Passeio até a Vila Leão – 2ª parte
--Então leitor agora que já chupamos cana vamos retornar ao passeio. Estamos aqui entre a já citada casa do Didi Borsi e a Vila da Ilha das Cobras. Neste trecho da rua, quase todos os dias a molecada faz um racha, isto é, jogo de futebol com bola de meia. Quem mais atrapalha é o pessoal da Vila Leão porque, temos que parar o jogo para eles passarem, ou melhor, paramos sim quando quem passa é mulher, mas, quando é homem não é sempre que paramos. Se levar bolada o problema é dele. Quem manda passar neste lugar e na hora errada? Continuemos andando. Aqui nesta curva a esquerda antes da Ilha das Cobras olhe pra cima. Que morro alto, não? Como estão tão altas aquelas árvores lá em cima. Agora venha até aqui neste outro lado da rua, pois, vou te mostrar uma sacanagem. Cuidado para não escorregar e cair no rio. Este barranco está todo preto até ao rio porque aqui os caminhões despejam lixívia, corrosiva e muito poluente. É por isso que não mais se pesca por aqui. Além daqui a lixívia é também despejada pelas ruas do bairro, motivo este delas serem escuras até mesmo parecendo asfalto. Bom, só mesmo que, esparramada, a lixívia depois de seca pelo chão, ela impede a formação de poeira. Agora levante o olhar para o alto daquela árvore a beira do rio. Você está vendo? Muito antiga é aquela casinha de pássaro chamado de João de Barro. Impossível deixar de vê-la quando se passa por aqui. Pronto, aqui estamos na Vila da Ilha das Cobras. Vem cá... Este espaço plano ladeado pelas casas desta vila ultrapassa aquele abrigo onde está o poço cujas águas são extraídas manualmente. É neste espaço que a molecada daqui joga bola. O alinhamento das casas ladeando este amplo espaço e o abrigo do poço, mais ou menos, forma um quadrado incompleto. Pra nós que estamos de costas para a rua que iremos até a Vila Leão, à nossa esquerda temos duas casas. No lado oposto, à direita, temos quatro e ao fundo duas casas. Começando pelo lado esquerdo, aquela casa era a do Benjamim Nani e depois do Vicente Marino. A outra, do Afonso (o homem do cachimbo). No lado oposto (lado direito) começando lá do fundo temos a casa do Bento Barbosa, a do Olívio Muniz, a do Miguel Maderick onde antes morou o João Grosso e por última a casa do Timóteo. Lá ao fundo do lado da casa do Afonso morou o Armando Pastro e do lado da casa do Bento Barbosa morou o Miguel Miranda. Desculpe, mas, agora te vou falar sobre algo muito triste. Espero que não interfira na descontração deste teu passeio. Naquela casa lá do Miguel Miranda, antes dele morou um rapaz que era muito estimado por aqui. Ele era um “faz tudo” da família e se chamava Alcebíades. Sempre atarefado em algo útil, ia ao armazém, levava marmita para o pai que estava em seu trabalho e tinha também outros afazeres, pois, parecia que ele não tinha tempo para participar das brincadeiras, com as quais, nós meninos nos divertíamos. O Alcebíades morreu e diziam que foi por causa de um berne. Você sabe o que é não é? É larva deixada pela picada de uma mosca que entra pela pele e infeccionando pode causar a morte. À noite, ainda garoto estive aqui no velório do rapaz e não me esqueço daquele pai que tanto chorava e chorava, gritava e se debruçava no corpo sem vida do filho que estava no caixão e tanto o abraçava. Que desespero! Que tristeza! Isso comoveu tanto que é difícil de esquecer. Se fechar os olhos ainda vejo o Alcebíades passando pela minha casa no vai-e-vem de seus deveres familiares. Bem, continuemos agora rumo à Vila Leão e logo ali está a “volta fria”, lugar muito temido e chegando lá te falo do por que disso.
Altino Olympio
Francisco J. V. Freitas, o Chico Trem