16/09/2015
Benzedeiros e benzeduras

Eu morava na Vila Leão e devia ter um 6 anos quando tive caxumba. Minha Madrinha me levou para benzer com a Dona Paschoalina Meneghini, que morava logo acima da nossa casa. Ela orou e colocou no local uma folha de abacateiro untada com óleo bem quente. Em seguida enfaixou meu pescoço com um pano que ficou preso, por um nó, no alto da minha cabeça. Eu dormi com aquele emplastro oleoso e fiquei de repouso, isolada, pois a doença era contagiosa. Alguns dias depois, terminadas as benzeduras, aquilo foi removido definitivamente e eu pude voltar às minhas atividades infantis. Totalmente curada!

Por que contei este episódio tão remoto? Porque, graças à minha amiga Fani e seu marido Norberto Molinari voltei no tempo, quando eles, carinhosamente, prestaram uma homenagem no Facebook a todos os benzedores das Vilas da Melhoramentos. Foi lindo e emocionante sentir a participação de todos ao recordar estas pessoas tão maravilhosas, abençoadas e especiais em nossas vidas, naquele bairro. Vieram muitos nomes e entre eles: Seu Pedro, Seu Matheus, Seu Cristiano, Seu Cláudio, Dona Nilda, Dona Ofélia, Dona Amábile, Dona Paschoalina, Dona Maria Clara e Dona Edwirges, mais conhecida como Dona “Duvirgi”. Foram estas almas generosas, com seus dons sobrenaturais ou paranormais, que propagaram e emanaram suas melhores energias de fé, amor e bondade a todos nós daquele idílico lugar.

As benzeduras eram muito comuns por lá. E elas não só foram base de tratamento como também, grandes aliadas da medicina tradicional. Acreditem ou não... Elas curavam! Curaram a minha caxumba!

E eu não usufrui delas apenas na infância. Na adolescência minha Madrinha, apesar de católica fervorosa, continuou me levando aos mestres benzedeiros mais populares de Caieiras. Assim, inúmeras vezes, pude receber as orações do Seu Cristiano, Dona Ofélia, Dona Nilda Pastro. Marcante, entretanto, foi Dona “ Duvirgi”. Já adulta e trabalhando em Hospital eu ainda ia, semanalmente, à sua casa para receber seus benzimentos feitos com um simples galhinho de arruda que, quando murcho, significava todo o “quebranto” retirado do corpo. Lembro-me das filas de mães e seus bebês esperneando, aos gritos, do lado de fora daquela humilde casa . Lembro-me destes mesmos bebês, dormindo, calmos, após os rápidos minutos de orações. A reza curta sussurrada por Dona “Duvirgi”, penetrava em nossos ouvidos como uma cantiga de ninar... E nos hipnotizava com instantes de intensa tranquilidade. Sentíamo-nos curados, física e emocionalmente.

Se para os incrédulos tudo não passava de sugestionamento mental. Para mim, aquilo tudo tinha explicações unicamente espiritualistas, afinal é praticamente impossível sugestionar crianças com tão poucos meses de vida. A reação positiva, obviamente, vinha da fé, da força energética, da benção e do amor que a doce mulher oferecia tão despretensiosamente. Os efeitos curativos eram consequência de suas genuínas orações. Poderosas orações!

Os benzedeiros e suas benzeduras, provavelmente, mantinham uma forte interação cósmica e uma inexplicável proximidade com Deus. Nas Vilas eles foram mestres curandeiros, mensageiros do bem e dotados de uma capacidade extraordinária de realizar milagres em nosso simples cotidiano e tiveram, melhor que ninguém, a missão divina de orar pelo próximo.

Por isso, também presto minha homenagem a todos eles que marcaram a vida de tanta gente na época. A eles ofereço carinhosamente minha curta e singela oração:

“Obrigada Queridos Amigos e Anjos da minha vida! Estejam com Deus!”


Fatima Chiati

Leia outras matérias desta seção
 » A Semana Santa na Vila Leão
 » Religiosidade e religião de amor
 » Caminhar é preciso
 » Recordações da Av. dos Estudantes
 » Os gênios do Colégio Walter Weiszflog
 » Fragilidades de todos nós
 » As mentiras na Internet
 » Reverências aos nossos amores
 » O amor fora do ar
 » Amor, política e relacionamentos
 » As históricas enchentes de Caieiras
 » Homenagem às mulheres
 » Algo mais
 » Trégua de Natal
 » Atitudes de autoajuda
 » O dia de finados
 » Mãe é aquela que cria
 » A internet não esquece
 » Capelinha da Vila Leão
 » Benzedeiros e benzeduras
 » Casa de mãe
 » Uma luz no fim do túnel
 » Um Diário para Sophia
 » Um brinde à ociosidade
 » A carteira perdida
 » A fonte luminosa
 » Brincando pelos tempos
 » Lembranças de Natal
 » O poço artesiano do hospital
 » A lata de botões
 » O Tatu embalsamado
 » A gaveta da cômoda
 » As artesãs da minha vida
 » O antigo Correio de Caieiras
 » Medo do escuro
 » Reencontro com o passado
 » O Baú da vida
 » Um Circo em Caieiras
 » reflexões de final de ano
 » Parque de diversões em Caieiras
 » A Loja da Fonsina
 » Pirulitos de Guarda Chuva
 » O caminhão pau de arara
 » Duelo entre patrões e empregados
 » A Mestra com carinho
 » Os bons tempos da Pharmacia
 » O sorveteiro da Vila Leão
 » Jovens Tardes de Domingo, o "Clubinho"
 » A internet à beira do caos
 » Mulheres maravilhosas
 » Natal numa casa da Rua Guadalajara
 » Brincadeiras na rua 4
 » Viagem de trem, sofrimento e saudades
 » A vida é uma novela
 » Essa tal felicidade
 » Amizades verdadeiras
 » Teorias sobre o amor verdadeiro
 » O dia 7 de Setembro
 » De bem com a vida
 » O Colégio Walter Weiszflog
 » O Armazém da Fábrica
 » A verdadeira face da aposentadoria
 » O preço da beleza
 » Os filhos na planilha financeira
 » A Segunda dança no Salão Nobre .
 » O Jardim de Infância em 1963.
 » Os Jardins da Vila Leão .
 » A ÁRVORE QUE CHORA.
 » A Rua da Bomba .
 » O quartinho mal assombrado do Grupo Escolar .
 » Semana Santa na Vila Leão .
 » A cadeira com presentes !!!
 » O campinho da Vila Leão .
 » O Salão Nobre da Fábrica .
 » Tributo a uma grande mulher .
 » A cesta de Natal .
 » Almoço de domingo na Vila Leão .
 » O vendedor de sandálias havaianas .
 » Um carnaval no Salão Nobre .
 » A primeira dança no Salão Nobre .
 » O conserto da televisão .
 » Obras de arte em telas de arame.
 » Banho de Bacia na Vila Leão.
 » Os cinemas da Lapa
 » Dia dos namorados
 » Corpus Christi
 » Xuxa e sua volta ao Trono
 » As festas de Santo Antonio
 » O Banheiro da Estação
 » Veteranos da Emed
 » O amor no novo milênio.
 » Terceira idade, os exageros.
 » O luxo da reciclagem.
 » As festas de fim de ano .
 » Alcoolismo e juventude.
 » Sua majestade o celular .
 » O Brasil na chuva e na lama .
 » A sacolagem no meio ambiente .
 » A hipocrisia ao alcance de todos.
 » O Universo Pet.
 » Indignação.
 » A Rocinha em cena .
 » A generosidade no Natal.
 » O trânsito nosso de cada dia .
 » Ano novo , tudo velho .
 » A dificil trajetória de um pai .
 » Triste Realidade.
 » Os ídolos em nossas vidas.
 » Bulling em dois tempos.
 » A Morte santifica .
 » Abençoados os vizinhos de ontem !!!
 » A Semana Santa na Vila Leão
 » As famílias e a TV
 » Nas rodas da Bicicleta
 » Fazendo as pazes com o passado

Voltar