Este último fim de semana foi pesado.O assunto só girou em torno da favela da Rocinha no sul RJ.A operação de pacificação realizada pela polícia rendeu noticia.O que mais me deixou admirada foi a quantidade de armas e munições encontradas por toda a comunidade. Como aquele material todo foi adquirido?Como uma quantidade tão absurda de armas sofisticadas, chegou às mãos dos traficantes da favela?Como aqueles carros e motos roubadas circulavam pela cidade sem nunca serem apreendidos?As respostas parecem óbvias, mas custo a acreditar. Custo a aceitar que tudo aquilo estava lá porque infelizmente nossas fronteiras com os demais países não são corretamente fiscalizadas.Custo a aceitar que aquelas armas e munições poderosas lá estavam porque, vergonhosamente, muitas autoridades policiais também se associaram aos traficantes.Se esta operação de domínio agora realizada, tivesse acontecido há 20, 30 anos atrás talvez o problema não tivesse atingido a proporção que atingiu.Num documentário de TV,o depoimento de um professor do local deixou claro : A Rocinha não se fez em um dia.Também acho.Teve seu início em 1930.No início apenas um lugar povoado por imigrantes.Cercada de morros,mais tarde suas pistas cheias de curvas serviam para a prática do automobilismo.Na década de 60 porém iniciaram-se as primeiras construções dos barracos de madeira, rentes às encostas, sem nenhuma restrição pública e sem nenhum planejamento urbano.O Rio de Janeiro na época estava em ascensão e a mão de obra para a construção civil tinha origem na Rocinha.A droga existia, mas era em pequena escala.A criminalidade dava seus primeiros sinais, mas não aparentava gravidade significativa.Na década de 70 a coisa começa a mudar e nos anos 80 a Rocinha já contava com 10.000 habitantes.Nenhum Órgão oficial se interessou em transferir aqueles moradores para locais seguros,longe dos morros,longe dos riscos.Era muito mais cômodo manter os pobres ali, longe de Ipanema,Leblon, Copacabana, bairros nobres do Rio.Hoje com 70.000 habitantes, a Rocinha abriga não só uma comunidade de baixa renda.Abriga também uma comunidade criminosa que não coloca somente seus moradores no alvo da tragédia,mas toda a população do Rio e arredores .Hoje a Rocinha compromete o turismo,ameaça a popularidade de políticos e denigre a imagem da cidade maravilhosa.A Rocinha hoje simboliza não só a ilegalidade,simbolizas políticas fracassadas, ideologias mentirosas de governos corruptos e desleais.Simboliza principalmente o sofrimento de uma classe desrespeitada e marginalizada pela sociedade.Se antes, as tragédias na Rocinha até certo ponto, favoreciam o enriquecimento ilícito de elites associadas ao crime, hoje elas significam ameaças constantes numa guerra silenciosa entre fracos e fortes.Não somente os fracos se tornaram vítimas.Ricos e poderosos também estão sofrendo as conseqüências deste descontrole.Por isso,só agora o então processo de pacificação entrou em cena.Não acredito que só a prisão dos chefes do tráfico traga solução ao problema.Esta operação limpeza que, tardiamente foi realizada talvez funcione apenas como um calmante,num momento de caos.Por algum tempo tudo parecerá resolvido.Mas a guerra poderá se reiniciar em outro ponto e enquanto existirem os que compactuam com esta forma de sobrevivência e enriquecimento.Não ficaremos livre desta doença social enquanto diretrizes sérias e dignas não forem tomadas pelos profissionais da lei,responsáveis na implantação de regras, ordem e tranqüilidade da nação.Enquanto eles desrespeitarem os ensinamentos de boa conduta vendendo-se ao oportunismo, entregando-se ao favoritismo e rendendo-se à corrupção pouco se conseguirá.Será o mesmo que tapar o sol com a peneira, pois o problema apenas mudará de endereço.
FATIMA CHIATI