07/06/2016
A centenária substituição populacional

A centenária substituição populacional

Quem chega próximo da fase terminal da vida tem muito de seu passado registrado na memória. Ainda mais se na infância, mocidade e maturidade viveu num lugar ou cidade pequena onde conheceu a todos de lá. Nem precisa fechar os olhos para “rever” as ruas que quiser e as pessoas que ainda consegue se lembrar. Passear com a mente pelas ruas e vilas donde se viveu e “rever” todas as casas e todas as pessoas de então e que já morreram, essas recordações causam reflexões sobre a vida e a morte.

Quantos e quantos conhecidos morreram e já no esquecimento parece que nem existiram, embora, na mesma época conosco conviveram? Se uma pessoa perguntar para outra se ela desde a infância até estes dias se lembra das pessoas que partiram, dentre muitas só de poucas ela vai se lembrar, e mesmo assim, das mais recentes. Nem de seus avôs muitos não se lembram a não ser quando lhes perguntam sobre eles.

Em outubro de 2011, conforme noticiado, a população do mundo atingiu a quantidade de sete bilhões de pessoas. Dessas sete bilhões de pessoas quantas ainda estarão vivas daqui a cem anos, em 2111?  Não muitas. Entretanto, outros sete bilhões, ou mais, ou menos, estarão substituindo os sete bilhões que existiam em 2011. Simples, não? Então, nesse cálculo variável, “mais ou menos” a cada cem anos toda a população mundial é substituída. Ninguém perde tempo em pensar nesse ciclo de vida de cem anos que se repete. Nem no ciclo passado e nem no ciclo futuro. Todos se restringem a pensar no ciclo em que estão vivendo.

Alguma pessoa já se imaginou no seu desaparecimento, no seu esquecimento, naquele não ter existido para as pessoas do ciclo depois do ciclo dela que terminou? Isso provoca um vazio antecipado e melancólico. Uma pessoa nesse pensamento desconfortável, o de estar esquecida, desaparecida num ciclo de vida que ficará no passado, será que ela reflete se seus valores foram úteis para o seu viver? Suas verdades e as que lhes inculcaram seriam de fato reais para persistirem nos próximos ciclos? 

Se nós sabemos do fato de sermos efêmeros e que logo deixaremos esta vida para sermos esquecidos, desaparecidos, isso não deveria diminuir o nosso grau de importância? Nossa importância vai ter o mesmo grau de importância tida por aqueles que viveram nos ciclos passados. Onde estão eles e as importâncias deles? Sempre vemos pessoas envolvidas por demais em suas realizações materiais como se fossem usufruí-las para sempre. Suas vidas passam como se elas não tivessem vivido o prazer de viver.

Antigamente, sem a tecnologia e o conhecimento de hoje de como é infinito o universo com suas galáxias, acreditava-se que a terra era o centro dele. Por isso, o homem pensava-se numa posição privilegiada como se o universo existisse para ele. Mesmo hoje, devido a sua autoimportância e por causa de sua religiosidade, o homem também pode pensar que a terra “foi feita” para ele e não ele para ela. Quando à noite olhamos para cima e vemos pontos brilhantes, eles são estrelas, planetas e galáxias distantes, muito distantes. Nessa constituição cósmica com astros infindáveis, o homem teria sido previamente programado para existir num deles, assim como existe aqui neste “nosso” astro? Programado por que e por quem? As concepções para isso remontam lá pelos tempos hebraicos anteriores ao advento do cristianismo. Agora em 2016 estamos no ano 5777 judaico.

Ainda prevalece nos meios cristãos a crença de um Deus único concebido pelos judeus, o regente de todo o universo. Deles veio à concepção de como esse Deus criou o homem para reinar sobre as criaturas inferiores. Também partiu da concepção judaica a existência de um mundo imperceptível para a sensibilidade humana, aonde, depois da morte do corpo todas as almas sendo eternas terão onde “morar”. Crença também copiada pelos cristãos.  Não importa se por dedução, intuição, inspiração ou “contato” os homens sempre tiveram a audácia de acatar, relatar e dogmatizar fatos nunca prováveis para suas épocas e para a posteridade, apelando para serem “comprovados pela fé”.

Os homens, de tempos a tempos eles morrem e outros nascem como para substituí-los, como descrito acima sobre os ciclos de mais ou menos cem anos. Enquanto muitos morrem, muitos outros nascem e nada no universo se altera. Na terra tudo que vem a existir deixa de existir, árvores, aves, animais, insetos, peixes e etc. inclusive o homem enquanto ela, a terra, permanece existindo. Agora num pensamento insólito, a terra sendo um astro, ele é parte do universo. O homem é apenas uma derivação dele. Pergunta-se, qual dos dois é o mais importante perante o cósmico? O astro. Perante o modo humano terreno de pensar qual dos dois é mais importante? O homem. Nosso astro, a terra, ela não pensa, não fala. É inconsciente.

Entretanto, no universo a existência de criaturas vivas não parece ser-lhe prioridade e nem ser-lhe necessidade. Com distâncias inimagináveis entre conglomerados de bilhões de estrelas, estas, tendo planetas circulando ao seu redor, mais o universo é imensurável na imensidão sem fim de seus corpos espaciais. Por enquanto, como ainda se sabe só na terra abundam criaturas com vida com a predominância da dos homens. Sobre eles teve início este texto sendo eles de uma população mortal para de tempos a tempos ser substituída por outra, e assim, sucessivamente.  Aqui chegamos ao fim e a intenção foi só mesmo de provocar reflexões sobre nós mesmos e sobre qual é a nossa relação para com o universo e sobre qual é a relação dele para conosco. Se alguém souber eu gostaria de saber também.

                                                                        Altino Olympio 



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