20/05/2008
O Pensador


Qualquer pessoa ao ler este “fato” acompanhando-o como se fosse próprio, melhor conseguirá entendê-lo.

Sentado na cama com os pés no chão, cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos envolvendo o queixo suportavam a cabeça como para olhar para dentro de si. Na penumbra a magia da noite com seu silêncio pareciam não existir sendo apenas uma fronteira entre o estar sem se estar para o interlúdio do pensador. Olhar sem olhar fixo para fora no voltar-se para o interior olhar visões íntimas, que, o mundo de cada um tem e as mesmas, no interior olhar igual ninguém tem.

Como estando perdido viu-se caminhando no emaranhado de uma mata. Parecendo estar nadando, suas braçadas afastavam a verde vegetação que com seu frescor se opunha à sua passagem. Teias de aranha se desfiguravam ao ficarem coladas em seu rosto. A vegetação mais rasteira parecia querer amarrar suas pernas com seus ramos longos como cipós com espinhos a perfurar o tecido de sua roupa e se grudar nela. À sua frente, o sol furando as copas das altas árvores escrevia riscos verticais de luz.

Finalmente uma pequena clareira. Era o preenchimento verde da mata sendo uma trégua num espaço vazio sem o verde dela. Ainda não tinha entendido o significado de sua caminhada solitária até que... Ele viu o menino na clareira! Ele viu o menino e a emoção lhe tomou conta. Silenciosamente se entreolharam demoradamente. A natureza emudecida e em júbilo testemunhou a dimensão do tempo entre o passado e o presente. Do menino ao homem e do homem ao menino. O olhar do menino para o homem era de curiosidade, de interrogação e de incógnita. Do homem para o menino não, seu olhar para ele foi de fascínio. Ele viu o estágio do menino na ignorância de quem e como ele viria a ser em sua maturidade. Com a atenção no menino o homem se reviu em sua trajetória de vida até aqueles momentos da clareira. Ele tinha aquele menino dentro de si e o menino ainda era desconhecido disso, entretanto, os dois eram os mesmos, os dois eram um só.

Nessa circunstância mental quando o homem de si projetou a imagem do menino que foi, ele esteve revivendo a seqüência de situações que resultaram na sua condição social atual e no seu desenvolvimento intelectual. A frase “nós somos o que fomos” indica o percurso de nossa idiossincrasia, isto é, nossa maneira de ver, sentir e como reagir aos esperados ou inesperados fatos a se sucederem em nossa vida. O que fomos é o nosso condicionamento. O que somos são as nossas reações sujeitas a ele.

De volta ao quarto agora com o pensamento sobre onde está, sentado na cama, depois da lembrança de como foi e que culminou no que é, o pensador se sabe singularizado no seu “ver o mundo” e como se vê nele. A “viajem” daquele menino até ao homem foi um rebuscar do itinerário percorrido entre eles terminando onde e como o homem é hoje. Todos tiveram seus itinerários e as diversidades deles é o que nos torna diferentes. Sendo assim estamos sozinhos no que somos e nisso está o sentimento de tolerância por outros quando somos incompreendidos por eles.

Altino Olímpio

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