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Esperança ou Medo?

Há pouco mais de um mês houve uma das “euforias” do mercado. O País acabava de conseguir mais um empréstimo de pouco mais de 1 bilhão de dólares, à “excelente” taxa de 10,3% aa. Euforia!

Acabávamos de somar ao nosso passivo uma conta de mais de 100 milhões de dólares para serem pagos no futuro. E o mercado fica eufórico, sobe a Bolsa, desce o dólar e valoriza-se o Real, derrubando ou inviabilizando uma boa parcela das exportações, nossa última tábua de salvação. E o aporte gera euforia. Difícil de entender...
Ou melhor, é fácil entender, visto pela ótica dos eufóricos. Taxa Selic de 26%, descontos de duplicatas de 76% para cima, crédito ao consumidor de 117 a 323%, cheques especiais nos 180%. Quem não ficaria?

Ninguém no mundo, e pelo jeito ninguém quer ficar fora mesmo desta colheita gorda e única provavelmente em todo o planeta. E todo dia entra mais dinheiro-motel, de curta permanência, que fica, como se sabe, até a coisa começar a dar os primeiros sinais de fumaça. Além de alta, a renda é garantida, porque para mostrar que não fará mesmo a ruptura que prometera fazer antes das eleições, o governo atual faz questão de dar garantias totais de que os nossos títulos serão honrados para quem está enfiando dinheiro aqui. Não é por menos que os nossos C-Bonds bateram em 92,5% do seu valor de face (!). Cá entre nós, algum brasileiro que entenda minimamente pelo que estamos passando aqui no País comprometeria seu dinheiro comprando títulos de um país que está com números de dívidas como os nossos, apenas pela esperança de um ágio de apenas 7,5%, isso para papéis de 20 ou 30 anos? Muito difícil. No segundo semestre do ano passado esse valor de face chegou a descer aos 49%, senão no pico para baixo de 45%. Será que estamos tão melhor agora?

O pior é que se chama a tudo isso de controle, pois os credores externos estão satisfeitos, e “surpresos” com a performance conservadora do governo empossado.

Mas, na outra coluna desta conta vemos o que está havendo de fato, no mundo real do trabalho e não dos discursos e desculpas. Enquanto os lucros dos bancos representavam 4 vezes os das empresas não financeiras, segundo dados das 500 maiores empresas publicados pela revista Exame, os lucros das empresas caíam de 9,7 bilhões de dólares em 2001 para 1,6 bilhão em 2002. Empobrecem as empresas, empobrecem os trabalhadores, empobrecem a nação.

Os cheques sem fundos bateram recorde histórico em maio e chegaram a 3.270.000. Os títulos protestados a 1.700.000. O desemprego foi a 20,6% e o PIB caiu 0,1%, a atividade industrial despencou 4,32% em relação ao mesmo período no ano passado. E o mercado segue eufórico...

É a marcha da insensatez. No campo das reformas faz-se pífias sugestões de mudanças nas contas, um novo reparte do ICMS, ou seja, um acerto de contas entre os Estados e a arrecadação central, e dá-se o nome a isso de Reforma Tributária. Com a carga tributária batendo em 41,23% no primeiro trimestre, com os 61 impostos, contribuições e tributos existentes num verdadeiro manicômio tributário, com um déficit estimado em mais de 70 bilhões de reais para 2003 – e a esta conta se soma sim o embrulho tributário, pelas distorções que tem e por estar entre os penduricalhos que tinham a renda do trabalhador e dobram o custo das folhas de pagamento dos empresários. Diante de tudo isso, a Reforma Tributária fica só nas mudanças de rubrica do ICMS. Melhor seria, imagina-se, pensar a sério nisso e considerar e ouvir projetos que a sociedade já ofereceu, como o da CNI, por exemplo, ou as sugestões de Boris Tabacof, algumas delas relembradas um pouco mais para frente.

Enfim, há de tudo para preocupações. Para euforias, nenhuma razão, pelo menos do lado de quem produz e trabalha. Nesta verdadeira Pindurama em que estamos vivendo, vemos a dívida, só à externa, de cada família passar dos 4 mil dólares. E o Fome Zero prevê menos de 20 dólares por mês para que as que estão na miséria tentem se alimentar por um mês.
Alguma coisa de errado deve haver nestas euforias de mercado. Alguma coisa de errado há nestas contas e de muito errado. E é bom que o País descubra logo, antes que a vaca vá para etc, etc, etc...

O Economista

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