02/02/2023
Depoimento sigiloso

Constatei que o que as pessoas desejam para as outras se tornam realidades práticas. Por exemplo: Bom princípio do ano novo. Já no segundo dia de janeiro deste ano de 2023 meu bom princípio começou lá na Upa (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro e Perus. No passado costumava-se dizer: Só quando a água bate na bunda é que se procura reagir. Sendo assim reagi pedindo para as minhas filhas que me levassem até o Pronto Socorro. Eu estava com deficiência respiratória, muita falta de ar. Quando me deitava para dormir não conseguia e passava as noites mais sentado na cama do que deitado. Será que eu tinha sido premiado com um vírus da Covid-19?

 

Lá na UPA o teste para o tal vírus foi negativo. Mas, o Raio X apresentou uma surpresa: Meu coração estava inchado. Minhas filhas e o genro recusaram qualquer medicamento porque iriam me levar até o Pronto Socorro do Hospital Dante Pazzanese de cardiologia, donde fui submetido ao tratamento dos “meus” três infartos. Já de volta em casa eu repetia: Não vamos hoje não, já é tarde, deixemos para ir ao hospital amanhã. Descobri que quando se vai envelhecendo se vai vendo os filhos desobedecendo (risos).

 

Mas as filhas já estavam aborrecendo: Você não pode mais sair sozinho como faz todos os dias, você não pode carregar peso, você sempre sai sem levar documentos, sem levar o telefone celular e você quando sai por ai para as tuas comprinhas, às vezes demora pra voltar. PQP será que já estou tão velho assim e não percebi? Lembrando dessas tramoias protetivas, as 20,30 horas seguimos, então, para São Paulo. Naquele Pronto-Socorro do hospital já havia várias pessoas esperando atendimento. Eu que nunca reclamo falei: Estamos f. pois vai demorar para sermos atendidos (risos). Mas, até que não, pois logo fomos chamados para a triagem e depois nos acomodamos outra vez para aguardar a chamada do médico de plantão.

 

Já no consultório do médico, deixei pra minha filha Anissia informar ao médico, o Dr. Rafael, o que de anormal estava me ocorrendo, a “minha” falta de ar. Lembro-me de quando o médico olhando para o computador para avaliar a minha trajetória contra a morte naquele hospital surpreso me disse: Caramba, quanto estrago o senhor já teve. Quando ele perguntou se direitinho eu tomava os remédios, quando eu ia responder sem saber o que responder, interrompendo minha filha lhe disse: Ele é relaxado, parece que não toma nenhum remédio. Mas que “cagoeta” foi a minha filha e eu por causa do vexame fiquei sem saber onde enfiar a cara.

 

Resumindo a consulta, o médico consultando no computador a minha “pasta” de arquivos, ele reescreveu uma receita dos remédios que anteriormente me haviam receitado. Numa outra à parte ele receitou que me aplicasse lá mesmo quatro pequenas ampolas de um diurético (Furosemida). Depois de me ter sido injetado esse remédio, poderoso inimigo dos líquidos existentes no meu corpo, eu me sentindo aliviado do cumprimento de minhas necessidades naquele local, já estava querendo o nosso retorno para casa. Mas, lá na portaria do hospital meu genro estava conversando com o segurança e foi quando me alertaram para não irmos logo embora porque pelo trajeto de volta para casa eu não iria conseguir conter a evasão de líquidos.

 

Verdade, pois, enquanto ainda estivemos no hospital retornei por três vezes ao banheiro do Pronto Socorro. Depois, naquele já podemos ir, por todo o nosso trajeto de volta era preciso parar o carro para que eu pudesse esgotar os líquidos que eu não sabia como tinha tanto no corpo. Cada “mijada” na madrugada eu pensava que era a última, mas, não era. E minhas filhas ficavam em alvoroço: Pai volta logo de volta ao carro, nesta hora é perigoso ficar ai. Pai vira de costas para a rua porque quem está passando de carro está te vendo urinar (risos). E tive que falar: Vocês são doidas, nesta hora quem vai querer olhar para pinto de velho?

 

Já na região do Bairro da Lapa e antes de acessarmos a Via Anhanguera fomos entrar numa lanchonete de vinte e quatro horas de funcionamento. Isso sem me consultarem e nisso tive um outro insight. Quando se fica velho a velha mania de ser o todo poderoso do lar se enfraquece quando orientações e opiniões são desrespeitadas pelos mais jovens (risos). Na lanchonete a primeira coisa a fazer foi o meu desaguar no banheiro que se repetiu por mais vezes. À essa altura dos acontecimentos eu já havia esquecido da falta de ar.

 

Assim que ficaram prontos os sanduiches, o que estive comendo esteve delicioso, embora, já fizesse algum tempo que eu evitava comer carne. Ai me dei conta de que o “bom princípio do ano novo” que haviam me desejado, mesmo estando atrasado felizmente me havia começado enquanto estive junto a uma mesa saboreando as delícias da vida (risos). Por volta das cinco horas da manhã é que chegamos de volta para casa. E assim na tarde do terceiro dia do ano fui até a farmácia buscar os remédios, inclusive o diurético que me fez mijar no mundo (risos). Ai que medo de morrer (até parece). Parece que tenho muita prática de sobreviver, mas, só não sei até quando.

 

Altino Olimpio



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