Se o envelhecimento é um fator de risco, devemos indicar estatinas para prevenção primária em idosos?
Dr. Mauricio Wajngarten
27 de maio de 2025
O uso de estatinas para prevenção primária em idosos é um tema de debate contínuo. O envelhecimento é um fator de risco, porém os idosos são sub-representados nos ensaios clínicos randomizados.
Em 2002, o estudo PROSPER[1] confirmou os benefícios das estatinas na prevenção secundária dos mais idosos, mas deixou em aberto a confirmação desse benefício na prevenção primária. Essa dúvida persiste!
De modo geral, as sociedades médicas recomendam individualizar e compartilhar a decisão de iniciar o tratamento com estatinas, considerando os potenciais riscos e benefícios. Evidências robustas devem surgir com a conclusão de dois ensaios em andamento que foram atrasados pela pandemia: o PREVENTABLE e o STAREE-HEART. [2]
Uma pesquisa recente utilizou um método de pesquisa que eu desconhecia para abordar o problema: emulação de ensaio-alvo (target emulation trial), que usa dados observacionais para imitar desenho e princípios de um ensaio clínico randomizado hipotético, chamado de "ensaio-alvo". Essa abordagem visa melhorar a validade e a interpretação dos estudos observacionais.
O estudo
A pesquisa [3] teve o objetivo de verificar os benefícios e a segurança das estatinas para prevenção primária em idosos com doença renal crônica e hipercolesterolemia.
Usando prontuários eletrônicos públicos de Hong Kong, foram incluídos, entre 2008 e 2015, pacientes com mais de 60 anos com doença renal crônica e hiperlipidemia, definida como nível de lipoproteína de baixa densidade do colesterol (LDL) elevado (≥ 100,3 mg/dL). Os pacientes foram categorizados em diferentes faixas etárias: de 60 a 74 anos; de 75 a 84 anos; e ≥ 85 anos).
Entre os indivíduos com doença renal crônica, cerca de 19 mil tinham idade entre 60 e 74 anos, 22 mil entre 75 e 84 anos e 9 mil ≥ 85 anos. Os resultados mostraram que o uso de estatinas reduziu o risco de doenças cardiovasculares e morte por todas as causas em pacientes com doença renal crônica e hipercolesterolemia nas diversas faixas etárias, sem risco adicional de eventos adversos graves.
Implicações
O grupo de pesquisa do estudo em questão empregou a mesma metodologia (emulação de ensaio clínico) em população também de Hong Kong ≥ 75 anos sem insuficiência renal e concluiu que o “tratamento com estatinas para prevenção primária em adultos pode reduzir a incidência de doenças cardiovasculares sem aumentar significativamente os riscos de efeitos adversos graves, como miopatias e disfunção hepática.” [4]
Estudos que usam o método da emulação de ensaio-alvo imitam, mas não são ensaios clínicos randomizados. Por outro lado, individualizar e compartilhar as decisões — um verdadeiro mantra na geriatria — não é simples. Geralmente, no caso da prescrição de estatina para prevenção primária em idosos não exige pressa. Para os pacientes de maior risco (com insuficiência renal ou tabagistas, por exemplo) podemos propor o tratamento imediato com maior ênfase. Para os demais, podemos aguardar alguns meses pelos resultados dos estudos em andamento.
Créditos: Rogerashford | Dreamstime.com
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