06/02/2015
A fonte luminosa

Todo sábado  era sempre igual... Roupa nova, sapatos limpos, cabelos bem penteados, um discreto perfume de banho recém- tomado e o famoso passeio  noturno pela Praça Santo Antônio. Sempre igual... Por anos a fio. Primeiro a missa fielmente assistida e depois a nossa parada derradeira na Fonte Luminosa de Caieiras. Todos os sábados!  Não havia programa melhor e nem mais alegre nas décadas de 60/70.
Dar voltas ao redor  daquela suntuosa obra na praça fazia parte de um ritual divertido e emocionante. O chafariz com  os esguichos de água multicolorida encantavam e alegravam qualquer um.  O chuvisco trazido pelo vento era suave, delicioso e molhava  rostos juvenis  e sorridentes. A dança rítmica da água colorida era rápida e como num caleidoscópio de figuras geométricas, fascinava olhos ansiosos por novidades.
Não sei dizer por quanto tempo me diverti ao redor daquela  fonte. Só consigo me lembrar do quanto era bom encontrar a turma toda, o quanto era bom paquerar ao som das músicas que vinham daquele subsolo obscuro e do quanto era gratificante ficar olhando toda aquela luminosidade irradiada por ela. Só consigo me lembrar das “rodinhas” de amigos conversando e das caminhadas pelo  entorno da Igreja Matriz. Só consigo me lembrar do charme indescritível existente às proximidades das bordas, pois era ali que permanecíamos a maior parte das noites de sábado... Mesmo sofrendo, as justificáveis  interferências do “Cabecinha”, o funcionário que cuidava daquele importante patrimônio público. Estranhamente, até hoje não sei seu nome verdadeiro. O apelido se perpetuou. Era sério e dava broncas  em  qualquer adolescente  que tentasse macular aquele espaço que também era dele. Acostumamo-nos com a sua fiscalização  assídua e por muito tempo, nos reunimos naquele palco iluminado fazendo projetos, contando façanhas, fantasias e até dificuldades. Alguns, movidos pelo cenário romântico, até suspiraram fundo, conquistaram seus amados e até se casaram com eles. Muitos, porém, simplesmente se entorpeceram,  se entregaram ao feitiço da fonte e se fortaleceram emocionalmente  com a alegria daquele doce convívio.
Jamais houve  brigas, jamais houve violência, vandalismo  ou uso de drogas. O cigarro já era o máximo, assim como, o máximo era alguém “ficar de mal” e na  próxima semana “ estar de bem” novamente. O máximo era sentir-se  feliz com um programa de tecnologia tão  simples e ao mesmo tempo tão enigmático. O máximo era tentar desvendar o mistério que fazia tudo aquilo colorir  e funcionar tão lindamente. O máximo era encontrar os amigos. Grandes amigos! Grandes encontros!
Lamentavelmente, a histórica  e bela  fonte  foi demolida. A modernidade pediu passagem e se apropriou de um espaço que foi só dela e um pouquinho nosso também.
A Fonte Luminosa que acolheu  corações e jovens de Caieiras há  45 anos, já não existe mais.
Aos que viveram naqueles tempos, de sua glória e fama,  restaram  apenas as  belas recordações de momentos  em que ela, uma simples  fonte,  foi estrela... Iluminou  nossos olhos, guiou  nossos passos e encantou  nossos corações cheios de sonhos e ilusões.

Fatima Chiati
www.fatimachiati.com.br
 



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