17/03/2012
As famílias e a TV

Como todas as coisas estão mudando,era de se esperar que o comportamento familiar também se modificasse.Recentemente ao fazer uma visita, reparei que a casa,muito bonita,espaçosa e modernamente projetada,possuía em cada compartimento um aparelho de TV.Eram 6 para aquela família de 5 pessoas.Lembrei-me então de uma fase da minha infância quando a ”telinha” já estava em cena mesmo que,em branco e preto.Reuníamos-nos por volta das 7 horas,numa sala pequena e nos espalhávamos aos quatro cantos: no chão,em cadeiras e num único sofá existente.Acho que éramos uns 6 ou 7.Víamos os programas, todos juntos.Não questionávamos gostos ou preferências.Noticiário era obrigatório e novela como sempre era essencial.Mas sempre víamos também um filme ou série como:Bonanza, Rin-tin-tin,Vigilante Rodoviário, entre outros.Bem, o que importa agora não é a programação em si.Importa o hábito que preservamos por anos a fio.Hábito que funcionava como um ritual amistoso, afetuoso e que nos unia carinhosamente no insuportável calor e mais ainda nas noites frias ou chuvosas de inverno.Importa, aquele contato civilizado que mantínhamos sem discutir ou sem esbravejar por querer fazer outra coisa. Jantávamos e nos acomodávamos naquela sala apertada num contato tão aconchegante e interessante que se alguém hoje nos visse com certeza iria se admirar.Nos intervalos,minha madrinha sempre nos preparava um café com leite, pipoca ou mingau de aveia .Tudo para completar aquele momento mágico de compartilhamento e de união familiar.Era um momento quase que sagrado, onde os problemas eram temporariamente esquecidos.Eram horas de profundo encontro e descontração mesmo que, à nossa frente ainda existisse um caixa enorme chamada televisão.Reuníamos-nos por distração,por diversão,por curiosidade,por ilusão.A televisão nos trazia de longe a visão de um mundo desconhecido, novo e fantasioso.Mas, tenho certeza de que acima de tudo, aquela reunião ia muito além de qualquer objetivo que não fosse o de estarmos perto uns dos outros,ao anoitecer.Algumas vezes comentávamos o assunto visto.Outras nos espantávamos e algumas até chorávamos quando a emoção da tela invadia nossos corações e sentimentos.Mas, em muitas situações, gargalhadas encheram aquele pequeno espaço familiar onde crianças e adultos se interagiam, sem irritabilidade,sem contestações e sem teimosias.Apresentávamos nossos sentimentos naquela intimidade gostosa, numa exposição simples,singela e de muito carinho.Engraçado era, quando faltava energia, coisa comum e rotineira aliás.A escuridão nos pegava de surpresa,mas uma vela ou uma lamparina acesa devolvia a todos nós o encanto de estarmos juntos.Inventávamos brincadeiras,cantávamos e ouvíamos as histórias dos mais velhos.Muitas vezes envolvidos pela sombra da vela,fazíamos mímicas na parede inventando figuras de lobos,borboletas e jacarés.Era uma forma de passar o tempo enquanto a luz não voltava.E quando voltava, a gritaria invadia a sala e rapidamente voltávamos aos nossos postos.As dez ou onze da noite a televisão era desligada e todos sem discutir acatavam a ordem para ir dormir.Um beijo,um desejo de boa noite ou um durma “Com Deus” selavam aquele instante, encerravam nossas brincadeiras,silenciavam nossas vozes e por mais algumas horas absorvíamos a sensação maravilhosa da proteção que aquele contato tão marcante havia proporcionado.
Tudo mudou mesmo! Hoje cada um assiste seu programa num cômodo da casa.As famílias se tornaram mais intolerantes,impacientes.Maridos odeiam novelas.Mulheres odeiam futebol.Filhos acham tudo “careta”,preferem o Big Brother e o isolamento dos seus quartos.O contato familiar hoje, é de puro estresse.As reuniões são exclusivamente para se discutir problemas, tragédia,falta de dinheiro .A televisão,logicamente também mudou.Antes era veículo de distração,boa informação,dava bons exemplos.Hoje virou veículo de agressividade,banalidade e futilidade.E as coisas mudaram tanto que talvez por isso, todos estejam mais frustrados e infelizes.Falta a simplicidade de antigamente.Falta aquela entrega maior, onde a TV era apenas uma desculpa para se ficar junto.Falta aquele interesse em estar do lado de quem se ama independente do programa televisionado.Falta sentir a alegria que nenhuma tecnologia poderá ofertar em tempos de difíceis relacionamentos.Que feliz fui eu!!!
FATIMA CHIATI


Fátima Chiati

Leia outras matérias desta seção
 » A Semana Santa na Vila Leão
 » Religiosidade e religião de amor
 » Caminhar é preciso
 » Recordações da Av. dos Estudantes
 » Os gênios do Colégio Walter Weiszflog
 » Fragilidades de todos nós
 » As mentiras na Internet
 » Reverências aos nossos amores
 » O amor fora do ar
 » Amor, política e relacionamentos
 » As históricas enchentes de Caieiras
 » Homenagem às mulheres
 » Algo mais
 » Trégua de Natal
 » Atitudes de autoajuda
 » O dia de finados
 » Mãe é aquela que cria
 » A internet não esquece
 » Capelinha da Vila Leão
 » Benzedeiros e benzeduras
 » Casa de mãe
 » Uma luz no fim do túnel
 » Um Diário para Sophia
 » Um brinde à ociosidade
 » A carteira perdida
 » A fonte luminosa
 » Brincando pelos tempos
 » Lembranças de Natal
 » O poço artesiano do hospital
 » A lata de botões
 » O Tatu embalsamado
 » A gaveta da cômoda
 » As artesãs da minha vida
 » O antigo Correio de Caieiras
 » Medo do escuro
 » Reencontro com o passado
 » O Baú da vida
 » Um Circo em Caieiras
 » reflexões de final de ano
 » Parque de diversões em Caieiras
 » A Loja da Fonsina
 » Pirulitos de Guarda Chuva
 » O caminhão pau de arara
 » Duelo entre patrões e empregados
 » A Mestra com carinho
 » Os bons tempos da Pharmacia
 » O sorveteiro da Vila Leão
 » Jovens Tardes de Domingo, o "Clubinho"
 » A internet à beira do caos
 » Mulheres maravilhosas
 » Natal numa casa da Rua Guadalajara
 » Brincadeiras na rua 4
 » Viagem de trem, sofrimento e saudades
 » A vida é uma novela
 » Essa tal felicidade
 » Amizades verdadeiras
 » Teorias sobre o amor verdadeiro
 » O dia 7 de Setembro
 » De bem com a vida
 » O Colégio Walter Weiszflog
 » O Armazém da Fábrica
 » A verdadeira face da aposentadoria
 » O preço da beleza
 » Os filhos na planilha financeira
 » A Segunda dança no Salão Nobre .
 » O Jardim de Infância em 1963.
 » Os Jardins da Vila Leão .
 » A ÁRVORE QUE CHORA.
 » A Rua da Bomba .
 » O quartinho mal assombrado do Grupo Escolar .
 » Semana Santa na Vila Leão .
 » A cadeira com presentes !!!
 » O campinho da Vila Leão .
 » O Salão Nobre da Fábrica .
 » Tributo a uma grande mulher .
 » A cesta de Natal .
 » Almoço de domingo na Vila Leão .
 » O vendedor de sandálias havaianas .
 » Um carnaval no Salão Nobre .
 » A primeira dança no Salão Nobre .
 » O conserto da televisão .
 » Obras de arte em telas de arame.
 » Banho de Bacia na Vila Leão.
 » Os cinemas da Lapa
 » Dia dos namorados
 » Corpus Christi
 » Xuxa e sua volta ao Trono
 » As festas de Santo Antonio
 » O Banheiro da Estação
 » Veteranos da Emed
 » O amor no novo milênio.
 » Terceira idade, os exageros.
 » O luxo da reciclagem.
 » As festas de fim de ano .
 » Alcoolismo e juventude.
 » Sua majestade o celular .
 » O Brasil na chuva e na lama .
 » A sacolagem no meio ambiente .
 » A hipocrisia ao alcance de todos.
 » O Universo Pet.
 » Indignação.
 » A Rocinha em cena .
 » A generosidade no Natal.
 » O trânsito nosso de cada dia .
 » Ano novo , tudo velho .
 » A dificil trajetória de um pai .
 » Triste Realidade.
 » Os ídolos em nossas vidas.
 » Bulling em dois tempos.
 » A Morte santifica .
 » Abençoados os vizinhos de ontem !!!
 » A Semana Santa na Vila Leão
 » As famílias e a TV
 » Nas rodas da Bicicleta
 » Fazendo as pazes com o passado

Voltar