10/04/2006
Curtinha Nº 2

Um senhor do bairro sempre vestido com gravata, repetidas vezes esteve sondando uma mesma casa dando o que pensar: aí tem coisa, aí tem coisa.
Um dia, o entrar na padaria coincidiu com a saída daquele senhor. Muito discreto o balconista falou: ---Fia da mãe desse veio, ele anda saindo com uma jovem de menos da metade da idade dele.
---Essa não! Ele já deve ter uns oitenta anos, ainda dá no coro?
---Disse que dá sim, ele toma viagra. Ela é a fulana, você deve conhecer.
---Conheço sim... Impossível, bonitinha como ela é... Tem só uns trinta anos e...
---É verdade sim, ela está arrancando toda a grana dele.

Um belo dia aconteceu o primeiro bate-papo com o velho quando ele estava com outro amigo numa conversa de rua. Ele estava relatando suas experiências da vida e logo o assunto caiu em conversa sobre mulheres e a gozação foi imediata:
---Isso é do teu passado porque hoje o senhor já pendurou a chuteira.
---O que? Eu? O senhor está enganado, ainda hoje tenho mulher quando quero.
---Apesar de ser bem mais novo, não posso dizer o mesmo. Qual é o segredo?
---Dinheiro, com ele você come quem quiser. Dei muito para as mulheres.
---Então o senhor ganha muito bem. Eu sou aposentado e...
---Eu também sou e ganho muito bem, sim. Está vendo aquela casa, lá mora a fulana, o senhor a conhece?
---Mais ou menos. É novinha, bonitinha e parece ser de boa família.
---Não, ela é puta!
---Nossa, que acusação grave. Por que fala isso, o senhor a conhece?
---Se conheço, já saí várias vezes com ela, fomos em motel.
---É a primeira vez que converso com o senhor, mas, essa não dá pra acreditar. O senhor tem idade pra ser avô dela e não está com essa bola toda aí.

Claro que o homem estava despeitado e estava querendo desabafar por ter sido colocado pra escanteio. O comentário que rolava a solta era o perigo de um desfecho fatal para a jovem mãe separada do marido já casado com outra.
O nosso nada saber (até parece) fez continuar a conversa tão instrutiva:
---A cada saída para o motel dei um bom dinheiro para ela.
---Quanto? Quinhentos reais?
---Que? Bota mais zeros nisso. Dei muito e ela sempre querendo mais. Não sei o que tanto ela fez com o dinheiro. Foi só começar a negar e ela...
---Viu, viu, está vendo aquele carro ali? Foi ela quem me deu de presente. Se soubesse que o dinheiro lhe vinha tão fácil, teria pedido um carro mais novo e... Calma, calma, é brincadeira.
Bem, da conversa percebeu-se que aquele caso não teria um desfecho fatal. Dias depois, foi observado no extrato bancário do velho, saques perfazendo dezoito mil reais, talvez, já destinados à outra mulher de outro bairro de São Paulo, onde um taxista o levou e sendo muito discreto só contou depois de ter sido muito torturado.


Altino Olímpio

Leia outras matérias desta seção
 » Nesta época quantos iluminados existem no mundo?
 » Opiniões ou conclusões impopulares
 » Turismo na UPA de Perus
 » A solução
 » No mundo existem crédulos e incrédulos
 » Joana d’Arc (1412 – 1431)
 » Foram tempos de fascinação
 » Não vou, é muito longe
 » Somos acúmulos do que mentalmente recepcionamos
 » Quando a vida é bela ou cor de rosa?
 » Reflexões 
 » Só sei o pouco que sei e mais nada
 » Conversa entre amigos do antigo Orkut
 » O “me engana que eu gosto” é sempre atual
 » A mulher do ai, ai, ai
 » Quando nós seremos nós mesmos?
 » Viver muito cansa?
 » A aventura de viver
 » Esquecidos, o céu, o sol e a lua 
 » Uma lembrança que a memória não esqueceu

Voltar