ela, apesar das vantajosas ofertas que recebiam para vendê-las. Mas Ambrosina sabia que se vendesse a um latifundiário ganancioso e egoísta, Caieiras jamais teria condições de um dia chegar a ser uma cidade independente, pois continuaria sempre como subdistrito do Município e Comarca de Franco da Rocha.
Com a morte de seu pai, Ambrosina e seu irmão Domingos Estevão do Carmo ficaram com 10 alqueires de Crisciúma. Em 1930, ambos resolveram entrar em acordo, cada um ficando com cinco alqueires. Mas antes da divisão, Ambrosina do Carmo já havia vendido alqueires para Carmem Peres de Oliveira e Terezinha Camargo Pinto, além de um lote a Jorge Simão, que construiu uma casa nas divisas da Melhoramentos.
Desde logo, Ambrosina demonstrou o desejo de formar uma povoação, começando-a com a abertura da Avenida Crisciúma, ao mesmo tempo em que se instalava outra avenida – a Magnólia. Essa vontade de Ambrosina sofreu oposições, como a do sitiante Pedro Van Tool, contada no histórico de Crisciúma.
Em 1931, após a abertura da Avenida Magnólia, Ambrosina reintroduziu a venda de seus terrenos para muitas das personalidades da época, também enumeradas no capítulo sobre Crisciúma. Foi, portanto, Ambrosina do Carmo Buonaguide a pessoa que mais concorreu para que o bairro de Crisciúma fosse formado em fins de 1931.
Ela tinha dois sonhos: ver Crisciúma transformada em cidade e construir um templo religioso no local.
Diante do desejo manifestado de levantar uma capela em louvor a Santo Antônio, então o futuro padroeiro da cidade, reservou um terreno para esse fim. Ambrosina foi plenamente amparada por Dr. Armando Pinto, o qual declarou que, ao invés de uma capela, propugnasse pela construção de uma igreja maior, já prevendo o aumento da população. As terras doadas passaram a totalizar 8.670 metros quadrados, o suficiente para a construção não só do templo, mas também da casa paroquial, de uma concha acústica e de um jardim. O terreno foi doado mais tarde à Mitra Diocesana de Bragança Paulista, cujo bispo titular era D. José Maurício da Rocha.
Para a realização desses sonhos, Ambrosina lutou contra tudo e contra todos, sem tréguas, não apenas pela preservação das terras que cumpririam sua predestinação de serem uma cidade, como também por meio da doação da bela área à Diocese de Bragança.
Antes de falecer, em 9 de janeiro de 1962, Ambrosina foi levada à casa de sua filha Maria Salete, na cidade de Itatiba, interior de São Paulo. Seus restos mortais foram transladados para o Cemitério da Saudade, em Caieiras, graças ao empenho de dona Afonsina Schirmanoff. Esta senhora, embora sem parentesco com Ambrosina, nem consangüíneo, nem afins, sempre a apoiara em todas as suas atividades.
Além de Maria Salete, falecida em abril de 1980, Ambrosina do Carmo Buonaguide deixou os filhos Pedro e Benedito, que morreram em agosto de 1982 e março de 1983, respectivamente. Antônio já havia falecido muito antes, em outubro de 1949.




O Herói dos Trilhos

Antônio Generoso da Silva


Cabineiro ferroviário evita choque entre trens e salva 3 mil pessoas de uma tragédia

Antônio Cotia era o apelido de um homem simples, honesto e trabalhador. Seu nome completo era Antônio Generoso da Silva e ocupava o posto de cabineiro da Estrada de Ferro The São Paulo Railway Company Limited, comumente chamada de “Companhia Inglesa”.
Logo que se abriu o loteamento de Vila Crisciúma, em Caieiras, Antônio comprou um terreno e construiu uma casa onde passou a morar com sua família, acabando de criar seus filhos João, Hortência, Pedro e Ercília.
Mesmo dada à simplicidade de seu serviço, Generoso o desempenhava com carinho e senso de responsabilidade, sendo, ao mesmo tempo, um grande observador, atributos que hoje caracterizam poucas pessoas. No exercício de sua profissão de cabineiro, um fato merece ser relembrado.
No ano de 1940, havia um trem expresso que partia da Estação de Barretos, interior do Estado, transportando passageiros para São Paulo e Santos. Esse trem era especial, já que levava passageiros para Santos com destino ao Exterior. Seguia, então, um horário instituído de acordo com a partida dos navios. Daí a importância desse expresso.
Sua passagem pela Estação de Caieiras dava-se, todos os dias, invariavelmente, às 6h40. O cabineiro Generoso, em todas as manhãs, no exato momento em que recebia o sinal pelo telégrafo sobre a passagem daquele trem pela Estação de Franco da Rocha, interceptava também outro sinal, que avisava a chegada de um trem cargueiro em Perus.
Quando o expresso apontava na curva próxima à estação caieirense e passava pelo sinal de distância, surgia, do outro lado, o trem cargueiro. O cruzamento entre eles ocorria exatamente na altura da plataforma de Caieiras.
Porém, um dia, o trem de Barretos ficou retido na “Cidade dos Pinheirais” por obra de Generoso. O cabineiro recebeu o sinal das passagens do expresso e do cargueiro pelas estações costumeiras, tudo muito bem. O expresso apontou na curva da estrada e o cabineiro deu passagem com o sinal de distância, aguardando o aparecimento do cargueiro na curva oposta. Acontece que, enquanto o expresso passava pela estação em alta velocidade, o cargueiro continuava sem aparecer. Antônio entrou em desespero.
O único remédio que restava era baixar o sinal de distância, pois o trem já havia passado a estação. Seu espanto aumentou quando observou que o sinal já se encontrava abaixado e, conseqüentemente, com indicação de luz vermelha. Sendo assim, a responsabilidade de sua profissão em relação às normas da estrada não o fez ter dúvidas em parar o trem.
Após três apitos de praxe, desligou a pressão da máquina e começou a acionar os freios. Ainda assim, o trem caminhou uns 500 metros, até que tivesse condições de parar e dar ré até a cabina da estação.
Ao encostar a máquina próximo à cabina, alguém começou a brincar com Generoso. “Que há com você, velho cismado? Por acaso dormiu descoberto? Ora, eu preciso ir embora, tenho horário a cumprir. Afinal, que brincadeira é essa?”
“Por nada deste mundo eu soltarei esse trem sem saber o que aconteceu com o cargueiro que cruza com ele aqui”, respondia Generoso a todos os protestos. O maquinista insistiu dizendo que o expresso e o cargueiro tinham linhas diferentes e que, portanto, não haveria perigo algum de se chocarem.
Passado uns 15 minutos, após terem discutido muito, eis que surge à distância, vindo pela linha, um guarda correndo e tremulando uma bandeira vermelha. “Você está vendo, alguma coisa está acontecendo, vamos esperar”, disse Generoso ao maquinista. Quando o guarda chegou esbaforido, cansado e chorando, provocou uma consternação geral.
Mal podendo se expressar pediu a Generoso que telegrafasse para a central ferroviária o mais breve possível o aviso de que o cargueiro havia descarrilhado e se encontrava estraçalhado perto da região conhecida como Ponte Seca. Não havia, felizmente, quaisquer vítimas, mas os destroços atravancaram as duas linhas, com os vagões amontoados e ocupando todo o espaço, de um lado a outro da estrada.
Generoso acionou rapidamente o telégrafo, avisando à Central daquela estrada que havia um bloqueio entre as estações de Perus e Caieiras, o que não permitia a mínima condição de passagem.
Dessa forma, o expresso foi recolhido ao desvio, onde passou um dia e uma noite, até que a linha fosse totalmente desobstruída para o tráfego normal. Para a alegria geral e pela Providência Divina, o trem de passageiros de Barretos se encontrava ainda são e salvo na Estação de Caieiras. Se tivesse prosseguido, não haveria provavelmente ninguém entre eles para contar a história do iminente acidente.
A diretoria da estrada, ao mesmo tempo em que mandava para Caieiras guindaste e pessoal especializado para tratar dos consertos, também entrou em contato com a Companhia Melhoramentos de São Paulo. Ela pedia para que os operários da empresa fossem dispensados do serviço naquele dia, a fim de poderem ir até o local do acidente para aproveitarem a carga espalhada pela linha.
No momento em que o guindaste levantava os vagões, colocando-os sobre os trilhos, uma multidão de operários ensacava e levava mercadorias perecíveis, como arroz, feijão, batata e farinha de trigo.
Toda a carga gozava de cobertura securitária, o que evitou prejuízo aos transportadores. Com o aproveitamento daquelas mercadorias, os operários pouparam meses de salário.
Antônio Generoso, responsável pelo salvamento de um contingente aproximado de 3 mil pessoas, foi premiado pela administração da “São Paulo Railway” com medalha de honra ao mérito.

O grande líder político

Gino Dártora


Eleito prefeito para três mandatos, ele se tornou a figura pública mais carismática da cidade até o final dos anos 80

Gino Dártora nasceu em Caieiras no dia 17 de dezembro de 1925, filho de João Dártora e Arminda Cavalheri. Casou-se em 1950 com Ruth de Carvalho. O casal teve sete filhos: Maria Inês, Sônia Regina, Glória Maria, Márcia, Gino, João, e Stella Regina. Estes originaram 13 netos para o casal Gino e Ruth.
Em 1954, Gino Dártora concluiu o Curso Técnico de Agrimensura. Começou a vida política nesse período, sendo candidato a prefeito de Franco da Rocha. Em 1956, foi nomeado subprefeito de Caieiras, quando seu território ainda era distrito. Nesse período, organizou-se a Comissão Pró-Emancipação de Caieiras.
Em 1958, freqüentou o Curso Básico de Urbanismo e, no ano seguinte, conquistou seu mandato próprio, que se iniciou em 1960, sendo eleito com mais de 70% dos votos.
Como primeiro prefeito, teve a tarefa de organizar a Prefeitura de Caieiras e realizar obras como o Centro Esportivo Municipal, postos de saúde e escolas.
Em 1963, tornou-se professor no Colégio Técnico de Jundiaí, ocupando em seguida o cargo de coordenador do curso de Topografia. Fez curso de Geologia para engenheiros rodoviários pelo IPR. Apresentou tese, a qual foi aprovada no 7º. Congresso Brasileiro de Cartografia, na Cidade Universitária, em São Paulo. Recebeu também o título de um dos prefeitos mais atuantes do Estado de São Paulo.
Em 1968, foi eleito prefeito pela segunda vez, governando Caieiras durante cerca de oito meses, pois a Câmara Municipal, sendo oposição, o afastou do cargo de prefeito, já que lecionava à noite no Colégio Técnico de Jundiaí.
Em 1970, tornou-se engenheiro agrimensor, formando-se pela Escola Superior de Agrimensura, em Araraquara, interior do Estado. Em 1971, recebeu o certificado de conclusão do Curso de Treinamento em Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado. Nesse mesmo ano, recebeu um diploma de Honra ao Mérito Filatélico e Numismático, no Instituto Kennedy de Educação, pelo Conselho Estadual de Cultura, Esporte e Turismo do Estado de São Paulo.
Foi eleito pela terceira vez prefeito de Caieiras em 1976. Fez questão de atender pessoalmente a todas as pessoas que o procuravam para a solução dos seus problemas. Essa administração foi marcada pela realização de várias obras, tendo concorrido contra três candidatos. Foi candidato a deputado estadual por três vezes.
Em 1977, concluiu o curso de Administração Municipal, por meio de convênio entre o Tribunal de Contas da União e a Associação Brasileira dos Municípios. Dois anos mais tarde, ganhou o título de Comendador da Sociedade Brasileira de Heráldica e Medalhística de São Paulo.
Em 1988, foi candidato a prefeito pela quarta vez, quando já se achava enfermo, tendo sido operado do coração. Mas tinha muita força de vencer, pois dedicou quase toda sua vida por Caieiras, pelo seu povo e pela sua família. Perdeu pela diferença de 900 votos.
Faleceu em 30 de novembro de 1988, após a realização de todo esse grande trabalho para a população de Caieiras, deixando um exemplo de vida e de trabalho para os futuros governadores de nosso município.



O inventor do crepom

Ubaldo Meneguini


Operador de máquinas descobre a fórmula de um papel que revolucionaria o mercado

Ubaldo Meneguini foi uma das pessoas que conheceram de perto as primeiras instalações da Companhia Melhoramentos, especialmente as máquinas de números 1 e 2, que foram sempre conservadas e tratadas como verdadeiras relíquias, já que representavam o marco inicial na fabricação do papel no Estado de São Paulo.
Começou sua carreira profissional na Melhoramentos quando ainda muito jovem. Inicialmente, trabalhou em vários setores da empresa, até mesmo em serviços braçais, como ajudante de armazém, caixeiro etc. Foi transferido mais tarde para a seção de fabricação e, durante esse período, sua inteligência e espírito de observação propiciaram uma descoberta enquanto trabalhava como operador da máquina 2. Com a adaptação de alguns dispositivos técnicos, a máquina poderia fabricar um tipo de papel de alta categoria.
Ubaldo passou a pensar seriamente no assunto e quando seu plano já se encontrava amadurecido, apresentou-o à Companhia. Após realizados os testes, a Melhoramentos concluiu pela exeqüibilidade do projeto e passou logo para a produção. Assim, nascia o papel crepom, hoje largamente usado em enfeites, decorações e outras finalidades.
A administração da empresa reconheceu plenamente Ubaldo Meneguini, pois, além de ser um funcionário zeloso e prestativo no cumprimento de seu dever, possuía um espírito dinâmico e criativo. Por isso, recebeu dela uma premiação especial e uma medalha de honra ao mérito.



O motorista da Revolução

Armiro de Oliveira Leite


Garoto de 14 anos se junta às tropas paulistas de 1932 contra o governo de Getúlio Vargas

A história do interiorano Armiro de Oliveira Leite relata a saga de um menino que, com apenas 14 anos, participou da Revolução Constitucionalista de 1932, que marcou o confronto do Estado de São Paulo com o governo de Getúlio Vargas, então ocupante do poder há dois anos em caráter supostamente provisório.
Ainda em tenra idade, Armiro já era um excelente motorista. Com grande destreza, dirigia o caminhãozinho Ford Bigode, da fazenda em que trabalhava com seu pai, na região de Valinhos, sua terra natal. O garoto dirigia com tanta tranqüilidade aquele caminhão que parecia estar sentado no banco de sua casa. Conhecia as estradas mais próximas como a palma de sua própria mão. Subia as serras e descia os morros, engatando as difíceis marchas de câmbio seco com muita facilidade, o que exigia grande habilidade do motorista.
Estávamos em plena guerra. Os paulistas lutavam contra todos os demais Estados da União e perdiam a batalha. A Estrada de Ferro Sorocabana transportava em seus trens centenas de mutilados e cadáveres. As tropas do Governo Federal ameaçavam por todos os lados, fechando o cerco. As notícias que se ouviam pelo rádio diziam: “As tropas do Governo já ganharam Cascavel, já ganharam Cascadura, já ganharam Caconde e vão a Campinas”.
E assim, para a surpresa da família de Armiro, apareceu em sua casa um grupo de combate composto de um sargento e cinco soldados. O sargento dirigiu-se ao dono da casa perguntando se ali morava o motorista da fazenda. Como a resposta foi afirmativa, o sargento quis vê-lo imediatamente. Foi então apresentado Armiro ao sargento, que disse lamentar que ele fosse tão jovem, mas que precisava incorporá-lo às tropas como combatente. Apesar da estranheza, lá se foi o garoto, com apenas 14 anos de idade, para atuar como motorista do exército de voluntários paulistas. O caminhãozinho da fazenda também foi requisitado pela tropa.
Quanto ao trabalho, Armiro não teve nenhuma dificuldade. Já estava acostumado a trafegar através daquelas estradas empoeiradas do Interior. Mas, por outro lado, era muito diferente, já que estava operando para uma tropa militar e, por isso, não era apenas um motorista. Era também um soldado e ele se compenetrou nessa nova realidade.
Um dia, Armiro trafegava tranqüilamente com um carregamento de munições de um acampamento para outro em companhia de mais dois soldados. Para sua surpresa, pôde observar pelo vidro retrovisor do caminhão que estavam sendo perseguidos por um avião inimigo, justamente dos vermelhinhos, bombardeiros que faziam parte das tropas do Governo Federal.
O motorista só teve tempo de parar o caminhão e gritar para os soldados para que fugissem do local. Armiro tinha ouvido os soldados comentarem que se esconderiam embaixo do caminhão, o que seria certamente fatal. Armiro não hesitou. Saiu correndo, até encontrar um buraco no qual pulou e de onde ficou ouvindo os estrondos das bombas incendiárias atiradas pelo avião no bombardeio.
Passado o momento de tensão, Armiro saiu do buraco e caminhou por uma fumaceira infernal à procura dos companheiros, que nunca mais seriam encontrados. A única visão que pôde ter foi a dos escombros do caminhão que jazia em chamas, com as rodas para o ar. Nada mais.
Triste e desolado, ele voltou à fazenda a fim de encontrar o fazendeiro de quem pretendia se despedir. Chegando lá, recebeu o conselho de que não saísse sozinho pelas estradas, pois elas estavam fortemente policiadas. Se saísse sem companhia, certamente seria capturado como desertor.
O fazendeiro mandou arrear o seu fogoso cavalo alazão e mandou Armiro trocar as roupas de soldado por trajes de bóia fria. Com um velho chapéu de palha, lá se foram o fazendeiro, a cavalo, e Armiro, na garupa. Não chegaram caminhar um quilômetro e já foram barrados pela Polícia Militar da época. Após a revista de praxe, um policial perguntou ao fazendeiro quem era aquele jovem personagem que trazia na garupa do cavalo. Justificando que era seu empregado de confiança, o fazendeiro conseguiu liberar Armiro para voar rumo à sua casa como um pássaro livre.
Anos após essas aventuras de menino herói, Armiro veio a Caieiras, onde se radicou com sua família. Casou-se e criou seus filhos. Dedicou-se intensamente à música e às atividades sociais.
Já aposentado do funcionalismo público, pôde se lembrar dos velhos tempos, das noites de serestas, quando era acompanhado do velho maestro Francisco Assis Fernandes e de seresteiros como Renato e Raul Massinelli, Benedito Rodrigues, o “Guta”, e outros. Nas belas noites de luar, o grupo caminhava pelas ruas de Vila Crisciúma, parando aqui e acolá para executar as mais belas páginas de seu repertório.
Nos encontros, o maestro Assis Fernandes se lembrava de seus velhos tempos de saxofonista na Marinha de Guerra do Brasil. Nas grandes paradas dos marinheiros, com seu uniforme branco imaculado, Fernandes executava com seu reluzente saxofone as mais lindas marchas militares brasileiras (sua biografia está escrita no capítulo a seguir).
Já Armiro aproveitava para lembrar também de seus velhos tempos de funcionário do Hospital Psiquiátrico de Franco da Rocha. Por ordem de Laudo Natel, governador de São Paulo pela primeira vez no período de 1966 a 1967, Armiro fundou naquele estabelecimento a Corporação Musical dos Pacientes do Hospital de Franco da Rocha.



O marinheiro saxofonista

Francisco Assis Fernandes


Militar que defendeu o Brasil na 1a Guerra Mundial funda grupo escoteiro e compõe hino à cidade

“Idealista e realizador, filho do norte do Brasil”. Estas foram as palavras que um artigo publicado no jornal Vida Nova, o primeiro a circular em Caieiras, usou para homenagear, em 1942, Francisco Assis Fernandes, uma das personalidades mais importantes da história da formação da cidade.
Ele teve grande papel nas Forças Armadas do Brasil. Serviu oito anos na Marinha de Guerra, “junto das guarnições do ‘Minas Gerais’, ‘São Paulo’, ‘Deodoro e Floriano’ e do ‘Cruzador Barroso’, fazendo parte da reserva naval”, conforme descreve o Vida Nova.
Na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), Assis Fernandes já compunha a Armada Nacional e, na condição de marinheiro, ajuda a patrulhar a costa brasileira.
Seu esforço na formação da sociedade caieirense também foi destacável.
A primeira festa de Natal da cidade contou com sua organização. O êxito foi tão expressivo que a Companhia Melhoramentos, que apoiava esse tipo de atividade, o incumbiu de organizar as festas natalinas dos anos seguintes. Era uma tradição caieirense que se iniciava, graças ao zelo de Francisco Assis Fernandes.
Uma de suas maiores façanhas foi a fundação do Escotismo em Caieiras, no ano de 1923, quando arregimentou dezenas de meninos, com a colaboração de seu amigo Miguel Lopes. O batalhão de escoteiros de Francisco transmitiu conhecimentos para jovens que eram filhos de operários, professores universitários e outros profissionais. Surgiram depois as primeiras excursões às praias de Santos.
Depois de tanto servir Caieiras, o ex-militar manifestou desejo de voltar a servir a Pátria, reingressando no trabalho militar.
No natal de 1958, Assis Fernandes compôs uma partitura musical para comemorar a vitória da emancipação político-administrativa de Caieiras, ocorrida em 14 de dezembro daquele ano.
Foi maestro das primeiras bandas fundadas em Caieiras, nas quais sua atuação está destacada no capítulo sobre a música na cidade.



O tijoleiro do Serpa

Isaías Luiz Matiazzo


Jovem do Interior vende tijolos para uma cidade em formação e contribui na fundação de um grande bairro

Isaías Luiz Matiazzo nasceu no dia 11 de março de 1911, em Valinhos, interior do Estado de São Paulo, terra do figo e da boa uva. Lá viveu 33 anos, casando-se com D. Cezira Trivelato Matiazzo. Dessa união, nasceram oito filhos.
Sua chegada a Caieiras se deu no começo de 1944, quando pretendia visitar seu irmão Edmur Matiazzo. Isaías ficou encantado com o lugar, mais precisamente com o Bairro do Serpa, a ponte de resolver se transferir com sua família ainda em maio daquele ano.
Naquela época, a população do Serpa era constituída por mais ou menos umas três famílias. Não havia nenhum melhoramento público, a terra era virgem e coberta de luxuriante vegetação.
Isaías, jovem dinâmico e trabalhador, confiante no futuro de Caieiras, reuniu seus parcos recursos que trouxe da terra natal e adquiriu um terreno ao lado da propriedade de seu irmão Edmur. Juntos, construíram uma pequena olaria. Com o novo negócio, passaram a fabricar tijolos de muito boa qualidade e a vendê-los à população que se formava tanto no Serpa como em Crisciúma e adjacências. A região crescia, casas surgiam e tijolos eram um tipo de produto muito bem-vindo.
Com o esforço dos dois irmãos e a ajuda de seus filhos, que cresciam, foi possível comprar em pouco tempo um caminhão. Por meio dele, prestaram relevantes serviços à população de Caieiras. Além de levar e trazer seus produtos, o caminhão atendia às necessidades da população mais carente, que não tinha acesso ao transporte de médicos, parteiras e gestantes, dada a falta de veículos automotores.
O empreendedor Isaías participou ativamente de todos os movimentos filantrópicos, na construção de templos, de escolas e de sociedades recreativas. Lutou também pela emancipação política e administrativa de Caieiras, um movimento singular em sua história. Com muita honra, seu nome foi dado à uma escola de primeiro grau do Bairro de Vera Tereza, graças ao Decreto Lei nº 4.263, de 20 de setembro de 1984, da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, de autoria do deputado estadual Randal Juliano Garcia.
Desde 1944, Isaías passou a fazer parte do clã das folias tradicionais de Caieiras, colaborando em tudo para o progresso da cidade. Seus efeitos merecem registro na memória da “Cidade dos Pinheirais” e de seu povo.



O pesquisador dos vegetais

Mário Meneguini


Cientista caieirense ganha destaque no Instituto Biológico de São Paulo e alcança projeção internacional

No dia 19 de dezembro de 1968, o Instituto Biológico de São Paulo perdeu prematuramente um de seus mais brilhantes pesquisadores, o Dr. Mário Meneguini, então chefe da Seção de Bioquímica Vegetal.
Nascido em Caieiras a 19 de agosto de 1914 passou sua infância na cidade natal, onde aprendeu as primeiras letras freqüentando diversas escolas rurais e grupos da região. Mais tarde cursou o Colégio “Oswaldo Cruz”, na capital paulista, no período noturno. Durante o dia, trabalhava como auxiliar de laboratório na fábrica de papel da Companhia Melhoramentos, em Caieiras.
Excelente estudante ingressou em 1935 na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Formou-se três anos depois, quando recebeu o prêmio “Epitácio Pessoa”, que era concedido ao aluno que mais se destacava durante o curso.
Enquanto estudante universitário foi diretor do Departamento Científico do Centro Acadêmico “Luiz de Queiroz” e teve seu encargo a folha agrícola semanal do Jornal de Piracicaba.
Em 1939, depois de um breve estágio na Secção de Genética do Instituto Agronômico de Campinas, foi convidado para substituir o assistente da cadeira de Química Agrícola da Escola Superior de Agricultura (E.S.A) “Luiz de Queiroz”, ali permanecendo por dois anos com a responsabilidade das aulas práticas e, não raro, das teóricas.
Foi contratado como assistente da Secção de Química do Instituto Agronômico do Norte, em Belém, Pará, no ano de 1942. Encarregado de organizar e chefiar uma expedição à região do Jaci-Paraná, fez um levantamento preliminar dos solos da região e, pela primeira vez, foram retiradas tecnicamente deles amostras que foram levadas para análise no instituto de Belém.
Dois anos depois, foi convidado para trabalhar na Secção de Fisiologia Vegetal do Instituto Biológico de São Paulo. A chamada “tristeza das laranjeiras” era então, o problema mais sério da citricultura e, talvez, de toda a fitopatologia. Tinha destruído os laranjais de Java e da Argentina, dizimava os nossos e ameaçavam os da Califórnia, nos Estados Unidos. Discutia-se, entre muitas hipóteses, a possibilidade de se tratar de uma incompatibilidade fisiológica entre o porta-enxerto de laranja azeda e o enxerto de laranja doce. Entretanto, os indícios de que a “tristeza” era uma doença infecciosa se acumulavam. Trabalhando arduamente e pesquisando essas duas possibilidades, Mário terminou por demonstrar, pela primeira vez, que a doença era uma virose transmitida pelo pulgão da laranjeira (Toxoptera citricidus).
Dois anos depois, tendo recebido do Governo do Estado de São Paulo uma bolsa de estudos, viajou para a Califórnia, permanecendo em Berkley até 1950. Durante sua estadia nos Estados Unidos, especializou-se em bioquímica e virologia vegetal, em colaboração com o professor Dr. C.C. Delwiche, como assistente de pesquisa do Departamento de Patologia Vegetal da universidade.
De volta ao Brasil, Meneguini prosseguiu seus estudos e pesquisas em bioquímica e virologia e, em 1954, com a ajuda do cientista Dr. Darcy M. Silva, purificou o vírus do mosaico do quenopódio. A importância desse trabalho consistiu, especialmente, no fato de ter sido este o primeiro vírus purificado no Brasil.
No mesmo ano, foi contemplado com outra bolsa, desta vez, da Fundação Guggenheim. Voltou a Berkley, agora como pesquisador associado do Departamento de Patologia Vegetal da Kearney Foundation, onde realizou importantes estudos.
Ainda em 1954, tornou-se encarregado de chefia da Secção de Bioquímica Vegetal do Instituto Biológico de São Paulo, cargo este que ocupou até seu falecimento. Com a ajuda de seus assistentes, continuou suas pesquisas sobre problemas da multiplicação dos vírus nas plantas e, de modo especial, das substâncias e processos que poderiam inibi-la, tendo-se em vista uma possível quimioterapia para doenças causadas por esses vírus.
Mário Meneguini foi um dos primeiros pesquisadores no Brasil a se interessar e trabalhar com ácidos nucléicos de vírus e das plantas. Nesse assunto, formulou inúmeras hipóteses básicas e, dentre elas, uma especial, que tratava do mecanismo de inibição do vírus do mosaico do fumo pela ação do ácido ribonucléico de fermento. Nesse trabalho, ele conjugou esforços para sua resolução a partir de 1963.
Trabalhando arduamente sobre esse assunto, chegou a conclusões que faziam do trabalho uma peça importantíssima dentro dos conhecimentos básicos da terapia dos vírus. Entretanto, por ser uma pesquisa tão importante, deteve-se prolongada e minuciosamente em cada passo do problema. Contra sua vontade, acabou vendo publicado por outros autores um trabalho análogo. Os dados de que dispunha eram suficientes para a elaboração de toda uma tese, mas teve que apresentá-los apenas como uma nota, que nem sequer pôde ver publicada.
Em 1965, o cientista caieirense começou seus estudos em mais dois assuntos, bastante atuais e importantes para a definição de inúmeros problemas teóricos e práticos dentro da bioquímica e da fitopatologia. Um deles, com a colaboração de técnicos de uma secção de fisiologia vegetal, referia-se a investigações sobre a germinação de sementes e fotomorfogênese, a respeito do que publicou diversos trabalhos científicos. O outro tema visava o estudo do mecanismo de resistência das plantas às doenças causadas por fungos e vírus, bem como das substâncias naturais envolvidas nesse mecanismo, capazes de conferir maior ou menor resistência às plantas.
Paralelamente, principiou pesquisas sobre a ação dos inseticidas, utilizando-se de material radioativo. Para o desenvolvimento desses trabalhos, montou um laboratório altamente especializado em pesquisas com radioisótopos.
Dr. Meneguini era membro de diversas sociedades científicas brasileiras e internacionais, tais como: Sigma-X, American Phytopathological Society, International Organization of Citrus Virologist, Sociedade Brasileira de Botânica, Sociedade Brasileira de Biologia e Medicina Nuclear e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC.
Ao lado das atividades científicas em geral, atuou especialmente em áreas do Instituto Biológico de São Paulo. Naquela entidade, foi coordenador dos planos de construção e montagem dos novos laboratórios de química e biologia e membro do Conselho Técnico-Administrativo e do Conselho Editorial dos Arquivos. Além disso, pertenceu a muitas comissões para tratar de assuntos técnicos e científicos. Por diversas vezes, executou também o cargo de chefe-substituto da Secção de Bioquímica e Farmacodinâmica do Instituto Biológico, já como chefe da Secção de Bioquímica Vegetal.
O cientista Dr. Meneguini é relembrado por todos que o conheceram com um especial carinho, pelo seu caráter humano, honesto e justo e pela sua mente extremamente perspicaz e brilhante. Cientista e filósofo, amante das artes, estava sempre disposto a orientar quando solicitado, mesmo em assunto fora de sua especialidade.
Sua biografia aponta para um homem, sobretudo inteligente, simples e modesto.
Texto baseado em publicação dos Arquivos do
Instituto Biológico de São Paulo, 1969
(Traços Biográficos de Mário Meneguini).




O prefeito da cordialidade

José Alves Ferreira Filho


Chefe do Executivo de Franco da Rocha aceita pacificamente a emancipação de Caieiras no final de seu mandato

O político José Alves Ferreira Filho, também chamado de "Zezinho", foi prefeito de Franco da Rocha nos períodos de 1956 a 1959 e de 1964 a 1965, uma das épocas mais difíceis da história daquela cidade.
Como jovem dinâmico e batalhador pelo progresso de Franco da Rocha, conseguiu realizar muitas obras de vulto. Algumas delas se encontram hoje obsoletas, mas certamente acabaram por servir durante muitos anos a municipalidade.
Zezinho acompanhou paulatinamente todo o progresso de emancipação política e administrativa de Caieiras, embora, como prefeito de Franco da Rocha, não pudesse dar seu apoio à tal iniciativa. Mesmo assim, acompanhou com absoluta serenidade o desenrolar dos acontecimentos.
E, por fim, festejou com o povo a emancipação de Caieiras. Por isso, sua atenção merece ser registrada com orgulho na história da "Cidade dos Pinheirais" e de seu povo.



Um pioneiro do comércio

Firmiano Pacheco


Dono de uma loja de materiais de construção marca presença junto à população carente

A loja de materiais de construção Pacheco & Companhia Ltda., no Bairro do Serpa, inicialmente de propriedade de Firmiano Pacheco e atualmente de seus filhos, simboliza a história do comércio de Caieiras.
Tudo começou no início da década de 40. Pacheco, então um jovem dinâmico e trabalhador, montou uma modesta casa de materiais de construção. As dificuldades financeiras da época eram sentidas por todos. A população era de baixa renda, constituída, na maioria, de operários da Companhia Melhoramentos de São Paulo e de funcionários do Hospital Psiquiátrico de Franco da Rocha.
Comprar um terreno em Vila Crisciúma e construir uma casa própria eram dois sonhos quase impossíveis para aquela gente. Os operários da Melhoramentos dispunham de três horários de trabalho: das 6h às 14h, das 14h às 22h e das 22h às 6h. Desses períodos alternados, o primeiro era usado para o atendimento dos serviços da empresa. O segundo servia para o descanso normal e indispensável à criatura humana, enquanto o terceiro era utilizado para serem ganhos uns proventos além do pão de cada dia. Era nesse turno que se lutava pela aquisição de um terreno onde fosse construída uma casa própria.
Os que tinham profissão definida trabalhavam durante essas horas em casa. Os marceneiros que consertavam móveis e os funileiros que faziam baldes, regadores e taxos se encaixavam nessa categoria. Folhas de flandres, zinco e cobre eram usadas como matéria-prima. Pedreiros construíam casas próprias ou de amigos e parentes. Assim se iniciava o povoado de Vila Crisciúma, hoje centro de Caieiras, nos difíceis tempos das décadas de 40 e 50.
É nesse contexto que o jovem Firmiano Pacheco, em companhia de sua prendada esposa, Silvéria Palma Pacheco, atendia àquela população sempre com seu sorriso característico.
Apesar do sucesso profissional, Firmiano passou muitas vezes por situações complicadas. Por um lado, as compras sem pagamento imediato - os chamados "fiados" - eram uma constante junto à freguesia. E o mais grave eram os curtos prazos dados pelos fornecedores. Somente com seu tino administrativo e o apoio de sua dedicada esposa, Pacheco sempre se saiu bem de todas as dificuldades.
Seus filhos, Élvio, Francisco e Alfredo, receberam de seus pais a orientação adequada. Juntos, construíram um pequeno império comercial do qual a cidade pode se orgulhar. Sem pretensão propagandística, graças a esse estabelecimento, não é necessário transpor fronteiras para se adquirirem mercadorias do ramo da construção civil.
O comércio caieirense tem sua história intimamente ligada à vida da família Pacheco.





O administrador do bem-estar

Johannes Ferdinand Ehlert


Técnico industrial alemão impulsiona crescimento da Melhoramentos e luta pela melhoria de vida de seus trabalhadores

Em setembro de 1920, ano em que Alfried Weiszflog adquiriu a Companhia Melhoramentos, a empresa que plantou o progresso em Caieiras contratou o alemão Johannes Ferdinand Ehlert para trabalhar na qualidade de técnico especializado na indústria de papel e em sua matéria-prima.
Desde então, fez-se nas terras da fábrica uma nova fase de progresso, em virtude também do espírito dinâmico e empreendedor de Ehlert. A transformação daquela colméia de trabalho constituiu uma investida inteligente, árdua e tenaz do novato diretor, que enfrentou e solucionou os múltiplos problemas com sábias providências e entusiasmo invulgar. Quanto aos obstáculos contra os quais se deparava, eliminava alguns e contornava outros de modo racional e produtivo, o que se demonstrou pelos excelentes resultados de suas iniciativas.
Os benefícios concedidos aos trabalhadores da empresa, bem como toda a sua infra-estrutura, eram frutos do sentimento de justiça, da inteligência, do espírito eqüitativo e do trabalho perseverante de Ehlert.
Como homem enérgico e possuidor de uma visão administrativa fora do comum, esse extraordinário administrador tinha uma preocupação constante com o estado de vida que levavam os empregados. Naquela época, não havia intervenção do Estado nas questões trabalhistas, mesmo porque o próprio Ministério do Trabalho seria organizado em 1938, quando foram distribuídas as primeiras carteiras profissionais, por decreto do então presidente Getúlio Vargas.
Embora tendo a Companhia um grande armazém de secos e molhados para atendimento da população, o administrador Ehlert considerou que os trinta dias existentes entre um pagamento e outro eram um espaço de tempo muito longo. Por isso, estabeleceu um sistema de adiantamento de salário com base em fichas que os empregados retiravam a cada 15 dias, com seu desconto no final de cada mês. Assim, os funcionários passaram a receber quinzenalmente, a fim de que não sofressem qualquer tipo de necessidade.
Assessorando o administrador Ehlert, estava uma grande equipe de profissionais que também marcaram nome na história de Caieiras. Incluíam-se nela o diretor social da empresa, Antônio Siqueira Branco, os diretores administrativos João Satrapa, Domingos Toigo, Álvaro, Constantino Trilha e Pedro Muro Vasquez, os chefes do setor de arquivo, Carlos Burrener, das oficinas de manutenção, Faultim, e dos departamentos de eletricidade, Carlos Kaizer, e de obras, Ernesto Kol. Participaram também do grupo de trabalho outros chefes daquele admirável rol de funcionários. Eram eles: José Carlos da Silva, chefe do Departamento de Expedição, Ubaldo Meneguini, gerente de produção, Abílio Vieira, chefe da Seção de Carpintaria e Marcenaria, e por último, o responsável pelas oficinas de carpintaria e marcenaria de Caieiras, Antônio Zovaro.
No tocante à vida pessoal, Ehlert se casou com D. Alice Sack, natural de Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo, no ano de 1924. A população de Caieiras devota grande estima e reconhecimento à D. Alice graças às suas constantes atividades em prol do bem-estar das famílias da localidade. E o enlevo desse casal de bem-feitores foi, sem dúvida, sua filha Renata.
Em 1938, por seus serviços sempre voltados exclusivamente ao Brasil, Ehlert recebeu o título de "Cidadão Brasileiro" e "Membro Honorário da Associação Paulista de Imprensa Periódica", além de "Presidente Honorário" das Sociedades de Caieiras, do Clube Recreativo Melhoramentos e da União Recreativa Melhoramentos.
Paraninfou em 1914 a turma de reservistas do Tiro de Guerra 35, para o qual foi pródigo em gentilezas e auxílio valioso, tendo apoiado eficazmente a instalação do núcleo da entidade em Caieiras. Tal obra facilitou a inscrição dos rapazes daquele Distrito de Paz no Tiro de Guerra 35, bem como os de Franco da Rocha e do bairro paulistano de Perus para cumprirem seu dever com o Brasil.
Outra turma paraninfada por Ehlert foi a dos formandos do Instituto de Ciências e Artes, com sede em Franco da Rocha, em 1944. Posteriormente, a instituição transferiu suas instalações para Caieiras, passando a funcionar à Rua Dr. Armando Pinto.
A casa do "Senhor Ehlert" era uma mansão em estilo europeu, tendo na frente um terraço nobre, composto de colunas em estilo romano e encimadas por capitéis esculpidos nos moldes coríntios. No telhado, havia torres com janela para areação e iluminação dos quartos de hóspedes.
À frente dessa casa, descortinava-se um horizonte maravilhoso, pois avistava-se uma paisagem de rica vegetação, formada pelas plantações de pínus araucária, heliot, coníferas e outros. Nas frescas manhãs ensolaradas, podia-se notar o barulho das máquinas de papel em pleno movimento e o repicar das bigornas das ferrarias, sons estes que muitas vezes se misturavam com o do piano de Renata, filha do dono da mansão, que fazia as escalas e os exercícios de mecanismo a fim de manter a forma para executar concertos entre famílias.
Ehlert despertava muito cedo e costumava fazer uma caminhada pelas cercanias da fábrica. Por volta das 7 horas, passava pelas obras da empresa, onde cumprimentava sorridente os operários e, muitas vezes, parava e conversava com alguns deles. Perguntava se estava satisfeito com o trabalho que fazia e se tudo corria bem com a família. Se acaso existisse algum problema, ele mandava prontamente resolver, já que gostava de ver seus operários felizes.
Em seus passeios matinais, percorria todas as seções de fabricação e manutenção e, ao passar pela ferraria, parava para ouvir o repique da bigorna e a destreza do ferreiro em moldar o metal no fabrico da ferramenta. Parava também para ver e admirar a habilidade do operador na troca de bobinas. Nesse momento, o operador sofre muitas vezes um choque causado pela eletricidade estática que se forma pela rotação dos grandes cilindros da máquina, um fenômeno que não oferecia perigo ao operador por se tratar de baixa voltagem. Mesmo assim, o operador levava um grande susto, provocando risos de seus colegas e até de Ehlert, que achava graça.
Quando uma obra era terminada, ele autorizava que o grupo de trabalhadores responsáveis por aquele serviço fosse dispensado pelo resto do dia. Antes, porém, mandava que todos permanecessem no local para a inauguração da obra. E para isso, mandava trazer do armazém caixas de cerveja a serem servidas aos operários, tudo numa atmosfera de tranqüilidade e alegria.
Nas festas das quais participavam os trabalhadores da Melhoramentos, Ehlert sempre estava presente e acompanhado de sua esposa D. Alice, e de sua filha Renata. Ele Faleceu em Campos do Jordão no início dos anos 60.



Os operários do mel

Antônio e Luiz Zovaro


Pai e filho marceneiros dedicam suas vidas à arte de criar abelhas

Italiano de nascimento, Antônio Zovaro chegou ao Brasil no início do século, residindo inicialmente em São Paulo, mais precisamente no Bairro de Vila Mariana.
Em 1920, transferiu-se para Caieiras, contratado pela Companhia Melhoramentos de São Paulo. Passou a morar na Rua dos Coqueiros, onde criou seus filhos: Luiz, Nena, Iolanda, Alice, Mafalda, Paulina, Eduardo e Palmira.
Antônio Zovaro era um exímio artífice em carpintaria e marcenaria, assumindo logo após sua chegada a Caieiras, a diretoria das oficinas de carpintaria da Melhoramentos.
Seu filho, Luiz Zovaro, desde muito jovem já se dedicava à mesma profissão do pai e tornou-se um ótimo marceneiro. Quando ainda era mocinho, já produzia moldes em madeira para serem fundidos em ferro.
Dessa forma, formavam-se as peças para as máquinas projetadas pelo departamento de engenharia da empresa. Essa prática contribuiu para uma grande economia para a Melhoramentos, já que na Segunda Guerra Mundial, houve dificuldade de importação de celulose para o fabrico do papel. Para solucionar o problema, foi arquitetada em Caieiras uma máquina para fabricar celulose, com peças totalmente fabricadas nas oficinas da empresa e com o capricho de Luiz Zovaro.
Independentemente do trabalho efetuado na Companhia, havia uma outra atividade desenvolvida por Antônio (depois seguida por seu filho) que lhes deu grande notoriedade: o trabalho com abelhas.
Com a mudança para Caieiras, Antônio Zovaro trouxe também um apiário que mantinha nas baixadas da Rua Lins de Vasconcelos, em Vila Mariana, São Paulo. Começou então a desenvolver todo o seu trabalho apícola em Caieiras. Pai e filho trabalharam com abelhas até o casamento de Luiz. A partir de então, cada um passou a ter apiários distintos.
Nas exposições promovidas pela Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, ora Antônio, ora Luiz ganhava os primeiros prêmios em abelhas, mel, cera e materiais apícolas. Após muitos anos de trabalho, Antônio Zovaro aposentou-se, deixando uma folha de serviços digna de apreço. Quando faleceu, o mais importante bem que deixou para seus filhos herdeiros foi, sem dúvida, a educação, razão pela qual todos são estimados na sociedade caieirense.
Luiz Zovaro é o continuador da obra de seu pai, dedicando seu tempo à apicultura. Ele possui um sofisticado aparelho de inseminação artificial de abelhas rainhas, talvez o único no Brasil. É reconhecido a nível nacional como um dos profundos conhecedores no trato com as abelhas. Detentor de várias homenagens, diplomas e medalhas de honra ao mérito no Brasil, já teve seu nome citado em revistas internacionais. Luiz Zovaro é um dos poucos brasileiros que podem se orgulhar de terem seus nomes publicados na revista americana Time.
A atuação de Antônio e Luiz Zovaro na apicultura levou o nome de Caieiras além das fronteiras.



O rei da pesca

Manuel Valentim


Pescador ganha centenas de prêmios às margens dos rios e funda clube na cidade

Caieiras já produziu campeões nos setores mais variados das atividades mundanas. Foi o caso do famoso pescador "Mané" Valentim, referência obrigatória de toda pescaria praticada na região. Com seu jeito bonachão e peculiar, Mané sabia como poucos da arte de fazer amigos.
Homem pacato, honesto e trabalhador, ele viveu em Caieiras por muitos anos, juntamente com sua família. Viajava diariamente para São Paulo em trens apinhados de gente, aguardando a chegada do domingo. Neste dia, logo pela manhã, já preparava sua tralha de pesca, fazia uma refeição leve e partia para sua pescaria, às vezes no Rio Juqueri, outras vezes na Represa de Mairiporã e até na Barragem de Nazaré Paulista, no interior do Estado. Esse era seu hábito semanal.
Quando havia campeonato, fosse onde fosse, Manoel preparava antecipadamente seu material, tomava o trem e para lá se mandava com todo o entusiasmo de um pescador apaixonado.
O envolvimento de Mané com o prazer de pescar possibilitou a descoberta de uma nova isca. Ao pescar na Represa Billings, no Município de Ribeirão Pires, lá pelas tantas, as iscas se acabaram. Portanto, acabada estava também sua pescaria.
Embora muito aborrecido Manuel arrumou suas tralhas e partiu de volta. Mas quando caminhava vagarosamente pelas praias da represa absorto em seus pensamentos, eis que, num dado momento, Manoel fixa seu olhar na areia daquela praia, onde vê um peixe morto e já em estado de deterioração. Notou que do corpo daquele peixe saíam uns bichinhos rolando pela areia escaldante. Daí veio então a idéia de se usarem os bichinhos como isca.
E assim o fez. Pegou um pedaço de plástico que fazia parte de sua bagagem e, com auxílio de um pedaço de pau, passou os bichinhos para cima do plástico. Levou-os, em seguida, para a água, onde os lavou cuidadosamente a fim de tirar o mau cheiro.
Em seguida, colocou os bichinhos em um recipiente contendo fubá e farinha de rosca, ingredientes que levava para jogar na água como chamariz. Após essa operação, os bichinhos passaram a ter um aspecto até bonito.
Pois bem, a isca estava pronta. Faltava apenas ver se funcionava. E para a surpresa de Manoel, foi só arremessar a vara que o peixe pegou imediatamente. E assim, naquele resto de tarde, Manoel pegou mais peixe do que havia pegado o dia todo.
Na volta do passeio, veio matutando como poderia criar larvas como aquelas para usá-las em campeonatos dos quais participava, pois tinha que descobrir algo que deteriorasse, mas que não chegasse a ser tão nojento e asqueroso para seu manuseio.
A primeira coisa que lhe veio à mente foi a ração de galinha, que contém farinha de carne, fubá e quirera. Logo, pôs as mãos à obra, construindo uma caixinha onde colocou a ração de galinha bem úmida.
Horas depois de sua fermentação e com o cheiro que exalava, várias moscas começaram a pousar, deixando seus ovos. Cinco dias após, os bichinhos já se encontravam no tamanho ideal para servir de isca.
No primeiro teste feito em campeonato de pescaria, a chamada "isca larva de mosca" teve um resultado surpreendente. Com sua pele dura, ela não saía facilmente do anzol, o que permitia pescar até meia dúzia de peixes com uma só isca.
A partir daí, Mané Valentim se tornava o "Rei da Pesca", chegando a levantar até dois troféus em um só campeonato, com vitórias nas categorias peso e quantidade.
Já em pleno sucesso, Mané fundou o Clupesca de   .Caieiras, uma espécie de clube onde os sócios aprendiam o cultivo da larva usada como isca. O Clupesca organizou muitas competições, assim como também participou de eventos promovidos por outros clubes, ocorridos desde a Represa Billings, no alto da Serra, até Pirassununga, interior de São Paulo.
Para se ter uma idéia de sua técnica em pescar, basta dizer que num campeonato realizado no Country Club de Jundiaí, localizado na represa do Clube Uirapuru, Mané conseguiu pescar 1.400 peixes em apenas três horas de competição. Um grupo de cerca de 100 pessoas se formou em sua volta para assistir à sua pesca. Até guardas e fiscais se revezavam para poderem ver a pescaria de Mané. Para comprovar que não se trata de mentira de pescador, até o Jornal de Jundiaí e a Gazeta Esportiva fizeram a cobertura jornalística daquela proeza do campeão.
Aliás, Caieiras começou a aparecer no cenário da pesca amadora em alguns dos principais veículos de comunicação do Estado por meio de Mané. Sua habilidade à beira de um rio passou a ser notícia nos jornais Folha de São Paulo, Notícias Populares e Gazeta Esportiva, além da revista Acampamento, especializada em pescaria.
Mané se destacou em todos os lugares onde competiu, não apenas por sua técnica de pescador exímio, como também por sua simpatia. Possuía uma maneira extraordinária de fazer amigos. Por isso, tornou-se querido de todos.
Para nossa tristeza, partiu muito cedo, em 11 de fevereiro de 1985, deixando sua esposa e suas filhas, as acompanhantes de suas competições. Seguindo as pegadas do pai, elas tornaram-se também excelentes pescadoras, ganhando vários troféus em campeonatos femininos.
Valentim deixou um acervo de mais de 80 troféus e dezenas de medalhas de honra ao mérito.



O advogado da cultura

Dr. Armando Pinto


Bacharel em Direito faz de sua residência um centro político e artístico em prol do desenvolvimento sócio-cultural

Na década de 30, surgiu em Caieiras um personagem singular em sua história, considerado um dos principais precursores do progresso e do desenvolvimento cultural da região: Dr. Armando Pinto.
Seu maior orgulho era ter sido formado com a turma de 1920 da famosa Faculdade de Direito 11 de Agosto, das arcadas do Largo São Francisco, em São Paulo. Na ocasião, teve como paraninfo oficial nada menos que o escritor parnasiano Rui Barbosa (1849 - 1923), um dos mais brilhantes políticos e intelectuais de seu tempo, destacado internacionalmente por ocasião da II Conferência da Paz, em Haia, no ano de 1907. Embora impossibilitado de estar pessoalmente na cerimônia por se encontrar enfermo, ele enviou seu discurso intitulado "Oração aos Moços", o qual foi lido por um dos membros da congregação da faculdade.
Sendo um homem de espírito dinâmico e irrequieto, apaixonado pela arte e cultura em geral, a maior preocupação de Dr. Armando era com a formação da mocidade, o que o fez fundar o Culto à Instrução, entidade eminentemente cultural e voltada para jovens, cuja sede ficava à Rua Sete de Setembro, em Franco da Rocha.
Advogado militante do Fórum de São Paulo, Dr. Armando possuía um escritório à Rua São Bento, ocupando a sala 1 do prédio de número 100. Adquiriu uma chácara nas terras onde um dia seria o Município de Caieiras e nela construiu uma casa para onde veio morar com sua esposa, D. Terezinha Camargo Pinto.
Seu lar era uma linda e espaçosa residência, que continha no andar superior uma sala ampla e dormitórios reservados para suas constantes visitas. A casa vivia sempre em festa, numa atmosfera de paz e alegria. Havia também cozinha, copa e despensa com armários, onde D. Terezinha guardava com carinho seus potes de doces de frutas em compotas, tudo feito por ela e suas empregadas. Esses costumes de D. Terezinha derivavam de sua descendência alemã. Seus ancestrais pertenciam a famílias tradicionais da aldeia de Düsseldorffe, Alemanha.
O abastecimento de água da casa também era peculiar e europeizado, sendo feito por meio de um moinho de vento típico da Holanda, já que a luz elétrica ainda era um sonho para o povo de Crisciúma. Nos porões da residência, encontravam-se novas salas, entre as quais, a biblioteca de Dr. Armando, na qual o advogado estudava durante horas da noite os seus processos. Era nessa biblioteca que ocorriam também reuniões com amigos para discutir planos em benefício da futura cidade de Caieiras.
A biblioteca era vasta e constituída de coleções literárias de inestimável gabarito. No ambiente de cordialidade daqueles encontros noturnos com amigos, foi fundada a Sociedade Amigos de Caieiras, à qual Dr. Armando canalizou muito de suas forças.
O jornal Vida Nova também foi criado numa dessas reuniões, escrito pelo proprietário da casa e por seus tantos colaboradores: Aldo Savazoni, Dalmo Belforte de Matos, Otávio de Almeida Nunes, Luiz Lopes Lansac e outros. Aquele veículo registrou desde aquele período a vida da comunidade francorrochense, passando depois para as mãos de outras grandes personalidades: Oscar de Almeida Nunes, Flávio Antunes e Francisco Guillen.
O acesso da então Rua Magnólia até a casa de Dr. Armando se dava através de uma alameda ladeada por palmeiras plantadas eqüidistantemente. Da rua até a casa, o terreno era formado por um jardim com flores variadas, como a rosa "príncipe negro", tratada com muita afeição por D. Terezinha. Sendo devota fervorosamente de Santa Rita de Cássia, ela fazia questão de enfeitar o andor da santa com rosas dessa espécie e as vendia às famílias interessadas após o término da procissão. A arrecadação obtida era destinada às obras sociais e assistenciais para crianças pobres.
D. Terezinha foi uma dama de destaque no cotidiano da Crisciúma da época. Além dos afazeres da casa e dos cuidados do jardim, dedicava-se sempre à comunidade local. Era seu costume realizar todos os anos festas natalinas em sua casa, com farta distribuição de agasalhos e brinquedos para as crianças pobres da região. Seu marido, bem relacionado com a sociedade paulistana, trazia presentes das firmas em que trabalhava, principalmente material escolar.
Na famosa casa de Dr. Armando Pinto, vivia também seu filho Cláudio, empregados e pensionistas. Ervim Weber, por exemplo, veio muito jovem da cidade de Assis, interior de São Paulo, para ser pensionista da casa. Ele trabalhava na Ford Motor Company, sediada à Rua Sólon, em São Paulo, exercendo a profissão de técnico em retífica de motores a explosão. Casou-se mais tarde com Maria de Carvalho que viveu naquela casa em regime de tutela desde sua infância, sempre tratada como verdadeira filha e cercada de muito carinho.
A professora Aninha Valim também foi pensionista da casa. Vale citar que ela era filha de Valdomiro Valim, fazendeiro de São João da Boa Vista, também no Interior, e autor do projeto de loteamento de Vila Crisciúma. Alguns pensionistas saíam da “mansão” de Dr. Armando Pinto somente quando se casavam, como o caso da senhorita Bela Crema.
Mas as salas daquela casa recebiam visitas de amigos da Capital. Entre as freqüentadoras mais assíduas, estavam a professora Raquel Peluzzo, diretora do Instituto Musical Padre José Maurício, e sua irmã soprano, Joconda Peluzzo. A sobrinha de Raquel, Bela de Castro, também soprano, e o tenor Gachido também compunham o rol dos artistas que brilhavam no casarão entre os coqueiros. Para se ter uma idéia do nível dessas estrelas, basta citar que em 1950, eles fizeram parte da ópera “La Boeme”, no Teatro Municipal de São Paulo, espetáculo que recebeu calorosos aplausos da refinada sociedade paulistana que o contemplou.
Anos depois, a casa de Dr. Armando Pinto seria transformada em hospital, até a inauguração de um novo, bem ao lado do primeiro, que já teve em sua direção um dos ex-prefeitos de Caieiras, Dr. Milton Ferreira Neves, sendo hoje controlado pela empresa Emed. A rua aberta ao lado do antigo casarão levaria o nome do mais ilustre advogado da cidade.
Muitos são os moradores de Crisciúma e de outros bairros que ainda se lembram do caminho de terra e dos coqueiros ao redor da freqüentadíssima casa. Algumas dessas árvores ainda estão no local para a lembrança dos mais nostálgicos.
A atuação de Dr. Armando no movimento em prol da emancipação político-administrativa de Caieiras e em outros importantes momentos de sua história está sendo relatada em outros capítulos dessa obra.
Dr. Armando era, no fundo, um homem simples. Despertava cedo a fim de tomar seu trem a São Paulo para atendimento de sua clientela. Mas sua simplicidade nunca ofuscou sua importância, tal como uma estrela cujos raios luminosos viriam clarear o mundo futuro. Só nos resta, com justiça e grande saudade, o registro de seu passado.




Geografia


Divisas municipais

O Município de Caieiras apresenta ao seu redor os seguintes limites, conforme os documentos geográficos:

a) Com o Município de Cajamar (oeste)

Começa no Rio Juqueri, na foz do Córrego Itaim. Segue em linha reta, de rumo norte, até cortar o divisor entre as águas do Córrego Itaim, afluente do Ribeirão Juqueri-Mirim ou Tabuões, e as águas do Córrego Olhos D’Água; a partir desse ponto, a linha continua, por nova reta, à foz do Córrego do Félix, no Ribeirão dos Tabuões.


b) Com o Município de Franco da Rocha (norte)

Inicia na foz do Córrego do Félix, no Ribeirão Tabuões, seguindo pelo contraforte fronteiro, até o divisor entre as águas do Córrego do Félix, à esquerda, e do Córrego Olhos D’Água, à direita; as terras caieirenses são vistas seguindo por este divisor até alcançar a cabeceira mais ocidental do Córrego do Tanque Velho; desce por este até sua foz no Córrego dos Abreus, onde é cortado por uma reta do rumo oeste, que vem da foz do Córrego da Colônia, no Rio Juqueri; continua por esta reta até a já citada foz; sobe, em seguida, pelo Córrego da Colônia, até sua cabeceira e, depois, pelo divisor entre o Córrego Crisciúma, à direita, e o Rio Juqueri, à esquerda, até o outro divisor – entre Crisciúma e Santa Inês; prossegue por ele até a cabeceira do Córrego do Engenho, pelo qual desce até a sua foz, no Ribeirão Santa Inês.


c) Com o Município de Mairiporã (leste)

Começa no Ribeirão Santa Inês, na foz do Córrego do Engenho, subindo até a foz do Córrego Claro; daí continua pelo contraforte fronteiro entre o Ribeirão Santa Inês, à direita, e o Córrego Claro, à esquerda, até cruzar a Serra da Cantareira.


d) Com o Município de São Paulo (sul)

Inicia-se na Serra da Cantareira, no ponto de cruzamento com o contraforte entre o Ribeirão Santa Inês e o Córrego Claro; segue pela Serra da Cantareira até a Serra do Ajuá, pela qual continua até a cabeceira meridional do Ribeirão dos Pinheirinhos; desde então, vai até sua foz, no Rio Juqueri, atingindo a foz do Córrego do Itaim, onde teve início essa divisa.



Localização fisiográfica

O Município de Caieiras situa-se a uma altitude de 721,268 metros do nível do mar, em latitude sul de 23º20’ e longitude W-Gr de 46º44’. Ocupa uma área total de 104 quilômetros quadrados da sub-Região Norte da Grande São Paulo.
Apresenta clima médio temperado e inverno seco. O solo caieirense é do tipo argiloso-silicoso, irregular, onde se elevam as serras da Cantareira e Ajuá em inúmeros morros. Entre eles, destacam-se os morros do Cabelo Branco e do Tico-Tico.




População

Segundo o último censo demográfico promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1991, a população de Caieiras somava naquele ano 39.021 habitantes. Sua densidade demográfica foi apurada em 368,12 habitantes por quilômetro quadrado.
Em 1973, a Prefeitura de Caieiras divulgou pesquisa detalhada sobre a composição da população, que na época totalizava menos da metade do atual número de habitantes. É interessante notar as várias nacionalidades às quais pertenciam muitos de seus moradores. A predominância de portugueses, italianos, espanhóis e alemães era marcante.
Quanto ao relatório por naturalidade, verificamos grande quantidade de imigrantes mineiros. Mesmo sendo baseada em estatísticas produzidas há mais de duas décadas, vale o interesse histórico sobre o tema, já que o fluxo de pessoas de outros Estados brasileiros para São Paulo era muito maior que o registrado atualmente.


• Relatório populacional por nacionalidade
(somente estrangeiros – 1973)

Alemães......................................................................      30
Argentinos ................................................................         09
Austríacos ................................................................ ...    08
Espanhóis ...................................................................      32
Italianos ......................................................................       45
Japoneses ....................................................................    06
Libaneses ....................................................................     01
Norte-americanos .......................................................      02
Portugueses .................................................................    46
Romenos .....................................................................     07
Russos .........................................................................    01
Sírios .........................................................................   ..  03
Uruguaios ....................................................................      01
Outros ..........................................................................    33




• Relatório por naturalidade
(apenas os não caieirenses – 1973)

Estado de origem Homens Mulheres

Amazonas 00 01
Pará 05 00
Amapá 01 00
Maranhão 16 02
Piauí 52 10
Ceará 51 15
Rio Grande do Norte 30 12
Paraíba 47 13
Pernambuco 191 69
Alagoas 47 00
Fernando de Noronha 01 00
Sergipe 25 07
Bahia 208 118
Minas Gerais 1.395 865
Espírito Santo 18 02
Rio de Janeiro (1*) 28 11
Guanabara (1*) 00 00
São Paulo 6.038 5.691
Paraná 109 63
Santa Catarina 60 04
Rio Grande do Sul 13 07
Mato Grosso (2*) 16 14
Goiás 08 05
Distrito Federal 01 01







(1*) O atual Estado do Rio de Janeiro era dividido entre Rio de Janeiro propriamente dito e Guanabara;
(2*) Mato Grosso englobava os atuais Estados de Mato Grosso propriamente dito e Mato Grosso do Sul.
Símbolos do Município


Brasão

• Lei nº 326, de 9 de agosto de 1965

Esta lei dispõe sobre nova redação da Lei nº 158, de 13 de julho de 1962, que instituiu o brasão do município.
Artigo I – O brasão que simboliza o Município de Caieiras é o seguinte:

Descrição heráldica (por Olindo Dártora)
a) O escudo é de formato triangular em sua parte superior e arredondado na inferior. É de origem portuguesa, esquartelado, encimado por uma coroa mural, ladeado por dois pinheiros (criptoméria) e assentado sobre um listel;
b) No primeiro quartel, em campo vermelho, encontra-se em cada vértice uma estrela e, no centro, um círculo em azul, no qual se vê o mapa do município em vermelho;
c) No segundo quartel, em campo azul, uma engrenagem e um livro aberto, em prata, no centro dos quais há um pinheiro (pínus) em preto, apoiado numa figura geométrica retangular verde;
d) No terceiro quartel, em campo azul, a figura de um forno hexagonal em seus dois terços inferiores e circular no terço superior, representado em muro na parte centro-frontal e marrom nas laterais. Apresenta ainda duas muradas em prata e uma porta na parte inferior no forno. No topo do forno, há uma chaminé da qual evola, em sentido horizontal, para o lado de quem vê o brasão, a fumaça em prata;
e) Como suportes, tanto à direita, quanto à esquerda, a representação de criptomérias japônicas, simétricas;
f) Ao pé do escudo, num listel de ouro, em preto, a legenda em latim Urbis Pinetorum. Nos extremos do mesmo listel, a data da emancipação político-administrativa do Município de Caieiras.


Simbolismo
a) Escudo português: para lembrar nossa tradição lusa;
b) Campos do brasão: o azul representa o saber, a lealdade, a beleza e a grandeza das ações, atributos do povo caieirense. O vermelho representa o vigor e o altaneirismo desse povo;
c) Quatro estrelas em prata: para simbolizar a homenagem do povo de Caieiras à terra de Piratininga, pela passagem de seu quarto centenário em 1945. Naquela década, surgiu o município. Serve também para preservar ainda a pureza dos ideais e a irradiação da fraternidade desse povo;
d) Mapa do município em vermelho: simboliza o altaneirismo e o vigor do povo de Caieiras;
e) Engrenagem, livro aberto e pinheiro: representam a indústria, principalmente, a do papel e do livro, que tão alto elevou o nome de Caieiras, possibilitando seu desenvolvimento e sua emancipação política;
f) Figura geométrica que serve de apoio à engrenagem, ao livro e ao pinheiro: representa a fecundidade da terra e simboliza a esperança de seu povo no desenvolvimento da Pátria através da exploração da terra;
g) Forno: para simbolizar os primeiros movimentos históricos do município. Em virtude da industrialização, esses movimentos deram início à formação do povoado que hoje a cidade representa. Foi desse forno, denominado Macalé, que se originou o nome do município;
h) Fumaça do forno em prata: para simbolizar o trabalho incessante, diuturno e nobre do povo caieirense, de onde nascem a pureza e a vitória de seus ideais;
i) Suportes: duas criptomérias japônicas, simétricas, uma à direita e outra à esquerda do escudo, para representarem a prodigalidade dessas plantas nas terras de Caieiras, que tem a honra de estar entre os municípios mias florestados do Estado;
j) Dístico em latim: para simbolizar a origem latina. Está em ouro para representar a riqueza dos ideais caieirenses. Urbis Pinetorum: a “Cidade dos Pinheirais” (essa inscrição em latim foi criada por Olindo Dártora, um dos principais responsáveis pela emancipação de Caieiras);
k) Data: 14 de dezembro de 1958, para homenagear o dia da emancipação político-administrativa do Município de Caieiras.


Bandeira

• Lei nº 844, de 16 de novembro de 1973
Dispõe sobre a oficialização da bandeira do Município de Caieiras.
Descrição

A bandeira é composta de sete peças distribuídas da seguinte forma:

a) retângulo azul-anil;
b) quatro estrelas colocadas nos quatro cantos do retângulo, de forma simétrica, sendo de cor amarelo-canário;
c) círculo raiado, amarelo-canário, colocado no centro do retângulo azul;
d) Brasão do município sobre o círculo raiado.



Construção

a) O retângulo tem as seguintes medidas: 8m de largura por 11m de comprimento;
b) As estrelas são colocadas nos cantos do retângulo, precisamente nos cruzamentos das linhas superior e inferior do comprimento e à esquerda e direita da largura. Essas linhas são paralelas aos lados do retângulo, isto é, ao comprimento e à largura, respectivamente e na distância de 1,5m desses lados. Elas são construídas através de uma circunferência de 0,5m de raio e devem ter cinco pontas. São colocadas nos respectivos lugares do campo retangular, com uma das pontas para cima, coincidindo com a perpendicular ao comprimento do retângulo;
c) O círculo raiado é traçado com um raio de 3 m. As raias do círculo central são em número de 16 e tem forma de triângulo com uma altura de 1/4m. A posição de cada uma das raias está bem definida e se encontra da seguinte forma:
1) Divide-se o círculo em 16 partes iguais e o que se consegue por meio de 8 retas que se cruzam no centro do círculo. As alturas de cada uma das raias coincidem com essas retas;
2) Para a colocação do círculo raiado no campo retangular, faz-se coincidir as alturas das duas raias opostas com a reta que divide o retângulo em duas partes iguais e que deve, portanto, passar pelo centro do círculo.
d) O brasão deve ter altura de 4m. O centro do mesmo deve coincidir com o centro do círculo raiado do próprio retângulo. Para sua construção e colocação, deve-se dividir o círculo raiado com linhas paralelas ao diâmetro e na distância de ½ m uma da outra. Em seguida, novas linhas paralelas que se cruzam com as primeiras, perpendicularmente, com distância entre si de ½ m, de maneira que formem uma rede cujas malhas tenham ½ m de lado. Essas retas devem ser paralelas aos lados do retângulo quando o círculo estiver inserido no mesmo. Essa rede tem por objetivo facilitar a cópia do brasão na proporção exigida, mesmo porque o brasão que serve de base para cópia deve estar também reticulado de forma semelhante e proporcional (semelhante porque tem o mesmo número de malhas da rede padrão descrita; proporcional porque o brasão a ser copiado pode ter um tamanho maior ou menor do que aquele que se deseja).



Observações:
1) O valor “m” dado nas medidas não corresponde a metro, mas a um valor adotado qualquer. Basta multiplicá-lo pelo coeficiente e teremos a medida pretendida.
Exemplo:
Para m = 0,50 metros, teremos:
Comprimento da bandeira = 11 m = 11 x 0,50 metros = 5,50 metros
Largura da bandeira = 8 m = 8 x 0,50 metros = 4,0 metros

2) Os dois lados da bandeira devem ser iguais. A dupla face somente é obrigatória no que respeita ao brasão e às outras estrelas. Fica, portanto, facultativa a construção de toda a bandeira com dupla face.



Significação dos elementos
a) Campo retangular: foi escolhida a cor azul-anil para representar o nosso céu. Pelo mesmo motivo, consta em todos os quartéis do brasão;
b) Estrelas: usadas para representar os astros contidos no espaço. O amarelo-canário foi a cor escolhida, representando a energia que emana desses astros e que é responsável pela dinâmica de toda a vida universal. O município nasceu quando a capital paulista comemorava seu quarto século de existência. Daí, a opção por quatro estrelas, numa homenagem aos 400 anos de São Paulo. As estrelas constam no brasão de forma semelhante;
c) Círculo raiado: em amarelo-canário, para representar o sol com seus raios brilhantes e plenos de energia, responsável por toda a vida e equilíbrio do Planeta e de seus irmãos. Forma, juntamente com as estrelas sobre o campo azul-anil, uma só unidade, que é o princípio de todas as coisas e que nada mais é do que o universo em seu todo;
d) Brasão: colocado sobre o círculo raiado, em projeção, para personificar o Município, que é dinâmico, enérgico e representado por um povo de fé, trabalhador e honesto.



Observação:
A bandeira está praticamente contida no primeiro quartel do brasão, como se pode ver pelos elementos figurativos do mesmo. Variam apenas as cores e a personificação do município, que é representado nesse quartel pela planta geográfica. Na bandeira, a representação se dá pelo próprio brasão. Portanto, pode-se dizer que a bandeira está no brasão, assim como este está na bandeira.



Bibliografia

Fontes literárias

* Revista Comemorativa do Primeiro Jubileu da Companhia Melhoramentos de São Paulo – Indústria de Papel (1890 a 1950);
* Revista Comemorativa do Grande Jubileu da Companhia Melhoramentos de São Paulo – Indústria de Papel (1890 a 1965);
* Revista 35, órgão de divulgação dos atiradores do Tiro de Guerra 35, cuja publicação do ano de 1941 homenageou o seu benemérito, Sr. Johannes Karl Ferdinand Ehlert, diretor técnico da Companhia Melhoramentos de São Paulo – Indústria de Papel;
* Revista Comemorativa do 15º Aniversário da Emancipação Político-Administrativa do Município de Caieiras;
* “100 Anos da Melhoramentos”, livro escrito pelo historiador Hernani Donato e publicado para comemorar o centenário da Companhia, em 1990;
* Relatórios fornecidos por administrações da Prefeitura Municipal de Caieiras.
_________________________
Observação: Além das fontes de informação acima descritas, o autor usou também os seus próprios conhecimentos, vez que trabalhou na Companhia Melhoramentos de São Paulo – Indústria de Papel durante os anos de 1938 a 1945, ocupando várias funções. Atuou nos departamentos de obras, ferraria, oficina mecânica e escritório técnico e ocupou também o posto de desenhista mecânico. Conheceu, portanto, todas as instalações daquela empresa, bem como o contingente pessoal que constituía o quadro de funcionários da Companhia. Daí a razão de o autor narrar certos fatos com conhecimento de causa.


Biografia do autor


Origem, dados pessoais e instrução

Marcílio Dias de Moraes, brasileiro, casado e advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sob nº 49.959, Seção São Paulo, mantém escritório à Rua Cavalheiro Ângelo Sestini, nº 37-1, na cidade e comarca de Franco da Rocha (SP). É portador da cédula de identidade nº 1.076.579/SP e do CIC nº 044.206.598-15. Reside à Rua João Dártora, 25, centro de Caieiras.
Filho de Manoel Dias de Moraes e Firmina Pereira da Silva, nasceu em 21 de julho de 1921 no interior da Comarca de Bragança Paulista, no bairro denominado Nossa Senhora dos Homens. Geograficamente, sua terra natal confronta ao sul com o Rio Jaguari, ao norte com o Bairro dos Campos Novos, a leste, com o Bairro dos Félix e, aa oeste, com o Bairro do Forão.
Sua família pertencia à classe dos agricultores médios da região, pois além das terras que lhe pertenciam por herança, cultivavam as que margeavam o Rio Jaguari, tidas como de primeira qualidade para o plantio de arroz.
Marcílio viveu com sua família em Bragança Paulista até 1936, quando se transferiram para Caieiras. Nessa época, ele contava com apenas 15 anos de idade.
No ano de 1938, ingressou na Companhia Melhoramentos de São Paulo – Indústria de Papel, onde trabalhou até 1945. Foi obrigado a deixar a Companhia em 1945 para transferir-se a São Paulo a fim de ampliar seus estudos. Passou a residir numa república de estudantes localizadas à Rua da Abolição, no Bairro Bela Vista, onde morou até 1950.
Tinha como colegas de repúblicas algumas das mais importantes personalidades da Caieiras que em breve surgiria com a emancipação. Eram eles: Olindo Dártora, que cursava a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, na cidade de Niterói, Gino Dártora, que fazia curso colegial no Colégio Anglo Latino, e Luiz Gonzaga Dártora, que estudava o ginasial. Marcílio fazia o ginasial pelo Decreto 91, no Curso de Madureza Patriarca, localizado à Rua São Bento, 201, na Capital, tendo colado grau em 1947.
Marcílio Dias terminou seus estudos primários no ano de 1931, em Bragança Paulista. Formou-se desenhista mecânico pelo Instituto de Ciências e Artes, em 1944, e projetista de arquitetura pelo mesmo instituto quatro anos mais tarde.
Em seguida, começou a fazer cursos de línguas, como o intensivo de Inglês com o professor particular Mr. Jorge Soininem, com duração de dois anos. Estudou Francês com a professora particular D. Sinyra Baena Geringer durante dois anos e Alemão com a professora Irina Boschenk, por quatro anos, também em caráter particular.
Realizou o curso ginasial pelo Colégio Estadual de 1º e 2º Graus de Lucélia, Estado de São Paulo. O colegial foi cursado no Colégio Estadual de 1º e 2º Graus de Taubaté, também no interior paulista. Na faculdade de Direito do Sul de Minas Gerais, de Pouso Alegre, fez seu curso superior.



Atividades profissionais

Durante os sete anos em que trabalhou na Companhia Melhoramentos, exerceu, entre outras funções, o papel de desenhista mecânico, chegando a ocupar o cargo de encarregado da Seção de Estatística Técnica.
Foi admitido na antiga The São Paulo Tranway Light and Power Company Limited, hoje Eletropaulo, em 1945, onde ficou até 1972. Nesses 27 anos, executou várias funções, como a de desenhista mecânico, desenhista topógrafo e projetista de arquitetura, registrado no Crea sob nº 5617-LP. Ocupou também o cargo de tradutor de Língua Inglesa, traduzindo para a Light os livros intitulados “Welding Construction” e “Manual de Instrução para Lubrificação de Tratores e Patrol”.
Foi autor de um projeto de “freio de emergência para vagonetes em inclinados”, exposto na 4a Feira Mecânica, realizada no salão do Pavilhão Nacional do Ibirapuera e submetido a exame técnico pela Companhia Brasileira de Material Ferroviário (Cobrasma). O resultado da análise concluiu pela viabilidade de construção do freio projetado, que apresenta funcionamento perfeito. Na época, Marcílio recebeu do Governo do Estado uma medalha e um diploma de Menção Honrosa.
Trabalhou também na confecção da maquete do plano de saneamento do Canal Pinheiros, em São Paulo, sob orientação do engenheiro e arquiteto Vladimir Kusnetsov. Esta obra era a de maior vulto até então construída pela Light além da Represa Billings.
Ocupou a cadeira de professor de Inglês no Liceu Eduardo Prado, nos anos de 1949 e 1950. Foi professor de Inglês e Materiais e Construções do curso técnico em Edificações, Noções de Direito e Legislação, matérias aplicadas a todos os cursos do Colégio Técnico Duarte da Costa, entre 1978 e 1982.
Embora atarefado no quadro de funcionários da antiga São Paulo Light – Serviços de Eletricidade, foi concomitantemente técnico de obras da Prefeitura Municipal de Franco da Rocha durante os quatro anos da gestão do prefeito José Alves Ferreira Filho (1954 – 1958). Exerce hoje a advocacia na Comarca de Franco da Rocha.



Atividades Sociais

O advogado Marcílio Dias desempenhou várias funções de cunho social na região. Abaixo, estão enumeradas algumas delas:

• Sócio e colaborador da Sociedade Amigos de Caieiras, entidade cultural e recreativa, com sede à Rua Dr. Armando Pinto, no Centro de Caieiras;
• Sócio e colaborador do Culto à Instrução, instituição cultural e artística sediada à Avenida Sete de Setembro, na cidade de Franco da Rocha;
• Sócio, fundador e vice-presidente da Associação Beneficente de Caieiras, entidade médico-hospitalar, sediada também à Rua Dr. Armando Pinto;
• Sócio e fundador do Coral Lighteano, de cunho cultural e recreativo, com sede à Rua Xavier de Toledo, 23, em São Paulo;
• Fundador da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Caieiras (Acisc)..


“Caieiras”
Do livro “100 anos de Melhoramentos” (Parcial)



Em 1877 Rodovalho fez preparar dois fornos de barranco e alargar em estrada o que era trilha de boiada para conduzir a cal, em lombo de mula, à estação ferroviária de Perus. Logo, os fornos ensejaram o batismo da região: Caieiras. Dali sairiam também manilhas, ladrilhos, guias e sarjetas. O corte das matas naturais alimentava os fornos.
A 25 de julho, 1877, o coronel reuniu amigos e financistas a seu feitio e com eles fundou a Companhia e Esgotos, apta a explorar os recursos disponíveis em Caieiras.
Prontamente, a Cantareira obteve contratos oficiais para trabalhos higienizadores e civilizadores na capital. São Paulo orgulhou-se de modo especial quando pôde beber e banhar-se à européia graças aos 6.500 metros cúbicos de água com que a CCE reforçou o abastecimento, construindo (1878) o reservatório da Consolação, cuja pedra fundamental foi assentada sob as vistas do imperador Pedro II.
Caieiras tornou-se animado canteiro de obras e serviços. Fixou trabalhadores, principalmente famílias de italianos egressos do serviço agrícola. Foram alojados em 180 residências construídas a propósito, vila da qual se afirmou ser o primeiro núcleo habitacional organizado no país para trabalhadores livres.
Um plano inclinado, longo de 5.000 metros, suavizou e acelerou o transporte de material, eliminando, a partir de 1883, o emprego de muares. No mesmo ano, a 1o de julho, o prestígio de Rodovalho e dos seus sócios ingleses da Cantareira obteve para Caieiras uma parada de trens da São Paulo Railways. Depósitos no Monjolinho, na Fábrica, na Calcária, no Bom Sucesso acomodavam material. Um cabo aéreo, movimentado por locomóvel a vapor, transportava as pedras metidas em caçambas. Magotes de curiosos iam ver ali o que nunca fora visto em São Paulo.
Os pais trabalhavam, seus filhos estudavam. Na Caieiras propriamente dita e no Bom Sucesso, salas construídas pela empresa e regidas por mestras estaduais recebiam mais de setenta crianças.
ERA PRECISO ALGO MAIS – A produção, quase toda empregada nas obras públicas da capital. Pedras em bruto e lavradas para o calçamento das ruas; manilhas, cal. Em 1886, a cerâmica produzia de 6.000 a 7.000 tijolos e 5.000 telhas por dia.
À argúcia de Rodovalho, enfronhado nos meandros da política e da administração, fez-se claro que cedo ou tarde o município ou o Estado chamariam a si aqueles trabalhos públicos. E o só fornecimento de material não justificaria o feito e o por fazer em Caieiras. Obrigou-se, pois, a planejar algo maior, mais abrangente e permanente. Teve a atenção despertada para os reclamos da imprensa e do comércio quanto à falta de papel. O consumo crescia; a oferta, apoucada. Seria um negócio?
Foi lembrado que Emílio Ascanha (Ascagna?), morador entre o Bom Sucesso e o Monjolinho conseguira em casa, misturando guaraná e samambaia, uma pasta que garantia ser papel. Ajudado, montaria uma fábrica. Fábrica de papel. Por que não experimentar? Na olaria, com uma tina, uma peneira, alguma fibra, aconteceram as pesquisas. Resultado animador: “Pode-se fazer papel. Bom para embrulhos de lojas, pelo menos”. É novidade convincente a ponto de merecer do governo uma patente com valor de monopólio do processo.
MÃOS À OBRA – Em 1887, a decisão: Caieiras fabricaria papel, industrialmente. O projeto da fábrica, confiado à firma Gebrüder Hemmer, Neidenburg, Pfalz, uma especialista. Certa revista alemã voltada para o setor papeleiro internacional, na edição de 1888 analisou o projeto caieirense considerando-o arrojado e moderno. Destacava a grandeza das instalações, a prevista operação de branqueamento, as calandras de rolo e de arco.
E mãos à obra! O morro do Tico-tico forneceu as pedras; da Inglaterra veio o cimento; das Flandres as folhas de zinco. O engenheiro paulistano Leonhardt assumiu a direção dos trabalhos que previam, inovadoramente, construções em patamares escalonados para facilitar a chegada e o manejo do material.
A energia, hidráulica, retirada do Juqueri levantado por uma barragem. Na bacia assim formada navegaria barcaça a vapor rebocando chatas de carga. Uma revolução na paisagem e nos costumes. E isso tanto e tão gravemente que a barragem teve de ser definida a mão armada.
E quanto à matéria-prima? À medida que subiam as paredes da fábrica, crescia a importância da pesquisa iniciada em 1887 com a identificação de variedades vegetais aproveitáveis. Pensava-se que o palmito guarani e a guanxuma produziriam papéis mais simples.
Enquanto isso rasgavam-se estradas, facilitava-se a comunicação interna.
FERROVIA DOMÉSTICA – Uma estrada de ferro inteira – doze quilômetros de trilhos, 105 centímetros de bitola – usada, mas em bom estado, foi transplantada para Caieiras. Três locomotivas. A “Tatu” ou “Chocadeira”, apelido por ser tanto vagarosa quanto barulhenta, a “Capivara”, por rompedora, e a “Etelvina”, a mais graciosa, nome que homenageava a coronela Rodovalho. Os vagões, na maioria construídos em casa, nas oficinas de ferraria, de fundição, de carpintaria. Uns poucos, adaptados, haviam sido bondes puxados a burro na cidade de São Paulo.
Ao findar dos anos 80 Caieiras tornara-se objeto de atenções e centro de atividades inusitadas. Havia ali estrada de ferro particular, navegação fluvial, tecnologia avançada nas construções, aproveitamento da vegetação nativa, cuidados com os trabalhadores e suas famílias. Tudo novidades. A antiga fazenda assumiu ânimo de vila. E vila cosmopolita. Aos caboclos e aos italianos juntaram-se os peritos alemães saídos de Hamburgo em março de 1889 para a montagem das máquinas de fabricar papel.
Estas chegaram ao longo do ano interior. A ferrovia “inglesa” transportou as caixas até a Ponte Seca, de onde, pelas picadas abertas na ocasião, foram levadas, em carros de boi, até o pátio da fábrica, num esforço que atraiu curiosos de larga distância.
PAPEL E GOVERNADOR EM CAIEIRAS – Por fim, a 4 de abril de 1890, contabilizando um ano de atraso, uma das máquinas produziu papel. Inferior, irregular, mas papel industrializado. O primeiro no Estado com essa característica. A outra máquina entraria na ativa em 1906. A terceira, em 1913.
Bom momento para responder à curiosidade reinante nos meios oficial, econômico, empresarial, em torno das “aventuras” em que o coronel se metera. Assim, ele organizou minuciosa visita do Governador, de personalidades da política, da sociedade, das finanças, da imprensa. Mais tarde foi dito que não poderia ter levantado rol de testemunhas mais categorizadas. Os nomes de vários visitantes estão em ruas e avenidas paulistanas.
No domingo, 20 de abril de 1890, os jornais deram amplo destaque ao visto e ao ouvido. Foi bem descrito o trabalho na fábrica de papel. Serviço duro, pessoal sem experiência. Contudo, o projeto avançava.
CONSTITUIÇÃO DA MELHORAMENTOS – Havia papel, havia mercado, havia conhecimento público da empresa. Situação azada para um passo mais largo.
Na capital do país o governo liberalizava recursos para a formação de firmas comprometidas com a infra-estrutura urbana. Uma, a Empresa Industrial de Melhoramentos no Brasil, planejava criar Companhias de Melhoramentos nos Estados. Seria excelente começar pelo de São Paulo.
No dia 12 de setembro de 1890, no Salão Nobre do Banco do Brasil, à rua 1o de Março número 80, Rio de Janeiro, presentes autoridades, investidores, banqueiros, financistas, gente da sociedade, se deu à instalação da Companhia Melhoramentos da São Paulo.
Antônio Proost Rodovalho aportou bens que somavam 15 contos de réis, os quais lhe foram pagos em ações e em dinheiro. Bens divididos em dois grupos, definidos e apreciados pelos louvados que emitiram laudo a respeito. Referência especial à fábrica de papel.
“Na Fazendinha está a concluir-se a montagem de uma fábrica de papel do tipo mais aperfeiçoado, dotado de todas as máquinas necessárias, edifício incombustível, força motriz hidráulica, três turbinas e etc. ... e incluindo matéria-prima já em depósito avaliam esta fábrica em Mil e duzentos contos de réis...”
Volumoso, sólido capital. Bom prognóstico para a Companhia. No ano seguinte, as ações nominais de 200 réis alcançariam 700 na Bolsa. Estavam entre “as preferidas” e negociadas em larga escala”.
PRIMEIROS DIRETORES – Como de hábito, Rodovalho reservou-se um lugar no Conselho Fiscal. Deixou os postos principais para: Manuel Vicente Lisboa, presidente; Antônio Alves de Carvalho, tesoureiro; Carlos César de Oliveira Sampaio, diretor industrial; Manuel Dias do Prado, diretor agrícola. O Conselho Fiscal Efetivo, além do coronel, alinhava nomes expressivos da sociedade, da economia, da política fluminense: Fábio de Mendonça Uchoa, Luiz Rafael Vieira Souto, Frederico Augusto Schmidt, André Gustavo Paulo de Frontin. Suplentes: Francisco Ramos Gordilho, José Ferreira Alegria, Manuel Candido Pinto de Azevedo, Joaquim Álvaro d’Armada, Alfredo Coelho da Rocha.
MUDANÇAS NO PANORAMA – Um ano depois do otimismo realista do laudo de avaliação, o panorama nacional e empresarial mostrava tons diferentes. A Melhoramentos atuava industrial e agricolamente. Enfrentava problemas em ambas as áreas. Por exemplo: retirar os produtos de Caieiras ficara mais difícil do que fabricá-los. Os trens da São Paulo Railway eram poucos e os vagões preferencialmente destinados ao ouro verde, o café. Os exportadores, quase todos europeus, escorados pelos comerciantes ingleses senhores da ferrovia, monopolizavam os fretes. O pátio da estação acumulava tanto material que resultou necessário preservar a este em depósitos levantados a propósito. O expediente não impediu que por falta de escoamento fosse suspenso o fabrico de tijolos e reduzida a extração de pedras. Sobre tal carência na origem sobrepunham-se onerosas e problemáticas baldeações. Tamanho o aborrecimento causado por tais problemas que Rodovalho levou ao governo proposta ousada: construir outra ferrovia, paralela à “inglesa”, privativa da Melhoramentos.
Mas as coisas iam mudar. Para pior.
PROBLEMAS – O setor agrícola também padecia. Esfumara-se a safra de 180.000 arrobas de café na colheita de 1892. E o mercado mundial, estocado, dava mostras de inquietação, de resistência às compras.
Não só dificuldades agrárias. Nem só necessidades industriais. Os problemas da Companhia ecoavam aqueles do país. O Brasil financeiro estremunhava o amargo acordar post-Encilhamento. Mesmo as empresas sobreviventes sofriam no crédito, nas vendas, nos recebimentos. Estavam, com exceções, endividadas. A ação da Companhia Industrial de Melhoramentos no Brasil recuou na Bolsa, de 700 para 200 réis.
Parte do capital subscrito em 1890 não fora integralizado e, no auge da crise, não o seria. Para não se abissar no naufrágio juntamente com muitas empresas liquidadas naqueles trágicos dezoito meses, a Melhoramentos dispunha do patrimônio representado por Caieiras com a fábrica de papel. Mas carecia de tratamento energético.
A 22 de fevereiro, 1892, providências foram tomadas. O capital (15 milhões de réis representados por 75.000 ações), reduzido para 6.600.000 réis (33.000 ações); a diretoria passou a contar com dois em vez de com quatro membros: o conselho fiscal, três e não mais cinco integrantes. Os honorários dos diretores, “fixados” – diz a ata – numa época muito diversa da atual e a qual reforçava esperanças que se evidenciariam ilusórias”, rebaixados a quase a metade – 6 mil réis anuais.
Contudo, o balanço de 1892 fechou com lucro. Modesto, porém lucro: 401.874 réis. Baldado o otimismo despertado por ele. O preço do café ruiu, 1893 seria ano de prejuízo. O aborrecimento dos acionistas identificou o causador de todos os males: o café. Na Assembléia de 26 de abril, extinguiram o setor agrícola: “as atividades serão concentradas na área industrial”. As reuniões chiques paulistanas seriam realizadas sem o cafezinho, o champanhe, o vinho produzido pela Melhoramentos. Importava salvar o que pudesse ser salvo.
Rodovalho estava ajudando a organizar a Associação Comercial e Agrícola de São Paulo. Queriam-no mentor principal. Mesmo por isso não podia permitir que a Melhoramentos, à qual estava notoriamente ligado, ficasse em má posição. Assumiu negociações de salvamento. Mobilizou haveres, socorreu-se do Banco Intermediário do Rio de Janeiro e se tornou o maior acionista da Companhia. Até outubro, somente. Ocasião em que foi autorizado o lançamento de 4.500 debêntures somando 900 mil réis.
Das outras medidas saneadoras, a mais relevante foi a de que dois dos três diretores – número fixado na Assembléia de 10 de outubro de 1894 – atuariam em São Paulo. A tempo de se preocuparem com os estragos causados no ano seguinte pela enchente do rio Juqueri. Perdidas, 311 toneladas de material diverso.
O dinheiro das debêntures possibilitou investimentos, recuperação do setor cal e incentivo à produção geral. No fim do ano, dividendos distribuídos. Maior, em 1896. Esperava-se mais no exercício posterior. O que se sucedeu, porém, foi uma crise empresarial. Finanças combalidas, planos arquivados. A tal ponto que em julho, 1898, os acionistas adotaram decisão extrema: vender Caieiras, “porteira fechada”, isto é, com tudo o que ali houvesse.
Agravada a situação econômica, admitiu-se a venda “no picado”, ou seja, setor por setor, conforme o querer dos interessados. Rodovalho, experiente em tais problemas, tentou outra solução: transferir a Companhia para o maior credor, o Banco de Depósitos e Descontos, do Rio de Janeiro. Não conseguiu. Parecia ser o fim da Melhoramentos.


História da Estrada de Ferro - Veja na coluna fotos, a Estação .
São Paulo Railway (1883-1946)
E. F. Santos-Jundiaí (1946-1994)
CPTM (1994-)
CAIEIRAS
Município de Caieiras
Linha-tronco - km 106,000 (1935) SPR/-37
Inauguração: 01.07.1883
Uso atual: estação de trens metropolitanos com trilhos
Data de construção do prédio atual: c. 1897


HISTORICO DA LINHA: A São Paulo Railway - SPR ou popularmente "Ingleza" - foi a primeira estrada de ferro construída em solo paulista. Construída entre 1862 e 1867 por investidores ingleses, tinha inicialmente como um de seus maiores acionistas o Barão de Mauá. Ligando Jundiaí a Santos, transportou durante muitos anos - até a década de 30, quando a Sorocabana abriu a Mairinque-Santos - o café e outras mercadorias, além de passageiros de forma monopolísta do interior para o porto, sendo um verdadeiro funil que atravessava a cidade de São Paulo de norte a sul. Em 1946, com o final da concessão governamental, passou a pertencer à União sob o nome de E. F. Santos-Jundiaí (EFSJ). O nome pegou e é usado até hoje, embora nos anos 70 tenha passado a pertencer à REFESA, e, em 1997, tenha sido entregue à concessionária MRS, que hoje a controla. O tráfego de passageiros de longa distância terminou em 1997, mas o transporte entre Jundiaí e Paranapiacaba continua até hoje com as TUES dos trens metropolitanos.

A ESTAÇÃO: Em 1877, o Coronel Rodovalho, proprietário da fazenda Bonsucesso, onde criava gado e produzia vinhos a partir de uvas de suas plantações, construiu dois fornos de barranco para a produção de cal, e passou a levá-los em lombo de mula para a estação de Perus da SPR. No mesmo ano, fundou a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, para explorar seus recursos de Caieiras, nome rapidamente difundido a partir dos fornos de cal (que existem até hoje, ao lado da rodovia Bandeirantes). Com tanta atividade, Caieiras cresceu e o prestígio de Rodovalho e seus sócios ingleses obteve para o local uma parada de trens, aberta em julho de 1883. Em 1887, com a implantação de uma fábrica de papel, que mais tarde viria a ser a Cia. Melhoramentos, a cidade cresceria mais ainda, ainda mais que, para transportar material para a construção da nova fábrica, um ramal ferroviário inteiro, com bitola de 60 cm, foi construído a partir da estação da SPR, ramal este que perdurou até o ano de 1971 transportando cal. O ponto final dessa pequena ferrovia era a pedreira Olhos D'Água, não muito longe dos fornos de cal citados acima. Para aparelhar a pequena ferrovia, parece ter sido comprado material rodante da ferrovia também de bitola estreita que servia ao manicômio do Juquery, além de carros e locomotivas que serviam no extinto Tramway de Santo Amaro (de 1,05 m e adaptado), extinto pela Light em 1914. Ainda hoje existem uma locomotiva e um vagão dessa velha ferrovia no Museu da Melhoramentos. Em 1897 aparecem os projetos para a construção da estação definitiva de Caieiras. O prédio é o que está em atividade até hoje, com arquitetura bonita e típica da época. A cidade de Caieiras cresceu e tornou-se município. Em 28/10/1983, a estação foi incendiada por usuários descontentes com o constante atraso dos trens de subúrbio da Refesa, donos da Santos-Jundiaí, na época. Eram já outros tempos. Porém, com 50% da cobertura danificada, a Refesa reconstruiu tudo como era originalmente, e em menos dois anos depois do incêndio tudo voltou a ser como antes. A estação serve hoje aos trens da CPTM. (Fontes: Companhia Melhoramentos e Nilson Rodrigues)

 

 

O PÚBLICO E O PRIVADO NA CONSTRUÇÃO

DO ESPAÇO URBANO: O CASO DE CAIEIRAS

O Público e o Privado na Construção do Espaço Urbano:

O Caso de Caieiras

Resumo

Este artigo trata da formação do espaço urbano de Caieiras, a partir das instalações industriais promovidas na região pelo Coronel Rodovalho, em 1877, retratando as ações econômicas que levaram à formação do núcleo fabril da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Trata da interferência da iniciativa privada na formação do espaço urbano, mostrando como a trajetória da referida Companhia permaneceu diretamente ligada ao desenvolvimento da região. O artigo aborda o processo de desmonte do núcleo originalmente estabelecido no local e as políticas públicas de preservação dos edifícios remanescentes após a demolição da quase totalidade das vilas formadoras do núcleo fabril de Caieiras, refletindo sobre a reaproximação entre bens e conservação. Palavras-chave: Núcleo Fabril, Espaço Urbano, Preservação, Patrimônio

1

Breve histórico

No final do ano de 2007, a notícia publicada pelo jornal O Globo1 anunciava a venda de 5,2 milhões de metros quadrados das terras da Companhia Melhoramentos, localizada no município de Caieiras - SP, para a Construtora Camargo Correia. A construtora divulgou a intenção de implantar um empreendimento com 15 mil unidades residenciais no local. Junto com a notícia, o impacto causado na região com a possibilidade de implantação deste novo empreendimento, trouxe algumas incertezas para o futuro do município. Logo após, no ano de 2009, a Melhoramentos anunciou o fechamento de um acordo com a CMPC – Compañia Manufactureira de Papeles y Cartones – para vender a Melhoramentos Papeis ao grupo chileno, afirmando que esta venda seria fruto de um processo de reorganização das atividades do grupo2. Estes recentes processos de vendas do patrimônio da Companhia Melhoramentos estão indicando novos rumos à expansão do município de Caieiras. O município que se formou a partir das instalações industriais do Coronel Rodovalho,3 no final do século XIX, vem testemunhando o desaparecimento de seu patrimônio arquitetônico gradativa e concomitantemente ao processo de fragmentação da propriedade da Companhia e expansão do município.

Em 2002, após a finalização do trecho Oeste do Rodoanel Mário Covas, uma significativa valorização foi atribuída às áreas de Caieiras. A construção do Rodoanel facilitou a transposição dos percursos que ligam a capital aos municípios ao redor, articulando as Rodovias Regis Bittencourt, Raposo Tavares, Castelo Branco, Bandeirantes e Anhanguera e assim motivando

novos investimentos nestas áreas.

A valorização imobiliária e a expansão urbana podem ser apontadas como agentes responsáveis

pelo desaparecimento do patrimônio industrial, incluindo os edifícios industriais e também os

vestígios dos produtos na indústria fabricados, os métodos de produção, as condições de trabalho

e moradia do operariado, as relações sociais e espaciais em uma cidade ou região (KÜHL, 1998).

Em Caieiras, tais transformações colaboraram para que ao mesmo tempo em que houvesse um

crescimento urbano, independente dos domínios da Companhia, houvesse também a perda de

uma significativa parte do patrimônio arquitetônico local.

1 Camargo Correia compra terreno para desenvolver empreendimento imobiliário de até 3 bilhões. Publicado em 21/12/2007 no site

www.globo.com.

2 Melhoramentos é comprada por fabricante chilena por 120 milhões. Publicado em 20/04/2009 no site www.folhaonline.com.br.

3 Antônio Proost Rodovalho nasceu em 27.1.1838, em São Paulo. Atuava no comércio desde os 12 anos de idade. Instalou filiais no

interior do Estado, negociando fornecimentos para a lavoura do café. Foi nomeado, em 1875, gerente tesoureiro da caixa filial do

Banco do Brasil e posteriormente presidente do Banco Commercial de São Paulo, onde era fundador e principal acionista. Em 1885,

colaborou para a fundação da Caixa Econômica e Monte de Socorro. Administrou as obras da Estrada de Ferro da Companhia S.

Paulo e Rio de Janeiro (Central do Brasil), participou da organização da Companhia de Gás de São Paulo, adquirindo a quarta parte do

capital; motivou a criação e manteve-se acionista majoritário da Companhia Cantareira de Esgotos. Acionista e impulsionador da

Companhia Ituana de Estrada de Ferro. Forneceu a primeira sede própria para a Bolsa de Valores de São Paulo. Acionista,

organizador e diretor da Fábrica de Tecidos Anhaia & Companhia, da Serraria de Gustavo Sidow & Companhia e da Companhia

Melhoramentos de São Paulo. Militou na União Conservadora, vereador da Câmara Municipal paulistana de 1866 a 1870, ocupou

posteriormente a presidência da edilidade. Foi oficial da Guarda Nacional desde 1857, atuou no apoio ao Exército na guerra do

Paraguai, onde recebeu o título de coronel. Foi benemérito da Casa de Misericórdia. Faleceu a 30.12.1913 aos 75 anos (DONATO,

1990).

2

O desenvolvimento industrial de muitas cidades deu-se, inicialmente, ao longo das ferrovias e

posteriormente, ao longo das rodovias (VILLAÇA, 2001). Assim, origem de Caieiras está

relacionada com a implantação da ferrovia e das instalações fabris, a partir de 1867, com a

inauguração do prolongamento da estrada de ferro São Paulo Railway até Jundiaí.

Em sua fazenda4 localizada às margens do prolongamento da São Paulo Railway para Jundiaí e às

margens do Rio Juqueri, o empreendedor Antonio Proost Rodovalho mandou construir, após a

constatação de minerais ricos em carbonato de cálcio, dois fornos de barranco para produção da

cal, as chamadas caieiras. Neste mesmo ano, o Coronel Rodovalho, alguns amigos e alguns

financistas fundaram ainda a Companhia Cantareira de Esgotos visando à extração dos recursos

naturais de Caieiras e prestação de serviços de higienização na capital (DONATO, 1990).

Com o desenvolvimento da Companhia Cantareira de Esgotos e com a fabricação dos produtos

além da cal, como manilhas, ladrilhos, guias, sarjetas e posteriormente tijolos e telhas, os

trabalhadores, a maioria italianos, foram atraídos para esta região pelas oportunidades de trabalho

encontradas. Foram construídas, originalmente, 180 residências para fixar esta mão-de-obra no

local, constituindo-se um dos primeiros núcleos habitacionais organizados para trabalhadores livres

do Brasil. A necessidade de escoamento da produção, que até então era levada em lombo de

mulas para a Estação Ferroviária de Perus, aliada à influência de Rodovalho e seus sócios da

Cantareira permitiram a criação de uma parada de trens da São Paulo Railway na região, criando

assim, em 1883, a Estação Ferroviária de Caieiras, cujo nome fazia referência aos fornos de cal

(DONATO, 1990).

Neste período, algumas mudanças na sociedade começavam a ocorrer, pois o Brasil deixava,

gradativamente, de praticar o trabalho escravo. Entre estas mudanças destacamos a introdução do

trabalho assalariado e das atividades industriais juntamente com o adensamento nos centros

urbanos. A abolição, que oficialmente foi assinada em 1888, significou o fim dos entraves à

expansão do trabalho assalariado e à imigração. Além disso, significou também a emergência do

poder dos fazendeiros do oeste paulista.

O ideal de República se consolidou no país em 1889 com a Proclamação. De maneira geral,

ocorreu uma diversificação na economia do país. A agricultura deixava de ser a única atividade

econômica. A década de 1880 a 1890 representou um surto industrial no Brasil. Em 1885 o Estado

de São Paulo registrava treze fábricas têxteis com 1670 operários, três fábricas de chapéus com

315 operários, sete empresas metalúrgicas com 500 operários. Em 1889 havia, no Brasil, 636

empresas industriais onde trabalhavam 54 mil operários. Em 1901, entre as 91 mais importantes

empresas industriais paulistas, 33 empregavam de 10 a 49 operários, 33 de 50 a 199, 22 de 200 a

499, duas outras ocupavam 600 operários cada e uma empresa possuía cerca de 800 operários

(SILVA, 1995).

4 A fazenda foi adquirida na década de 1860, provavelmente com o conhecimento do parecer de 1863 elaborado pelo engenheiro

Bruness que considerava o manancial localizado nesta área como o mais indicado para o abastecimento da cidade de São Paulo

(VICENTINI, 2007).

3

Os estabelecimentos fabris de Caieiras caracterizavam essa área como um dos principais

centros industriais dos arredores paulistanos na época. A fábrica de cal, em 1888, era

considerada como uma das duas mais importantes da província (...) (LANGENBUCH,

1971:108).

Durante o período de industrialização, um grande número de trabalhadores foi atraído para as

grandes cidades. As acomodações residenciais para este contingente eram precárias e os

médicos, engenheiros, investidores e empreendedores as consideravam focos de doenças, devido

às más condições sanitárias e maus hábitos dos moradores. Para amenizar esta situação

percebem-se duas formas de empreendimentos diferentes: uma voltada à acomodação das

famílias nos centros urbanos, normalmente iniciativas de empreendedores imobiliários e outra

voltada para operários, iniciativa de industriais que, muitas vezes estavam estabelecidas em locais

afastados dos centros urbanos e por isso fazia-se necessário promover a fixação dos moradores

no local, formando, assim, núcleos fabris muitas vezes providos de uma infra-estrutura

semelhante a uma pequena cidade:

Muitas empresas criaram não só vilas, mas verdadeiras cidadelas porque se

estabeleciam em locais isolados onde inexistia mercado de trabalho ou cidades capazes

de concentrar trabalhadores e oferecer o mínimo de serviços e equipamentos urbanos

(BONDUKI, 1998: 47).

Atento às novas necessidades do mercado que apontavam a falta de papel e também à iminente

diminuição da demanda para a produção dos derivados da cal que eram ofertados ao município

de São Paulo, Rodovalho deu início a um novo projeto: o aprimoramento de substâncias

experimentais para o fabrico de papel.

Em 1887 iniciava-se, o projeto para a nova fábrica com a participação da empresa Gebrüder

Hemmer Neidemburg Pfalz. A partir do projeto, iniciava-se a construção utilizando-se pedras de

morro próximo e cimento e folhas de zinco importados da Europa. Começaram também as

pesquisas de análise para matéria prima, com a utilização da cal na celulose. A situação

geográfica favorecia o empreendimento com o Rio Juqueri que fornecia energia hidráulica para o

funcionamento das máquinas e era utilizado para o transporte fluvial de cargas que, juntamente

com o transporte ferroviário interno, movimentavam a região (DONATO, 1990).

Até o final de 1889 a empresa de Rodovalho ainda era anunciada como Fazenda Industrial

Caieiras, conforme o anúncio no almanaque do estado de São Paulo (VICENTINI, 2007). Com o

funcionamento da primeira das três máquinas da fábrica, em 1890, teve início a produção de

papel industrializado, embora ainda de baixa qualidade. Com isso, foi constituída a Companhia

Melhoramentos de São Paulo. O relato de 1890, feito por Henri Raffard já reafirmava o empenho

de Rodovalho em suas atividades:

A 26 quilômetros de São Paulo, pode-se igualmente ver uma instalação de luz elétrica

com lâmpadas Edison da força de 20 velas nas propriedades do coronel Antonio Proost

Rodovalho, vizinhas da estação de Caieiras na linha inglesa, onde este capitalista fez

montar uma fábrica de cal, depois outra de cerâmica e ultimamente uma de papel

(RAFFARD5, 1892: 3 apud LEMOS, 1989: 46-47).

5 RAFFARD, Henri. Alguns dias na Paulicéa. Revista do Instituto Histórico e Geográphico Brazileiro, Rio de Janeiro, 55 (parte 2):159-258, 1892.

4

Descontente com algumas decisões e posicionamentos da diretoria da empresa, o Coronel

Rodovalho desligou-se, em 1900, definitivamente, da Companhia.

Com a crescente demanda para o mercado papeleiro, o plantio de eucaliptos - matéria prima na

fabricação do papel - foi intensificado, como descreve o relato de um viajante: “tornara-se verde,

com o plantio de 70.000 eucaliptos, dos quais 46.000 em 1912” (DONATO, 1990, p.46).

As paralisações das obras públicas e particulares, em decorrência dos efeitos da Primeira Guerra,

reduziram a exploração da cal. Dos nove fornos construídos e que operavam com freqüência,

apenas três, em 1916, continuavam funcionando. Segundo Donato (1990), a produção de papel

não sofreu reduções neste período. O funcionamento dos fornos foi diminuindo até a paralisação

total em meados do século XX (LEMOS, 1989).

Em 1920, a empresa foi incorporada à firma Weiszflog Irmãos, de propriedade dos irmãos

alemães Alfried, Otto e Walter Weiszflog, que já atuava no campo das artes gráficas e da

produção de artefatos de papel passando a se chamar Companhia Melhoramentos de São Paulo

– Weiszflog Irmãos. O núcleo habitacional foi aumentando, surpreendendo pelas suas dimensões

e importância, conforme o relato de 1920:

Possue Cayeiras 650 casas, para operários e administração; 4000 alqueires de terra, quasi

todos plantados de especies vegetaes proprias para a industria do papel, como sejam

eucalyptos, cruptomea japonica, casuarinas, etc; linha férrea na extensão de 30 kilometros

corta a propriedade em diversas direcções; possue 7 escolas com media de frequencia de

40 alumnos e um grupo de 100 escoteiros, filiados á Associação Brasileira de Escoteiros;

1500 operarios e suas familias; pharmacia; templo religioso, theatro, hospital em construção,

associações recreativas e desportivas, jornal publicado por auxiliares da Companhia, etc, etc

(A marca d´água no papel de imprensa e a industria nacional de papel6 [s.d.], p.38 apud

CORREIA, 1998: 94-95).

6 A MARCA D´ÁGUA NO PAPEL DE IMPRENSA E A INDÚSTRIA NACIONAL DE PAPEL. São Paulo: Companhia Melhoramentos de São

Paulo, [s.d.].

Figura 1 – Edifícios da fábrica, final de século XIX e início do XX.

5

Este núcleo era, na verdade, uma “pequena cidade”, que abrigava os operários, inclusive os

especializados em setores da produção de papel (BLAY, 1985). Dentro do núcleo formaram-se

vários bairros: Bom Sucesso, Abreus, Barreiro, Cerâmica, Fábrica, Monjolinho, Vila dos

Coqueiros, Vila Leão, Vila Koll, Pedreira, entre outros. O transporte utilizado pelos moradores para

se locomoverem de um bairro a outro ou para chegarem à estação de trem de Caieiras era a

ferrovia interna. Além desta ferrovia, havia também para os casos de enfermidades emergenciais

um automóvel de passeio disponível para levar a família necessitada até um hospital da capital,

caso fosse necessário (MORAES, 1995).

As casas eram diferenciadas de acordo com a categoria profissional do funcionário. A casa era

oferecida ao funcionário e este assumia a responsabilidade do bom uso do imóvel, efetuando o

pagamento de um valor simbólico referente ao aluguel. A manutenção e reparos de eventuais

avarias ficavam a cargo da empresa, que considerava o valor pago pelo aluguel dos imóveis

irrisório diante de tais serviços.

Os visitantes que chegavam ao núcleo de Caieiras verificavam que as acomodações dos

trabalhadores e de suas famílias eram residências confortáveis, providas de todos os requisitos

higiênicos e salutares, dispondo de luz elétrica, água encanada, pisos assoalhados e forros de

estuque (MORAES, 1995).

Figura 2 – Planta de casa para funcionários.

Fonte: Acervo da autora. Desenho da planta baseado em croqui da publicação A Obra Social da Companhia

Melhoramentos-casas operárias em Caieiras (Impressões do Sr. Luis Carlos Mancini transcritas em Serviço Social nº.

24, São Paulo dezembro de 1940). Caieiras, Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1940.

6

Figura 3 – Casa para funcionários: fachada principal.

Fonte: Acervo da autora. Desenho da fachada elaborado pela autora baseado nos levantamentos métricos e no croqui

da publicação A Obra Social da Companhia Melhoramentos-casas operárias em Caieiras (impressões do Sr. Luis Carlos

Mancini transcritas em Serviço Social nº. 24, São Paulo dezembro de 1940). Caieiras, Companhia Melhoramentos de

São Paulo, 1940.

.

Historicamente, as vilas operárias e os núcleos fabris eram locais onde indivíduos pobres, em sua

maioria, eram arregimentados para trabalhar conforme as necessidades das fábricas. A base

higienista, a preocupação com a formação moral e religiosa, que incluía os princípios de dever e

lealdade na formação do caráter do operário e as opções de lazer e conforto eram oferecidos aos

funcionários mantendo-os em constante estado de agradecimento e prontidão para o trabalho.

(CORREIA, 1998)

Em 1920, foi inaugurada a Estrada Velha de Campinas que ligava a cidade de São Paulo à

Campinas, ampliando, assim, as possibilidades de locomoção dos habitantes de Caieiras tanto

para a Capital quanto para o interior. O número de pessoas que residiam em Caieiras, em 1926,

era em torno de 2.400 pessoas (aproximadamente 472 famílias e 116 solteiros). Do total,

figuravam em folha de pagamento 946 funcionários. Cinco anos depois o número de funcionários

subiu para 1.084. Assim, “até 1930, Caieiras era a Companhia Melhoramentos de São Paulo, em

sua atividade sempre crescente, pois o que somente não lhe pertencia era a Estação Ferroviária

da antiga Inglesa” (História do município de Caieiras, 1973, apud DONATO, 1990:72).

Iniciou-se, em 1931, o loteamento na alta da encosta do morro do Cresciúma, localizado a mil

metros, aproximadamente, de distância da estação ferroviária. A aquisição de lotes pelos

trabalhadores da Companhia, que investiram suas economias no local, impulsionou o

desenvolvimento do loteamento. Desta maneira, o bairro que não pertencia à Companhia,

assumia características de “bairro dormitório” já que boa parte de seus moradores trabalhavam na

Companhia ou nos bairros paulistanos próximos às estações ferroviárias, como o bairro da Lapa

(BRUGGEMANN, 2007).

7

Durante o governo de Getúlio Vargas e a consolidação do Estado Novo algumas intervenções

ligadas ao trabalho ocorreram. Devido à crise na agricultura, um número cada vez maior de

trabalhadores deixou o campo em busca de melhores condições de trabalho nos centros urbanos.

Havia oportunidade de trabalho nas indústrias, mas a mão-de-obra começou a exceder a

quantidade de vagas de trabalho e, desta maneira, agravava-se a crise social que contribuía para

o aumento do movimento operário que lutava por melhores condições de trabalho. Assim, o

Governo tinha dois fortes motivos para intervir nos assuntos ligados ao trabalho: conter o avanço

do movimento dos trabalhadores e criar mercado para alguns setores da indústria nacional que

também estavam em crise.

A ditadura do Estado Novo institucionalizava o controle da classe trabalhadora, como por

exemplo, por meio da aprovação da Lei de Sindicalização, em 1931, onde todos os sindicatos

eram obrigados a se filiar ao Ministério para serem reconhecidos oficialmente e receber o fundo

sindical. As novidades relacionadas à gestão de trabalho, instituídas pelo governo, afetaram,

portanto, o cotidiano da Companhia. Em 1937 foi criado o sindicato local. Em 1946, muros e

cercas foram colocados em toda extensão da fábrica e estabelecimentos afins. Um rigoroso

controle na circulação das pessoas e materiais passou a vigorar, incluindo, como medida, a

colocação de relógios de ponto e a criação do Serviço de Vigilância. A situação de conflito entre

os interesses de patrões e empregados suscitou greves entre os trabalhadores, o que pode ser

observado com certa frequência, a partir de 1946.

No Brasil, os reflexos da Segunda Guerra Mundial fizeram com que as comunidades alemãs

fossem controladas pelo Governo, sob a suspeita de formarem uma rede de espionagem junto ao

nazismo, e desta maneira, incluídas na chamada Lista Negra. O Departamento de Ordem Política

e Social – DEOPS – controlava a trajetória de todas as pessoas que pudessem ser consideradas

Figura 4 – Vila operária de Caieiras.

Fonte: A Obra Social da Companhia Melhoramentos-casas operárias

em Caieiras (impressões do Sr. Luis Carlos Mancini transcritas em

Serviço Social nº. 24, São Paulo dezembro de 1940). Caieiras,

Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1940.

8

suspeitas. As acusações de formação de rede nazista7 recaíram também sobre a Companhia, que

retirou de sua denominação, em 1940, o “Weiszflog Incorporada” passando a chamar-se

“Companhia Melhoramentos de São Paulo, Indústrias de Papel” (DONATO, 1990).

A política centralizadora do Estado assumia além de um sentido industrializante, também, em

muitos aspectos, um sentido nacionalista. Entre as ações que objetivavam amenizar as tensões e

conflitos políticos, estava o convite ao ministro da educação, Gustavo Capanema e ao General

Maurício Cardoso para visitarem as instalações e atestarem a “brasilidade” da Companhia e de

seus dirigentes, que se consideravam filhos da terra, já que suas mulheres e filhos eram

brasileiros. Além da Companhia, alguns diretores também tiveram seus nomes incluídos na Lista e

em 1941 foram afastados de seus cargos.

Todos esses fatores políticos e trabalhistas contribuíram para que o interesse em fixar os

trabalhadores próximos às fábricas diminuísse. Os trabalhadores passaram, aos poucos, a ocupar

as áreas do Morro do Cresciúma. Para os industriais, a responsabilidade do controle de

funcionários passava a ser do Estado.

Até 1958, Caieiras era distrito do município de Franco da Rocha. O primeiro levantamento

demográfico de Caieiras, de 1957, apontava 539 residências construídas na Vila Cresciúma para

2.235 pessoas enquanto nos bairros da Companhia havia 1303 residências para 5949 habitantes,

apresentando um total de 8715 pessoas, número suficiente para o pedido de emancipação

mesmo sob os protestos de Franco da Rocha (PERES, 2008).

Até o final da década de 1950, cerca de 80% dos trabalhadores de Caieiras habitavam as vilas do

núcleo fabril. Em 1961 ocorreu a constituição da URBES – Urbanização e Expansão Social Ltda.,

vinculada à Companhia. Com a expansão das cidades vizinhas e do próprio município que já

havia começado a ocupação de terras fora das áreas das proximidades da fábrica, a

Melhoramentos entrou em atividade urbanizadora, desmobilizando o núcleo primitivo nascido em

função das instalações industriais. O trabalho foi iniciado com as obras do Jardim Santo Antonio,

que abriu as vendas dos lotes em 1962. Vinte casas foram construídas e sorteadas entre os

trabalhadores da Companhia que puderam financiar o pagamento (DONATO, 1990). Com a

denominação Melhoramentos de São Paulo – Urbanização Ltda., em 1986, o grupo começou a

atuar na área imobiliária com loteamentos, venda de lotes e construções de nível médio-alto. Os

lotes eram vendidos, com facilitação na forma de pagamento, aos funcionários ou oferecidos

como parte de pagamento das indenizações trabalhistas nas rescisões contratuais da empresa. À

medida que o funcionário deixava a residência do núcleo, iniciava-se o processo de demolição e,

muitas vezes, o material em condições de aproveitamento era oferecido ao funcionário para que

assim desse início à construção de sua nova moradia fora do núcleo.

7 Prontuários DEOPS nº. 96964 e 44311.

9

A Companhia Melhoramentos associou-se, em 1972 a MD Papéis. Desta associação e da venda

das máquinas de papel e de 193.077m² de área fabril da Melhoramentos à MD Papéis, constituiuse

a MD Nicolaus.

Em 1976 cerca de 1.264.000 metros quadrados de área de reflorestamento da Companhia foram

desapropriados para a construção da Rodovia Bandeirantes que embora construída nas

proximidades das caieiras, não efetuava conexão com o município (DONATO, 1990).

O desmonte do núcleo foi intensificado, principalmente, a partir da década de 1980 com a

demolição de praticamente todas as vilas que o constituíam. Alguns edifícios, como a igreja de

São José, construída em 1933; a Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída em 1917; as

oficinas construídas em 1922; os fornos de barranco construídos em 1877 e os fornos construídos

posteriormente, a fábrica, o prédio do Armazém de 1885; o grupo escolar Alfredo Weiszflog e

algumas residências permaneceram após o desmonte.

A falta de uso dos edifícios remanescentes associada à falta de manutenção dos mesmos deu

início a um processo de deterioração. Além disso, estabeleceu-se uma distância entre os bens

remanescentes e a população, já que o acesso ao interior da Companhia passou a ser

constantemente vigiado pela equipe de segurança.

Figura 5: O edifício do cinema em processo de demolição.

Fonte: Acervo Paulo Polkorny, [s.d].

10

Figura 6: Grupo Escolar Alfredo Weiszflog. Figura 7. Igreja de São José.

Fonte: acervo da autora, 2010. Fonte: Acervo da autora, 2010

Uso e preservação dos edifícios remanescentes

As primeiras ações políticas em defesa dos bens arquitetônicos remanescentes das instalações

dos edifícios fabris da Companhia foram observadas pela disposição da Lei Orgânica do Município

nº1994/90. O § 4 do artigo 184 designa ao município a proteção às obras e outros bens de valor

histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios

arqueológicos. E ainda o artigo 185 estabelece que

Ficam fazendo parte do Patrimônio Histórico e Cultural do Município, os fornos de cal,

localizados no bairro do Monjolinho, a Igreja Nossa Senhora do Rosário localizada à Avenida

Vitor Teixeira da Silva e os antigos prédios do Arquivo do Armazém e do antigo

Almoxarifado, localizados na Rua Crinco Barnabé, antiga Rua da Estação, cabendo ao

Poder Executivo Municipal solicitar os seus tombamentos históricos, através do Conselho de

Defesa ao Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo,

CONDEPHAAT.

Infelizmente, não havia qualquer referência na Lei 1994/90 quanto às edificações residenciais que

continuaram em processo de demolição. Em 2004, muitas casas da Rua dos Coqueiros

desapareceram cedendo lugar para um gramado. Os edifícios da fábrica e da estação ferroviária

também não eram resguardados pela Lei. Os bens descritos no referido artigo excluía a arquitetura

vernacular como digna de inclusão entre os bens de representação do patrimônio histórico e

cultural do município.

A prefeitura deu início à solicitação de tombamento dos referidos edifícios em 1994, com o pedido8

ao CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico Artístico e

Turístico. Após análise, o CONDEPHAAT indeferiu o processo justificando “que os bens culturais

em questão não se colocam como bens de representação estadual”, propondo assim o

8 Processos consultados: 394/94 e 679/96.

11

arquivamento do processo e recomendando, se assim entenderem os solicitantes, a preservação

no âmbito municipal.

Entre a Lei Orgânica de 1990 e a Lei Complementar de 2006, não houve um amadurecimento

municipal nas questões que se referem ao Patrimônio. As ações continuaram genéricas sem um

estudo aprofundado ou recomendações específicas para a proteção dos bens elegidos como

Patrimônio Histórico e Cultural e, à exclusão da solicitação feita ao CONDEPHAAT, não

constatamos ações efetivas em prol da construção e difusão da memória do município como

recomenda a Lei.

Com a aprovação da Lei municipal 4160/08, que dispõe sobre o zoneamento, parcelamento, uso e

ocupação do solo no município de Caieiras, um pequeno avanço quanto às definições do

Patrimônio municipal foi observado. O artigo 40 do Capítulo V da referida Lei define como

Unidades Protegidas, as áreas e imóveis, legalmente instituídas pelo Poder Público, que exigem

definição de usos e diretrizes especiais tendo em vista a sua importância histórica, arquitetônica e

necessidade de preservação. Ficam declaradas, pelo Artigo 41 da mesma Lei, as Unidades

Protegidas (UP): UP dos Fornos de cal, localizadas no bairro do Monjolinho; UP do conjunto de

casas, galpões, pontes, fábricas e igrejas de relevante interesse histórico e cultural localizadas na

propriedade da Companhia Melhoramentos, ou de seu sucessor; UP da Estação Ferroviária de

Caieiras; UP do antigo ponto de captação de água da Vila Miraval, de propriedade da rede

Ferroviária Federal S.A. (RFFSA).

Esta definição lança um olhar diferente aos bens que o município elegeu como Patrimônio

Histórico e Cultural, incluindo as casas, fábrica e a estação como itens de importância histórica e

cultural ainda não observados nas definições das leis anteriores.

Após análise dos processos de solicitação pela Prefeitura ao CONDEPHAAT para tombamento do

patrimônio, consideramos que as ações municipais no tocante à preservação do patrimônio são

ainda frágeis para a eficaz concretização da ação, havendo a necessidade, primeiramente, de

uma organização interna do reconhecimento do seu próprio patrimônio.

A solicitação do tombamento não deve ser compreendida como uma responsabilidade alheia,

assim como, a compreensão da importância dos bens deveria partir de um reconhecimento local

colocando em prática a recomendação da Lei municipal 3896/06 “implantar um programa

municipal permanente de preservação, proteção, recuperação do Patrimônio Histórico, Cultural e

Paisagístico do Município”.

Conseguir o tombamento Estadual pode atestar aos edifícios uma importância pela atribuição de

valor que lhes seria concedida, e conferir status ao município, ao promover novas valorizações

imobiliárias. Mas por outro lado, não garante a preservação eficaz dos edifícios, que só se fará

com a utilização e inserção dos bens na vida cotidiana da sociedade, como ocorre com a

12

utilização da Igreja do Rosário, onde as missas dominicais são abertas à população resultando na

conservação do edifício.

Figura 8: Prédio do Armazém. Figuras 9: Detalhe do forno de cal Figura 10: Forno de barranco

Fonte: Acervo da autora, 2009. Fonte: Acervo da autora, 2005. Fonte: Acervo da autora, 2005.

Figura 11: Fornos de cal.

Fonte: Acervo Paulo Polkorny, [s.d.]

A relação atual entre a sociedade e os bens que se pretende preservar foi alterada devido às

mudanças administrativas da Companhia e pode se alterar ainda mais com as demandas

populacionais que estão por vir com os novos empreendimentos propostos para a região.

Os critérios de preservação foram modificados, de maneira geral, desde a década de 1990, pela

lógica de participação dos setores públicos e privados nas políticas de patrimônio (LEITE, 2007).

O autor ressalta a predominância da discussão, nos órgãos internacionais de preservação, que

destacava a necessidade de investimentos privados nas práticas de preservação, desde a carta

de Veneza – 1964 - observando a escassez dos recursos públicos para o setor. O debate das

13

décadas de 1970 e 1980 focava a perspectiva desenvolvimentista, onde o Estado assumia ainda o

papel central no planejamento, captação dos recursos e execução dos projetos. Desta maneira,

mesmo com a crescente participação do setor privado, como forma de suprir as deficiências

orçamentárias e tirar do Estado o ônus com as despesas do patrimônio, havia o predomínio de um

discurso social voltado ao desenvolvimento urbano e regional, através do incremento do turismo

cultural.

Assim, Leite (2007) aponta, neste contexto, a noção de sustentabilidade como uma espécie de

salvaguarda financeira, mais do que preservar um bem patrimonial era necessário repensar seus

usos, em função da necessidade de um bem oferecer suficiente retorno econômico que

justificasse um investimento privado.

Dentro de um esforço para melhoria da qualidade de vida da população, aliado à contínua

valorização imobiliária e à expectativa que se deposita na geração de recursos pelo patrimônio, a

atual administração municipal tem, em parceria com a Companhia Paulista de Trens

Metropolitanos – CPTM - e com o Serviço de Abastecimento Básico do Estado de São Paulo –

SABESP - procurado definir uma proposta de implantação de um parque linear às margens do Rio

Juqueri9. O projeto pretende solucionar problemas ligados ao sistema sanitário, viário, cultural e

de lazer e integrar-se ao município de Franco da Rocha, por meio do Parque Estadual do Juqueri

compondo uma área verde linear, às margens do rio, integrando-se também ao município de

Francisco Morato. Assim, fazem parte da proposta a criação de um viaduto para a transposição da

linha férrea (cujas obras do Governo do Estado foram iniciadas no final do ano de 2009), de uma

nova estação de trem próxima aos bairros mais adensados demograficamente, a implantação de

ciclovias e vias para caminhada e utilização dos edifícios históricos remanescentes das

instalações fabris da Companhia Melhoramentos definidos no artigo 41 da lei municipal 4160/08.

O Parque Linear do Rio Juqueri seria uma consonância entre os interesses da CPTM e a carência

de soluções para a questão do transporte, lazer e cultura na região, além de ser potencialmente

uma área de compensação ambiental10

Arantes (1987) alerta sobre a necessidade de “se aprofundar o conhecimento do processo de

reelaboração (ou apropriação simbólica) que se dá no plano sociológico” ao se pensar na

complexidade do processo chamado de preservação (ARANTES, 1987:54).

Assim, além da constituição histórica do lugar, sua arquitetura e importância enquanto local de

troca de experiências e práticas sociais é necessário refletir sobre o retorno dos bens para a

sociedade diante do crescimento e da valorização de terras, as ações de preservação e a

inserção do caieirense neste processo.

9 Consulta a ata da terceira reunião da comissão de desenvolvimento dos estudos de concepção e elaboração do termo de referência do

projeto básico do eco-parque linear de Caieiras, realizada em 25 de junho de 2009.

10 Programa de compensação ambiental decorrente das obras de modernização das linhas ferroviárias. O programa atende aos Termos

de Compromisso Ambiental firmados com o Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais – DEPRN – da Secretaria do

Estado do Meio Ambiente (www.cptm.sp.gov.br, publicado em 08/04/2008).

 

 


História Contemporânea


Prefeitos e Vice - Prefeitos
1960 a 1963 - Gino Dártora e Milton F. Neves
1964 a 1969 - Pde. José C. de Oliveira e Milton F. Neves
01/02/1969 a 16/10/1969 - Gino Dártora - Antonio Furlanetto
17/10/1969 a 28/11/1970 - Américo Massinelli
28/11/1970 a 31/01/1973 - Nelson Manzanares
1973 a 1977 - Pde. José C. de Oliveira e Lourides Dell´Porto
1977 a 1982 - Gino Dártora e Luiz Lopes Lansac
1983 a 1988 - Nelson Fiore e Fausto da Silva Junior
1989 a 1992 - Milton Ferreira Neves e Edson Navarro
1993 a 1996 - Névio L. A. Dártora e Pedro Sergio Graf  Nunes
1997 a 2000 - Pedro Sérgio Graf. Nunes e Edson Navarro

2001 a 2004 - Névio L. A. Dártora e Joaquim Costa
2005 a 2008 - Névio L.A. Dártora e  Joaquim Costa
2009 a 2012 - Roberto Hamamoto e Gerson Romero
2013 a 2016 - Roberto Hamamoto e Gerson Romero
 

Diversas fontes

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