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18/06/2023
Colesterol MITOS X VERDADES

Colesterol: mitos e verdades sobre a substância que é fator de risco para infarto e AVC

especialistas esclarecem as principais questões sobre a lipoproteína. Saiba também quais são as taxas ideais de HDL, LDL e VLDL no sangue

Por Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales

Apesar de sua importância para o organismo, colesterol oferece muitos riscos à saúde quando valores são altos, podendo provocar infartos e AVC 

 O que chamamos de colesterol é, na verdade, um conjunto de três tipos de lipoproteínas: a HDL (High Density Lipoprotein), conhecida como bom colestrol; a LDL (Low Density Lipoprotein), conhecida como mau colesterol; e a VLDL (Very Low Density Lipoprotein), que tem um influência limitada na taxa de colesterol total. Molécula de gordura importante para o organismo, o colesterol, quando em excesso no corpo, pode ser um fator de risco para infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), conhecido também como derrame cerebral. Só este ano, estimativa Sociedade Brasileira de Cardiologia aponta que cerca de 237 mil pessoas morreram por problemas cardiovasculares no Brasil até 7 de agosto. Em 2017, foram 384 mil óbitos, aproximadamente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa é a principal causa de morte no mundo.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), as taxas ideais no sangue devem ser:

Colesterol total: abaixo de 190 mg/dl.

HDL: acima de 40 mg/dl.

VLDL: entre 2 e 30 mg/dl.

LDL:

Para pacientes de risco cardiovascular baixo: abaixo de 130 mg/dl.

Para pacientes de risco cardiovascular intermediário: abaixo de 100 mg/dl.

Para pacientes de risco cardiovascular alto: abaixo de 70 mg/dl.

Para pacientes de risco cardiovascular muito alto: abaixo de 50 mg/dl

Cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Marcelo Bichels Leitão antecipa o alerta sobre os impactos do colesterol alto para a saúde cardiovascular.

– Esse é um fator de risco mais do que comprovado para infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, ao formar placas na parede das artérias que podem levar a obstruções e rupturas – diz.

Apesar de ser causa desses dois graves problemas cardiovasculares, o médico endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP) Osmar Monte comenta que não se pode taxar o colesterol como uma "molécula do mal", uma vez que ele é importante para o nosso organismo e responsável pela formação de diversos hormônios. Não é à toa que, quando os níveis no sangue estão muito baixos, pode haver um aumento do risco de câncer.

– Ninguém vive sem colesterol, que faz parte da nossa estrutura de membranas celulares – comenta Monte, acrescentando porém que a hipercolesterolemia, ou seja, o aumento da concentração dessa molécula no sangue, é a doença genética mais frequente na população.

Não dá mesmo para contestar a importância do tema. Mas não há como negar também que esse assunto gera muitas dúvidas entre as pessoas. Por isso, conversamos com os médicos para explicar os principais mitos e verdades sobre colesterol alto. Conheça!

O colesterol é sempre um vilão - MITO

Essa molécula também é responsável pela formação de vários hormônios e faz parte da estrutura das membranas celulares. Contudo, se está presente em níveis elevados no organismo, aí sim é um vilão.

Contamos com duas fontes de colesterol: a alimentação, responsável por cerca de 20%, e a produção do próprio organismo pelas gônadas (ovários e testículos), glândulas suprarrenais e, principalmente, pelo fígado, responsável por 80%. O LDL, conhecido como "colesterol ruim", transporta o colesterol do fígado para as células periféricas. Nesse processo, ele pode ser depositado nos vasos sanguíneos e formar placas nas paredes das artérias, a temida aterosclerose. Mas também há o HDL. Conhecido como "colesterol bom", retira o colesterol das células periféricas e levando-o de volta ao fígado, onde é metabolizado e excretado na forma de sais biliares.

Infartos e AVC podem ser provocados por colesterol alto - VERDADE

O LDL circula pelo organismo unido a partículas de proteínas, que levam o colesterol para as células periféricas, podendo ser depositado, por exemplo, nos vasos sanguíneos. Assim, é formada a placa aterosclerose, que causa doenças cardiovasculares como infarto e acidente vascular cerebral. Dessa forma, é fundamental manter taxas baixas de colesterol LDL no sangue para diminuir o risco de aterosclerose e, consequentemente, as chances de sofrer um infarto ou AVC.

Colesterol alto também é um problema genético - VERDADE

A hipercolesterolemia é apontada como a doença genética mais frequente na população. Estima-se que uma criança a cada 300 a 500 nascimentos é afetada pelo problema. Se a pessoa tem antecedentes familiares de doenças cardiovasculares precoces e colesterol alto, por exemplo, o componente genético terá influência nos níveis dessa molécula no sangue do indivíduo.

Problemas de colesterol elevado não têm idade - VERDADE

Colesterol alto é muito influenciado pelo fator genético. Dependendo da mutação que a criança herda dos pais e da gravidade, a hipercolesterolemia pode aparecer já na infância, e não apenas quando for um adulto jovem ou mais idoso. Há mais de 1,6 mil alterações genéticas possíveis e, dependendo do nível, o problema pode se manifestar mais precocemente.

Quando há antecedentes familiares de colesterol alto e problemas cardiovasculares, a recomendação é medir o colesterol da criança a partir dos 2 anos. Caso seja detectado um valor acima do limite, é preciso tratar para evitar a ocorrência de doenças cardiovasculares precoces. Os riscos de sofrer um infarto do miocárdio entre 30 e 40 anos, faixa etária em que é muito grave, são aumentados quando os cuidados não começam na infância. Mas se estiver tudo normal com os níveis, o exame de sangue deve ser repetido anualmente. A partir dos 10 anos, todas as crianças precisam medir o colesterol uma vez ao ano.

Vale acrescentar que quem tem os valores de colesterol elevados deve realizar a medição a cada três ou quatro meses, dependendo da orientação do médico que faz o acompanhamento. Já para quem tem esses níveis dentro do limite, os exames podem ser anuais.

Só quem está acima do peso ou obeso pode apresentar altos níveis colesterol - MITO

Como principal causa é genética, o indivíduo não precisa ser obeso ou estar acima do peso para ter um aumento de colesterol. Pessoas magras também podem ter hipercolesterolemia. Inclusive quem está dentro do peso ideal e pratica atividades físicas regularmente pode apresentar colesterol alto. Nesses casos, a medição desses valores deve ser um exame de rotina.

Apesar do fator genético ser muito importante, consumo de alimentos ricos em gordura animal ou ácidos graxos também contribui para aumento do colesterol 

Alimentos industrializados ricos em gordura contribuem para aumento do colesterol - VERDADE

Alimentos industrializados que contêm ácidos graxos trans, também conhecidos como gordura trans, contribuem para o colesterol elevado. A presença desse componente deixa os alimentos mais macios e saborosos, mas faz muito mal para qualquer pessoa. No caso de indivíduos que já têm o componente genético para a hipercolesterolemia, o consumo de ácido graxo trans será ainda mais prejudicial.

A alimentação é a principal causa da alta do colesterol - MITO

A maior parte do colesterol, cerca de 80%, é produzida pelo fígado, pelas gônadas (ovários e testículos) e glândulas suprarrenais. A alimentação influi em apenas 20%.

Alimentos ricos em gordura animal são os principais influenciadores do aumento o colesterol, quando se considera a alimentação - VERDADE

Cabe ressaltar, no entanto que a capacidade de absorção intestinal do colesterol ingerido é limitada a 300 mg por dia. Isso significa que ao ingerir 1g de colesterol, por exemplo, seu corpo só consegue absorver 300 mg. O restante é eliminado nas fezes.

Consuma mais saladas. As fibras vegetais ajudam a diminuir a absorção de colesterol no intestino 

Uma alimentação rica em fibras ajuda a equilibrar os níveis de colesterol - VERDADE

Uma dieta rica em fibras vegetais contribui para diminuir a absorção dessa molécula pelo intestino. O colesterol é um produto do reino animal. Vegetais têm fitoesteróis. Esses componentes presentes nas plantas competem com o colesterol na absorção intestinal. Quanto mais fibras vegetais na dieta, menor será a absorção do colesterol. Isso porque a fibra se adere a essa molécula e aumenta as chances de excretá-la.

Cortar gorduras animal e trans da alimentação e ingerir mais fibras é suficiente para reduzir os valores do colesterol no sangue - MITO

A dieta consegue baixar o colesterol plasmático em torno 10% a 15%. Se mesmo com essa mudança na alimentação os valores continuarem altos, é preciso entrar com tratamento medicamentoso. O principal medicamento usado é a estatina, que bloqueia a produção de colesterol no organismo e pode ser prescrita a partir dos 8 anos. Há ainda a ezetimiba, que pode ser associada ao tratamento para diminuir a absorção do colesterol no intestino, além de novos medicamentos liberados para a prática médica que auxiliam na redução desses valores.

A prática de exercícios aeróbicos não diminui o mau colesterol, mas ajuda a aumentar o bom

Exercícios aeróbicos diminuem o colesterol no sangue - MITO

Atividades físicas não têm impacto sobre a desejada diminuição do colesterol ruim. No entanto, há uma boa notícia: elas têm influência sim sobre o também desejado aumento do colesterol bom. Portanto, mexa-se!

O estilo de vida não tem importância, uma vez que o fator genético é determinante para o colesterol alto e é possível fazer uso de medicamentos - MITO

Os maus hábitos alimentares e o sedentarismo também influenciam no aumento do colesterol. Sem contar que promovem uma piora geral da saúde e também são fatores de risco para obesidade, diabetes e outras doenças crônicas.

É importante fazer uma dieta saudável que seja pobre em gorduras saturadas trans, especialmente de origem animal, e carboidratos, além de rica em vegetais. Nesse processo, evite alimentos processados e ultraprocessados. Cozinhar em casa é sempre a melhor pedida. Opte também pelo consumo regular de vegetais, incluindo saladas, especialmente com folhas, nas suas refeições.

Deve-se ainda incorporar a prática de atividades físicas à rotina. Associe exercícios aeróbicos, como corridas, mas também trabalhos de força e musculação.

Estudos demonstram que LDL pode ser diminuído em cerca de 4,5% com a prática de exercícios de força e musculação 

No caso dos exercícios aeróbicos, há demonstrações de que a prática ajuda a aumentar o colesterol bom, o HDL, em 4%. No caso do LDL, é importante comentar que existem dois tipos de partículas, aquelas que são maiores e menos densas e as que são menores e mais densas. Os exercícios aeróbicos não influenciam nos níveis totais do HDL. É por isso que ao realizar exames de sangue após incorporar essa prática ao dia a dia os valores podem se manter altos por um tempo. No entanto, esse tipo de atividade, quando realizada por 150 a 300 minutos semanais, contribui para mudar o perfil do LDL. Os exercícios aeróbicos aumentam as partículas grandes e diminuem as menores, que, por serem mais densas, têm mais facilidade de se depositarem na parede das artérias.

Crianças também devem adotar essas mudanças no estilo de vida, evitando uma alimentação rica em gorduras animais e trans e abandonando o sedentarismo. Cada vez mais, meninos e meninas se movimentam menos, optando por permanecer na companhia de seus eletrônicos. Esse comportamento pode favorecer o aumento do colesterol precocemente, inclusive entre crianças que não têm o componente genético.

Crianças, com predisposição genética ou não, precisam adotar estilo de vida mais saudável para evitar problemas decorrentes de colesterol elevado na infância e na vida adulta 

Para manter os valores do colesterol sob controle, eu só preciso usar medicamento - MITO

O primeiro passo no tratamento do colesterol é adotar uma dieta saudável, fazer atividades físicas e controlar o peso. Quem tem alguns quilos a mais precisa promover essa redução na balança. Se mesmo com essas mudanças no estilo de vida o colesterol continuar alto, é hora de entrar no tratamento com medicamentos.

Vale comentar que, quando se faz uso de remédios para tratar colesterol, atua-se apenas sobre esse problema. Ao associar esse tratamento à prática de exercícios aeróbicos, de força e musculação, atua-se não apenas nos níveis de colesterol, mas também na melhora dos valores de açúcar no sangue, reduzindo as chances de diabetes; no controle a pressão arterial; e na diminuição do sobrepeso e da obesidade. 


G2

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