10/09/2020
Frases ou lembranças que me chegam

Ah! aquele filme brasileiro, “Matemática Zero, Amor Dez”, eu já o tinha assistido, mas, aquela minha namorada daquela época da minha juventude quis assisti-lo, então... Com ela assisti-o novamente. Outro dia lembrei-me dela com nostalgia e até com tristeza, pois, ela já morreu. A música do filme era “Menina moça”. Ouvindo essa música me vejo com ela assistindo ao filme naqueles momentos do tempo em que ele nos existiu apaixonados e inconscientes de que nós logo iríamos nos separar e para sempre. Mais são vítimas do se apaixonar os jovens inexperientes.

Como nasci e vivi num lugar pequeno a todos de lá eu conheci e hoje depois de tantos anos fico a perguntar onde será que todos foram parar? Muitos morreram e pensando naqueles de quem me lembro entristece um pouco devido à ausência deles. Muitos nem se lembram que eles existiram. A morte é aquela coisa que apaga tudo da nossa vida e nos iguala ao que ou como éramos antes de nascer, nada.

Quando se era jovem nada se sabia ou se imaginava com quem é que se iria ficar, se casar e ter os filhos. Nessa situação se vivia como se estivesse incompleto. O sexo oposto sempre foi uma atração inevitável e irresistível. Sempre pareceu ser uma parte que nos estava faltando. A natureza é sábia, com a atração entre os sexos opostos se mantém a continuidade e multiplicação da espécie humana no planeta.

Às vezes sem ter perturbações me sinto tão distante e inconsciente do mundo e das pessoas como se ele e elas também sentissem o mesmo em relação a mim. Nesse estado de exclusão e indiferença é quando a solidão é a melhor companheira para sentir a vida sem o que se queira dela.

Olhando para as gaivotas passeando por baixo do céu azul e ouvindo as ondas do mar que se rebentam na praia, ao olhar ao longe sem nada distinguir tudo parece tão inexplicável assim como é a nossa vida.

Na areia da praia sob o sol escaldante o vento nos vem refrescar e ao olharmos para o horizonte no sem fim do mar quando ele se encontra com as nuvens, nós pequenos que somos queremos saber das coisas, mas só somos perguntas que nunca terão respostas do desconhecido como também somos desconhecidos para o mundo e isso se traduz no nosso vazio igual aquele vazio de quando se perde alguém querido que partiu daqui.

Se as ondas do mar trouxessem para a praia uma garrafa e por curiosidade eu a destampasse e dela saísse um gênio imagino que ele logo diria: Você me libertou e então pode me fazer um pedido que o realizo pra você. Vendo-me calmo, distraído e demorando em fazer o pedido imagino que ele diria o seguinte: Se você está demorando tanto para escolher o que quer, isso é porque você não precisa de nada. Pra você quase mais nada tem importância e que na vida de verdade nada se possui a não ser a vida a ser vivida e mesmo assim para quem a sabe viver.

O diálogo interno, o falar comigo mesmo em pensamento me ausenta do aborrecimento de ouvir de outros o que não quero, pois, parece que hoje em dia ninguém mais tem o que dizer. O sempre se estar sozinho se convive mais com os próprios pensamentos e estes cada vez mais vão se aprofundando em reflexões sobre questões ausentes nos seres humanos.

Nos tempos dos lampiões o silêncio era o melhor companheiro de quem tinha algo a ser comunicado ou repartido com outros. Sem o silêncio dos tempos dos lampiões os filósofos mais respeitáveis não teriam podido compor e expor suas demonstrações do que pensavam sobre a vida.

Nesta época quando se tem noites calmas, silenciosas e sem interferências, a consciência se rejubila com a oportunidade de ter preponderância sobre os pensamentos e se sentir como sendo a dona dos momentos. Nesses momentos particulares, como se eles fossem especiais para quem os está vivendo, parece que o mundo todo está anoitecido na paz noturna.

Quem já se sentiu naquela sensação hipnótica por ficar demoradamente olhando para uma fogueira? Os estalos da madeira queimando, as labaredas em suas danças fogosas entre os ciscos acesos que sobem e se apagam no espaço escuro. Com o céu ao alto com suas estrelas, sentindo o calor da fogueira e concentrando-se nela, ela atrai inspirações parecidas com as inspirações dos poetas.

Nós vivemos tantas coisas e nossas tantas coisas “vivem” em nossos pensamentos separando o mundo em dois. Um das tantas coisas que vivemos e outro da tantas coisas que recordamos. Um mundo de tantas coisas que se passaram significando o passado e outro donde tudo o que se passou nos é presente quando aparecem em nossos pensamentos. Esses dois mundos, o material e o mental sempre se correlacionam com o presente e com o passado sendo indiferentes com a incógnita que é o futuro.

Nós que também vamos morrer sempre nos importamos com nossos queridos que morrem. A fatalidade de tudo é que não há nada a fazer para evitar a tristeza que nos provém. Tal sofrimento é restrito enquanto o mundo continua em sua sina de ser o consumidor do tempo que vai trazendo as incertezas com que a vida sempre nos presenteia.

O homem sempre foi mais prudente quando esteve entretido em seus afazeres simples e diários. Quando se rendeu às sofisticações intelectuais tidas como evolução espiritual ele se perdeu num labirinto de abstração que a fez perder sua naturalidade. Muitos vivem agora de quimeras.

Quando se opina sobre alguém seria preciso saber se seu nível mental é superior ou inferior de quem opina. Se for superior o melhor mesmo é se calar. Pois, cada um só consegue opinar até onde pode chegar o seu nível intelectual. A incompreensão se situa além do nível intelectual que se tem.

Onde está à lucidez ou inteligência que se previa vir a ser com o progresso da humanidade? Por que não mais existem filósofos iguais aos da antiguidade que deixaram para a posteridade suas reflexões sobre a vida?

Por que será que quando estou em companhia de outros sinto tanto a falta de quando estou sozinho? Eu que apareci neste mundo para ser eu mesmo e que quero me distrair cada vez menos, ás vezes tenho vontade de silenciar pra sempre quem interrompe o meu silêncio (risos).

O pensamento, ele é que nos faz alegre ou triste. Ele se desvencilhou das preocupações e das trivialidades para conduzir o que eu tenho escrito até aqui. Ele nos trás à consciência o que de bom e importante que aprendemos na vida nos protegendo daquele vazio existencial que muitos se queixam de sentir às vezes.

O tempo decorrente entre o estarmos aqui e amanhã não estarmos mais é preenchido com muitas das ilusões do nosso viver. Parece que sem elas a vida seria muito monótona. Quem “cresceu” muito e perdeu as ilusões está fadado a ter uma vida solitária e até ser incompreendido pelos demais.

Altino Olimpio

 



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