26/03/2018
Cinema paradiso de Caieiras

Para quem de Caieiras tendo vivido lá no passado de quando ainda existiam as casas dos funcionários da Indústria Melhoramentos de Papel e se lembram dos cinemas que existiram, um no Bairro da Fábrica de Papel, outro no Bairro de Caieiras e outro na Vila Cresciuma, se assistiram ao filme “Cinema Paradiso” nalgum cinema ou pela internet, foi inevitável o se recordar daqueles tempos de quando Caieiras da Indústria Melhoramentos e seus cinemas ainda existiam. Mais moderno era o cinema da Vila Cresciuma. Tinha nome, Cine Santo Antonio (?), seus assentos eram mesmo assentos de cinema e os filmes não eram interrompidos durante suas exibições. Os cinemas do Bairro de Caieiras e do Bairro da Fábrica eram iguais no conforto oferecido aos seus frequentadores, bancos de ripas de madeira para acomodarem umas quatro pessoas cada um, construídos, acredito, na carpintaria da Indústria Melhoramentos. Nos lugares onde não havia bancos cadeiras comuns completavam a quantidade de assentos.

Os cinemas do Bairro da Fábrica e do Bairro de Caieiras tinham uma especialidade em comum. Eram o apagar e o acender das luzes que interrompiam a projeção do filme. Quando o Johnny Mack Brown o “mocinho” dos filmes de far West (faroeste) estava a cavalo perseguindo bandidos, estes, também à cavalo atiravam para trás no mocinho que se desviava das balas se abaixando sobre o cavalo. Que raiva, as lâmpadas do cinema se acendiam, o filme se interrompia e era preciso aguardar uns cinco ou mais minutos para o filme recomeçar e para se saber se o mocinho conseguiu se desviar de todas as balas de revolver que atiravam contra ele. Nas cenas românticas também, quando o artista ia beijar a artista as lâmpadas se acendiam e era preciso esperar vários minutos por um beijo que iria emocionar e provocar desejos de beijar também em quem tinha ou não tinha alguém para beijar. E quando o filme terminava e a gente voltava para casa... Como a gente sonhava em ter alguém para amar e ser amado.

Na primeira vez que fui ao cinema, garoto ainda eu fui levado pelo meu irmão mais velho que já era moço. Quando na tela do cinema apareceu um avião com o barulho dos seus motores eu gritei: Wartê, oia o vinhão. Lembro-me, várias pessoas riram “de mim”. Sempre que o filme terminava e as luzes se acendiam, se via papeis de bala e muitas cascas de amendoim ficavam espalhadas pelo chão. Será que naqueles tempos já se conhecia o efeito Viagra dos amendoins? Durante o passar do filme se ouvia bastante os cracs, crocs do quebrar das cascas deles.

No Bairro da Fábrica quem projetava os filmes era o Senhor Pedro de Assis tendo como auxiliar o Moacir Gomes. Quando eu já era “mais grande” o meu amigo Zé Polato estava comigo no cinema. Ouviu-se algum zum-zum da platéia como que aguardando por algo já esperado e o Zé me perguntou: O que vai acontecer, vai ter briga? Respondi-lhe que não, no filme o Vicente ia cantar “O ébrio” e como eu já tinha ouvido aquela música, baixinho cantei um trechinho dela pro Zé: “Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer, aquela ingrata que eu amava e que me abandou. Apedrejado pelas ruas eu vivo a sofrer. Não tenho lar e...”. Essas lembranças ainda me permanecem.

Quem ficava na entrada do cinema para receber os “bilhetes” de ingressos era o também muito conhecido Senhor Antonio Siqueira. A porta de entrada do cinema era espaçosa. Ficavam abertas durante o passar do filme, mas, duas partes da cortina daquela porta, de cor vermelha, se é que me lembro, ficavam fechadas. Quando o filme já havia começado, não só eu, mas várias vezes para assistir trechos do filme e de graça, eu colocava meu rosto entre as duas partes da cortina e ficava vendo o decorrer dele na tela que ficava próxima e ao lado da entrada donde eu ficava. E o Senhor Antonio Siqueira, embora sendo um senhor bem educado “suavemente” me dava bronca acrescentada de um sermão só porque eu estava infringindo a honestidade e a moral por querer ver o que eu não tinha pagado para ver.

Por que as luzes se acendiam para interromper o passar do filme? É porque só havia uma máquina de projeção. Assim que o rolo do filme terminava de se desenrolar, era preciso enrolá-lo novamente. Consequentemente isso interrompia a exibição do filme. Nos cinemas mais modernos tendo duas máquinas ou dois projetores cinematográficos, assim que terminava o desenrolar do rolo do filme num projetor, o outro projetor imediatamente dava sequencia com o rolo seguinte do filme sem interromper a projeção dele. Aquele acender das luzes de outrora no cinema da minha juventude até que era bom. Na claridade eu podia olhar para as mocinhas que eu gostava e que estavam presentes. Elas nunca souberam que eu gostava delas. Depois do cinema e já estando no leito para adormecer, o filme continuava na minha mente, mas, eu era o artista e elas eram minhas namoradas. Eu as amava e elas me amavam (risos). The End.

Quem não assistiu ao filme “Cinema Paradiso” e quer assisti-lo, é só acessá-lo através do link aqui abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=12exqRHWSyg

 

Altino Olympio



Leia outras matérias desta seção
 » Opiniões ou conclusões impopulares
 » Turismo na UPA de Perus
 » A solução
 » No mundo existem crédulos e incrédulos
 » Joana d’Arc (1412 – 1431)
 » Foram tempos de fascinação
 » Não vou, é muito longe
 » Somos acúmulos do que mentalmente recepcionamos
 » Quando a vida é bela ou cor de rosa?
 » Reflexões 
 » Só sei o pouco que sei e mais nada
 » Conversa entre amigos do antigo Orkut
 » O “me engana que eu gosto” é sempre atual
 » A mulher do ai, ai, ai
 » Quando nós seremos nós mesmos?
 » Viver muito cansa?
 » A aventura de viver
 » Esquecidos, o céu, o sol e a lua 
 » Uma lembrança que a memória não esqueceu
 » Tempos felizes de molecagens

Voltar