19/06/2012
Os Jardins da Vila Leão .

As casas da Vila Leão eram tipicamente parecidas, já que ali residiam os trabalhadores de cargos mais simples na Melhoramentos. .Todas eram de  tijolinho à vista, janelas cor de vinho e calçadas de tijolo rústico vermelho, que precisavam ser sempre lavadas com escovão de aço para tirar o limo resultante das chuvas.
O chão da cozinha era de cimento queimado,esverdeado que encerado era orgulho das mulheres.O piso dos quartos e da sala também eram de  tijolos vermelhos,mas eram cheios de buracos e a solução  para tapá-los era encerar com uma pasta vermelha : a famosa Cera Cardeal que tingia o chão,  os joelhos  e mãos de quem a utilizasse .O polimento,era torturante, sempre feito com uma blusa velha de lã macia e um pesado escovão de ferro .
Mas bonitos mesmo, eram os jardins.Eram naturais e misturados sem nenhum projeto paisagístico.Tudo era plantado  sem muita lógica, seguindo-se apenas a intuição.Na nossa casa,ele era ladeado de buxinhos logo na entrada do portão principal formando uma cerca viva cuidadosamente podada pelo meu padrinho Juca.Do portão e por todo o corredor até a área de entrada da sala e da cozinha, esses buchinhos ornamentavam e ao mesmo tempo delimitavam o espaço entre a calçada e as plantas.Eram convidativos e verdadeiras maravilhas para quarar as roupas.Minha madrinha  e as mulheres da vila bem sabiam disto.Atrás dos buxinhos, em direção ao centro existiam muitas margaridas,  enormes e  muito brancas ,que sempre eram colhidas e colocadas num vaso grande da mesa da sala.Misturando-se a elas, tinham os lírios, os cravos,as palmas, as dálias,as rosas e bocas- de-  leão que eu adorava apertar,pois o abre e fecha da flor era muito peculiar.Já encostando na cerca de tela de arame, que rodeava toda a casa, haviam pequenos arbustos como o melindre e outros bastante esguios , altos, com caules finos , muito verdes que se enchiam de pequenas flores amarelas e  perfumadas.Eram as giestas, nome que só descobri muitos anos mais tarde numa revista de jardinagem. Muitas casas tinham a giesta enfeitando suas cercas.Ignorava-se  sua toxicidade mas mesmo assim ela  sempre foi  cultivada rente aos muros e distantes do contato humano. Mais próximo à cozinha neste mesmo local com buxinhos,havia uma parreira de uva, de chão batido, sempre acolhedora e sombreada  onde muitas vezes eu brinquei de casinha.Num outro canto via-se  também  uma pequena horta, com almeirão, alface,ervas medicinais e salsinha.Tínhamos tanta salsinha que eu nunca vacilei em apanhá-las pra cortá-las  e colocar nas minhas panelinhas de brinquedo.Bom era ,que elas não acabavam nunca.
O tempo passou e algumas plantas como a giesta são vistas hoje apenas em casas de campo.Toda elegância e perfume desta flor foram esquecidos pelas famílias atuais.
O buxinho teve, na época, seus momentos de glória, ornamentando e servindo de quarador de roupas.Ficou esquecido por muito tempo.Agora novamente se estabelece nas  decorações modernas.Continuam  bonitos, mas já   não possuem  o mesmo encanto do passado.E apesar de lindos,verdes e macios perderam  a função mágica de outrora quando humildemente eram os reis dos  jardins de nossas  casas, lá  na Vila Leão.


Fátima Chiati

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