Sentada em frente à praia após a caminhada, ouvindo Charles Aznavour…olho o horizonte, penso em escrever…mas qual seria o tema? Não consigo definir nenhum e ao mesmo tempo são tantos que vêm em minha mente…A cada dia que amanhece, eu agradeço a Deus, depois invariavelmente lembro e me espanto da quantidade de anos que já vivi… relembro os tempos de criança, juventude, adulta e agora… velhice ?!
Sim, eu envelheci, mas isso é tão estranho, porque eu não consigo entender assim…onde está minha velhice? Na minha cabeça ela não se instalou, continuo a mesma mulher, mãe, avó, bisavó, acho graça, faço graça, adoro brincar, provocar, cutucar …amo rir, adoro quem me faz rir!
Falo palavrão, faço declarações de amor, ainda sonho, não muito porque de repente não terei tanto tempo, mas sonho acordada sim, porque não?
Curto meu tempo livre, adoro fazer nada, olhar com admiração a natureza, cozinhar pratos diferentes, novas receitas, saborear um bom vinho e esperar pra ver a cara daqueles que são as cobaias de minha comida: meu marido e meu filho…rsrs. Quase sempre dá certo.
Mas estar na cozinha por obrigação com certeza eu não curto não.
Também tenho que admitir que a tal idade um tanto avançada, quase me obrigou a aposentar, porém eu ainda insisto, persisto e não desisto em dedicar algum tempo pra fazer as alquimias no rosto das poucas clientes que, escolhidas a dedo, continuam comigo na aventura que sempre me encontrei, a estética.
Hoje é mais um “passo tempo” do que uma profissão, mas eu amo porque, sem falsa modéstia, “sou boa nisso”!
Não dá pra trabalhar muito, porque ainda ajudo nos enxovais do bebês da família que estão sempre chegando. Bordo, faço crochê, tricô, essas coisas que dizem ser de gente velha, mas que são os jovens que nos pedem pra fazer…no entanto esse dom, tenho desde a infância, então nem nisso eu mudei…
E assim vim pra casa divagando, até que ao passar em frente a um espelho, olho pra aquela mulher ali refletida e descubro onde é que está minha velhice. Eu era magra como um “pau de virar tripa”, e agora pareço um “pão fofinho da padaria”… meus cabelos longos eram castanhos e agora curtos, escondo os brancos debaixo da tintura, das luzes, daquelas camuflagens em que somos peritas. Mas faço sempre questão de variar e deixar minha cabelereira maluca com meus cortes nada convencionais.
Daí então me lembro das visitas constantes nas minhas médicas, nos inúmeros exames que vou fazendo assiduamente para que elas tenham como me tratar e evitar que as doenças que meu corpo já apresentam, diminuam meu tempo nessa vidinha gostosa que tenho o prazer de viver hoje.
É aí que ela está… a danada da velhice, mas vou levando de boa e apreciando essa bendita também, afinal é graças a ela que hoje tenho as recordações de tudo o que já vivi, sonhei, realizei ou não, e ainda a uso como desculpa quando faço alguma trapalhada, sou malcriada, falo demais, etc etc.”. Sempre fui assim, mas deixa isso pra lá né?
E vcs caros leitores?
Acharam onde está a danada de sua velhice?
Selma.