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Governo investe apenas 1% do que poderia No mesmo período em que foram investidos R$ 149 milhões em todas as áreas do governo, os gastos com viagens chegaram a R$ 212 milhões. O governo completou os primeiros cinco meses sem ter usado nenhum centavo do dinheiro que o Orçamento reserva para investimentos em saneamento, habilitação ou organização agrária durante o ano de 2003.
Em geral, os investimentos públicos caminharam em marcha lenta. Bem mais devagar do que os gastos com publicidade institucional, aquela que cuida da imagem do governo.
Enquanto o percentual de pagamentos dos investimentos mal passa de 1% do valor autorizado no Orçamento da União para 2003, os gastos com publicidade alcançam 6% do total, antes mesmo da entrega das propostas para a licitação de R$ 150 milhões por ano da publicidade institucional, que está prevista para o início do mês que vem.
Com juros, por exemplo, a consulta ao Siafi aponta gastos de R$ 20 bilhões até o final de maio. Parte disso (R$ 12,4 bilhões), porém, refere-se à rolagem da dívida, ou seja, juros não pagos e incorporados ao total da dívida.
A notícia é do dia 11 de junho, da Folha de S. Paulo. Ao que parece não lhe foi dada a devida importância, mas os Economistas saberão bem avaliar o que ela representa. O jornal colheu os dados no SIAFI, sistema informatizado que os parlamentares usam para acompanhamentos de gastos da União, e a consulta está disponível no endereço eletrônico da Câmara dos Deputados (www.camara.gov.br).
Foram 20 bilhões de reais gastos com juros até o final de maio, 12,4 bilhões deles referentes a juros não pagos e incorporados à dívida total.
Os números falam por si só, e sobre eles não se viu discurso algum dos que se fazem todos os dias com ampla cobertura da mídia, nem declaração do Banco Central, ou da Casa Civil, de ninguém do Governo, explicando à Nação o que significa isso. Era o mínimo, imaginamos: prestar contas a quem paga as contas sobre o que se faz com o dinheiro da arrecadação federal, que significa 70,15% da arrecadação total da Nação, segundo o próprio Banco Central.
Investiu-se mais em viagens do que no País. Os gastos com publicidade chegaram a 6% do total do Orçamento autorizado, e a soma de todas as outras contas não chegou a 1%. Para quem sabe ler um balanço, só estes dados já servem para arrepiar os cabelos, de quem ainda não os arrancou todos.
Algo de errado está acontecendo quando se faz mais publicidade do que se trabalha e realiza, quando se substitui as promessas dos discursos de hoje pelas promessas do discurso de amanhã. Aliás, a eleição já acabou faz meio ano. Já era hora de descer do palanque e amassar o barro aqui embaixo, na dura vida real, na vida da taxa básica de juros de 26%, bem básica mesmo, porque nos bancos não se desconta nada por menos de 40% nem se compra coisa alguma por menos de 60%, enquanto empréstimos pessoais em financeiras podem cobrar mais de 300% aa.
Talvez fosse melhor pensar a sério nisso e esquecer um pouco do Fome Zero Mundial, do Parlamento do Mercosul, de mandar carta ao Papa sobre a salvação dos seja lá quem for, ou marcar encontros com presidentes de países que não tem nada para oferecer, só o que nos tomar. Não é hora de financiar vizinhos, quando não se consegue financiar as coisas nem dentro de casa.
As notícias são péssimas, as perspectivas são péssimas, só o “mercado” está contente, o famoso “mercado”. Claro, não poderia ser diferente, pois ali a farra é total e os bancos levam tudo e de todos.
A culpa do governo anterior, pelo menos aos mais atentos parece que não alivia mais. Os números que vemos sobre o Orçamento já são deste Governo, e a fase dos discursos acabou. É hora de pagar a conta das palavras, das promessas, a conta do prometido. Céu a quem, até agora, só tem sentido o calor do Inferno.
A boa vontade do povo para com a presidência é muito alta, mais de 70% de aceitação, talvez resultado dos 6% de investimentos em propaganda do governo, e foi só nisso que se investiu, na tentativa de provar que está sempre certo, e de que quem é contra alguma coisa não é tão patriota e heróico como eles...
Isso mostra a força da mídia num país onde a informação certa nem sempre chega à grande maioria dos contribuintes e eleitores. Informações como estas que comentamos ficam dormidas nas páginas dos jornais. Se chegassem ao grande público, esta aprovação seria assim tão alta?
Mas ainda esperamos. O medo não podia matar a Esperança, era o slogan da campanha, no melhor estilo marqueteiro. Agora, aquela esperança está dando lugar ao medo. Tenhamos esperança de que seja só medo, só trovoadas e não a tempestade que ameaça cair.
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