Não é para o jornal Como era bom catar goiaba
No bairro da Fábrica de Papel de Caieiras onde proliferavam os pés de abacate e em abundância também os pés de goiaba, a molecada tinha as suas incumbências diárias, como rodar pião, jogar malha, empinar papagaio, jogar bola e etc. às vezes eu me afastava dessas tarefas porque tinha algo diferente para fazer. E lá ia eu com um amigo catar goiaba no mato e para isso levava um grande saco além do próprio. Que fartura de goiabeiras existia pelas matas daquela região! Estavam lá para o ‘bel prazer’ dos pássaros e para quem ousasse enfrentar cobras e lagartos, picão e carrapatos.
Não demorava muito e já ficávamos com o saco cheio. Na volta para casa desse sacrifício ecológico de catar goiaba o meu saco me atrapalhava. Repleto de goiaba quase até a boca (boca do saco) meu saco pesava muito. Às vezes me sentia aliviado quando encontrava alguém e esse alguém, solícito, levava meu saco pelas costas por um bom tempo. Vez ou outra me encontrava com mulheres e pelo forte cheiro sabiam que eu tinha ido catar goiaba. Eu com o saco cheio e elas não se conformavam com o tamanho do meu saco.
Algumas até queriam apalpá-lo e eu sentia muito prazer em deixar. O mesmo acontecia com o amigo que foi comigo. Daí, quando eu chegava em casa com as goiabas minha mãe quase desmaiava ao ver meu saco cheio, inchado e reclamava: menino sem juízo, exagerado, não vou conseguir fazer tanto doce de goiaba assim.
Vá lá à casa da vizinha e mostre teu saco para ela que sei que ela gosta e difícil é mulher que não goste. Menino obediente corria na casa da vizinha e lhe falava: Se a senhora gosta de goiaba pega aqui no meu saco. Agradecida ela falava: Menino bom, meu marido também catava goiaba e agora como ele está meio velho e o saco dele está sem uso. Daí eu voltava para casa e a mãe já estava com as goiabas na caçarola ao fogo do fogão a lenha. Demorava um pouco e logo começavam a ferver e era preciso ficar mexendo para as goiabas não grudarem no fundo da caçarola, mas, não com colher de metal. Minha mãe sabia que meu pai tinha um pau grande bom para mexer com ele e pedia para eu ir buscar. E eu falava para minha mãe que também tinha um pau para mexer, mas, ela dizia que era muito pequeno. Então, com o pau do meu pai ela ficava mexendo bastante tempo. Aquela fervura fazia com que as goiabas dissolvidas borbulhassem e estourassem “puf, puf, puf”.
Quando o doce ficava no ponto a mãe colocava-o numa grande tigela e demorava para esfriar. Assim é que tínhamos doce de goiaba para vários dias. Mas, quem foi mesmo que comeu o doce ainda quente e ficou uma semana com disenteria, diarreia? É... Bons tempos que não voltam mais. Nesta época as crianças... ah deixa para lá.
Altino Olímpio