23/08/2017
O tubinho branco

Eu tenho um amigo, que conheci quando tinha 18 anos e ele 21.

Na verdade, na época ele era meu chefe. Fui selecionada para uma vaga de secretária de contabilista e creio que foi pela minha resposta franca que me escolheu.

Quando perguntou o que eu sabia fazer, naquela área, eu respondi: “- Posso saber muito e posso não saber nada, mas consigo aprender se você estiver disposto a me ensinar”.

E assim consegui o emprego. Com muita paciência, ele foi me preparando para uma profissão, que mais tarde exerci muito bem em outras empresas que trabalhei.

Nos meus sonhos de adolescente, eu imaginava que um dia iria encontrar o príncipe encantado, e assim, para mim ficou fácil levantar cedinho, encarar um ônibus lotado e depois subir uma ladeira íngreme até achegar onde ficava o prédio da empresa, pois lá estava aquele homem lindo me aguardando... Nos meus sonhos, é lógico, pois ele me tratava como a uma bonequinha de louça, e nem podia imaginar que para mim ele era um príncipe que não veio num cavalo branco, mas sim num “fusquinha azul”...

Fomos aos pouco nos conhecendo melhor e eu adorava trabalhar com ele que tinha um excelente humor, me fazendo rir sempre de suas palhaçadas principalmente quando fazia caretas por trás de nossos patrões.

Às vezes, geralmente de segunda feira, ele chegava de mau humor, mas sua cara feia não me assustava muito.

Como era muito bonito, e sabia disso, usava todo o seu charme com as mulheres que viviam telefonando, e muitas vezes não querendo atende-las, me fazia arrumar uma desculpa esfarrapada para as coitadas descartadas. Já havia um código, dependendo do nome da mulher ele fazia um sinal, e eu ia logo despachando a tal.

Ele era um tanto desastrado, como todo homem grande, e às vezes esbarrava nas coisas e as derrubava, o que me fazia rir muito...

Tinha o hábito de encostar a cadeira que sentava, na parede, para ficar mais confortável (naquela época não existiam as cadeiras anatômicas para escritório como hoje) e eu, quando o via fazer isso pensava que qualquer dia aconteceria um desastre, afinal o piso era muito liso, e naquele tempo se passava cera para ficar brilhando.

E não deu outra...

Um dia escutei um tremendo barulho e saí correndo para a sala dele, quando entrei não o vi esparramado no chão embaixo da mesa, mas na hora que ele conseguiu levantar, emergiu apenas a cabeça, e me olhando fixamente nos olhos disse: “Se você rir está despedida”!

Imaginem a minha cara tentando disfarçar a gargalhada que estava entalada na garganta. Saí dali correndo e ao chegar à minha sala, desatei a rir sem parar enquanto ele gritava: “Estou ouvindo! pare de rir”.

Ainda agora contando o caso, o riso chega espontaneamente.

Era muito bom trabalhar com ele.

Entre trabalho e faculdade ele ainda gostava muito de ir aos bailes da época.

Foi num sábado desses que ele avistou uma garota bonita e tentou quase a noite toda tira-la para dançar, mas apenas por volta das 3 da manhã, quase no final da noite, ela resolveu aceitar o convite dele.

Apesar de ser uma noite muito quente, ele colou o seu corpo no dela, que estava com um vestido tipo tubinho branco, um modelo reto sem curvas, sendo que entre os dois corpos não havia espaço nem para pensamentos, e ele se aproveitando de sua altura, olhava pelo decote generoso que havia nas costas dela, vendo o corpo todo, até a calcinha branca que ela usava.

Foi nesse momento, que a tal moça, soltou um “torpeido maligno”, e um fedor horrível foi subindo decote acima até parar nas narinas do meu pobre e estupefato amigo...

Acabava naquele momento a noite romântica que ele achou que teria, pois o ‘Junior’, que já estava todo alegrinho, desceu ladeira abaixo e não levantaria mais. E a mocinha, não satisfeita com o resultado de sua atitude fétida, ainda olhou na maior ironia para a cara de meu amigo e disse: “Seu Porco”...

Além de sentir o cheiro ainda levou a culpa da moça cara de pau.

Ele levou algum tempo para se recuperar dessa noite...

Anos mais tarde, já um Doutor, trabalhando num serviço público federal, rodeado de mulheres bonitas e poderosas, ele se encantou por uma auditora, mas que nem olhava na direção dele.

Encontravam-se todos os dias na hora do almoço na porta do elevador, e ele fazia de tudo para chamar sua atenção, mas não conseguia nada.

Até que depois de bastante tempo, um dia, ela segurou a porta do elevador e perguntou: “o Dr. vai descer?”

Ele ficou tão atordoado pela musa lhe dirigir a palavra, que até se engasgou para responder...

Entraram no elevador onde havia mais 6 mulheres e apenas ele de homem.

Foi então que alguma delas soltou... na moita... um “torpeido maligno”, e aí veio a tragédia... Todas se viraram para ele com olhar de acusação pelo mal feito!

À tarde, o prédio inteiro já sabia que ele tinha “torpeidiado” na cara delas!

Mas o que mais o deixou revoltado, foi o fato da tal moça, dizer a uma colega em comum que estava disposta a sair com ele, mas depois disso...

Meu pobre amigo não se recuperou até hoje!

Tadinho.

Selma Esteticista 



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