06/03/2012
Fazendo as pazes com o passado

Dizem que estou escrevendo muito sobre o passado.Talvez esteja mesmo, mas nem tanto como deveria e gostaria.Tenho me esforçado em examinar o porão de minhas lembranças numa tentativa enorme de relembrar coisas que permaneceram adormecidas por tanto tempo.Tenho esperanças que conseguirei mais e não me acomodarei.Insistirei na procura e neste resgate necessário de passagens importantes ,sejam eles bons ou maus.Percebi agora, talvez com a maturidade dos meus 55 anos, que o passado contém a minha história, a minha vida,minhas raízes e principalmente a estrutura do que sou hoje .Até poucos anos atrás,evitei remexer neste baú de acontecimentos.Odiava tocar no assunto,recordar ou ouvir descrições de épocas que só me traziam sofrimento.A cada pedacinho de lembrança retomado, eu com amargura e desencanto machucava minha alma com pitadas de revolta.Abafando tudo aquilo num esconderijo obscuro do meu coração, como defesa, eu acreditava ser a melhor solução. Felizmente a passagem dos anos traz algumas vantagens.Uma delas é a capacidade para enfrentar os medos,os erros e as decepções.Nesta coragem, que só o tempo nos faz adquirir, é que acabamos descobrindo o verdadeiro valor do nosso passado e a importância de se fazer as pazes com ele.Só assim, nesta obscuridade do subconsciente acabamos encontrando as verdades,as respostas e as razões de tantas coisas .Com passado vivenciamos traumas e compreendemos as seqüelas.Com o passado enxergamos os erros, aceitando as fraquezas.Com o passado descobrimos as dores que justificaram as mágoas, enxergamos as verdades, as inseguranças,as derrotas, as desilusões e as escolhas.Olhando pra trás conseguimos visualizar a pluralidade dos fatos que diretamente influenciaram e marcaram nossas vidas .Como diria uma escritora que adoro,Lya Luft:”Se a nossa bagagem emocional for boa,certamente sairemos inteiros deste reencontro e dessa viagem ao passado”.Descobrir tudo isso é doloroso, mas o que se conclui na verdade é que, mais dia menos dia esta viagem terá que ser feita. É Impossível continuar fugindo,evitando ou adiando este confronto,pois dele dependerá a continuidade ou o prosseguimento da vida que nos resta.Confesso que não é fácil.Chega a ser cruel, pois as recordações dolorosas são sempre mais predominantes e machucam demais .Não há conforto e apenas uma constatação de que já aconteceu, foi e passou.Não existe volta.Por mais vontade que se tenha de desistir desta viagem ela é necessária e é profunda.Ela nos leva ao túnel de um tempo que desconhecíamos.No meio do caminho,surge até uma fantasia,uma vontade louca de retornar,apagar coisas,refazer outras.Mas são apenas fantasias!Nada mais.O que aconteceu, passou,ficou lá atrás e se tornou apenas lembrança.Como em tudo, resta sim um consolo e este sim,se torna o maior lenitivo para o nosso coração.Neste mar revolto de recordações tristes, surgem e renascem também lembranças alegres,agradáveis e as que sublimaram até os dias de tormenta.Mais conscientes e racionais submergimos numa tranqüilidade surpreendente.Redescobrimos-nos, entendemos, perdoamos e compreendemos tudo e todos que participaram conosco neste palco da vida.Despedimo-nos sabiamente das tristezas,dos traumas e das revoltas e optamos por seguir em frente apenas com as doces passagens.Aquelas que no final são as mais importantes neste turbilhão de acontecimentos.E então, agarramo-nos a elas que permaneceram quietas e silenciosas por tanto tempo, nos sustentando e esperando o momento certo para renascer.Por isso não reclamem.Também fiz as pazes com o meu passado e fiz uma descoberta incrível: Tenho muitos,muitos momentos felizes pra recordar.Os tristes?Lembrarei deles também, mas sem angústia,sem mágoas e sem culpa.Apenas com aceitação e compreensão.

FATIMA CHIATI


Fátima Chiati

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