18/04/2008
Pesadelo



“Pai perdoai-os, pois, eles não sabem o que fazem”. Perdoa-me também por durante muito tempo da minha vida ter sido tão distraído comigo mesmo e vivido inconsciente dos sofrimentos humanos. Tendo sido assim, não lutei para me instruir adequadamente e conseguir uma condição ou posição pela qual pudesse exercer, pelo menos em parte, uma autoridade esclarecida e contundente contra os desvarios humanos. Nossos meios de comunicação mais populares parecem ter a incumbência de destruir nossas indignações usando-as como destruidoras de si mesmas. Com a perda da capacidade de se indignar o povo se torna indiferente às atrocidades humanas e para piorar, muitos já necessitados delas como seus entretenimentos psicológicos se tornam coniventes com elas desejando-as. Quando há interesse conjunto com o distrair e o aprisionar das atenções, as indignações são exaltadas e promulgadas como comoção geral do país. Isso é mentira, pois, a comoção imposta mais encontra guarida nos desguarnecidos de importâncias para se entreter. São os mais merecedores da comoção por eles.

Mês de abril do ano dois mil e oito, as divulgações foram sobre uma menina de cinco anos, que, foi jogada por uma janela e do sexto andar de um prédio. As notícias constantes e ininterruptas sobre o fato e o interesse pela seqüência e esclarecimento do fato por uma parcela da população comovida realçou sua propensão a facilmente ser conduzida para fatos isolados. Coincidentemente, quantas crianças não estiveram sendo vítimas dos mesmos ou piores horrores inimagináveis praticados por seres adultos e os mesmos não foram enfatizados? Existe horror maior do que crianças esqueléticas vítimas da fome e já agonizantes como aquelas que o mundo as esqueceu de amparar nos paises da África e mesmo por aqui? Para os ainda sensíveis de verdade, comoção mesmo é um pai e uma mãe vendo um filho partir com um desconhecido que o comprou porque eles não podem criá-lo. Se as dores humanas de verdade fossem compartilhadas, a humanidade também seria uma verdade.

Existe um esforço condicionador para que o povo se embriague com as desgraças alheias e se esqueça das próprias. Na verdade não existe povo quando ele é entendido como união. Povo significa habitantes de um país mentalmente separados entre si pela distorção dos valores a que estão expostos. Para os que ainda tem o poder da visão, fotografados estão por ai sucumbidos pela devassidão, os antigos e agora até retrógrados nobres ideais de conduta humana. A liberdade de expressão pendurada na democracia pratica com liberdade a pressão no formar opinião nos incapazes das próprias. Como já disseram “a repetição é a maior forma moralizadora (ou ao contrário) de um povo”. Nisso somos privilegiados. De repetição em repetição vamos sendo “moralizados” e por isso ninguém mais vai conceituar, aprender e praticar horrores iguais aos que assistem (até parece). Os meios de comunicação na nobreza humana a ninguém quer deixar desinformado e só os que ficam deformados não entendem essa missão educadora.

 

Altino Olímpio

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