Aquele homem já há algum tempo aposentado, sem ter o que fazer para se ocupar, ele se propôs a refletir sobre a existência, não a dele, a dos outros. Falando consigo mesmo ele se perguntava se os seres humanos são normais. Como sempre gostou de ouvir músicas, sobre ela foi a sua primeira reflexão. Elas sempre foram de provocar emoções para os românticos. Como exemplo a letra de uma música do passado: “Ninguém me ama ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor, a vida passa e eu sem ninguém e quem me abraça não me quer bem...” Talvez o compositor dessa música tenha tido mesmo vivido essa situação de abandono, mas, algum cantor ou cantora ao cantá-la em público, agradou e agradeceu pelos aplausos. Ambos, música e interpretes dela tornaram-se sucesso. Entretanto, cantoras ou cantores quando se apresentaram num palco para cantarem tal música, nenhum deles esteve triste e infeliz como a música está a dar a entender. Mentiram ao cantar que não eram amados, que estavam infelizes e que se sentiam abandonados e mesmo assim foram aplaudidos. O mesmo acontece com qualquer outra música que esteja a expressar tristeza ou alegria. Chamam de arte o se fazer estar no lugar de outro sem estar. Será que os seres humanos são normais? (risos).
Por todo o mundo milhares de pessoas frequentam estádios para assistirem aos jogos de futebol, coisa que, aquele velho homem sem ter o que fazer não se envolve. Num gramado, vinte e dois marmanjos de dois times desse esporte ficam chutando uma bola. Uns chutam pra cá, outros chutam contra pra lá até que a bola entre num dos gols. Na arquibancada repleta por torcedores (sofredores) muito é o gritar, o xingar, o roer das unhas e até mesmo, as vezes, acontece o brigar entre as torcidas dos times adversários. Para muitos, ver o time de seus corações perder um jogo, isso resulta num mau humor às vezes incontrolável. Será que os seres humanos são normais? Assim se pergunta aquele homem do início deste texto (risos).
Diariamente, semanalmente, mensalmente e anualmente, mais a atenção das mulheres são voltadas para o assistir das telenovelas. Mas, elas são irritantes e inúteis para a cultura. Mais são sobre maus exemplos. São repletas de intrigas e mais intrigas e como é intrigante o existir de pessoas que conseguem se sentar num sofá de uma sala e aos capítulos se entregarem “de corpo e alma” a seguir o enredo de um desvairado qualquer autor de novelas medíocres. Muitas pessoas precisam se preencher e por isso se preenchem com qualquer coisa, nem que seja fútil e inútil. Se entreter com o que só serve para se entreter só é útil para quem ganha com o preparar do entreter para outros. Será que os seres humanos são normais?
Aquele homem em seu refletir lembrou-se do que dizem da democracia e sorriu. Sempre ouviu dizer que nesse sistema de governo é o povo quem exerce a soberania (até parece). Através do voto secreto, não tão secreto o povo escolhe políticos para representá-lo na administração e nas decisões importantes para o bem do país. Acontece que muitos eleitores, principalmente os com pouca instrução que não se interessam por política, nas eleições eles votam em qualquer um. Os que se julgam mais entendidos, mais inteligentes para votar e não votam em qualquer um candidato, quase sempre são enganados, pois, não é incomum eles votarem e elegerem corruptos que se apropriam do erário num administrar em causa própria. Quando não, seus eleitos ficam a mercê dos interesses de poder de seus partidos políticos ao invés de se dedicarem para a solução de problemas do país. No Brasil existem tantos partidos políticos que redundam em discórdias entre eles e só servem para atrapalhar o viver do povo. Será que os seres humanos são normais? (risos).
E aquele homem desocupado retroagiu seu pensamento para o passado. Lembrou-se de quando a mídia televisiva compactuando com interesses ocultos, muito divulgava cenas lamentáveis dos maus atendimentos e dos maus tratos dos doentes nos hospitais públicos “gratuitos” do sistema de previdência do país. Doentes sendo atendidos deitados em macas e sem higiene pelos corredores dos hospitais superlotados de enfermos, outros morrendo antes de serem atendidos e etc. Tudo isso foi um golpe (risos) para facilitar e forçar a necessidade da existência dos primeiros Planos de Saúde como “salvação” para quem já estava amedrontado e indignado com as condições precárias dos nossos hospitais. Aqueles hospitais, que, “por direito” da população que paga por muitos impostos, tinham o dever de atendê-la e bem. Hoje, os Planos de Saúde são uma doença psicológica para quem não os têm ou para aqueles que não mais conseguem pagá-los por serem tão caros. Entretanto... Será que os seres humanos são normais?
Neste país nada se cria e tudo se copia. Palavras estas do saudoso sábio apresentador de programa de calouros, Abelardo Barbosa, o conhecido como Chacrinha que faleceu em 1988. Por aqui já copiaram do exterior o dia do Halloween, ou, o Dia das Bruxas, agora também comemorado até nas escolas envolvendo crianças ingênuas iguais aos ingênuos adultos, como, seus pais e seus professores. O costume para esse dia é se fantasiar de bruxa, de vampiro, de caveira e de outros horrores do folclore sobrenatural. Ser criança não é um privilégio só das crianças, também é para os adultos que nunca deixam de ser crianças. Tudo faz parte da evolução humana. Mas, aquele homem reflexivo que julga e critica costumes pensa: Será que os seres humanos são normais? (risos).
E o homem pessimista continuou pensando: Por todo o mundo existem milhões de cidades com os seus milhões de praças onde foram erigidos incontáveis templos para a reverência de um poder que nunca se revelou objetivamente. Isso não impediu catástrofes, calamidades, acidentes, guerras, doenças, muita mortandade precoce e etc. Muitos propagam uma entidade que não é de agora, mas, agora na invisibilidade ainda atua como protetor e conforto para os visíveis. Com tantos acidentes, tantas doenças, tanta fome no mundo, tantos roubos, tantos assassinatos, tanta exploração do homem sobre o seu semelhante, existe alguma proteção de fato, sem ser aquela imaginada? E outra vez: Será que os seres humanos são normais?
Os homens acreditam que quando os homens morrem, eles continuam “vivendo” num outro lugar que não se sabe donde, e ninguém e nem o famoso Sigmund Freud conseguiria explicar onde ficaria esse lugar (risos). Será que os seres humanos são normais? Com essa pergunta repetida, o homem que esteve a se concentrar no que pensou serem desvarios dos seres humanos, por não mais suportar viver entre tantas incongruências, o coitado enlouqueceu. Por pensar não ter as mesmas idéias e mesmas condutas dos seres humanos, ele cismou que não era daqui, isto é, não era humano e sim um alienígena, um extraterrestre. Louco como ficou foi visto gritando e falando sozinho pelas ruas: Goool, goool, “7 a 1” pra Alemanha contra o Brasil, foi golpe, foi golpe da oposição sim, viva a ditadura democrática, eu vim de outro planeta e não sou delirante como vocês, pra mim pau é pedra e pedra é pau, eu acendo o farol do carro nas estradas para os cegos que não enxergam de dia, eu só voto em ladrão se ele for meu irmão... Chega de risos, a “coisa” é muito séria e não é bom brincar, mas... Será que os seres humanos são normais?
Altino Olimpio