Isso no dizer das pessoas que elas não tem segredos
e que são “um livro aberto” é uma mentira generalizada.
Convivem com segredos sem se darem conta deles, até porque, nisso, todos
nós somos iguais. Estamos tratando aqui dos segredos dos sentimentos,
todos aqueles a provocar pensamentos sobre as pessoas do nosso relacionamento
como as estranhas, as conhecidas, as amigas, os parentes e a família.
Se nossos pensamentos (segredos) fossem revelados, percebidos, entendidos mesmo
conforme surgem na presença das pessoas com quem nos relacionamos, viver
em comunidade ou sociedade seria impossível. O disfarce é uma
qualidade humana especial para as ocasiões em que pessoas nos provocam
sentimentos de desagrado sobre elas e nós simpaticamente lhes sorrimos
quando o nosso íntimo está contrariado com a presença delas,
desejoso de livrar-se delas. Nossos olhos e nossa fisionomia se esforçam
para não delatar nosso sentimento de repulsa porque, viver em sociedade
requer um comportamento contrário ao comportamento desejado pelos sentimentos.
Vamos separar pessoas em dois tipos: mentais passivas e mentais
ativas. As passivas são aquelas que no fluir de uma conversa, ouvem tudo
atentamente sem se induzir a uma introspecção simultânea
sobre o que ouvem, se é ou não de seus agrados. Como gostam de
conversar apenas por conversar, os assuntos, se interessantes ou não,
não lhes importam. Não analisam as pessoas com quem conversam,
comparativamente com elas. São desprovidas de inquietações
internas por se relacionarem sem a preocupação por participar
de assuntos mais relevantes. Elas também têm seus segredos quando
se deparam com alguém mais dado a profundidades da existência e
defrontes a ele, suas incompreensões acusando suas inferioridades, despertam
nelas um constrangimento, cujos pensamentos por causa dele, se fossem revelados,
poderiam ser de ressentimentos transformados em antagonismo contra o alguém
em questão. Mas, o disfarçar sempre é mais óbvio
para ocultar o sentimento de desajuste da circunstância desfavorável
e esse é o segredo de muitos.
As pessoas mentalmente ativas, as mais abastadas com conceitos
e por isso sempre mais atentas ao que ouvem, elas, mesmo “sem querer”
podem reconhecer em outras pessoas, insignificância em seus assuntos e
pouca capacidade para outros com significância. Se forem intolerantes,
o segredo delas é não deixar transparecer o desagrado, a impaciência
de conversarem com as mesmas, consideradas retrógradas. Frente a frente,
quando as pessoas se comunicam, não é raro uma esconder da outra
uma antipatia. A antipatia pode ser disfarçada e ao ser exteriorizada,
mudada como sendo simpatia, enganando assim, a pessoa considerada antipática.
Nessa capacidade todos os seres humanos são ótimos atores. Ocultar
sentimentos preconceituosos, sentimentos de desagrado, de ressentimentos, de
desprezo, nisso e tudo o mais correlato, o homem tem a sua maior maestria. Em
desabafo para o “gasto de energia” provocado pelo ter que ocultar
e disfarçar a insatisfação sentida por alguém, comum
é se encontrar com outro e verbalizar-lhe com rudeza o que sua falta
de franqueza o impediu de diretamente falar para aquele de sua insatisfação
e sua insinceridade reverteu como prazer o repúdio pela pessoa, para
o bem de se manter sociável.