05/10/2013
A profundidade de Krishnamurti.

Texto de Ana Elizabeth Diniz com algumas alterações e acrescido de comentários em negritos.

Jiddu Krihnamurti nasceu em maio de 1895, na Índia. Foi educado dentro da Sociedade Teosófica e tratado como veículo para encarnação do Messias, do Bodhisatwa Maitreya. Para isso, foi colocado como chefe da Ordem da Estrela do Oriente. Em agosto de 1929, aos 34 anos, dissolveu a ordem, saiu da Sociedade Teosófica e seguiu seu caminho único. Seguiu percebendo e sustentando o que ele chamou de "verdade" com total compromisso e integridade. Por mais de 56 anos, viajou pelo mundo. Morreu em fevereiro de 1986, aos 90 anos, na Califórnia. Há quem diga que ele é aquele que foi anunciado.
Comentário: Parabéns a ele. Queriam que ele fosse um messias, um guru mundial, mas, ele, nada tendo de ilusão, de superstição, de vaidade, de mentiras, preferiu banir da mente de seus seguidores que ele era o escolhido como orientador das mentes pequenas e sendo assim rompeu com a Sociedade Teosófica dissolvendo seus seguidores.

A essência dos ensinamentos de Krishnamurti está contida na declaração feita por ele em 1929: A verdade é uma terra sem caminho. O homem não chegará a ela através de organização alguma, de qualquer crença, de nenhum dogma, de nenhum sacerdotal ou mesmo de rituais, nem através de nenhum conhecimento filosófico ou técnica psicológica. Ele vai encontrá-la através do espelho do relacionamento, através do entendimento dos conteúdos de sua própria mente, através da observação, e não através de análise intelectual.
Comentário: Verdade seja dita. Até agora ninguém encontrou a verdade pelos caminhos dessas instituições tidas como sendo proprietárias da verdade. Até hoje estão tateando pelas dúvidas. E, nas suas certezas são duvidáveis.

Em 1980, Krishnamurti escreveu: O ser humano não pode construir imagens dentro de si mesmo, como uma cerca de segurança - religiosa, política, pessoal. Elas de manifestam como símbolos, idéias, crenças. O peso dessas imagens domina o pensamento humano, seus relacionamentos e sua vida diária. Essas imagens são as causas de nossos problemas porque elas separam as pessoas umas das outras. A sua percepção da vida é moldada pelos conceitos já estabelecidos em sua mente. O conteúdo de sua consciência é a sua consciência total e isso é comum a toda humanidade. Na forma e na cultura superficial que o homem adquire da tradição e do meio ambiente. A singularidade do homem não se encontra no superficial, mas na completa libertação dos conteúdos de sua consciência, comum a toda humanidade.
Comentário: Libertar os conteúdos superficiais da consciência não é fácil. O ser humano precisa saber e entender que eles são superficiais para poder substituí-los ou considerá-los irrelevantes para dominar os seus pensamentos em seus relacionamentos evitando assim desgaste inútil de energia mental.

Krishnamurti dizia que a liberdade não é uma reação, nem tão pouco uma escolha. É pretensão do ser humano achar que, por ter escolha, ele é livre. A liberdade é pura observação sem direção, sem medo de punição e recompensa. Pela observação, a pessoa começa a descobrir a falta de liberdade.
Comentário: Nem no pensamento somos livres. Estamos abarrotados de tantas informações e são raras as que de fato nos interessam. Nós pensamos o que o sistema vigente quer que pensemos e nisso todos se igualam e não percebem. Mais livres do que nós são os cegos e os surdos.

Para Krishnamurti o pensamento é tempo. O pensamento nasce da experiência e do conhecimento que são inseparáveis do tempo e do passado. Nossa ação é baseada no conhecimento e, portanto, no tempo. Assim, o ser humano é sempre escravo do passado.
Comentário: Todos nós somos escravos do passado. Se apagassem nossos passados neste presente não saberíamos quem somos. Tudo que precisamos analisar ou avaliar depende de nossas experiências ou condicionamento e condicionamento é passado. Infelizmente, nossas experiências e nossos condicionamentos nem sempre condizem com as realidades atuais pela falta de adaptação. Nós nos confortamos com o que já é ou com o que já foi em detrimento, ou desprezo com o que está sendo na atualidade em que se vive. Daí o dizer de Krishnamurti que os seres humanos são escravos do passado.

Em Madras, em 1947, aqueles que tinham contato com o homem Krishnamurti e com a essência de seus ensinamentos estavam perplexos com o fato de ele ter sido anunciado pela Sociedade Teosófica como sendo o Messias e o instrutor do mundo e ter renunciado a esse papel. Krishnamurti tentou responder a essa questão contando uma história: "O diabo e um amigo estavam passeando quando viram, a sua frente, um homem abaixar-se e pegar algo brilhante do chão. O homem olhou para aquilo com deleite, colocou-o no bolso e continuou caminhando”. O amigo perguntou: "O que aquele homem achou que o transformou tanto?" O diabo respondeu: "Eu sei, ele encontrou a verdade." "Por Deus!"- exclamou seu amigo: "Isto deve ser um mau negócio para você!". "De jeito nenhum"- o diabo respondeu com um sorriso malicioso: "Vou ajudá-lo a organizá-la, você vai ver só!"
Krishnamurti indaga: "Pode a verdade ser organizada? Você pode encontrar a verdade através de uma organização? Elas estão baseadas em diferentes crenças. Crenças e organizações estão sempre separando as pessoas, excluindo umas das outras. Você é um hindu e eu sou um mulçumano, você é um cristão e eu sou um budista. Crenças, ao longo de toda a história, atuaram como uma barreira entre os seres humanos. Nós falamos de fraternidade, mas se você tem uma crença diferente da minha, estou pronto para cortar sua cabeça; nós temos visto isso acontecer inúmeras vezes”.
E prossegue; "A experiência de Deus deve ser experimentar por si mesmo. Ela não pode ser organizada. No momento que é organizada, propagada, ela cessa de ser verdade, ela se torna uma mentira. O real, o imensurável, não pode ser formulado, não pode ser colocado em palavras. O desconhecido não pode ser medido pelo conhecido, pela palavra. Quando você o mede, ele cessa de ser verdade, deixa de ser real e, portanto, é uma mentira". 

                                                                                                                Altino Olympio

 



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