Cavalheiros de Shakespeare

Síntese:

A peça trata do embate entre os dois mais poderosos personagens criados por William Shakespeare, a partir de um novo sentimento de preterição sentido por Iago, ao ver que a critica e a historia talvez não o coloquem no lugar que merece, porquanto sua figura matiza-se demoníaca injustamente, por culpa de Hamlet, assumido como a própria consciência de Shakespeare. O primeiro ato rememora a saga assassina de ambos e a estrutura de processo mental coincidente entre eles, para cristalizar a irrelevância do motivo vingança como centro de ação de suas vidas. O segundo ato é um duelo de argumentos entre os dois cavalheiros mais intelectualizados da dramaturgia ocidental sobre as considerações criticas a respeito deles. O terceiro ato revela o que faltou no processo de autoavaliação de Hamlet e a origem da impotência de Iago.

ATO I

Hamlet e Iago se apresentam. Opostos no palco.

Hamlet – Ser ou não ser? Eis a questão.
Iago – Nunca mostro quem sou.

(Hamlet segura um crânio e o mostra a Iago)
Hamlet – Esta caveira já teve uma língua, já pode cantar um dia; o coveiro idiota a atira ao solo, qual fosse a queixada de Caim, que cometeu o primeiro assassinato! Pode ter sido o crânio de um político, que o asno subjuga agora; de alguém que desejasse enganar a Deus, não pode?


Iago – Bem pode ter sido, Senhor. Mas por que não há de ser o de um jurista? Onde foram parar as sutilezas, os equívocos, os casos, as enfiteuses? Os debates acalorados? E pensava que fazia justiça! Como são odiados os advogados e os juizes! Para que tanta pompa e circunstancia? Poderia ser bem o crânio de um juiz...

Hamlet – Ou de um cortesão que dizia “Bom dia, caro Senhor! Como passa o meu bom senhor?” Pode ter sido o senhor fulano que elogiava o cavalo do senhor beltrano, quando pretendia pedi-lo, não é verdade?

Iago – Verdade, senhor. Hum! É bem possível que esse sujeito tivesse sido um comprador de terras, com suas escrituras, hipotecas, multas, endossos e recuperações. Consistirá a multa das multas em ficarmos com a bela cabeça assim cheia de poeira, carcomida pelos vermes? Não lhe arranjaram seus fiadores, com as fianças duplas, mais espaços do que seus contratos? Os títulos e propriedades não caberiam em seu caixão? Não obterão os herdeiros mais do que isso?

Hamlet – É isso mesmo, e agora pertence aos vermes, descarnado e golpeado nos queixos pela pá do coveiro; eis uma bela evolução, se tivéssemos o poder de vê-la em cada fase. Levaram tanto tempo para formar esses ossos, que agora só servem para jogar bola? Os meus doem só de pensar nisso.


(Iago toma a caveira das mãos de Hamlet e a guarda)
Iago –
Os lobos eliminam-se uns aos outros, meu caro Príncipe. Que outra criatura poderia faze-lo? E não seria a raça humana ainda mais predatória? Nas coisas do mundo, a ordem natural é nascer, florescer e morrer, mas com os homens não pode haver declínio, e a lua sinaliza a chegada da noite. O espírito do homem se esgota no auge da sua realização. Seu meridiano é, a um só tempo, sua obscuridade e sua noite. Ele gosta de jogos? Então que jogue para valer.

Hamlet –
O maior dos jogos é o jogo do tempo, mas tenho no peito o que não passa. Careço de fé em Deus e em mim mesmo. Defino minha existência a partir de terceiros. Sou o homem cuja mãe se casou com meu tio, que matou meu pai. Gostaria de ser um herói trágico grego: uma criatura que é fruto de uma situação. Daí minha incapacidade de agir, pois só posso fingir, encenar as possibilidades. Afinal, o que expressamos em palavras já esta morto em nossos corações.

Iago –
Espera lá! É minha a liberdade de ator. Se servi o meu senhor, foi a fim de que ele a seu turno também servisse a minha vingança. Nem todos neste mundo podem ser patrões, nem todos os patrões do mundo devem ser bem servidos. Hás de ver muito servidor submisso que, encantado com a própria servidão, consome a vida como os asnos servem ao dono: a troco de forragem. Uma vez velhos, dá-se-lhes baixa. Chicote em tais honestos serviçais! Outros há que mascaram as maneiras e as caras do devotamento e, ao simular bem servir aos amos, servem ao seu próprio bem. Quanto mais bem fornidos as expensas dos patrões, mais lhes fingem vassalagem. Dobram-se em reverencias diante destes; mas é a si mesmo que eles prestam culto. Esta é minha gente! Esses, sim, têm caráter! E, em verdade, te digo.... eu sou um desses!

Hamlet –
De minha parte, o fantasma de meu pai revelou-me seu assassino – meu tio. Minha mãe entregou-se a ele em núpcias e cedeu o trono que era minha herança como Príncipe da Dinamarca. A minha pretendente enlouqueceu e, num ato de recuperação mental, suicidou-se. O veneno a mim destinado foi bebido por minha mãe. E eu, deste modo, com o pai assassinado, a mãe poluída - razoes de estimular o sangue e o brio - nada me esperta? Só matei meu tio quando já a sabia morta e eu já não encenava a vida. Diante de oito cadáveres, exigi que Horacio, meu devotado amigo, continuasse vivo. Não pela alegria de viver, e apesar do sofrimento que é a vida, apenas para savalguardar o bom nome do Príncipe da Dinamarca, para dar sentido a minha morte. Confesso que não amei quem quer que seja, nem meu pai, nem minha mãe, nem Ofélia, nem Yorick, mas sabia que Horacio muito bem me queria e me aceitava como era, sem julgar-me. Seja como tudo for, pois cada fato a idéia e tão avesso, que os planos ficam sempre insatisfeito.
Iago –
Fui desprezado, senhor. Três pessoas de grande influência, chapéu na mão, com humildade, intercederam junto ao Mouro para que fizesse de mim o seu tenente. E por minha fé de homem, tenho plena consciência do que valho; não merecia posto menor do que esse. Ele, no entanto, consultando somente o orgulho e os próprios interesses, furtou-se com fraseado bombástico, recheado só de epítetos de guerra. Em conclusão: não atendeu aos meus intercessores. "Pois já escolhi meu oficial", lhes disse. E quem era ele? Ora, por minha fé, um matemático, um tal Micael Cássio, um florentino, um tipo quase pelo próprio inferno fadado a ser uma mulher bonita, que nunca comandou nenhum soldado um campo de batalha e que conhece tanto de guerra como uma fiandeira; erudição de livros, simplesmente, sobre o que podem dissertar com a mesma proficiência que a dele os nossos cônsules togados; palavrório sem sentido, carecente de prática: eis sua arte. No entanto, meu senhor, foi o escolhido; ao passo que eu, que aos próprios olhos dele provas cabais já dera em Chipre e Rodes e em muitos outros pontos habitados por cristãos e pagãos, tivera de ficar a sota-vento e calmaria, só por causa do dever-e-haver de um simples calculista, que - oh tempos! - tornou-se tenente, enquanto que eu - Deus me perdoe! - continuei sendo do Mouro o alferes. Já não houve remédio. Era a maldição do ofício: as promoções se obtinham só por pedidos e amizades, não pelos velhos meios em que herdava sempre o segundo o posto do primeiro. Então senhor, devia eu continuar amando o Mouro ou tinha razoes para dele vingar-me?

Hamlet –
Oh, vingança! Tivera ouvido dizer que os criminosos, quando assistem a representações, de tal maneira se comovem com a cena, que confessam na mesma hora e em voz alta seus delitos, pois embora sem língua, o crime fala por modo milagroso. Dirigi atores para representar a morte de meu pai. Havia de observar-lhe os olhos e sondar-lhe a alma ate o fundo. Como se assustou, conhecia meu dever. A peça foi o instrumento com que a consciência do rei apanhei.

Iago –
Já eu, meu senhor, sabia que como deus da guerra, por mais grandioso, Otelo era menos temido que o deus dos judeus, dos cristãos e dos mulçumanos, pois nele havia de suscitar a loucura que o ciúme provoca. Forjei contra Cassio a acusação de manter um caso amoroso com Desdêmona. Otelo deixou-se corroer pela dúvida, pela depressão obsessiva. Uma vez tocado o coração de meu senhor, tornei-me hábil no transformar situações simples em cenas de cruel comprometimento para seus participantes. Um simples diálogo entre Cássio e Desdemona convertia-se em secretas juras de amor; um encontro casual, em compromisso previamente marcado; um objeto caído ao chão, um olhar, um cumprimento. Como prova da traição, deixei o lenço que o Mouro havia dado a amada no quarto de Cássio e fiz meu general lá encontra-lo. Para bom ciumento, ninharias, bagatelas tão leves como o ar, valem como verdades do Evangelho. Sob o efeito do meu veneno, o Mouro mudou de temperamento e com suas próprias mãos matou a mulher que se casara e sequer tivera suas núpcias consumadas. As pobres almas haviam de resistir a essas desventuras?

Hamlet –
Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir .. comer... mais nada... Imaginar que um sono poe suspenso os sofrimentos do coração e os golpes que constituem a herança da carne, é solução para almejar-se. Morrer.., dormir .. comer... talvez sonhar ..É ai que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando ao final desenrolarmos toda a meada mortal, nos poe suspensos. É essa idéia que torna calamidade a vida assim tão longa! Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis amorosas, a implicância dos chefes e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo apos a morte - terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou - que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refugio noutros males ignorados? De todos faz covardes a consciência. E chamam de virtude!

Iago –
Virtude uma figa! De nos mesmos depende sermos deste ou daquele feitio. O nosso corpo é uma horta de que nosso arbítrio é o cultivador. De forma que, se quisermos plantar nele urtigas ou semear alface, carpir a terra ou mondar tomilho, cultivar nele um só gênero de ervas, ou espécies variadas, torna-lo estéril pelo nosso ócio ou fertiliza-lo com o nosso suor, é em nos mesmos, na nossa própria vontade que estão o alvitre e o poder para tanto. Se na balança da nossa vida não houvesse o prato da razão para equilibrar o outro prato das paixões, nossos humores e a baixeza dos nossos instintos nos levariam as mais absurdas conseqüências. Mas temos a razão para esfriar nossas paixões impetuosas, as incitações carnais, os apetites desenfreados. O homem não é mais nem menos que um enxerto em gemas de sementes.

Hamlet –
Mais uma vez indago: que é o homem, se sua máxima ocupação e o bem maior não passam de comer e dormir? Um simples bruto. Decerto, quem nos criou com a faculdade que ao passado e ao futuro nos transporta, não nos deu a razão, para que fique inútil. Seja esquecimento bestial, ou mesmo escrúpulo covarde que me leva a pensar demais nas coisas - pensamento com um quarto de bom senso e três de covardia - ignoro a causa de ficar a dizer: “devo faze-lo?", se para tal me sobram meios, força, causa e disposição. Exemplos grandes como a terra me exortam: este exercito de tal poder e numero, chefiado por um príncipe moço e delicado, cuja coragem a ambição divina faz exaltar, levando-o a defrontar-se com os fatos invisíveis e a sua parte mortal e pouco firme a por em risco contra o que ousa a fortuna, o acaso e a morte, por uma casca de ovo. Grande não é empenhar-se em grandes causas; grande é quem luta até por uma palha, quando a honra está em jogo. Vejo, envergonhado, vinte mil homens próximos da morte, que por simples capricho da vaidade caminham para o tumulo tal como se fossem para o leito, e lutam pela conquista de um terreno em que não cabem, e sepulcro pequeno para esconder sequer os que ai tombarem.

Iago –
Nunca mostro quem sou.

Hamlet –
Ser ou não ser? Eis a questão.

ATO II

Hamlet –
Alferes diabólico, que prazer!

Iago –
Caro Príncipe da Dinamarca, o prazer é todo meu! Mas nem mesmo o Diabo em Dostoievski, ou em qualquer outro escritor, pode competir comigo. Por isso, rogo-te que me chame apenas de Iago.


Hamlet –
Como for de teu inteiro agrado, Iago. Mas te advirto de que continuaras a ser o Demônio do Ocidente, apesar de ser um grande psicólogo, dramaturgo e critico...

Iago –
Não conto com Horácio para preservar minha boa fama. Apesar de ser cria de tua alma, não gozo dessa reputação, mas, sim, a de um vilão frio, calculista, homicida e niilista. De tua parte, és o mais festejado entre nos, um gênio da transcendência secular.


Hamlet –
Não seria eu o incompreendido, o complexo, uma convergência de opostos, o homem que pensa demais e não consegue tomar decisões, o embaixador da morte?

Iago –
Que mortes podem ter afetado teu julgamento? Tu não sentiste o menor remorso por ter morto Polônio, nem por levar Ofélia a loucura e ao suicídio. O crânio do pobre Yorick não te evocou pesar, mas, sim, repulsa. O teu adeus diante de tua mãe morta foi frio: “Adeus, pobre rainha!” Nenhuma das mortes. Teus críticos foram desarmados do julgamento de cunho moral, para absolve-lo. Nem mesmo a morte de Cláudio é tida como ato de tua vingança, mas, sim, e tão-somente da entropia dos ardis pelo próprio Cláudio tramados.

Hamlet –
Tu estas tão absorto com teu estigma de monstro, que não percebes que tua queda na rejeição por Otelo foi o maior impulso para tu liberardes tua genialidade dramática, que também te absolve das mortes, causadas apenas pelo profundo sentimento e percepção da realidade.
Iago –
Morte e vingança!!! Não são esses os atributos verdadeiros de nossas existências. Quero reforçar a remissão de todas as falhas que possam subsistir a tua imagem. Tu és interprete teatral de tua própria historia. E hão de compreender que é a tua personalidade que me redime, porquanto sou teu descendente! Mostra tua transformação, tua alternância cíclica em Ethos, logos e pathos. Tu não me deixaste de herança teu “seja como tudo for?”

Hamlet –
Não foste preterido agora por mim. Observe Falstaff, Edmundo, Prospero e Rosalinda. A espiritualidade e o humor, a fluidez do espírito, a imaginação profética, o controle sobre as mais diversas perspectivas estão neles. (raivoso) Por que a mim tu me crucificas? Para enaltecer tua alma, para me destruir e crescer? Não te bastou a genialidade, a capacidade inigualável de improvisação, o poder de tuas palavras?

Iago –
(furioso) Tua revelação é minha revelação. Como me conveio, invoquei uma entidade do inferno e fui bem sucedido no meu brilhante propósito de destruir a única realidade que tinha conhecimento: o deus da guerra, e colocar no lugar da guerra organizada, um conflito anárquico, incessante, de todos contra todos. Procedi em nome de um nada, capaz de compensar-me de minha magoa, por eu ter sido preterido e rejeitado pelo único valor que havia ate então reconhecido. Essa luta tornou-se a tua luta e a minha liberdade. Vivemos por nada!

Hamlet –
(melancólico) Que queres tu dizer com isso, se cada fato à idéia é tão avesso, que os planos ficam sempre insatisfeitos? As idéias são nossas, não os feitos.


Iago –
(irônico) Desejo e destino são contrários, e, assim, todo pensamento se anula… Não, meu caro Príncipe! Tu fizeste de mim criatura verossímil como tu quase não foste, ainda que eu fizesse valer a pena expressar o que não podia ser expresso. Como ser livre e carregar uma maldição?

Hamlet –
Os homens muitas vezes tentam convencer não os outros, mas a si próprios, especialmente quando precisam justificar suas atitudes e ações. Edmundo ao Rei Lear bem o falou:

“Essa é a maravilhosa tolice do mundo: quando as coisas não correm bem – muitas vezes por culpa de nossos excessos – pomos a culpa de nossos desastres no sol, na lua e nas estrelas, como se fossemos celerados por necessidades, tolos por compulsão celeste, velhacos, ladrões e traidores pelo predomínio das esferas; bêbados, mentirosos e adúlteros, pela obediência forçosa a influencia planetárias, sendo toda nossa ruindade atribuída a influencia divina... Ótima escapatória para o homem, este mestre da devassidão, responsabilizar as estrelas por sua natureza de bode. Meu pai se juntou com minha mãe sob a cauda do Dragão e minha natividade se deu sob a Grande Ursa: de onde se segue que eu tenho de ser lascivo e violento. Pelo pe de Deus! Eu teria sido o que sou, ainda que a mais virginal estrela do firmamento houvesse piscado por ocasião de minha bastardizaçao”.

Se admite ser uma concepção de minha própria consciência, sabes que não foste fruto de superstição, mas, sim, um profeta da razão. Então, como reivindica uma redenção sobre o meu caráter?

Iago –
Não quero suplantar o Príncipe da Dinamarca, mas, sim, fazer justiça sobre a perfeição de um ser livre, criado a partir do desejo de ser completo como caráter. Tu fizeste de mim a alma do teu desejo. Se foste uma reação dos fatos da tua vida, projetaste em mim a articulação da vida, a tal ponto de ser possível eu matar um ou dois inimigos num beco escuro, somente para saciar o tédio da vida.

Hamlet –
Não é maldição, meu caro Iago. Admito que te concebi, mas com o propósito de desvendar uma realidade incomum. Teu poder de encaminhar os fatos da vida foi tão genioso que me dei por satisfeito na obra, e que agora se revela mais poderoso que essa realidade. Teu motivo parece justo, no entanto sabes que nada tem tanta importância assim. Tu ensinaste o mais precioso processo mental de entendimento para levar a criatura ao desenlace do dia a dia, as manobras da sobrevivência, a prevalência da razão sobre as paixões nos mais dignos. Se os tolos pecham-te de vilão, é porque não experimentaram o prazer dionisíaco de encontrar a face do terror nas entranhas humanas.


Iago –
Então eu deveria estar satisfeito e agradecido ao meu criador, por ser genial, considerar o abismo entre os reles mortais e a nossa incompreendida casta, que vê alem dos olhos comuns e penetra na alma humana para sugar-lhe as fraquezas, as intenções inconscientes. Pobre Príncipe! São as falhas de teu caráter que cobro, por teres me transmitido qual herança genética da criação. Não falo de tua incapacidade de tomar decisões, porque foi exatamente essa motivação nodal que resolveste criar-me, para corrigir-te; tampouco o fazer de vingar-se ou a presença das mortes que causamos, porque de uma forma ou de outra todos somos assassinos, se durante o dia matamos crianças, à noite matamos os velhos. Saber que o pior é agüentar o consolo falso de que haverá outra vida para embala-los. É a tua mentira, Hamlet!!!!


Hamlet –
A mentira não passa incólume aos sábios. Tu não és um fracasso estético. Quando corri obstinado ao suicídio, tu já eras nascido, completamente forjado no mais requintando dos metais, pronto para atuar.

Iago –
É a tua mentira, Hamlet!!! O jogo das aparências que denuncio como droga mortal. Hoje, parece que em toda parte reina a mentira, como um simulacro necessário a ordem. Todos consagram o essencial de suas energias a mentir uns sobre os outros. Os Ministros proclamam que querem governar com o rei e seus opositores ou sustentar uma transição de poder, quando essa união é na realidade uma estratégia para suplantá-los. Os impérios criam seus inimigos somente para reafirmar sua hegemonia sobre o mundo, por meio do medo que as guerras inspiram nos outros. Para sustentar os ricos, a mentira é a regra necessária no jogo de tempo, para fazer aceitar a desigualdade, a causa da crise, o valor da moeda, para fazer suportar a dominação e para estabelecer as condições necessárias ao frágil consenso humano.



Hamlet –
Criei-te original, Iago, num mundo de ilusão, de inventividade, de jogo, de simulacro. A mentira corre as veias do cotidiano, pulsante, de todos os atos, do tom de teus discursos, para todas as ordens. Tua descendência gerou uma variedade de espíritos por toda a terra. Nem o oráculo de Delfos poderia predizer tamanha variedade de mártires do engano, do embuste, do golpe. Somente ai pode a nossa existência encontrar um sentido para transformar-se em desespero autentico, revelador, pois se há mentira, haveria verdade. A tua identidade me exprime, pois queria que tu te identificasses com a liberdade do intelecto, assim como Falstaff o seguiu com o lúdico. Menti na disposição lúdica amarga em ti, para fazer-te diferente.


Iago –
Não te importaste se mentir era necessário a afirmação da diferença com os outros, quando na realidade, não havia diferença. Otelo tinha o oficio de guerreiro honrado, Lear, majestade de um rei; Macbeth, a aura do profeta. E onde ficou minha identidade?

Hamlet –
A sabedoria dos povos diz que, de todos os tempos, o sentimento de identidade é portador de rivalidade e de morte entre os homens e entre as nações.

Iago –
Por minha culpa, o mundo prefere viver no simulacro da diferença, na mentira criadora de uma variedade artificial, a viver na verdade ou na difícil criação das verdadeiras diferenças. Faltou-me uma parte, Hamlet, que me iguala aos outros! Eu vim hoje, vingar-me da tua mentira.

Hamlet –
Queres vingar-se do mundo. De tanto mentir, Iago, ajudaste a construir um mundo que terminará por perder o sentido da verdade, para justificar não importa o que, com não importa qual argumento; uma raça de teóricos da aparência e da sedução; os ingênuos perderão suas ilusões e os reis serão indestrutíveis.


Iago –
Sejamos claros, meu Senhor. Devo chamar-te de pai, de ídolo, de criador, de que? Se meu pai, foste fraco e indulgente, por não medires as conseqüências das maquinações que elaborei, fruto da inexistência na minha saga de pai e mãe. Apareci do nada e para ele retornei. Tudo que fiz foi dirigir minha agressividade em forma de jogo dramático, como um vilão-dramaturgo que se valeu não só das palavras, mas da vida das pessoas também. Se meu ídolo, deverias pensar que o diabo é preferível a uma existência secular desprovida de sentido.

Hamlet –
Meu caro Iago, não sei se tu queres impregnar em mim um sentimento de culpa ou um remorso pela tua criação. Mas sei que matar teu criador ou não matá-lo, como tu próprio já esclareceste, não é o caso. No entanto, não posso fugir da percepção que se trata tanto de um conflito devido a essa ambivalência, quanto devido à eterna luta entre Eros e Tanathos. Tens medo de identificar-te com teu pai. E tu manipulaste tão bem esse conflito, ao colocar em ação os homens defronte uns dos outros com a tarefa de viverem frente a frente com seus gênios.

“A terra, a esta terra cansada, nos trouxeste, a culpa nos deixaste descuidados ir, depois deixaste que o arrependimento feroz nos torturasse, a culpa de um momento, uma era de aflição”.

como dizia o Harpista.

Iago –
Deveria suspirar aliviado ante a constatação de que, apesar de tudo, a mim é concedido salvar da tirania de meus sentimentos as mais profundas verdades? Não, Hamlet. Falo da grandeza de teu ser, às vezes escarnecida e maltratada; do que me fizeste para idealizá-la, ainda que havia sido consagrada depois de tua morte violenta. A tua exigência em mim, já concretizada, corresponde agora a minha exigência em ti. Mais uma vez, não quero matar meu criador, porque meu sentimento de ódio já foi suficientemente exortado.

Hamlet –
Contenta-te com o que de mais poderoso propiciasses a tua descendência: apoiar com argumentos as suas ilusões, principalmente para dominar a perturbação pelo instinto de autodestruição. A morte, Iago, a morte!

Iago –
Não sabes que quero livrar-me deste estorvo. Deste-me uma inclinação visível, pronta para a agressividade mutua, sem me perguntar se era possível segui-la ou se era capaz de suportar tudo que me era exigido, como se eu dispusesse um domínio ilimitado sobre mim mesmo. Falta-me seu imortal adversário, para lutar por nos. Da-me o que me pertence por herança!

Hamlet –
Nunca! Devias agradecer-me por ter-te poupado desse quinhão. O que tu queres poe-te em desvantagem frente aqueles que o despreza. Nada hei de te oferecer aqui, exceto que és melhor que os outros.

Iago –
Farsa! Impõe-me a não mostrar quem sou. Eu não sou o que sou!

Hamlet –
Ser ou não ser? Eis a questão, pois há mais mistérios entre o céu e a terra que pode conjecturar uma vã filosofia.

ATO III



Hamlet –
“Ethos não é demônio;
Caráter não é destino;
Eros é estritamente acidental.
Intenções são escravas da memória;
São fortes, mas tem vida transitória;
Qual fruto verde que se ostenta, duro,
E há de cair quando fruto maduro,
É fatal que esqueçamos de nos dar
O que nos mesmos temos de pagar:
Aquilo que juramos na paixão,
Finda a mesma, perdeu a ocasião.
A violência das dores e alegrias
Destrói as suas próprias energias.
Onde há prazer, a dor poe seu lamento,
Se a magoa ri, chora o contentamento.
O mundo não é firme, e é bem freqüente
O próprio amor mudar constantemente,
E ainda esta para ficar provado
Se o fado guia o amor, ou este o fado. ““.
Iago –
Sabias o tempo todo o que reivindico. Por que privaste o amor de quaisquer valores em mim? Por que não contaste a verdade?

Hamlet –
Para que explicar o implícito? Ademais, nem todos os homens são dignos de amor. Meu melhor atributo em Otelo foi a vaidade, ainda que a figura do guerreiro fosse apenas um signo de masculinidade. Desdemona se apaixonou por uma lenda militar, não por mim, transmutado em Otelo. Tu, ao contrário, com tua voraz critica, tinhas o profundo entendimento de Otelo. Sublimemente demoníaca a farsa estava montada.

Iago –
Gênio da farsa! Não escolhemos a quem podemos amar. Existe um amor que pode ser evitado, e existe um amor mais profundo e terrível, absolutamente natural. Abstenha-se dele e tornar-se-á um monstro. Leontes, tão parecido contigo no ciúme, foi reprimido enormemente no abundante amor. Tu sequer permitiste amar.

Hamlet –
Leontes estava enlouquecido de ciúmes:
“Instinto, teus impulsos no alvo acertam, possível deixas o que nunca fora sequer imaginado: ajudas encontras ate nos sonhos, vais achar aliado no próprio irreal e ao nada te associas. Depois te tornas crível, pois te juntas a alguma coisa. Agora fazes isso sem justificações, e o sinto fundo, pois o cérebro tenho envenenado e a fronte endurecida”.

Tudo demais é veneno. O amor é apenas um dentre muitos sentimentos, e, na sua medida exata, não tem influencia na vida como um todo. Alterado, tira idéias da vida real e só exibe aquilo que esta diante de seus olhos.

Iago –
Mentira! Construíste um amor que só causa calamidade. O desejo reprimido de Lear cometer incesto levou-o a loucura. A morte de Cordelia é inaceitável, pois é apenas para encobrir o real, a tua masculinidade ameaçada. Lady Macbeth persuadiu Lord Macbeth a matar o rei para tomar-lhe o trono; Cassio convenceu Bruto a matar Julio César; Romeu seduziu Julieta e foi seduzido por ela, a ponto de se suicidarem ambos; Petrucchio domou a megera Catharina, numa morte simbólica dela; ah! Desfilaria um rosário de criaturas vitimadas por tua sublimidade. Não sois o Edipo que me escondeu o amor de todos os homens?

Hamlet –
Que obra-prima, o homem! Quão nobre pela razão! Quão infinito pelas faculdades! Como é significativo e admirável na forma e nos movimentos! Na apreensão, como se aproxima dos deuses, adorno do mundo, modelo das criaturas! Mas os homens não me proporcionam prazer, tampouco as mulheres.

Iago –
Mulheres! Cleópatra talvez seja única mulher que admiro na tua criação, pois se me apaixonasse por uma mulher seria por Cleópatra, que a ouço:

Não mais que uma mulher qualquer, domada por misera paixão, qual uma jovem leiteira, serviçal das mais humildes. Deveria lançar meu cetro contra os deuses injuriosos, e dizer-lhes que este mundo ao deles se igualava, ate roubarem nossa jóia rara. Tudo de nada vale: paciência é tolice, impaciência é para cão danado; então, é mesmo pecado correr a morada oculta da morte antes que ate nos a morte ouse vir?
Enquanto cobra, faca ou veneno possuírem picada, fio e efeito, a salvo estarei...

Hamlet -
Já eu seria Rosalinda:

“O pobre mundo já conta seis mil anos, e durante todo esse tempo ninguém morreu por motivo de amor. Troilo teve os miolos esmigalhados por uma clava grega, apesar de ter feito o que pode para morrer antes de ser um dos modelos do amor. Leandro poderia ter vivido ainda muitíssimos anos, mesmo que Hero houvesse ficado freira, se não fosse uma noite de verão, moço como era, fora apenas banhar-se, mas afogou-se por causa de câimbras; foram os cronistas ingênuos da época que acharam que morrera por causa de Hero de Sesto. Mas nada disso passa de invencionice; os homens têm morrido de tempos em tempos e os vermes os tem devorado, mas não por amor”.

Iago –
Não sei se o temperamento do homem se altera mais diante da traição de uma mulher ou de outro homem, pois tu sempre evocaste a loucura em meio a uma perturbação do gênio da mulher e suas exigências.

Hamlet –
Não há no homem propensão ao vicio, eu garanto, que não venha da parte da mulher; seja a mentira, sabei, é da mulher; a adulação veio dela; a traição, dela também; lascívia e pensamentos sujos, dela; a vingança foi dela; e a ambição, cobiça, ostentação, toda arrogância, os desejos ardentes, a calunia, a volubilidade, mesmo todos os defeitos que o homem pode nomear, ou melhor, que só o inferno conhece...

Ouvi essa diatribe dos lábios de Póstumo, que me fez pensar na questão introdutória: será que homens não podem ser gerados sem que as mulheres façam a metade do trabalho? Ele foi uma parodia de teu Otelo, ao querer vingança pela traição da esposa, e também de Lear, no desejo de experimentar sua parte mulher. Tudo não passava de desejo e prazer.


Iago –
Não quiseste ver esse prazer em mim, porque foste demais narciso para amar alguém. Desejo de prazer subliminar demais para encorajar minha redenção diante de meus críticos, sem que o esforço de nunca mostrar o que sou pudesse estancar meu coração, pois nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão desesperadamente infelizes como quando perdemos nosso objeto amado ou o seu amor. Foi o motivo de minha vingança.

Hamlet –
O amor! Amar a todos de forma indistinta é idéia tão repulsiva quanto amar a um isoladamente. Na verdade, o amor se coloca em oposição aos homens e estes ameaçam o amor com restrições substanciais. Seja como tudo for, se tu considerares verdadeiro o fato de que todo homem busca satisfazer todos os desejos, é necessário dissimular.


Iago –
A trilha dissimulada que escolheste obscurece a humanidade. Tua consciência revivia a saga de Edipo, que no final era o criminoso, cego, banido por si mesmo. Mas descobriu a verdade. Sua posição inicial era ilusória, baseava-se na suposição de uma origem. Soube quem era. E ao sabe-lo, pune-se: como homem e como rei. Como homem, porque matara o pai e esposara a mãe, e parricídio e incesto são crimes que clamam punição. Como rei, porque ele próprio decretara a pena que seria imposta ao assassino de Laio, e deveria cumprir sua palavra e era o motivo da desgraça de Tebas, depois de saber de sua culpa. A figura de teu pai já estava morta, Hamlet. Tiveste ciúme de tua mãe por deitar com teu tio, e a chamou de prostituta. Decretaste todas as mortes em nome dessa dissimulação. Então, tua descendência não seria mais condescendente com essa tragédia familiar. Já nasci com minha disposição franca, porem não me era dado o direito de externar as reivindicações do meu amor, numa ordem de totens e tabus, como se tu quiseste fazer dessa dissimulação o reparo da natureza de Edipo e de teu próprio caráter, como não queres ver.

Hamlet –
Reivindicações do amor! Cada coisa em seu devido lugar, com sua devida importância e ao seu tempo, Iago. Ao escrever a minha historia, era pai e filho mortos, a um só tempo, minha própria arte e o aniquilamento de mim mesmo, e tornei-me vilão herói. Escrevi a tua historia, para transformar-te em herói vilão, para que a razão sobrepujasse a paixão, para enaltecer os teoremas, as estratégias delimitadas pelo tempo. Descobriste que Otelo sem ti era nada; tu podias pulverizar qualquer um com tua astúcia e intelecto. Prescindias desse sentimento, dessa reivindicação de amor.

Iago –
Não, Hamlet! Eu arquitetei a morte de Desdemona e Cassio, porque amava Otelo e não admitia perde-lo. Se eu fiz um par estranho com Emilia, foi em nome dessa dissimulação traidora. Assim como não correspondeste o amor de Horacio e de Ofélia, tu te transformaste em meu Otelo e eu no Horacio que tu querias amar, mas na impossibilidade de refrear esses instintos, cometeste o suicídio de maneira direta. Mas eis-me aqui, teu monstro, tua criatura, teu objeto de desejo...


Hamlet –
Queria demonstrar a principio que é possível criar um objeto de desejo ou transformá-lo em algo sublime, elaborado, heróico, imbatível, pois a vida tal como a encontramos resta árdua demais para nos, proporciona-nos sofrimentos, decepções, e tarefas impossíveis. A fim de suportá-la, não podemos passar sem as construções auxiliares. Então, o que representa maior valor: ter um amor ou ser maior do que ele numa construção mental auxiliar? Desdemona foi minha mais admirável imagem de amor, e, no entanto, foi a mais infeliz das esposas. Morreu virgem e assassinada pelo homem que escolheu, melhor, pelo seu objeto de desejo que escolheu.

Iago –
Ainda que eu tenha triunfado nessa construção mental auxiliar, pois minha obsessão pelo ato de destruir foi a única força criativa da historia, o amor estava lá. Minha esposa guardou o teu conceito de objeto:
“Não é num ano, nem será em dois, que a gente pode conhecer um homem. Todos eles são só estomago, e nos não passamos de simples alimento. Se estão famintos, com avidez nos comem, em nos mesmas vomitam se estão fartos”.

Criaste-me para extrair luz de minha desgraça. Ignoraste meus sentimentos.


Hamlet –

Não, meu amado herói. Extrai da tua desgraça ao final a tua boa fama, como a de Otelo e Desdemona pela ação heróica de Emilia. Sentimentos que sabes tão bem manipular. Não seria eu quem deveria indagar sobre que destino terão meus sentimentos, exímio psicólogo! Que sentimentos nutres por mim?

Iago –
Tua alma é tão vasta que cabe uma humanidade. Falstaff, Rosalinda, Edmundo, Lear, ninguém ousaria amá-lo. Quanto a mim, temo que a tentativa de te transmutar em Otelo, deixou-me confuso, porque amei Otelo por eu sabe-lo a cada gesto. Mas ele é mais um personagem teu. Diante de ti, preciso mostrar quem eu sou, o que eu sou. Redima-me, Hamlet, para eu te amar!

Hamlet –
Se eu me revelar, revelar-te-ei. A criatura então será maior que o criador, como tem sido o desejo humano. Tu és, Iago, a síntese do homem. Teu ressentimento permanece universal. Se me fiz transcendente, foi para não encarar meu medo de amar. Se reiterei meu fim trágico como Otelo, Falstaff, Lear e Macbeth, foi porque tu estavas lá, qual fantasma do meu medo. Não te aborreças mais com tua fama. Só tu desvendaste a saída possível. Nem o corpo, nem a mãe natureza são tão poderosos assim. A inveja, o medo, o ciúme, esses sim são os venenos de quem és antídoto, ainda que eles venham rotulados numa garrafa de água mineral.

Iago –
Ainda não sei dizer “eu te amo”, mas seguirei como ator na nossa farsa, pelo inferno e céu de todo dia, para poesia que não se vive, a fim de transformar agora o tédio em melodia.

Hamlet –
Se alguém consegue dizer prontamente ou com demasiada eloqüência o quanto nos ama, desconfia. Tua declaração de amor é a poesia de teu ser devastador. Tu és um autentico Prometeu, pois quem pode negar a poesia contida no teu fogo? Prometeu roubou o fogo para nos libertar, tu roubaste a mim mesmo, lenha que alimenta a fogueira.


Iago –
(Beija Hamlet e enfia um punhal nas costas dele) Nunca mostro quem sou.


FIM

RESUMÉ

Hermano Leitão, ator, diretor, dramaturgo e advogado. Paraibano, é autor das comédias O ACIDENTE DA PERUA, encenada no Teatro Ruth Escobar em 2000; AS MULHERES DE CÁSSIA, apresentada no Teatro Bibi Ferreira em 2001, ALMAS PERFUMADAS; O HOMEM QUE FALA COM A ..., encenada no Teatro Ruth Escobar em 2003, e TRANSKETEIROS (com co-autoria de Thiago Gomes); da peça infantil JEAN QUE RI & JEAN QUE CHORA; do drama OS CAVALHEIROS DE SHAKESPEARE, e das adaptações CANDIDE e YERMA DE VIDAS SECAS. Como músico, compôs a trilha sonora do filme Lágrimas Secas, cujo roteiro escreveu em parceria com Rodrigo Arrigoni. Depois de formado em Direito na Universidade Federal do Ceará, empolgou-se com o sonho de ser diplomata e mudou-se para Brasília para freqüentar o curso preparatório para o Instituto Rio Branco. Porém, a realidade burocrática da diplomacia o desencantou e o levou a aspirar novos caminhos em São Paulo, onde, primeiramente, estabeleceu sua banca de advogado. O encontro com o teatro foi acidental, pois foi assistir uma palestra do Valdir Simino no Viva e Deixe Viver, e encontrou Emílio Fontana, em cujo curso pisou no palco paulista pela primeira vez. Em paralelo, fez curso de canto, dança moderna e jazz. A profissionalização formal foi obtida por meio de exame de banca para ator e diretor no SATED-SP, onde teve a honra de ser avaliado pelo fabuloso diretor José Renato. É também fundador da Cia de Teatro Criando Condições, instituição que, além de ser a realizadora de produções, busca uma linguagem própria para revelar o teatro contemporâneo. Participa do Núcleo de Teatro HWA, onde faz intercâmbio técnico com os talentosos diretores Walter Sthein e Alexandre Ferreira. Em 2002, produziu a peça INSANOS E VERDADEIROS, apresentada na sala Arte do TBC em que, além de atuar, dividiu a direção com o amigo Rodrigo Arrigoni, cujo encontro se deu no curso de direção em cinema ministrado pelo cineasta Walter Lima Jr.

Hermano Leitão

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