Saudades... Que mentira
Muito bom!
Altino, o rapaz das antigas usando meios moderninhos para mostrar os seus trabalhos! Gostei dos recursos usados na apresentação de sua crônica. Mas discordo do seu ponto de vista! Quem naquela época imaginava chegar aonde nós chegamos? Quem imaginava tudo isso que vivenciamos atualmente, os tempos digitais. Nos tempos em que as missivas de amor eram cartinhas perfumadas ou nas festas juninas se apresentavam como "correio elegante". Hoje, a facilidade dos emails ou mensagens do Orkut estimula as pessoas expressarem os seus sentimentos sem escrúpulos, sem medo de levar uma "tábua".
Uma coisa me intrigou. Não me lembro dos funerais daquela época! Será que nunca presenciei um? Lembro-me que, na pureza da infância, eu sentia medo de morrer. E temia que as pessoas que eu amava também morressem. Hoje, longos anos depois, muitos dessas pessoas "apearam" do trenzinho em diversas estações ao longo da estrada de ferro da vida. Deixaram saudades, muitas saudades! Mas o trenzinho seguiu a sua viagem, não pode parar, seguiu sua jornada, sempre em frente! E a essa saudade, juntaram muitos outros fatos vivenciados. Juro a você daria tudo o que tenho de valor, hoje, para poder brincar inocentemente naquele jardim da portaria um, caminhar de pés no chão pelas ruas do bairro, mesmo que encardisse a planta do pé com a lixívia derramada pelos caminhões-pipas. Poder jogar futebol contra os times da Vila Leão, Vila Nova, Vila Pereira e outros. Daria tudo para poder estar naquele pátio do Alfredo Weiszflog correndo atrás das meninas para agarrá-las e dar um beijinho ou correr atrás das outras que moravam na serrinha (já era taradinho naquela época). Adoraria poder parar na guarita da ponte de madeira e ficar jogando conversa fora com o guarda Chico. Ou caminhar pelos "calipiás" pegando pinhão. Ir até a Pedreira nem que fosse só para ficar sentado lá no alto dela para observar tudo ao seu redor. Quem sabe, poder invadir aquela piscina e desfrutar de suas águas uma vez mais. Sentir o sabor novamente dos picolés vendidos na Pensão. Ficar esperando os ônibus que chegavam naquelas manhãs de domingo trazendo os times para jogar contra o CRM. De rever todos os meus amigos de infância e brincar pelas matas construindo cabanas, de jogar pião ou bolinha de gude, empinar os papagaios (atuais pipas) sem a malícia de usar o cerol para obter vantagem sobre os demais, ou simplesmente andar de bicicleta pelas ruas sem nenhuma preocupação dela ser roubada, alegria das figurinhas carimbadas no troca-troca.
Passear e passar por todas aquelas casas iguais e rever a maioria dos seus moradores e se sentir em condições financeiras exatamente iguais ou parecidas a grande maioria que ali viviam. Esses e tantos outros fatos vivenciados nos deixaram saudades. Marcaram profundamente minha alma. Como não chamar de paraíso um lugar desses que só me trouxe alegrias e ajudou muito na formação do meu caráter. Portanto, saudosista como sou, posso afirmar: "Eu daria tudo para voltar aos tempos de criança", e novamente passar algumas dessas emoções, nem que fosse por um dia, ou mesmo, dez minutos apenas. Mentira! Mentira nada! Apenas uma realidade! Mas não posso desprezar aquilo que temos hoje. Afinal a modernidade nos permitiu aproximar. Talvez, sem ela isso nunca ocorresse. O que seria da minha admiração pelos seus trabalhos se não fosse a Internet. Ficam os valores, cada um no seu devido tempo. Os paraísos ou infernos nós é que os construímos ao longo desse tempo.
Saudações meu caro amigo.
Oswaldo C. Miranda
O rapaz, Oswaldo Correa Miranda, nascido na Vila Leão e filho do Odair Correa Miranda, um dos motoristas da Indústria Melhoramentos, aqui ele está contestando uma crônica gozação que tem o título acima e está inserida neste Jornal “A Semana” na coluna Histórias de Caieiras Antiga. Atualmente morando em São José dos Campos ele mantém em si as lembranças da feliz vivência que teve em Caieiras.