24/04/2012
Os picadeiros do mundo .

Na semana em que se comemora o dia nacional do circo, talvez tenhamos muito a apreender com seu patrono, o palhaço Piolin, nascido lá em finais do século XIX, num qualquer dia 27 de março, na cidade de Ribeirão Preto, interior paulista. A expressão melancólica do palhaço revelando a pureza do maior espetáculo da terra. Quantos de nós não voltamos os olhos atentos ao centro dos picadeiros de nossas infâncias. Olhos surpresos, ansiosos, alegres. Olhos saudosos. Saudade de um tempo que já se vai. E, por falar em olhos e tempo, somente essa estrada nos permite diferenciar dessas coisas que num silêncio estrondoso nos narram coisas tão profundas que a palavra ainda não permite dizer... Forçando um pouco a memória, vamos lembrar, além de Piolin, de nomes como Arrelia, Torresmo e Pururuca. Palhaços que se diferenciavam de seus outros colegas, talvez não menos bem intencionados, mas certamente não tão sinceramente vocacionados para a profissão que tem por objetivo desenhar um sorriso nos rostos mais ou menos vividos, mas que por um momento, ali naquela platéia, de arquibancadas muitas vezes rústicas e desconfortáveis, refletiam a pureza e a esperança da mais tenra infância. O sorriso descompromissado. O brilho no olhar. Mãozinhas sujas de algodão doce, boca lambuzada de maçã do amor – e isso fazia ‘a’ sujeira, não?!
Hoje eu me pergunto se aqueles olhos grandes, expressões melancólicas desses inesquecíveis personagens de nossa juventude, aliás também lembrada nessa semana que se acerca – dia 30 de março, é o dia mundial da juventude - anteviam, diante da transparência de suas intenções,  o duro caminho que seu respeitável público trilharia em poucos anos. Era a melancolia de um olhar vivido, que sabia diferenciar a dureza de um caminho vindouro, com íngremes e ríspidos desfiladeiros, que ao final de sua trilha vem nos levaria a planaltos de lindas paisagens. O mundo vem passando por mudanças. Mudanças climáticas, geológicas, políticas, sociais. Mais do que isso. Anunciam-se mudanças na intimidade do ser humano. Por mais cáusticos que sejamos, observamos que esses acidentes catastróficos que tristemente tem freqüentado os meios de comunicação e acometido nossos irmãos aqui e ali, ricos e pobres, doutores e ignorantes, sem fronteiras num mundo que se transforma dia a dia, têm revelado uma caridade não antes vista. Têm mostrado uma preocupação com nossa casa Terra inédita, ainda que por medo de um futuro sombrio. Por mais céticos que nos mantenhemos, não podemos ignorar os ventos de liberdade que tem soprado no oriente. Tudo bem que interesses internacionais econômicos se escondam e muitas vezes motivem essas mudanças. São os primeiros passos. E por mais longa se mostre a jornada, sem eles, ela jamais será concluída. Saudade Arrelia. Saudade Torresmo. Saudade Piolin. Onde estiverem, nosso abraço.


Fábio Cenachi

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