O saudosista
--Trimmmm... trimmm... trimmmmm.
--Alô... Pois não!
--Batarde, o Khuteu tai?
--Boa-tarde. Oi como vai, tudo bem? Não, ele não está.
--Que pena precisava falar com ele.
--Ele saiu. Ele fica lendo no Jornal “A Semana” essas historinhas de Caieiras antiga, se emociona e hoje foi andar lá na Rua dos Coqueiros.
--Verdade, o Khuteu é muito sensível e ele gosta mesmo dessas historinhas.
--Depois que ele se aposentou não faz mais nada, só anda pra cá e pra lá.
--Nossa! Mas o Khuteu não faz nenhum bico pra ganhar algum dinheiro extra?
--Que nada, só come e dorme quando não está andando por ai pra queimar o colesterol. Está com medo de ter um infarto e quer perder a barriga.
--É mesmo, não? Precisamos nos prevenir contra isso. Mas viu, se ele não faz mais nada, por que então não escreve alguma história pro jornal?
--Tenho certeza que ele já pensou nisso, mas, acho que ele teme alguma crítica.
--E daí? Geralmente quem critica são aqueles que nada escrevem, então... Sabe? Muitos conhecidos não têm acesso à internet. Seus filhos e netos sim, mas, não os chamam para ler essas histórias que mais aos velhos interessam. Por causa dessas histórias sei que o Khuteu está querendo rever o Nilson Rodrigues, o Fred Assoni, o Estanguelão, o Renato Marchesini, o Nenê Corradini e outros da “velha guarda” para matar a saudade. Isso, por eles terem colaborado para essas histórias antigas.
--É mesmo verdade. Por causa dessas histórias ele tem citado aqui em casa esses nomes e muitos outros. Mas escuta, o nome dele não é esse que você fala. Ele se chama Khutel, pronuncia-se “Kutel” e não gosta do modo como você o chama.
--Ah, queira desculpar, pensei que ele não ligasse. Bom, estou me despedindo.
--Tudo bem, quando ele chegar falo que você telefonou. Passe bem.
--Obrigado, você também. Tchau.
Altino Olympio