21/12/2007
Amores e Amoras

Para resumir esta história estão omitidos os detalhes de como dois casais iriam juntos viajar de carro, mas, apenas o marido de uma com a esposa do outro é que puderam ir.

Trafegando pela estrada naquele dia ensolarado, o agradável vento penetrava por dentro do carro e mais se fazia existir ao refrescar seus rostos e brincar com os seus cabelos. Chegando na pequena cidade do interior, logo foram atendidos pelo massagista, com o qual, ela pretendia curar-se das dores que vinha sofrendo. Esse sendo o único motivo daquela viagem, logo iniciaram o retorno. Na volta, num impulso de cortesia ele convidou-a para almoçar num restaurante de estrada. Durante o almoço, com orgulho conversaram sobre seus filhos e cônjuges. Após, a descontração levou-os a percorrer o espaçoso ambiente ao redor do restaurante, a circular pelo lago marginado de flores até a sombra de uma amoreira. A descontração foi sendo substituída pela ternura com eles ao comerem amoras e recordarem seus tempos de crianças. Enquanto ela apoiava-se nas pontas dos pés para alcançar os galhos da árvore com amoras mais maduras, ele ficava admirando a graça daqueles movimentos femininos. Nas gentilezas mútuas acercaram-se mais para ele poder com as pontas dos dedos, limpar os cantos dos lábios dela manchados da cor de amora e confundidos com a cor de batom. Ao deslizar os dedos pelos lábios dela seus olhos se fixaram como se estivessem hipnotizados. Vagarosamente ele envolveu o rosto dela com as mãos, atraiu-a para si e beijou-a demoradamente. Igual a sentir-se despencar num precipício, bruscamente ela desvencilhou-se dele e dirigiu-se ao automóvel com ele no seu encalço. No carro ela ainda tentou lembrá-lo de suas responsabilidades:
--Meu Deus! O que fizemos! Não pode ser, PARE, PARE, PARE! Mas, suas repreensões foram interrompidas com beijos e mais beijos e com o carro em movimento trafegando em zig-zag entraram no primeiro motel que encontraram.

Depois dessa confidência teve início este diálogo:
--Este caso conforme lhe contei interferiu com a minha paz.
--Por que? Você apaixonou-se pelo amigo do seu marido?
--Não! Nem ele por mim.
--Então qual é o problema?
--É que não consigo mais encarar o meu marido.
--É mesmo não? Deve ser difícil você beijá-lo pensando “querido você é corno, mas eu te amo” ah, ah, ah, ah.
-- Não brinque, pois, é muito sério e eu estou com remorsos.
--Então, pra ficar elas por elas, prepare uma oportunidade igual essa que você teve, para o teu marido e a esposa do amigo dele.
--Você ficou louco? Eu mataria os dois.
--Agora entendi, não é remorso o que você sente. É medo. A reação dele poderia ser igual a que você disse que teria. Mas, não dizem que os direitos são iguais?
--Não, você está confundindo, comigo foi um acidente.
--É mesmo, um acidente tão gostoso. Esqueça tudo. Que os beijos, o motel e as amoras fiquem apenas na história. É a única solução. Que mais você pode fazer?
--Acho que você tem razão. Foi bom desabafar contigo que é um bom amigo.
E eu depois fiquei a pensar: Hoje fui compreensivo, solidário. Afinal amigos são para essas coisas, para essas horas... SOCORRO! Que vontade de comer amoras. TAMBÉM QUERO, TAMBÉM QUERO!

Altino Olímpio

Leia outras matérias desta seção
 » A solução
 » No mundo existem crédulos e incrédulos
 » Joana d’Arc (1412 – 1431)
 » Foram tempos de fascinação
 » Não vou, é muito longe
 » Somos acúmulos do que mentalmente recepcionamos
 » Quando a vida é bela ou cor de rosa?
 » Reflexões 
 » Só sei o pouco que sei e mais nada
 » Conversa entre amigos do antigo Orkut
 » O “me engana que eu gosto” é sempre atual
 » A mulher do ai, ai, ai
 » Quando nós seremos nós mesmos?
 » Viver muito cansa?
 » A aventura de viver
 » Esquecidos, o céu, o sol e a lua 
 » Uma lembrança que a memória não esqueceu
 » Tempos felizes de molecagens
 » A importância da vida
 » O destino

Voltar