O passado foi o que tem sido de bom ou ruim. Para esta história vamos chamar a nossa personagem principal de Favinha. Ela, como todos os seus irmãos, desde bem jovem vivia integrada nos deveres familiares. Quando vinha da Vila Leão para alguma incumbência no Bairro da Fábrica, ir ao armazém, por exemplo, ela passava por um local, sito depois da Vila Ilha das Cobras, onde nós garotos jogávamos bola. Como alguns outros, eu provocava, brincava achando graça quando ela me repudiava e às vezes até me xingava. O tempo passou e ela moça ficou. Aquele lugar de poucos acontecimentos e de poucos aborrecimentos, bem acolheu alguém sem saber como o mesmo poderia causar sofrimentos. O rapaz sendo um obreiro se instalou na profissão de açougueiro. Com aquele povo acolhedor e hospitaleiro logo o rapaz deixou de se sentir um forasteiro. Quando mais habituado pelo lugar, com a Favinha começou a namorar. Assim como a vida caminha, não se ignora que a Favinha logo ele a levou embora. Tornaram-se ausentes, a vida continuou e deles pouco se ouviu ou se falou. Eram de uma união pensada já consolidada e por isso não se falava nada. Ficaram mais na mente como é comum toda gente se unir em alegria para constituir uma família. Um dia, uma tristeza se instalou assim que uma notícia se espalhou. O algoz que levou a Favinha embora, enquanto como uma criança numa caminha ela dormia, com um revolver enrolado em um pano, ele, causador de dano, naquela hora apertou o gatilho, o tiro saiu e isso é o início de quando para nós uma existência se evapora. Ainda tão jovem vitimada por quem tinha a cabeça em desordem, ela se foi e ficou como imagem. Estou vendo-a passar e na rua o jogo de bola por isso precisa parar. “Hei Favinha, você gosta de mim, não é? Vamos namorar?” A resposta vem logo: “Ah seu tonto, seu besta, cala a boca”. Sabe-se da dor que sua ausência causou, mas, quando ao encontrar com um dos seus familiares à lembrança dela vem e, embora com pesar, a preferência é pela lembrança daquele seu passar já prevendo a molequice de alguém a lhe importunar, o que, ela sabia revidar. E assim, o passado sempre teve suas tristezas. Pessoas envolvidas nelas nos causaram marcas mais profundas. É por isso que suas imagens quando ressurgem, elas mais se mostram como quando elas eram como eram antes das tristezas por que passaram e deixaram. Como adentraram em nossa consciência, elas em nós continuam enquanto vivermos, e, com carinho ficam mantidas até a nossa última despedida.