Seu nome foi em homenagem ao fundador da cidade João Evangelista, há mais de um século. Segundo antigos relatos, no inicio era uma nostálgica estrada boiadeira que passava numa corruptela chamada Lagoa Seca. Só mais tarde veio a se chamar Ibaté.
Fico imaginando quando por ali passavam imensas boiadas, e seus boiadeiros, cheios de sonhos e paixões, tocando seus berrantes afinados ecoando sertão afora. “Ali passava boi, passava boiada, tinha uma figueira na beira da estrada, onde foram gravados muitos corações”.
Nos pousios - para descanso das boiadas depois de um dia de marcha -, o cozinheiro chegava sempre algumas horas à frente para preparar o lugar da parada e a “bóia”da peonada. Posso sentir o cheiro da queima do alho e do feijão tropeiro temperado com toucinho defumado, ingredientes indispensáveis para acompanhar um belo arroz carreteiro feito com charque gordo em panelas de ferro corroídas pelo tempo.
Os campos, onde se situa a cidade, eram cobertos por vegetação típica do cerrado entremeada por vastas pastagens nativas. Sua fauna era rica e o planalto parecia ser um recanto ideal e seguro para sua procriação.
Naquele tempo, não mais que uma dúzia de casas existia no povoado, sendo parte delas, destinadas à venda de cachaça, enquanto outras tantas serviam como dormitório e refeições caseiras. Conhecidas por bolichos, vendas ou pensões davam guarida aos viajantes quando de suas memoráveis passagens por estas paragens.
Ao conhecer esta avenida, há quase sessenta anos, sem asfalto e bastante esburacada, senti amor à primeira vista, pois perto do sítio onde eu morava, tratava-se de uma metrópole. Fordinhos 29 e pequenos caminhões eram raríssimos nesta época. Os poucos que ali circulavam, corriam sérios riscos de atolarem na lama, em época de chuva.
Lembro-me da primeira eleição para prefeito, onde se sagrou vencedor, o carismático Donato Rossito. Seus discursos, apesar do palavreado simples, eram carregados de emoções, e sem demagogias. As promessas feitas em campanha foram cumpridas á risca em seus dois mandatos, inclusive o asfaltamento da nossa Avenida.
Guardo na memória – praticamente - todos os nomes dos seus moradores daquela época. Entremeada de comércios e residências, as famílias sentavam-se às portas e soleiras ao cair da noite, para tomar uma “fresca” prosear com os vizinhos e apreciar o parco movimento reinante. Não tínhamos televisão, ventilador ou ar condicionado. Por isso mesmo, éramos mais fraternos!
... Mas o tempo, este malvado, foi passando e corroendo minhas doces lembranças e deixando em minh’alma apenas suaves recordações. E o progresso? Este atrevido foi chegando devagarzinho, transformando aquela que um dia foi uma simples e romântica estrada boiadeira, numa bela avenida inserida num pujante corredor comercial.
Demonstra até certo ar de superioridade - com seus dois semáforos -, coisa inimaginável nos primórdios de sua existência. Está metida nossa Avenida!
Avenida São João, minha senhora, você fez parte da minha vida principalmente dos meus sonhos de criança e da minha adolescência. Foi lá, no bar do Mané Varanda que tomei meu primeiro picolé. No bar do“Trinta” tomei a primeira Tubaína e comi meu primeiro sanduíche de mortadela com celofane e tudo! No armazém do Inácio, tive meu primeiro emprego e as primeiras aulas de venda. Meu primeiro par de sapatos também foi comprado lá na sapataria do Nilo Zecchin. Na farmácia do Zé Linhares tomava a doída injeção de penicilina quando doente. Tecido para fazer as roupas era na loja do Fraige. Presentes de Natal eram comprados na loja da Vova Parssiassepi. Na padaria do “Nelsão” comi meu primeiro pão de padaria servido pela educada e competente Dona Norma. Meu tão sonhado par de botas também foi feito lá na sapataria do amigo Titão. Meu primeiro tratamento dentário foi no consultório do Enéas Batistela. Munição para as caçadas de inhambu e rolinha era na loja do Emílio Bianco. Tudo isso acontecia na Avenida!
Sabe, Avenida São João, são tantas as lembranças... Não conte para ninguém, mas foi lá também na praça central onde dei minhas primeiras paqueras me apaixonei e me decepcionei pela primeira vez na juvenil vida amorosa, né Dona Salsinha da Vova? Lá também tinha um lugar onde eu adorava ir. Sabe onde era? A casa do meu amigo Conde! Lugar ideal para encontrar amigos, “bater papo”e aprender as manhas da vida com o professor Nédson. Como esquecer o bar do CarlitoDonatoni? Foi lá que ouvi os primeiros acordes do sonoro violão do Mané Lopes, numa inesquecível serenata. Saudade de Matão era a minha preferida!
Ao contrário de nós, seus admiradores, você fica mais bela à medida que o tempo passa. Saúde e vida longa são nossos desejos. Deixo aqui registrado para as futuras gerações, um pouquinho de sua história e do carinho que sentimos por você!
E VIVA A AVENIDA SÃO JOÃO! [email protected]