08/05/2012
A canção que prometi

Nunca fui de prometer coisas e não cumprir. Pelo menos tenho tentado ser assim por toda minha vida, afinal esta foi uma das lições ensinada pelo meu pai. Só prometer aquilo que se pode cumprir para não passar vergonha depois.

            Tive o privilégio de ver o movimento da “Jovem Guarda” nascer, prosperar com exuberância e morrer aos poucos – o que foi uma pena - pois este movimento nos transportava para um mundo de liberdade e fantasia, sem medo de ser felizes. Foi um marco importante na vida de qualquer jovem daquela época. Jovens estes que hoje estão beirando sessenta anos.

            A onda jovem era tão eloqüente e contagiante ao ponto de muitos de nós sonhar em ser cantor ou compositor, inclusive este que vos escreve. Meu ídolo maior era Roberto Carlos. Suas canções românticas tocavam fundo nossos corações - “Só quero que você, me aqueça neste inverno e que tudo mais, vá pro inferno”.

            Com dezesseis anos de idade prometi que faria uma música para uma amiga da minha pequena Ibaté. Apesar de ser um pouco mais velha que eu, não posso negar ser ela, uma das minhas musas. Claro que nosso flerte, se é que houve, não passou de admiração mútua, pois éramos bastante reservados e respeitadores - como se dizia na época. Não tinha esta de “ficar”, ou se namorava sério ou simplesmente ficávamos “a ver navios” !

            Depois de quase um ano entre a composição e a partitura, esta, aliás feita por um competente pianista e paga às “duras penas” por mim, finalmente estava pronta a encomenda de minha querida amiga – Nelsia Terezinha Fraige. Hoje uma avó coruja e muito bem casada. Detalhe importante: ela detesta a “Terezinha” do seu nome, exatamente por isso fiz questão de constar - amigo tem direito ao atazanamento vez ou outra.

            Os recursos eram parcos, mas a vontade de ver uma música minha participando do primeiro festival da música popular de S.Carlos, era grande. Graças à benevolência do saudoso amigo prefeito - Nelson Rodrigues – os amigos foram me prestigiar na vizinha cidade de S.Carlos, acomodados numa velha jardineira cedida pela Prefeitura. Torcida, portanto teve de sobra, talvez tenha faltado compositor.

            Eu era pretensioso, e confesso que não gostei muito quando o locutor anunciou: em terceiro lugar foi classificada a música - “A canção que prometi”, de Osvaldo Piccinin, interpretada por Rubens Maciel. Apesar desta belíssima classificação, eu sonhava mesmo era com o primeiro lugar.

            Só algum tempo depois, já na faculdade, é que pude refletir o quanto aquele prêmio foi importante, pois consegui provar a mim mesmo, em plena puberdade, que eu era capaz de fazer muito mais. Esta ousadia foi um “divisor de águas” em minha vida -, ganhei confiança e passei a acreditar mais no poder do pensamento positivo e lutar pelos objetivos que se almeja alcançar na vida.

            “Hoje de manhã apanhei meu violão, pensando em você, eu encontrei inspiração”, assim era o começo do meu pretensioso samba, interpretado por um cantor e quatro mulatas fazendo coro e coreografia. Foi emocionante, e eu mal podia acreditar que era minha aquela “obra prima” aplaudida em pé pela platéia.

            “Pois isso é tão verdade que os passarinhos em seresta, cantaram um coro em festa – a canção que eu prometi. Agora meu bem estou em paz, minha promessa eu cumpri, não lhe devo nada mais”. E  assim terminava minha primeira e única página musical.

            Só lhe devo carinho e amizade querida amiga!

            E VIVA A PÁTRIA!

            [email protected]

 


Osvaldo Piccinin

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