26/01/2023
Bonjour Caieiras

Edna filha de Caieiras radicada na França a décadas, passa a escrever para o Jornal.BENVINDA CAIEIRENSE ILUSTRE

1952. Muito feliz por ter nascido na década de 50, após a Segunda Guerra Mundial e mais ainda por ter visto a luz do dia em Caieiras, na Fábrica de Papel, na segunda casa da Rua Vila Nova, vizinha da Dona Lucinda e do Sr. Vitório Olímpio. Ele tinha uma enorme motocicleta preta, com barquinha do lado. Era impressionante no olhar de uma criança cujo pai não tinha nem bicicleta

Na minha família era uma espécie de tradição andar a pé . Caminhar pelos pinheirais, explorar a natureza, catar pinhão, goiaba, amoras. Para as pitangas era mais difícil. Lembro-me muito claramente da árvore já grande num ângulo do jardim do "seu" Vitório, mas eu tinha medo de pedir. Quando brincava um pouco na rua, às vezes pela cerca de arame, conseguia roubar algumas, discretamente.

Minha mãe dizia que meu nome, original para a época, foi uma sugestão da Jurema, uma das filhas da família. E assim foi. Um nome com E, em vez de Miriam como tinha sido pensado antes, pois tinha que combinar com Cristina.

Quando a nostalgia bate na porta, penso na infância encantada que tive do outro lado do Atlântico. Desfilam todos os vizinhos e as respectivas famílias, nas diferentes gerações, pois o Patriarca transmitia a casa da Melhoramentos para os filhos que se casavam, depois de aposentado. Se ainda estava na ativa os filhos casados moravam junto, até obter uma casa independente. Meu pai, mecânico fresador de profissão, era um homem da terra como todos os italianos que aportaram em Santos. Plantava milho, feijão, abóboras, mandioca, milho de pipoca roxa, nas terras cedidas pelos alemães, donos paternalistas que forneciam também as casas de tijolos onde moravam todos de graça.

Esse meu herói sabia fazer tudo, até sapatos consertava. Plantava horta, criava galinhas, fazia vassouras e cestos de taquara e criava um porquinho por ano. O dia da matança e da confecção de linguiças era nosso dia de passeio na mata para escapar dos detalhes mais cruéis da tradição . Meu nono sacrificava o bicho com um punhal de família que veio da Itália na mala do "bisnono "e não podíamos suportar o grito de morte do suíno.

O que eu não sabia é que além das telas de arame para fazer cercas sólidas, seu capricho de artesão dominava também a técnica das delicadas cercas de bambu , taquarinhas inteiras ou rachadas que podiam até ser envernizadas. Não somente fabricava, mas também transmitiu sua prática a um garoto vizinho que se lembra dessa paciência dele até hoje. Foi emocionante descobrir isso em 2023, pelas palavras do próprio garoto que hoje já é avô. E ainda mora em Caieiras. Como esse mundo é pequeno e a vida muitas voltas dá, esse neto do "seu" Vitório é amigo do meu querido primo Valério. Ambos têm casa em Peruíbe, cidade praiana onde muitos caieirenses construíram casas na década de 60 .

O pioneiro foi o tio Fiore . Íamos de maria fumaça pela Sorocabana. Não havia eletricidade e a água era do poço. A casa do Fiore continua la, a praia agora urbanizada tem palmeiras e os avanços em tecnologia da comunicação fizeram com que de um almoço entre amigos de infância eu possa hoje dizer um "bonjour" a todo mundo e colocar em letras sensações e lembranças de uma garotinha que caçava vagalumes para fazer pulseiras de brilhantes na  Vila Nova.

COMENTÁRIOS: Edna sabe qual o problema desse tipo de texto ? Os olhos vazam … a imagem do seu Pai me ensinando a fazer cerca de bambu jamais sairá da minha memória.E VIVA O SR. ANTONIO. -  Edson Navarro.

 

N.R. Edna é da família Gabrielli - filha do Sr. Antonio e Dona Emília

 


Edna G. Morel

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